Os personagens de InuYasha não pertencem, eles pertecem a R. Takahashi
Cacos e Recordações
Capítulo I
Estava sentada em uma cadeira antiga no canto do quarto, olhando a vista pela janela. Encontrava-se absorta em seus pensamentos, lembrando-se de fatos há muito tempo ocorridos...
Mais de 10 anos se passaram desde aquela noite, mas ainda guardava na memória, as recordações que traziam à sua face uma lágrima solitária... Não havia esquecido completamente toda aquela vergonha, amargura e tampouco a dor... Afinal, o tempo não levara tudo embora e as lembranças latejavam em sua mente e coração...
Sim, fora a última vez que ela se permitiu passar por tudo aquilo... A última vez que se deixou dominar pelo medo e pela ignomínia... Fora a última vez que teve de recolher os cacos de seu próprio coração...
Eu, que a vejo ali sentada, tão distante, também posso ver o passado que nos assolou e relembrar como na realidade, tudo isso começou... E como terminou...
Tudo teve início com a bebedeira... Havia adquirido esse costume ao longo dos anos. Antes, bebia para divertir-se. Depois, para sufocar o sentimento de frustração. Bebia para esquecer aquela vida que tanto o entediava...
Kouga Minomoto casara-se com a jovem Kagome Higurashi, quando ainda faziam faculdade – ele de administração e ela de história. O rapaz era intenso e a decisão de casar-se fora mais um impulso do momento, do que algo realmente desejado por ele. Mas não para a jovem Higurashi... Ela estava convencida de que estavam muito apaixonados e que essa seria a escolha mais acertada, um sonho, era o que pensava ser... Mesmo tendo conhecimento do difícil temperamento de Kouga (que não passava de um grande convencido, orgulhoso avarento e ainda ambicioso), acreditava que por enquanto o amor seria o bastante para os dois... Ao menos o amor que ela possuía seria o suficiente para os dois... Gostava de pensar, que o tempo e a chegada da maturidade iriam mudá-lo; o matrimônio com toda certeza faria com que Kouga endireitasse sua vida e seu caráter duvidoso... A garota ainda não entendia, que um casamento era construído por duas pessoas e não por uma só e que, o amor verdadeiro, exige reciprocidade para ser eterno... Pobre! Não via o futuro que a esperava ao lado dele...
Com mais ou menos dois anos de casados, Kouga havia conseguido ascender em sua carreira profissional como administrador. Havia ganho sua parcela de fama e dinheiro e já possuía seu próprio negócio e Kagome tornara-se professora de história e uma exímia dona de casa. O casamento não andava na sua plena forma, mas não havia desandado completamente. O entusiasmo e o desejo de um pelo outro ainda existia, e era a razão do casamento manter-se de pé, mesmo com Kouga gastando horas trabalhando e deixando Kagome sozinha, cuidando da casa. Embora não tivesse coragem de dizer ao marido, ela sentia-se infeliz estando tão só durante seus dias... Pensava que talvez faltasse algo... E foi então que esse algo grandioso aconteceu em suas vidas, mudando-as para sempre...
Nesse mesmo ano, a jovem professora engravidou e viu sua vida encher-se de luz. Oh! Teria alguém para ficar com ela sempre... Alguém por quem viver! Seria mãe! Ficara tão feliz que mal podia conter-se! Quanto a ele? Ele nunca quisera ser pai... Mas acostumara-se com a idéia com a chegada de Bankotsu a suas vidas. Mas para ele, nada realmente mudara. O grande senhor Minomoto não ficara tão empolgado com a idéia de ser pai quanto sua esposa e apenas continuou vivendo sua vida medíocre enquanto sua mulher dava o melhor de si para salvar a casa e o casamento...
Tempos depois viemos eu, e meu irmãozinho, Kohaku. No entanto, depois de Bankotsu, nenhum outro filho foi amado por meu pai. Aliás, não acredito que nem mesmo o mais velho tenha recebido amor... No máximo, o que obteve fora sua aceitação e nada mais! Para Kouga, era inaceitável tantos filhos! Eram duas bocas a mais para serem sustentadas por ele, o que reduziria suas regalias...
Quando mamãe anunciou a gravidez de Kohaku, foi que os problemas agravaram-se... Ela recusara-se a aceitar a proposta que ele lhe fizera de abortar e então, todo o inferno se abriu para sua vida... Meu pai revelou em sua plenitude, quem era ele na realidade: um desgraçado sem caráter, o que atingiu o coração da jovem mulher em cheio... Sabia que seu caráter não era dos melhores, mas não esperava encontrar no homem com quem se casara, o pior dos maus-caracteres.
Irremediavelmente, as bebedeiras começaram... E já não eram somente por diversão...
No princípio era só a bebida socialmente, sempre com os amigos. Beber era uma forma de demonstrar seu poder, seu status social. Mais tarde, como já contei, passou a beber para se esquecer da maldita família, como ele costumava nos chamar quando já estava bêbado, sempre se arrependendo quando voltava à lucidez. Não por nós seus filhos, e sim por medo de perder Kagome. Ele alegava que a amava mais que tudo em sua vida... Um amor deturpado e asqueroso, mais ele jurava: era amor...
A situação alcançou um nível crítico, com um elemento surpresa adicionado por meu pai: as mulheres... Sim, meu pai resolvera que não bastavam as bebidas, as mulheres eram necessárias para se afirmar como homem que era. Chegou a dizer que fora culpa da esposa, já que ela se ocupava mais da casa e dos filhos do que dele... Cafajeste! Minha mãe jamais poderia suportar aquilo; ela o amava apesar de tudo... Será que ele não percebia que tudo que ela queria era seu amor, seu carinho... pelo menos, um pouco de sua atenção? E a fidelidade que juraram diante do altar sagrado? O que ele fizera dela? Oh! Não! Ela não iria admitir isso... Que bastassem as bebidas!
Então, aconteceu a primeira vez em que ela reclamou do seu comportamento libertino... E foi então, a primeira vez que eu o vi esbofeteá-la, sem a menor misericórdia... Infelizmente para nós, não foi a última...
Sempre que bebia, arranjava uma desculpa para espancá-la a exaustão... Hora era a casa, outra éramos nós, outra como ela havia falado com ele e por aí vai... Ela gritava e implorava para que ele abrisse os olhos, mas ele nunca parava, nunca...Quebrava os móveis e destruía tudo que se colocasse em sua reta. A vergonha tão grande e o medo que a consumia, não lhe permitiam ter coragem de fazer algo a respeito... Também havia o "fator clareza": quando o efeito do "porre" passava, ele ajoelhava-se e pedia mil vezes pelo perdão da mulher. Jurava que iria mudar e que não mais a machucaria. Ela chorava e supirava... Dizia as palavras duras e então... o perdoava... Mas ele nunca parou...
Com o tempo, ele não precisava mais beber para ser brutal. Ele havia descoberto o prazer na violência pura e simples. Era como se através disso, ele pudesse mostrar como era poderoso e imponente. Pensava que era a melhor forma de se impor dentro de sua casa e se ele acreditava ser assim, ninguém, nem mesmo minha mãe, poderia dissuadi-lo desse disparate! Tudo podia tirar-lhe a paciência... Principalmente nós, seus filhos. Papai tentara levantar a mão pra nós por diversas vezes, mas os tapas e safanões raramente chegaram a nos tocar: Minha mãe sempre se punha no caminho. Era sempre ela quem recebia as bofetadas, quem sofria, quem carregava toda a dor...
Algumas vezes, Kagome tentou escapar, fugir conosco para algum lugar distante... Mas perdia a coragem antes mesmo de tentar... Outras vezes, chegou bem perto: colocou-nos no carro e deu a partida... Porém, com o medo a corroer-lhe o coração, acabávamos voltando para casa. Maldição! O que podia fazer? Ela ainda o amava... Sempre dizia: "só mais uma chance Kouga... só mais uma vez pra isso tudo terminar..." E toda vez que perguntavam a ela que marcas eram aquelas em seu rosto, em seu corpo, ela inventava um álibi... Sempre uma nova desculpa... O que diriam se soubessem que Higurashi Kagome era esbofeteada pelo marido? O que seria de seus filhos sem um pai? Não... ela não poderia se arriscar... Tinha muito a perder... Tinha de pensar em nós, a quem ela sempre colocara em primeiro lugar...
Mas no fundo, ela sabia que chegaria a hora de decidir... Que não poderia mais adiar sua partida e mesmo com temor, teria ir...
Quando esse dia chegou, Kohaku tinha apenas um aninho. Bankotsu contava com sete anos e eu com cinco. Todavia, jamais nos esqueceríamos daquela noite... Seria a última vez que teríamos que fugir, que teríamos que nos esconder... Ela havia decidido que teria que partir, e agora, seria para sempre...
N.A.: Embora essa fic tenha total semelhança com a fic "Vencendo o sofrimento", da Lady0Kagura (por acaso, minha irmã), não foi plágio!!! Mas isso é história pra outro dia!!!!
hihihi
Bjus
