Benjamin estava com medo do escuro naquela noite - e doía o coração dela vê-lo assustado. A mulher sentou-se na borda da cama, fazendo companhia para o pequeno até que pegasse no sono. A casa permanecia imersa num silêncio pesado, e ela se sentiu solitária por um instante. Saudades.

Seus olhos não o encaravam - não podiam. Sua visão ficara embaçada de repente, com as lágrimas não derramadas. Subitamente sentia-se muito fraca, tão cansada daquilo tudo. Exausta. Fechou os olhos e deixou sua mente imaginar que era o homem ao seu lado, e não o garoto de 10 anos. Fingiu que era o calor antigo de Benjamin que sentia perto do corpo. Desejou sentir sua mão grande contra a sua.

Um par de lágrimas deslizou por seu rosto enrugado. Ela forçou-se a não soluçar, tentando controlar-se. Então, uma mão pequenina as afastou, e a mulher sobressaltou-se levemente. Abriu os olhos para encontrar o menino a observando, um braço ainda estendido em sua direção.

- Não chore, Daisy.

Há quanto tempo não o ouvia dizer seu nome!

Ela não se mexeu. Suspirou, o coração tomado pela saudade esmagadora. Não sentiu as outras lágrimas que caíram por sua face, os olhos lavados concentrados nas feições a sua frente. Ela podia reconhecer os traços, os olhos, o homem sob a fachada infantil - e isso só fez a dor em seu peito aumentar.

Ele também permaneceu parado, os olhos brilhando como se soubesse, de repente, tudo que desaprendera nos anos anteriores. Sua testa se franziu por um instante e então ele aproximou sua face da dela. Sussurrou em seu ouvido.

- Boa noite, Daisy.

Nenhum dos dois se moveu. Ela se lembrou de todas as vezes em que havia escutado a mesma frase e imaginou se, ao menos por um segundo, ele podia fazer o mesmo.

Então o garoto reclinou-se contra o travesseiro e adormeceu imediatamente.

A mulher fechou os olhos. Desejou que as coisas fossem diferentes. Mas aquele ao seu lado era Benjamin Button e seu caso não poderia ser feliz. Não poderia ser nada além de curioso. Era sua sina.

- Boa noite, Benjamin.

Ele não se lembraria de nada na manhã seguinte.