O Acordar do Faraó
Capítulo - 01
A noite surgia com o bafo morno esfriando sobre o Cairo sem isso interromper alguma coisa, o rebuliço da cidade continuava por altas horas da madrugada. Carros, motas, animais e pessoas enchiam as apertadas ruas transbordando de sons e cheiros, ambos parecendo competir entre sim.
O Museu Egípcio fechado antes do pôr-do-sol, continha poucas pessoas no interior do edifício de dois andares outrora um palácio, arrumando e organizando coisas de última hora, num dos depósitos do andar térreo, um jovem homem estava curvado sobre uns caixotes de madeira enegrecida vasculhando no meio de uma quantidade inesgotável de isopor e materiais de enchimento para proteção dos objetos frágeis. Encontrou uma estatueta representativa de um Faraó, os olhos azuis água do jovem analisaram a figura absorvendo os detalhes.
Rouge Klein, um dos jovens estagiários do museu, recém-graduado em História e Arqueologia de Oxford, Londres. Conseguira a vaga através de uma recomendação do seu professor tinha-o em grande estima, mas mudar para um país exótico quanto o Egito vindo de Londres era um choque de culturas, estava no país há dois meses e o calor e sol tocando na sua pele leitosa não era fácil de suportar, e o assédio escabroso que sofria devido à cor do seu cabelo vermelho fogo, cor muito rara ali e mais aliado as suas feições delicadas apenas a falta de volume no peito indicava que não era mulher. E o lindo nome com que foi batizado ao nascer, Rouge, vermelho em francês.
Rouge esforçava-se para poder viver o seu sonho de trabalhar com o Egito antigo, respirar a poeira e mofo de coisas antigos dava-lhe um estranho prazer, dos cinco até dez anos sempre pensara que um dia poderia ir viver entre os faraós, deuses, os bravos guerreiros, quando começou a estudar e ficar sério sobre o assunto metade da magia dos pensamentos de criança desaparecera. Acima de tudo adorava civilizações antigas e metade da vida lamentou-se dizendo que tinha nascido na época errada.
Voltou a colocar a estatueta na caixa e listou no enorme catálogo de coisas que haviam chegado naquele dia. No canto encontrava-se um sarcófago dourado muito diferente dos sarcófagos padrões, sem um rosto desenhado na tampa de cima, parecia que tinham enterrado a pessoa lá dentro à pressa. No dia seguinte os arqueólogos mais experientes iriam abri-lo, voltando a sua atenção para a caixa novamente, remexeu lá dentro tocando com os dedos em algo frio e rugoso.
– Hum? Uma tablete? – Murmurou curioso, pegou no pedaço de pedra com as duas mãos, admirando a polidez do que parecia mármore negro, havia inscrições douradas, e leu o seu conteúdo. O Egito dos faraós estava extinto assim como a antiga língua dando lugar á língua egípcio-árabe do Egito moderno. Tinha bons conhecimentos em hieróglifos, Rouge concentrou-se na tablete e leu.
''Desperte do seu sono forçado e blasfemado, reerga-se e viva para a segunda vida terrena''
O ruivo coçou a cabeça e sentiu-se como num filme que viu uma vez, era sobre a ressurreição de uma múmia que trouxe as pragas antigas consigo, suspirou e voltou a colocar a tablete na caixa de madeira, sentindo-se cansado deixou o resto da catalogação para o dia seguinte, dirigia-se para a porta quando um arrastar pesado encheu o ar silencioso daquele depósito, virou-se para trás a tempo de ver a tampa dourada do sarcófago cair no chão, algo lá dentro afastou a cobertura supostamente pesada que só com quatro pessoas conseguiram levantar.
– O QUÊ…? – Naquele momento o ruivo arregalava os orbes azuis-água lembrando-se da múmia, maldições, ia morrer. Umas mãos saíram de dentro do túmulo, apoiaram-se nas bordas douradas erguendo o corpo lentamente, primeiro viu umas costas erguendo-se e a cabeça com uma longa cabeleira marron escura mesclado com dourado, num movimento ágil e rápido o ocupante do sarcófago estava fora e com vida, e além disso aquela múmia tinha muita carne ainda.
Quase mijando nas calças Rouge esfregou os olhos para a aparição do homem mais lindo que já tinha visto, era mais do que divino, ombros largos, sem blusa, abdómen com músculos definidos, braços musculados, a criatura usava umas calças de seda branca sobre umas poderosas pernas, esta descalço, os olhos do ruivo subiram para o rosto quase inclinando a sua cabeça para trás devido à altura do homem não devia ter menos de 1,90cm, a musculatura do rosto era marcada e suave ao mesmo tempo, lábios do tipo que sabiam levar à loucura por onde tocasse, nariz reto e clássico e um queixo um pouco anguloso, e uns olhos… pareciam ser de mel.
Desfalecido o ruivo caiu de bunda no chão soltando um esgar de dor, chamando assim a atenção do homem misterioso que olhando em redor do depósito não deu pela sua presença, duas gemas douradas deixando uma expressão estupefacta no seu rosto, não demorou muito tempo até estar ao nível do ruivo e pegar-lhe nas mãos com admiração.
– Ahmar? – A voz da múmia viva era grave, profunda e masculina, Rouge tremeu ao sentir a pele grossa tocando na sua, rapidamente respondendo no mesmo idioma egípcio.
– Quem é você? – Hipnotizado com os olhos de ouro do homem-deus-saído do túmulo, Rouge arfava.
Khan el Khalili encontrou a pessoa com cabelo de fogo que lhe salvara como dizia a profecia, o maldito Jafir conseguira enganar-lhe emboscando-o com um feitiço enquanto ele estava sozinho nos seus aposentos, não o matou apenas distorceu o tempo e o mandou para um lugar distante, por graças a Hórus a bela criatura de cabelos de fogo entendia as suas palavras, sem perder mais tempo, levantou ele do chão ainda segurando as suas mãos perguntou pela placa de pedra que o acordou, lá tinha o feitiço para regressar a Tebas, como estava escrito na profecia. O ruivo rapidamente apontou para a caixa, sendo arrastado atrás do homem enquanto pegava na placa, esse com um braço rodeou a cintura de Rouge no abraço que lhe deu a sensação que estava com uma coluna de ferro presa na sua cintura, o homem leu as palavras cravejadas na pedra e uma sensação de leveza e do seu corpo estar-se a desintegrar os dois corpos envolveram-se num clarão de luz.
Com os olhos fechados e o rosto espalmado contra o peito rígido do moreno, Rouge voltou a sentir o peso do seu próprio corpo sobre as pernas, vozes gritantes com o reboliço de pés correndo chegava perto onde os dois homens tinham-se materializado.
Abrindo os olhos o ruivo foi momentaneamente cego pela claridade do sol ardente, tentou afastar-se do corpo pesado e duro como uma parede, mas o braço de ferro continuava prendendo a sua cintura, olhou para a cara do homem, a diferença de alturas era um pouco acentuada, então quase que tinha que se curvar para trás para poder ver-lhe.
Khan el Khalili retribuiu o olhar afogando-se dentro do azul-água dos olhos mais perfeitos que já viu, não conseguiu tirar o braço que enlaçava o corpo delicado e pálido, apenas ficou hipnotizado ali no centro do Jardim Salir do seu palácio, com o som da água da fonte de granito e mármore de quatro andares como música de fundo.
Saludja, o curandeiro, feiticeiro, druida, conselheiro, melhor amigo, sábio ocupava tantos cargos que aceitava todos os títulos, foi o primeiro a pressentir a presença do Faraó, tudo havia ocorrido conforme a profecia, voltou são e salvo para Tebas, o que não estava muito certo foi encontrar o rei com algo nos braços que não estava previsto.
– Khan! Por Hórus ! São e salvo! – Saludja quebrou o encantamento hipnótico e Khan sorriu exibindo uns dentes brancos e puros contrastando com a tez dourada.
– Voltei a tempo Saludja? – Khan importunou o seu conselheiro, que rolou os olhos para o céu, entregou-lhe a tablete de pedra que o outro abraçou-a junto ao peito como e fosse algo do mais precioso que havia. Largou o garoto que tinha nos braços sabendo que teria muito o que explicar para o garoto do cabelo vermelho, Rouge apenas desfaleceu e senão fosse pela agilidade de movimento de Khan tinha-se estatelado no chão. Acolhendo o corpo inanimado nos braços, como esperado não representava peso algum para o rei.
Fez dispersar a multidão e abriu caminho a passos largos pelo corredor, fez os soldados abrirem as portas talhadas em madeira de um dos quartos térreos mais próximo, depositou o ruivo na cama larga sem cabeceira, coberta com lençóis de cetim brancos, travesseiros grandes e almofadas coloridas, deu espaço para Saludja examina-lo e respirou de alívio quando lhe disse que não tinha febre seria só uma quebra de tensão pelo sucedido, apenas um bom descanso e uma bela refeição quando acordasse ficaria bem.
– Quanto tempo passou? – Perguntou sério ao moreno.
– 60 Dias. – Respondeu Saludja penetrando os seus olhos marrons alaranjado no rosto de Khan como se quisesse e conseguisse ver tudo o que o rei pensava, agora tudo iria mudar.
– Jafir? Onde esse amaldiçoado está? – Khan cerrou as mandibulas a ponto de quase estalar os ossos, o maldito estava vivo a tempo de mais na opinião do moreno, era um espinho que ficava se encravado na sua carne á três anos, matar alguém nunca era tarefa para estômagos fracos e ainda um traidor que considerava como amigo, pior ainda.
– Jafir fugiu logo após de atacar naquela noite, mais uma vez desapareceu levado com o vento. - Saludja caia em depressão com essa pensamento, mas logo se recompôs lembrando-se da pessoa que Khan trouxe consigo, o faraó seguiu o olhar do outro e sorriu manhoso mais uma vez descendo o olhar cobiçoso pelo corpo do ruivo. – Vamos embora, preciso refrescar-me depois de 60 dias dormindo e falar com Ramsés. – Os dois saíram do quarto rumando para o que seria de uma noite longa de troca de informações, estratégias sem fins.
