Dainibotan

Era época das cerejeiras em flor. As árvores que rodeavam a escola tingiam tudo com seus tons róseos, algumas delicadas pétalas escapando com o vento e esvoaçando em uma lenta dança. Poderia ser o início de um mangá shoujo, mas se fosse comparar provavelmente aquela história era mais parecida com de um de esportes e agora era justamente o momento final dos estudantes do terceiro ano – a tão sonhada e tão temida formatura.

Sawamura corria por entre os alunos, desviando de alguns grupinhos e também de familiares que vieram prestigiar a cerimônia. Afobado, beirava o desespero, os olhos procurando a silhueta alta de seu querido veterano-tutor, o melhor catcher de toda Seidou... Chris-senpai, é claro. Um sorriso alegre tomou conta dos lábios de Eijun ao ver a algumas cabeças de distância os cabelos puxados para trás que reconheceria em qualquer lugar.

− Chris-senpaaaaai! – arrastou bem as sílabas, sua voz alta se sobrepondo às vozes das pessoas ao redor. Acenou energeticamente também, enquanto abria caminho entre as pessoas.

Chris não chegou a se virar, nem a parar de andar, mas diminuiu consideravelmente o passo ao ouvir a voz do arremessador o chamando a fim de que ele o alcançasse – o que de fato não demorou a acontecer. Eijun aproximou-se a passos largos, chegando inclusive a passar a frente de Chris, sorrindo radiante quando se colocou em frente a ele.

− Chris-senpai! – repetiu alegre, parecendo quase dar um pulo. Nem mesmo agora sua voz diminuiu, além de naturalmente barulhento, estava eufórico.

− Sawamura. – Sorria de modo leve, colocando uma das mãos no bolso da calça.

Não teve tempo de perguntar o que era, pois o mais novo respirou fundo e gritou (mesmo estando na sua frente):

− PARABÉNS PELA FORMATURA, CHRIS-SENPAI! Por favor me deixe carregar sua bolsa! Minhas felicitações ao formando! Meus parabéns! Onde está indo?! Será que posso acompanhá-lo?!

O mais velho acabou cerrando os olhos com ligeiro constrangimento, afinal todas as conversas ao redor pareceram parar naquele momento, realçando ainda mais a voz de Sawamura, o que foi seguido de vários risinhos. Mas não conseguia ficar bravo com ele, não quando ao abrir os olhos se deparou com os alheios brilhando tão intensamente e esperançoso. Levando a mão que descansava dentro do bolso até o topo da cabeça do menor, bagunçou ligeiramente os fios arrepiados, suas feições demonstrando gentileza.

− Vamos andando então, Sawamura.

O rosto do mais novo chegou a corar de alegria e não precisou pensar duas vezes.

− Sim, Chris-senpai!

Começaram a andar lado a lado, Chris maneirava sua velocidade para que não acabasse deixando o pitcher para trás, queria dar mais uma olhada onde o time de beisebol praticava. Contudo, esperava uma conversa alta e animada, mas Eijun apenas parecia muito nervoso ao seu lado. Nervoso e calado, o que era por si só muito estranho. Era inevitável não ficar preocupado.

− Algo de errado, Sawamura? – soltou a pergunta, fitando-lhe de esguelha. – Está quieto.

− Não! Sim, Chris-senpai!

Como o Eijun parou ao responder, o outro acabou se adiantando dois passos, precisando voltar-se para trás para fitá-lo. Chris deixou que uma risada sem som escapasse, apenas movendo os lábios, ao perceber que o mais novo havia se confundido nas palavras. Porém resolveu insistir.

− O que é?

Sawamura parecia mais atrapalhado que o usual, bagunçando os próprios cabelos castanhos e balbuciando coisas ininteligíveis. Até perder a paciência e simplesmente gritar e então se inclinar na direção do mais velho, o qual até volveu o corpo de modo leve para trás por reflexo. A expressão de Eijun estava séria e ele fitava a Chris fixamente, sem nem piscar.

− Chris-senpai! Me dê o segundo botão do seu uniforme! Por favor!

"Ah... então era por isso". Toda aquela animação misturada com seriedade precisava ter um motivo. De início, Chris piscou surpreso, mas finalizou com uma risada breve.

− Não sei se isso faz tanto sentido com esse tipo de uniforme, Sawamura.

Comentou com gentileza, fazendo o mais novo corar e encolher os ombros, suando tenso. Se normalmente o segundo botão das vestes escolares tinha uma simbologia por estar perto do coração, Chris não tinha muita certeza se isso se mantinha quando se usava um blazer.

− Uhhg... – soltou um som contrariado, elevando os braços em frente ao corpo na defensiva. – Mesmo? Digo—Aah...

O arremessador estava envergonhado pela suposta gafe cometida. Não entendia muito daquelas coisas complicadas. Só queria pedir o botão do uniforme escolar de Chris-senpai porque o admirava muito, além de gostar bastante dele. Nem passou por sua cabeça que era sem sentido ou o pedido estranho, até porque havia ficado tão feliz de ver o blazer intacto que basicamente nem refletiu sobre. Agora estava preocupado de ter cometido um erro terrível.

Tão preocupado estava com a forma que pediria desculpas ou como se explicar que assustou-se quando Chris tomou uma de suas mãos, afastando os dedos da palma. Eijun piscou confuso quando o maior soltou seu dorso, ficando a encarar por longos segundos o botão reluzindo na palma de sua mão. Então ergueu os orbes para Chris, olhando duas vezes para ter certeza de que faltava um botão na segunda casa da roupa e ele lhe sorria com uma amabilidade sem igual. Seu veterano havia mesmo tirado e lhe entregado aquele objeto tão simples... mas mal podia acreditar.

Sawamura sentiu vontade de chorar de felicidade, apertando o botão na mão e a trazendo junto ao próprio peito. Virou-se de costas ao mais velho ao sentir as lágrimas correndo, não conseguia conter toda aquela alegria.

− OSHI! OSHI! OSHI! Ganhei um botão do Chris-senpai! Vai ser meu tesouro precioso!

Chris ficou a observá-lo por alguns segundos enquanto o mais novo externava seu contentamento gritando, porém suspirou e voltou a andar, murmurando um "claro, claro" enquanto caminhava. Logo o outro começou a segui-lo, ainda tagarelando, mas Chris não podia negar que aquilo aquecia seu coração, como o sol morno da primavera. Sawamura era como um raio de sol que o salvara da escuridão. Ao menos um pouco, esperava ter transmitido seus sentimentos a ele.