Você foi minha esperança.

Minha alegria.

Meu sorriso.

E agora que se foi.

Você é minha solidão.

Minha dor.

Minha angustia.

Flor do Deserto – 13, 06,2011.

Palavra do dia: rubicundo.

A confissão no cemitério

Através das cortinas semifechadas um raio de sol brilhou, e invadiu o quarto que outrora pertenceu a uma menina. Brinquedos, e desenhos grudados às paredes cor-de-rosa ainda o enfeitavam. Retratos de sua infância.

E agora essa mesma menina, que já não era tão menina assim, gemia e sofria em seus tortuosos sonhos.

Sonhava com aquele homem novamente.

Uma enorme figura escura empurrou a porta de seu quarto e entrou trotando no aposento, as orelhas empinadas atentas a todos os sons que a menina fazia, aproximou-se da cama, onde a menina, mesmo dormindo, se contorcia e chorava, implorando para que aquele homem parasse de tocá-la, enfiou seu focinho molhado na cama e cheirou o rosto da menina, ela exalava medo e também outro cheiro, um pouco mais salgado... Lágrimas. Determinado a salvar a menina de suas próprias lembranças o cachorro a lambeu.

Uma. Duas vezes.

Até que ela acordou, sentando-se na cama com os olhos arregalados, a respiração acelerada, e a testa pontilhada de frias gotículas de suor. Ainda presa ao seu sonho, ela se encontrava a beira de um ataque de pânico.

O cachorro a lambeu novamente.

Finalmente ela conseguiu compreender, estava na casa de sua avó, tudo aquilo já havia acabado ele estava preso, e agora ela estava muito longe dele para que pudesse lhe fazer qualquer mal. Mas maldito fosse, ele ainda conseguia fazê-la viver sempre com medo, pois ela continuava a vê-lo sempre que fechava os olhos.

Preocupado o cachorro tocou sua mão com o focinho molhado. Ao fita-lo, os olhos da menina se suavizaram, e ela afagou entre as orelhas do animal.

_Tenha calma, Sir Lancelot. – disse docemente – Foi apenas um... Sonho ruim.

Um nó formou-se em sua garganta, e lágrimas molharam seu rosto antes que ela pudesse se dar conta. Daria tudo para que aquilo tivesse sido somente um sonho ruim.

_Anda logo Sango! – Inuyasha gritou tocando impacientemente a campainha de sua bicicleta – É por isso que sempre chegamos atrasados!

_Calma! – gritou Sango saindo correndo de casa enquanto ainda amarrava os cabelos – Parece até que vai tirar o pai da forca!

_Feh. Eu devia te deixar aqui! – exclamou enquanto esperava que Sango se ajeitasse na garupa de sua bicicleta – Todo dia é a mesma coisa!

_Por isso você já deveria estar acostumado. – disse Sango calmamente – Agora vê se pedala mais rápido hoje, que você parece até uma tartaruga paralitica.

_E ainda por cima é abusada. – resmungou começando a pedalar.

Sango ergueu o rosto e respirou fundo, aproveitando o ar fresco de mais aquela manha, enquanto ela e seu melhor amigo saiam do pequeno conjunto habitacional onde moravam desde pequenos.

_Você nem gosta de estudar. – disse de repente – Porque está sempre com pressa para ir para escola então?

_Porque se eu deixar, nós vamos chegar todos os dias na escola depois dos portões fecharem. – respondeu de má vontade – E minha mãe já me disse que é melhor manter as notas altas, porque se eu não posso estudar e trabalhar ao mesmo tempo então...

_É melhor pedir demissão. – Sango completou com uma risada – Ela ainda continua querendo fazer você se demitir?

_Sempre. – suspirou Inuyasha. – Agora fale a verdade você esta mancomunada com ela, não está?

_Não! – Sango riu – Que absurdo Inuyasha!

_Sei. – Inuyasha cerrou os olhos – Mas você respondeu rápido demais.

Sango girou os olhos.

_E se eu tivesse demorado mais um segundo pra responder você diria que eu hesitei. Francamente Inuyasha...!

_Ei já estava mesmo na hora de vocês chegarem! – gritou Miroku acenando do portão da escola – Mais um pouco e ficariam para fora de novo!

Sango gemeu.

_Você bem que poderia arranjar uns amiguinhos mais descentes não é? – reclamou.

_E você poderia sair de casa na hora para variar. – retrucou Inuyasha parando a bicicleta próxima de Miroku – Culpe a moça na minha garupa aqui. – disse ao amigo – Não sei o que é que ela tanto se arruma que tem que demorar tanto para sair de casa!

_Acontece Inuyasha. – começou Sango colocando-se de pé – Que uma garota precisa de algum tempo para ficar bonita.

_Mas eu continuo achando que você seria linda de qualquer forma. – cortejou Miroku pegando as mãos de Sango entre as suas.

Sango lançou a ele um olhar fulminante e se escondeu por trás de Inuyasha que acabara de desmontar da bicicleta.

_Só mantenha distancia de mim, por favor, seu pervertido.

_Mas Sango, eu só estou dizendo que se você me desse ao menos uma chance... – insistiu o rapaz.

_E estou dizendo que...! – cortou Sango irritadamente.

Inuyasha suspirou.

_Oh, parem vocês dois, será que já vão começar com isso desde cedo?

Todas as manhãs era a mesma coisa: Sango, sua melhor amiga e vizinha de infância, demorava demais se arrumando, e acabava fazendo Inuyasha chegar com ela em cima da hora na escola, e ainda assim ela ainda arranjava tempo para discutir com Miroku, seu outro melhor amigo que ele desconfiava que só andasse com ele para poder ficar perto de Sango.

Kagome ergueu os olhos para ver o barulhento trio entrar em sala de aula. Uma garota e dois rapazes. Aquela garota... Kagome queria ser como ela, queria poder se relacionar naturalmente com os meninos, e não simplesmente tremer e sair correndo sempre que um deles ameaçasse se aproximar.

O rosto de ambos os rapazes estavam vermelhos, mas por razões obviamente diferentes, já que o rosto do primeiro exibia uma marca rubra com cinco dedos impressos na bochecha, e o segundo parecia rubicundo de raiva, enquanto segurava atrás de si a garota que sempre estava com os dois. Esta encarava o primeiro rapaz com raiva por de cima do ombro do segundo.

_ ...Tocar nela mais uma vez eu vou cortar fora as suas mãos! – dizia o segundo rapaz.

Ele era diferente dos outros rapazes, suas mãos não machucavam, elas protegiam.

_Mas Inuyasha, já te disse que foi só um acidente. – defendeu-se o primeiro, esfregando a bochecha atingida.

Mas aquele outro rapaz... Ele causava temor em Kagome, assim como todos os outros rapazes, porque ele tinha aquele sorriso... O mesmo sorriso dele. E gostava de tocar meninas... Assim como ele gostava.

Kagome estremeceu, um nó formou-se em seu estomago, ela sentia a crescente onda de pânico tomar conta de si, as mãos começaram a ficar soadas, fechou os olhos.

"Controle-se!" – ordenou a si mesma – "Controle-se!".

Ela fechou as mãos, tentando evitar que tremessem, não podia ter um ataque de pânico agora. Não agora!

Oh céus, porque ela não havia se matriculado numa escola só para meninas?!

_Ei Inuyasha. – cutucou Miroku, percebendo a menina que tremia e soava frio em seu lugar no fundo da sala – Olha a Higurashi, parece que está passando mal talvez esteja doente.

Inuyasha fez uma careta para a tal menina, ela não estava doente coisa alguma, era só a mesma esquisitice de sempre, nada mais que isso, na verdade ninguém ali na sala sabia qual era o seu problema, na verdade só sabiam seu nome, porque ela levantava o braço quando ele era pronunciado durante a chamada, mas ela nunca falava com ninguém, muitos até achavam que ela fosse muda ou tivesse algum tipo de doença mental, pois somente chegava e ficava ali sentada em seu lugar como se quisesse fingir que não existia. Mas ele é que não caia nessa, para ele, Higurashi Kagome só queria mesmo era chamar atenção.

_Ignore. Ela só quer chamar atenção. – respondeu por fim.

_Não sei não. – Miroku continuou com os olhos fixos em Kagome, presa em seu próprio mundo de horrores – Acho que eu deveria ir lá falar com ela, ver se está tudo bem.

Mas foi impedido de se aproximar logo no primeiro passo que deu.

_Deixe-a em paz Miroku – disse Sango, com a mão em seu ombro – Não se lembra da ultima vez que tentou falar com ela?

Miroku coçou a nuca. Havia tentado se aproximar de Higurashi Kagome uma única vez. Ela estava no corredor carregando um pequeno monte de livros mal equilibrados quase deixando cair de seus finos braços.

Miroku se aproximou por trás dela e tocou-lhe o ombro.

_Oi, posso te ajudar?

Ela arregalou os olhos, deixou os livros todos caírem no chão e saiu correndo a uma velocidade simplesmente impressionante.

_Ah é. – disse Miroku – Parece até que eu já tinha feito alguma coisa pra ela.

_Não liga não, ela é assim com todo mundo. – Inuyasha deu duas pequenas tapas nas costas do amigo – Como eu disse, é só pra chamar atenção.

_Classe, todos sentados. – disse o professor entrando na sala. – Vamos iniciar a aula.

Kagome ergueu o rosto de repente, quase havia tido um ataque de pânico em plena sala de aula, respirou fundo, precisava se acalmar era só outro dia de aula normal, só isso, e é claro que ela estava segura ali na escola, pois era um lugar publico então nada de mal poderia lhe acontecer na escola.

_Higurashi. – chamou o professor, ao que Kagome colocou-se imediatamente de pé – Leia o segundo paragrafo da pagina 23 se faz favor.

Todos se voltaram para ela, esperando para assistir sua leitura. Seu coração acelerou, era muitas pessoas a olhando, muitos meninos, não, eles tinham que parar de olhá-la, ela não podia suportar. Sacudiu a cabeça e voltou a se sentar.

Algumas risadinhas soaram pela sala.

_Ela é muda, professor! – disse alguém na sala. – Não sabe falar.

_Muito bem então. – o professor ajeitou os óculos e anotou alguma coisa em seu diário de classe.

A escola era um lugar seguro. Kagome continuava dizendo a si mesma. Então porque aquele medo constante a seguia mesmo estando ali?!

_Inuyasha já estava mesmo na hora de você chegar! – gritou Izayoi ao ver o filho aparecer atrás do balcão pela porta da cozinha – Está atrasado de novo!

_Mãe. – Inuyasha olhou o relógio pendurado logo acima da porta atrás do balcão – São 14h01min, e eu começo as 14h00min.

_Ainda assim está atrasado! – Insistiu a energética Sra. Taisho – Tempo é dinheiro, e você já tem duas entregas a fazer!

_Tudo bem. – ele suspirou, era melhor não discutir com sua mãe – Só me dê o endereço e...

_Não senhor! – gritou batendo as mãos no balcão e assustando Inuyasha que deu um salto para trás, e até mesmo alguns clientes, os poucos que não estavam habituados com Izayoi Taisho e seu filho – Não antes de você colocar seu uniforme, onde é que ele está?

Inuyasha ficou rubro.

_Eu não vou sair na rua usando aquela coisa ridícula de novo, mãe.

Izayoi cerrou os olhos.

_Ah vai sim senhor. Eu sou sua chefa, e sua mãe, por tanto tem que me obedecer, e agora eu estou mandando você colocar o uniforme, ou então se você não aguenta o tranco pode pedir demissão.

Inuyasha bufou, e virou-se para entrar novamente na cozinha.

_Vou pegar o meu uniforme.

_Excelente! – comemorou Izayoi – E... Filho?

_O que, mamãe?

_Você não entrou na cozinha com a bicicleta de novo, entrou? – Inuyasha não respondeu – Inuyasha! Eu já te disse que ela tem que ficar do lado de fora! – ralhou – A cozinha de um restaurante não é lugar para uma bicicleta.

_Só que se eu a deixasse lá fora, iriam acabar roubando, não é mesmo mamãe? – ele lançou um olhar significativo à mãe.

Logo após receber o seu primeiro pagamento Inuyasha tivera sua bicicleta afanada, e quando ele pedira a sua mãe que lhe comprasse uma nova, ela apenas lançara um olhar de canto a ele e respondera:

_Não acabou de receber seu salário? Então use seu próprio dinheiro!

E assim ele usara três meses de seu salario para pagar uma bicicleta nova. Mas... Ele tinha a ligeira impressão de que sua mãe havia pagado alguém para roubar sua bicicleta, principalmente depois que ela casualmente comentou:

_Talvez seja um sinal, de que você não deve comprar a moto.

E, por mais que sua mãe esperneasse, ele nunca mais deixara a bicicleta do lado de fora do restaurante.

E tudo porque no ano anterior, Inuyasha dissera a sua mãe que queria ganhar uma moto em seu aniversário de dezoito anos, mas sua mãe fora categórica.

_É claro que não! – ela dissera – Motos são perigosas, elas não têm cinto de segurança ou erbegues e a capota ainda por cima é a sua cabeça. Já imaginou se, Deus me livre, te acontece algum acidente? Eu morreria! Já me basta ter perdido ao teu pai e ao teu irmão também!

Ela falava como ambos estivessem mortos, embora só um o estivesse realmente, enquanto que o segundo havia se mudado para a grande capital, arranjado um bom emprego e nunca mais voltado. Às vezes ele ligava para dizer que ainda estava vivo, mas eram ocasiões raríssimas.

Em tom cansado Inuyasha explicou que não precisava da permissão dela porque já teria dezoito anos e seria dono do próprio nariz, e quanto ao dinheiro, ele arranjaria um emprego e iria economizando a partir de então.

E sua mãe muito gentilmente lhe oferecera um emprego, na época Inuyasha foi ingênuo, mas desde já ele já deveria saber que sua mãe jamais dava um pouto sem nó, pois a verdade é que Izayoi era uma mulher de "mente torta", como Inuyasha gostava de dizer, pois apesar de ser uma boa mulher, ela tinha uma forma um tanto quanto... Peculiar, de realizar suas "boas ações".

Sendo assim, desde seu primeiro dia no trabalho, Izayoi tratou de infernizá-lo de todas as formas que podia, e sempre repetia o mesmo refrão: "Se não aguenta o tranco trate de pedir demissão logo!", e Inuyasha logo entendeu seu plano: Ela não queria demiti-lo para que ele fosse procurar outro emprego, ela queria que ele se demitisse para que sozinho ele entendesse que ainda não tem idade para trabalhar. Estava o torturando para lhe ensinar uma lição.

E embora Inuyasha soubesse que nenhum outro chefe seria tão ruim quanto sua mãe, e que ele podia pedir demissão a hora que quisesse, ele decidiu ficar, somente para provar a sua mãe que ele podia sobreviver a ela.

_Você e sua mãe ainda estão em pé de guerra. Não é? – riu Enju, uma das três cozinheiras que trabalhavam na cozinha.

_Ela quer me enlouquecer é isso o que ela quer! – exclamou Inuyasha praticamente arrancando um pequeno avental xadrez, rosa claro e branco, com babadinhos nas bordas, com pouco menos de um palmo de comprimento e o amarrando aos quadris – Que mãe faz um filho sair na rua com uma coisa dessas?!

_Olhe pelo lado bom, ela podia te fazer usar o uniforme das garçonetes. – Inuyasha torceu o nariz ao lembrar-se do uniforme das garçonetes: um vestido Lolita cor de rosa. Digamos apenas, que sua mãe era um tanto fanática por cor de rosa. – E também, o avental não é a pior parte!

_Francamente Enju; isso não me ajuda em absolutamente nada. – Inuyasha olhou com asco para a pequena tiara neko, com felpudas orelhas cor de rosa, cuidadosamente a pegou, e silenciosamente xingando sua própria mãe ele colocou a tiara na cabeça.

_São dois pedidos, você tem que entrega-los aqui e aqui. – explicou Enju lhe entregando dois pequenos papeis onde estavam anotados os endereços.

_Quanto tempo? – perguntou passando os olhos pelos endereços e verificando qual era o mais próximo.

Enju olhou em seu relógio de pulso.

_Nove minutos e contando.

Inuyasha praguejou, e apressadamente agarrou os pedidos e saiu da cozinha com sua bicicleta.

Normalmente Inuyasha teria vinte minutos para chegar à casa do cliente, ou então o pedido saia pela metade do preço, mas Izayoi sempre pegava pedidos minutos antes do horário de trabalho de Inuyasha começar, para que assim ele tivesse menos tempo.

_Cozinha de restaurante não é lugar para uma bicicleta. – ainda pôde ouvir sua mãe resmungar antes de disparar com a bicicleta.

Izayoi, sua "doce" mãe, sempre querendo pegá-lo em suas artimanhas, mas afinal ele era filho dela, portanto também tinha suas próprias artimanhas para tapear a mãe. Uma por exemplo, que ele usava para não atrasar a maioria dos pedidos, era cortar o caminho, ele cortava caminho pelo cemitério, e depois pela praça, para então sair costurando a cidade através de vários pequenos becos que passariam despercebidos a muitas pessoas, fazer isso quase sempre dava certo. Mas sua mãe não sabia disso, e por isso nunca entendia como Inuyasha conseguia aquela façanha.

O cemitério era, segundo todos do bairro, um lugar amaldiçoado, cheio de espíritos perturbados e até mesmo um cão do inferno. Inuyasha deu risada da ingenuidade da vizinhança. Espíritos perturbados? Cães do inferno? Bobagem!

Ainda rindo, Inuyasha desmontou de sua bicicleta para entrar no cemitério, podia não acreditar nessas coisas, mas também não desrespeitaria os mortos passando de bicicleta por dentro da casa deles. Porém seu riso logo cessou ao ouvir o rosnar de um gigantesco animal.

E ao olhar para o lado lá estava ele, erguendo-se de uma das sepulturas com o pelo negro lustroso, o maior cachorro que Inuyasha já vira, com monstruosos dentes, e patas enormes, seu pescoço era tão largo que Inuyasha achou que poderia usar como cinto a coleira marrom que o cão usava, era uma verdadeira máquina de matar. Inuyasha empalideceu. Era um verdadeiro cão do inferno.

Ele quis correr, mas suas pernas estavam paralisadas de medo, e além do mais, ele havia ouvido falar de que um cachorro só corre, se você corre primeiro, então o que faria?

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come! Não havia escapatória!

Fechou os olhos, pronto para abraçar a morte.

Mas então o cão olhou para trás, com as orelhas empinadas como se estivesse escutando algo, deu meia volta pulou de cima da sepultura e saiu galopando para longe. Inuyasha abriu os olhos, aquela tinha sido por pouco, mas... Contrariando a todo e qualquer pensamento racional que um ser humano pudesse ter, ao invés de ir embora ele seguiu o animal. Queria saber aonde ele ia.

Escorou a bicicleta em um dos túmulos, totalmente esquecido do prazo que tinha para entregar a comida, e tomando cuidado para não fazer barulho, acabou perdendo a coisa de vista, algo surpreendente considerando-se seu tamanho, mas continuou caminhando, seguindo seus extintos, ele quase que esperava encontrar uma entrada para o inferno, mas o que encontrou foi algo totalmente diferente: uma menina de joelhos, diante uma sepultura, com as palmas juntas a frente do rosto e os olhos fechados. Parecia estar rezando.

Surpreendeu-se ao reconhecer a menina que estava ali: Higurashi Kagome.

É claro, ela havia chegado há pouco tempo na cidade, não sabia das lendas que rondavam aquele cemitério.

Inuyasha só percebeu que estava se movendo quando um galho estalou sob seus pés ao quebrar-se, Kagome rapidamente abriu os olhos e virou-se, então por impulso Inuyasha se jogou atrás de uma das sepulturas que estava próxima a si.

Mas ela continuou olhando, esperando aterrorizada para ver o que, ou quem, havia feito aquele barulho. O que ele estava fazendo afinal? Era só Higurashi Kagome, a estranha menina calada da classe, ele não tinha porque se esconder!

Estava para se revelar quando o viu: o cão negro gigante.

Vinha correndo em sua direção, e Inuyasha ficou totalmente sem ação, mas o cão pareceu nem perceber sua presença, saltou sobre sua cabeça e passou direto em direção a Kagome. Ele arregalou os olhos, ela estava perdida!

Levantou-se para ajudar a garota, não que ele pudesse fazer muita coisa contra aquela fera, mas surpreendeu-se ao ver que ela não parecia estar correndo perigo algum, na verdade estava afagando o animal carinhosamente, com um olhar amável nos olhos.

Ela estava aliviada por ser apenas Sir. Lancelot.

Por reflexo, Inuyasha voltou a esconder-se, mas permaneceu observando os dois, o que ela estava fazendo no cemitério com aquele monstro em forma de cachorro?

Sir. Lancelot lambeu a face de Kagome, e acomodou-se para deitar-se ao seu lado, então Inuyasha percebeu: o cachorro o encarava. Era como um aviso de que se ele se aproximasse ele seria morto.

Kagome voltou a fechar os olhos e juntar as mãos diante o rosto.

Então Inuyasha voltou a esconder-se, pois pretendia sair dali da mesma forma que chegou: sem ser notado.

_Vovô! – chamou Kagome.

Inuyasha retrocedeu. Então ela não era muda afinal.

_Vovô eu sou uma criança horrível! – exclamou angustiada.

"Criança?" – Pensou Inuyasha – "Quantos anos ela acha que tem?".

_E preciso confessa-lhe algo.

Confessar algo? Ele franziu o cenho. O que seria?

Bem, ele girou os olhos, com certeza era algo trivial. Afinal ela ainda referia a si mesma como ainda sendo uma criança.

_Quando eu tinha treze anos minha mãe casou-se novamente, e meu padrasto abusou sexualmente de mim. – contou Kagome, fazendo Inuyasha arregalar os olhos no mesmo instante – Eu acabei engravidando, mas era muito nova e meu corpo não pôde suportar, tive um aborto espontâneo, minha mãe não me ajudou, e a violência continuou, depois do aborto, achei que meu útero havia se tornado estéreo, eu pensei estar completamente oca por dentro e que nunca mais poderia ter filhos, mas estava enganada, porque voltei a engravidar, desta vez minha mãe acabou tendo um surto psicótico, pegou a arma e atirou entre as pernas de meu padrasto com sua própria arma.

Higurashi Kagome havia estado grávida... Por duas vezes?

_O aborto é ilegal, a menos que a criança ofereça risco à mãe, ou então seja anencefálico ou o resultado de um estrupo, meu caso se encaixava em duas dessas três condições e ainda assim fui impedida de abortar, pois meu corpo era ainda muito jovem, e talvez eu não suportasse um segundo aborto, em outras palavras, eu poderia morrer. Mas francamente eu não me importava com isso, eu cheguei ao ponto de desejar a morte... Ser impedida de abortar e obrigada a gerar aquela criatura que a cada dia sugava-me a vida, e constantemente lembrava-me do que me fizeram, foi como ser condenada ao inferno em vida.

Um soluço ecoou no silêncio do cemitério, de seus olhos fechados lágrimas começaram a despencar.

_Procurei a ajuda de meu pai, ao qual eu já não via a cerca de sete anos, o achei pela lista telefônica e fui até sua nova casa, ele nem mesmo deixou-me passar da porta, talvez não quisesse que eu visse sua nova família, ou mais certamente não queria que sua nova família visse a mim: um fantasma de seu passado. Quando contei o que me havia acontecido implorando por sua ajuda ele deu-me uma forte tapa no rosto e jogou na minha cara que a culpa de tudo havia sido inteira e unicamente minha, disse que eu certamente havia seduzido meu padrasto, e por isso a culpa estava longe de ser dele, me disse que eu o tentei, eu o seduzi, ele foi a vitima e não eu que era meramente... Uma vagabunda. Ele me disse para nunca mais procura-lo novamente.

Inuyasha não podia acreditar no que estava ouvido. Que tipo de pai trataria a própria filha desta forma?

_Naquele mesmo dia, tentei suicidar-me. Tranquei-me em meu quarto e cortei meus pulsos, mas minha mãe descobriu-me, arrombou a porta e correu comigo para o hospital, eles conseguiram salvar-me, e... Infelizmente também salvaram aquela coisa que crescia dentro de mim. Passei os cinco meses seguintes sendo constantemente vigiada, pois minha mãe não voltou a deixar-me um só minuto a sós. Um casal, que estava interessado em criar aquele monstro tão odioso, pagou todas as minhas despesas hospitalares. E desde então faz oito meses que dei a luz a uma criança e a entreguei para adoção.

Oi gente! Então, como devem ter notado essa aqui é minha nova fanfic.

Ela foi inspirada num mangá sobre o qual me falaram uma vez, mas não estou lembrada do nome agora.

Espero que gostem dela.

E agora, só pra deixar aquele gostinho de quero mais, que tal uma prévia do próximo episódio, narrada pelo Inuyasha?

E no próximo capítulo de "Donzela maculada"...

O que? Como assim Higurashi Kagome já esteve grávida? Ah isso não pode ser verdade, deve ser uma pegadinha tem que ser! E eu vou chegar ao fundo desse mistério custe o que custar! Mas... Que cicatrizes são essas nos pulsos dela?

Não perca no próximo capitulo de Donzela maculada: "As cicatrizes de Kagome"!