Identity
Por MarauderLover7
Traduzida por Serena Bluemoon
Tradução autorizada pela autora!
Disclaimer: A autora, MarauderLover7, não possui Harry Potter, apenas o plot desta fanfiction. A tradutora, Serena Bluemoon, não possui nem o plot nem Harry Potter, apenas o trabalho de traduzir. Nenhuma das supracitadas ganha qualquer coisa além de satisfação pessoal e comentários.
Sumário: [TRADUÇÃO - CONTINUAÇÃO DE INITIATE]Harry Potter era um garoto altamente extraordinário, mesmo entre os bruxos. Sua característica mais notável, entretanto, era seu talento para se meter em problemas, talento maior até que o de seu padrinho.
Aviso: Identity é a terceira parte de uma série que, por enquanto, conta com cinco partes (Innocent, Initiate, Identity, Impose e Intensity). A série ainda está em andamento, então em algum momento vamos acabar alcançando as publicações da autora e, aí, as atualizações não dependerão mais apenas de mim, okay?
Como sempre, nomes dos personagens foram mantidos no original. Um ou outro eu acabei usando o nome traduzido, mas em regra, não o fiz. Qualquer dúvida, só perguntar.
Espero que gostem da fic tanto quanto eu gostei e, como sempre: comentem! É apenas pelos comentários que posso saber se estão gostando e se a qualidade da tradução está satisfatória. :)
Boa leitura!
Capítulo Um
Choices Made
(Escolhas Feitas)
Ele estava quebrando; conseguia sentir, a fraqueza em seus braços e pernas, a forte dor que o fazia achar que sua cabeça explodiria e, acima de tudo, a voz alta e fria que ria dele.
Quirinus sentou-se, ofegante, e rasgou a própria mente, procurando, mas estava sozinho.
Só eu, disse a si mesmo. Nada dele, apenas eu... Massageou os olhos e espiou a parte principal de seu apartamento. Seu apartamento era minúsculo — havia apenas uma cozinha, um quarto e um banheiro, e nenhum deles estava em um estado particularmente bom. Havia, entretanto, camadas e camadas de proteções em cima de tudo. Se alguém simplesmente respirasse no corredor, Quirinus saberia. E como nenhum alarme disparara, não havia ninguém do lado de dentro. Só eu, voltou a se dizer.
Pegou sua varinha — que conseguira comprar com Ollivander — no criado-mudo e a balançou. Um momento depois, um copo de água flutuou para dentro do quarto e Quirinus o bebeu, antes de colocar o copo e a varinha no criado-mudo com as mãos trêmulas e tentou se recompor.
Então Quirinus, sendo um Corvinal, pensou. Tinha chegado à várias conclusões; a primeira era que Azkaban era a punição perfeita para todos, menos para os Corvinais — os Lufos odiaram o isolamento, os Sonserinos sentiriam que estavam perdendo tempo, que não alcançariam nada, e os Grifinórios odiariam ficar parados. Os Corvinais odiariam a deterioração de sua mente, é claro, e a falta de estímulos, mas, depois de um tempo, não teriam muito mais de sua mente para se importarem.
Mas um Corvinal que fizera coisas horríveis e não fora mandado para Azkaban seria forçado a pensar nas coisas e isso, Quirinus pensou, era uma punição ainda pior.
Sua segunda conclusão era que Dumbledore sabia disso. Dumbledore sabia que ele pensaria em Christopher, pensaria no potencial que tinha sido perdido, e pensaria em que tal coisa era horrível, matar uma criança. Dumbledore devia ter sabido que Quirinus pensaria em todas as outras coisas que podia ter aprendido no ano que passara repetindo seu primeiro ano em Hogwarts, pensaria na maneira que fracassara.
Os Grifinórios viam o fracasso como um desafio; os Sonserinos, como uma oportunidade de criar caráter. Os Lufos não se importavam em fracassar, desde que houvessem dado seu melhor, mas para Quirinus, para um Corvinal... Quirinus nunca fracassara em nada antes, não em uma prova ou trabalho, não em uma entrevista de emprego... E fracassar em algo que investira tanto... Quirinus esfregou as têmporas e afundou-se em seus travesseiros.
Estava voltando a dormir quando sua varinha vibrou e começou a emitir um som agudo. Quirinus se sentou e a pegou. Brigou com os cobertores por um momento e, quando se soltou, ficou parado no meio do pequeno quarto, a varinha erguida, trêmulo.
Houve uma batida na porta. Quirinus prendeu a respiração.
— Abra a porta, garoto! — mandou uma voz rouca. Quando Quirinus não respondeu, houve um murmúrio alto e a voz disse: — Posso vê-lo em seu quarto, sabe! — O estômago de Quirinus se apertou. — Então eu sei que você está aí e não estou com vontade de derrubar nenhuma porta hoje, mas o farei se eu...
— Estou indo — conseguiu dizer. — Desculpe, estou indo. Eu só estava... — Mas Quirinus não se deu ao trabalho de pensar numa desculpa; quem quer que fosse, sabia que ele só ficara parado. Quirinus abriu as trancas (mágicas e mecânicas) da porta e abriu um vão.
Um olho azul-elétrico aterrorizante o olhou de volta. Quirinus engoliu um grito e abriu mais um pouco a porta. A carranca de Alastor Moody e, atrás dele, o rosto mal-humorado de Sirius Black o olharam de volta.
— O-olá — disse Quirinus, surpreso por ter gaguejado. Achara ter se livrado disso há anos, quando o professor Flitwick dera um fim ao bullying.
— Boa noite — disse Moody com um sorriso bastante assustador. Era claro que eles estavam ali para vê-lo, então Quirinus se afastou da porta e permitiu que entrassem. — Pode guardar isso aí — continuou ele, indicando a varinha na mão de Quirinus. — Não tem permissão de nos machucar e, mesmo que tentasse, damos conta de você. — Quirinus colocou a varinha no bolso.
— Posso... querem chá...?
— Não, obrigado — falou Black pela primeira vez. — Só estamos de passagem.
— Vieram ver se ainda estou vivo? — perguntou Quirinus.
— Não — respondeu Black, parecendo confuso. — Viemos ver se não machucou mais ninguém.
— Ah — disse Quirinus. Moody tomou um gole de seu frasco e mancou na direção do quarto. — Aonde ele está i-indo? — quis saber.
— Dumbledore disse que te visitou — disse Black em voz baixa. — E ele disse que você estava... bem, que você estava mantendo sua parte do Voto. Mas Olho-Tonto e eu quisemos ter certeza, como pode entender.
— Certamente — disse Quirinus, tenso. Estudou Black por um momento, curioso apesar de tudo. — Você não confia na palavra de Dumbledore?
— Eu não confio em você — disse Black simplesmente. Quirinus era talentoso em Oclumência (uma das poucas coisas boas oriundas do ano anterior), mas não tinha igual talento em Legilimência. Mas desejava ter; estaria muito interessado em ver o que Black estava pensando. — Nós te deixamos fora de Azkaban e longe das mãos de Voldemort — Quirinus se contorceu —, e quanto mais eu penso nisso, menos acho que você merece. — O tom de Black não era bravo nem cruel, apenas perturbado. — Eu vou me garantir de que você não machuque mais ninguém.
— Eu jurei o Voto, então...
— São meras precauções — disse Black com um sorriso que não chegava aos olhos. — E eu vim te dar um aviso; só porque eu não contei ao Ministério quem você é nem que você está vivo, não significa que não contei nada. O Ministério e Gringotes receberam uma descrição da sua magia... eu contei a eles que foi você que entregou Croaker a Voldemort — Quirinus não conseguiu evitar o encolher que seguiu o nome — e, também, que foi você quem matou Krognug, o duende, e que foi você quem invadiu Gringotes... Então, se for a algum desses lugares, não espere uma... bem, não espere uma recepção acalorada.
— Onde é que vou achar trabalho, então? Ou conseguir dinheiro?
— Sua invasão teria sido um sucesso se a Pedra já não tivesse sido levada — disse Black. — Você conhece o funcionamento interno de Gringotes de um jeito que só os duendes conhecem, e esse conhecimento não é coberto pelo Voto. Você não conhece o Ministério tão bem assim, pelo menos até onde eu sei, mas sua mente é suscetível a Voldemort. — Dessa vez, Quirinus se esforçou para não se encolher, e Black o olhou, pensativo. — Ele não vai querer te usar novamente, não do mesmo jeito, mas ele não teria o menor problema em tirar informações de você se te encontrasse novamente, e você é esperto demais para ficar preso num baixo cargo no Ministério.
"Você subiria", continuou Black. "Já sabemos que você gosta de poder e que fará qualquer coisa", ele torceu os lábios "para consegui-lo. E subir lhe daria acesso a todos os tipos de informações que ninguém particularmente quer que Voldemort tenha."
— Então, vai me expulsar do mundo bruxo? — perguntou curtamente. — Me alienar... sem Ministério, sem Gringotes... Dumbledore nunca permitirá que eu volte à escola... O que sobra?
— Mais do que você teria se estivesse em Azkaban ou morto — respondeu Black em voz baixa. — Olho-Tonto?
— Nada suspeito — respondeu Olho-Tonto, mancando de volta para a sala. Seu olho mágico correu por Quirinus, enquanto o outro continuava parado. Quirinus estremeceu.
— Acho que não precisam de mais nada, então? — perguntou, cauteloso. Por mais que quisesse que eles fossem embora, preferia a companhia deles a companhia de seus pensamentos.
— Já disse tudo o que precisava dizer — falou Black.
— Devo esperar outra visita? — perguntou a ele, um pouco sarcástico.
— Ah, sim — respondeu Moody, sorrindo assustadoramente. — Veja, eu me aposentei, garoto, e eu preciso de algo para fazer, para me manter ocupado. Acho que vamos acabar nos conhecendo muito bem. — Pela primeira vez desde que chegou, Black sorriu, ou melhor, mostrou um sorriso forçado. — Até a próxima!
— É, tchau — falou Quirinus num fio de voz.
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— Fique por perto, Hydrus — disse Lucius, sem olhar para trás para ver se Hydrus obedecia ou não, porque sabia que ele obedeceria.
— Achei que íamos olhar as vassouras — disse Hydrus, um leve tom choroso em sua voz.
— E olharemos — respondeu —, logo depois de eu terminar meus negócios com o senhor Grotler. — Hydrus não respondeu; Lucius olhou para ele e viu que a atenção de seu filho tinha sido capturada por um bruxo esfarrapado aconchegado ao lado de uma lata de lixo.
— Que nojento — disse Hydrus, não se preocupando em abaixar a voz. — Acho que prefiro morrer a viver assim. — O bruxo enrugou o rosto e colocou a mão no bolso de suas vestes esfarrapadas, mas Lucius já tinha sacado a varinha e acertado o homem com um estupore não verbal. Hydrus pareceu deleitado.
— Por aqui — disse Lucius brevemente, e Hydrus apressou-se a segui-lo.
A Farmácia Grotler's era uma lojinha escura, apertada entre uma loja que vendia criaturas mágicas, na qual Lucius comprara um Occami, e uma loja ainda menor, na qual pagava-se para que maldições ou encantamentos fossem postos em pessoas ou objetos. O próprio Grotler parecia se sentir em casa no espaço apertado e mal iluminado de sua loja; ele era um homem acocorado, com um olho só, uma corcunda e um sorriso bastante torto.
Hydrus olhou para os ingredientes e frascos que preenchiam as prateleiras que iam até o teto.
— Não toque em nada — avisou Lucius.
— Senhor Malfoy — ofegou Grotler, mancando em sua direção. — A que devo o prazer?
— Eu quero saber se você tem interesse em certos itens que estão em minha posse — disse Lucius, tirando uma lista das vestes. Grotler pegou o pergaminho de sua mão e o examinou.
— Está com medo das batidas — disse Grotler, astuto. — Não é, senhor Malfoy?
— Não é da sua conta — respondeu ele, franzindo o cenho. "Medo" certamente não era a palavra certa de todo modo. "Preocupado" era mais apropriada, em sua opinião. Trabalhara duro até chegar onde estava para perder tudo só porque algum Auror intrometido encontrara alguns venenos em sua casa.
A piada que era sua sobrinha e o parceiro Auror dela, felizmente, não encontraram nada, mas Lucius duvidava que ela seria a última Auror a tentar investigá-lo. Estremeceu ao pensar em McKinnon liderando uma dessas batidas; ela, sabia, não iria embora até encontrar alguma coisa. Lucius queria se garantir de que não houvesse nada a ser encontrado.
— O que é da sua conta — continuou Lucius — é se tem ou não interesse nesses itens.
— E se eu não tiver? — ofegou Grotler.
— Visitarei Borgin na semana que vem — contou. — Ele comprará o que sobrar... Só assumi, considerando que venenos são sua especialidade, que você gostaria da chance de ficar com alguns dos... itens mais raros.
— Borgin comprará qualquer coisa sem realmente apreciá-las — disse Grotler, olhando feio para Borgin & Burke's pela janela. — Seria uma pena ver alguns desses itens acabarem com ele. — Grotler mancou para trás do balcão para pegar uma pena e começou a escrever na lista cuidadosamente construída. Lucius torceu os lábios. — Aqui está. — Grotler lhe devolveu a lista. — Posso tirar esses itens das suas mãos, se quiser. — Lucius dobrou a lista, tomando o cuidado de tocá-la o mínimo necessário, e a guardou em um bolso.
— Foi um prazer fazer negócios com você, como sempre — disse, enquanto Grotler ia inspecionar suas vitrines. — Eu volto na semana que vem. — Grotler acenou por cima do ombro. — Hydrus — rosnou, pois Hydrus inclinava-se sobre um caldeirão enorme e fumegante no fundo da loja. — Vamos.
Os dois saíram da loja e da Travessa do Tranco, indo para Artigos de Qualidade para Quadribol. Hydrus estava quase saltitando ao chegarem e tinha um sorriso em seu rosto que, por algum motivo, fez Lucius se lembrar de Draco.
Pensar em seu filho mais novo fez Lucius suspirar. Esperara que as férias fossem boas para Draco, que permitissem que ele clareasse as ideias. Lucius tinha até pedido que Dobby confiscasse as cartas de Draco; não havia muito que pudesse fazer sobre quem Draco escolhia como companhia na escola, mas certamente podia controlar isso em sua própria casa. E esperava que Draco percebesse que não sentia falta de seus colegas de Casa e que ele se visse gostando da companhia das crianças puro-sangue, como Hydrus.
Draco ainda não falara nada sobre suas cartas, o que Lucius tomou como um bom sinal, mas fora algumas conversas com o garoto Nott e a mais nova das garotas Greengrass, Draco parecia não se importar muito com seus colegas Sonserinos, assim como, Lucius precisava admitir, eles não pareciam se importar com ele. A jovem Daphne Greengrass, com quem Hydrus se entendia muito bem, e Pansy Parkinson, que costumava ser tão próxima de Draco, pareciam divertirem-se ao provocá-lo. Ou foi o que Narcissa lhe contara uma noite, depois do jantar.
Mas além das refeições ou dos eventos especiais, Lucius quase não vira Draco durante as férias. Lucius não se esforçara mais do que Draco para ter contato com ele. Não era que não se importava com seu filho — apesar de ter ficado furioso ao descobrir sobre a aventura malsucedida de Draco com Potter —, era simplesmente que Lucius não sabia o que fazer com ele, do jeito que sabia com Hydrus.
Hydrus era como uma versão mais jovem de Lucius, como as crianças puro-sangue com quem Lucius crescera. Draco era como... bem, ele era como uma mistura estranha de Sirius e Regulus Black, que Lucius conhecera na escola. Mas Sirius tinha sido muito mais hostil do que Draco já tinha sido, e Regulus tinha sido muito mais... bem, mais Sonserino. Lucius, como um Sonserino, de uma longa linhagem de Sonserinos, não tinha a menor ideia do que fazer com seu filho Grifinório. Suspirou mais uma vez, e chamou Hydrus.
— Acha que Draco gostaria de uma vassoura? — perguntou.
— Não — respondeu Hydrus. — Ele nunca voa. Compre um livro para ele; a única coisa que ele faz é ler. Ele é quase tão ruim quanto aquela Granger, mas pelo menos Draco é só um traidor de sangue, não um sangue-ruim. — Depois, ele disse: — Venha ver a Nimbus 2001, pai, é incrível. A melhor vassoura disponível, foi o que ouvi o gerente dizer. Acho que vou precisar dela se quero ser o melhor nos testes para Apanhador.
— Também acho que precisará — concordou, embora achasse que Hydrus conseguiria entrar no time mesmo que usasse uma das péssimas vassouras da escola. Hydrus voava bem (melhor do que Lucius nessa idade), e tinham passado muito tempo treinando durante o verão. Ele não deveria ter nenhum problema para entrar.
Alguns milhares de galeões depois, Lucius viu-se com um filho muito arrogante e uma vassoura cuidadosamente embrulhada.
— Pai — disse Hydrus, soando confuso —, o Caldeirão Furado é por ali...
— Eu sei, Hydrus — disse lentamente.
— Bem, então aonde nós estamos...
— Floreios e Borrões — respondeu.
— Por quê? — perguntou Hydrus. — Só vamos comprar as coisas da escola na próxima...
— Você disse que Draco prefere um livro, não disse? — falou Lucius e gesticulou para que Hydrus o acompanhasse.
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— Draco — disse a mão, batendo firmemente na porta. — Com quem está falando?
— Ninguém — respondeu Draco, apressando-se a escrever seu nome no fim da carta. — Vá — sussurrou, colocando a carta na mão de seu visitante. Monstro sumiu com um estalo bem quando a mãe abriu a porta e entrou, franzindo o cenho.
— Estive querendo falar com você — disse ela.
— Sobre o quê? — perguntou, acomodando-se na cadeira de sua escrivaninha.
— O fim do semestre — respondeu. Draco apertou o maxilar, mas não respondeu. — Eu... eu fico feliz que você acredite que seus colegas de Casa mereçam tamanha lealdade. — Mais uma vez, Draco ficou em silêncio. — Eles devem ser pessoas extraordinárias para você responder dessa forma. — Draco esperou. — O que não me deixou feliz — disse a mãe, a voz ainda tensa —, foi a maneira na qual você escolheu demonstrar essa lealdade.
De novo, Draco não respondeu. Ele não tinha contado detalhes específicos sobre o que acontecera naquela noite no alçapão, ou melhor, o porquê de ter ido, mas ou alguém contara aos seus pais ou eles simplesmente chegaram à conclusão correta. Draco não sabia muito sobre a guerra; só que seu pai e a tia Bella tinham servido ao Lorde das Trevas e que eles tinham gostado, e que Potter derrotara o Lorde das Trevas e, supostamente, arruinara tudo.
Mas Draco, apesar de sua criação, gostava bastante de Potter, de Weasley e de Granger. E gostava bastante de si mesmo, e se o Lorde das Trevas tivesse conseguido pegar a Pedra, Draco teria sido morto, junto de seus amigos.
— Bem? — disse a mãe. — Não tem nada a dizer?
— Não — respondeu. — Já aconteceu. Eu não posso mudar as coisas. — Não que eu fosse mudar, mas ela não precisa saber disso. O estômago de Draco se apertou com culpa, mas ele abaixou os olhos e tentou parecer arrependido.
— Não pode mudar o que aconteceu — corrigiu ela. — Mas e se algo assim voltar a acontecer? E aí, Draco? Irá colocar a todos nós em perigo ao desafiar tão abertamente o homem que fez tanto por nós quando estava no poder? — Havia uma leve pitada de desgosto em sua expressão, e Draco achou que teria o afetado mais se não estivesse acostumado a ver o mesmo no rosto de seu irmão. Ainda assim, era sua mãe.
— Não voltarei a preocupá-la desse modo, mãe — falou. — Prometo. Eu não quis colocar a família em perigo. — Essa parte era verdade. Entendia que sua família podia não gostar de sua decisão, que eles não apoiariam, mas não achara que eles estariam em perigo... só que ele estaria, porque o Lorde das Trevas estava tentando voltar e ele, todos sabiam, não tolerava traidores de sangue. — Eu só estava tentando ajudar...
— Seus colegas de Casa — disse ela. — Eu sei.
— Não meus colegas — murmurou.
— Oh? — perguntou a mãe, erguendo uma sobrancelha fina.
— Meus amigos — disse Draco.
— Ah — disse ela lentamente, olhando-o, pensativa. — Seus amigos. Entendo. — Depois de um momento, ela suspirou. — Posso lhe dizer algo?
— É claro, mãe — respondeu Draco.
— Bellatrix é minha irmã e eu gosto muito dela — disse ela, quase severa.
— Sim, mãe — falou. — Eu sei.
— E eu fico triste por vê-la em Azkaban — falou, o rosto se fechando. — Mas o Ministério acredita que é onde ela deve estar e, apesar das diferenças entre a minha opinião e a do Ministério, seria muito tolo se eu contestasse. É melhor não dizer nada e concordar com eles do que contestar seu cárcere e ser proibida de visitá-la. — Ela estudou Draco por um momento. — Você me entende?
Draco provavelmente não teria entendido se não fosse por aquela conversa esclarecedora sobre vermelho e verde com Dumbledore. A mãe queria dizer que ele podia ficar com as pessoas para fazê-las felizes sem necessariamente fazer algo para ajudá-las ou concordar com elas.
Ela certamente lhe dera muito no que pensar, algo que não teria considerado antes por que parecia muito... dissimulado ou algo assim. Se Draco discordava das pessoas, tinha a tendência a dizer-lhes, e uma vez Granger sugerira que era por isso que ele tinha dificuldades em fazer amigos.
Mas agora Draco tinha amigos e queria se dar bem com eles, independentemente do que sua família pensava. Ainda se importava com sua família, mas eles eram tinham uma visão limitada sobre certas coisas e eram teimosos sobre outras. Sua Seleção, por exemplo. Draco teria bufado, mas sua mãe ainda estava ali, observando-o.
Então, talvez seja com minha família que eu tenha que ficar para fazer feliz, do jeito que a mãe fez com o Ministério...? Draco franziu o cenho, pensando. Isso significaria que sua lealdade era de seus amigos, não de sua família... Ou pode ser que minha lealmente seja comigo mesmo, e o que me mantiver vivo, pensou e assentiu.
— Entendo — disse lentamente, pensando que a mãe provavelmente não quisera que ele chegasse a essa conclusão.
— Muito bem — disse ela. — Então, sem mais aventuras imprudentes?
— Sim — respondeu e adicionou silenciosamente: que você vai ficar sabendo ou vai se preocupar.
A expressão dela vacilou, e Draco perguntou-se se ela tinha adivinhado o que ele estava pensando. Apressou-se a tirar qualquer expressão do rosto, do jeito que Severus fazia, antes de abrir um sorriso cuidadoso. Ela retribuiu o sorriso e, hesitante, segurou a mão de Draco.
— Fico feliz — disse, a voz tremendo um pouco. Ela olhou para a mesa, na qual a pena de Draco pingava tinta no que tinha sido uma folha em branco de pergaminho. A expressão dela ficou tensa e ela soltou a mão de Draco, alisando as vestes. — Vejo que o interrompi — disse em voz baixa. Ela hesitou e disse: — Está mandando cartas para seus amigos?
— Se não tiver problema — disse.
— Não sei por que teria — respondeu. Draco observou seu rosto com cautela.
Não é mentira, pensou ele no mesmo instante em que Hydrus começava a chamar a mãe no andar inferior, e ela saiu do quarto de Draco. Talvez ela não saiba? Descartou esse pensamento na mesma hora. O pai não guarda segredos da mãe.
-x-
— Vai aceitar? — perguntou Remus, os lábios dormentes. Uma xícara fumegante de café foi colocada à sua frente na mesa. — Obrigado — conseguiu dizer e a garçonete, que normalmente parava para conversar (eles eram conhecidos dela, porque iam à cafeteria do Ministério frequentemente), olhou de um para o outro e foi embora.
— Se eu tivesse decidido, teria dito — disse Dora, parecendo exasperada. — Eu queria ver o que você acha antes de me comprometer com qualquer coisa. — Remus não respondeu por um momento, ocupando-se ao adicionar açúcar ao seu café. Dora fez um som impaciente. — Bem? O que acha? — Remus tomou um gole e colocou a xícara na mesa.
— Acho que parece ser uma oportunidade maravilhosa — falou em voz baixa. — Você quer ir?
— Como você disse, é uma oportunidade fantástica — respondeu ela, seu cabelo ficando amarelo por um momento. Então, voltou ao rosa chiclete. — Mas eu... bem... meus pais estão aqui, todos meus amigos estão aqui, você está aqui... E... bem, é tão abrupto! Eu tenho uma semana para responder e, se eu aceitar, vou ter só mais uma semana antes de ter que começar! Mas Scrimgeour, Olho-Tonto e Charlus Potter são lendas no nosso Ministério, mas só por causa do Elliot Pinard! E depois de terem feito isso, Potter e Scrimgeour viraram Auror Chefe! — Dora tinha uma expressão sonhadora no rosto. — Digo, Pinard era um Auror na época do Grindelwald... as coisas que ele deve ter aprendido... e Anastasiya Orlov e Ken Sato são nomes enormes. Eu cresci lendo as bibliografias deles... bem, não a de Sato, mas ele é só cinco anos mais velho que eu, então...
— Você não respondeu a perguntas — falou Remus em voz baixa, tomando outro gole.
Dora murmurou um agradecimento para a garçonete, que tinha voltado com uma xícara de chá, e ergueu os olhos. Havia um sorriso muito pequeno e muito nervoso em seu rosto.
— Acho que isso é algo que eu gostaria de fazer — falou, observando-o com cuidado.
Devia ter sabido, pensou ele. Se não fosse meu... problema que arruinaria tudo, seria alguma outra coisa. Ele a observou com carinho, do outro lado da mesa. Ela é jovem, inteligente e talentosa. A oferta para um treinamento avançado de Aurores era evidência disso; Dora tinha lhe contado que apenas dez deles, do mundo todo, tinham sido aceitos, e Dora tinha sido uma dos três Aurores europeus a ser convidada. Se isso não provava seu talento, Remus não sabia o que provaria. E aí entro eu... velho — bem, velho comparado a ela —, pobre e falido, como tenho dito há anos. Sou um professor na escola, mas só por que Dumbledore não dá ouvidos ao Ministério.
— É uma oportunidade maravilhosa. — Ouviu-se repetir e forçou um sorriso para ela.
— Não é? — Ela quase guinchou. — É estranho ser na França e não em um lugar mais central, mas afinal é organizado por Pinard, e ele já está um pouco velho demais para ir muito longe...
Enquanto Dora tagarelava animadamente, Remus a observava com aquele sorriso forçado preso no rosto, enquanto seu mundo desmoronava ao seu redor.
Continua.
