Nome da Fic: Minha Imortal

Autor: Roxane Norris

Personagens: Severus Snape / Personagem original

Censura: NC-17

Gênero: Romance

Spoilers: do quinto e sexto livro.

Resumo: Snape se vê envolvido, e apaixonado, por sua aluna. A única pessoa capaz de absolvê-lo.

Agradecimentos: àminha beta querida Andy GBW. À Maria Inês Teixeira, Fernanda Porcel e Andy GBW que me inspiraram a escrever esta fanfiction.

Disclaimer: Harry Potter e seus personagens são de propriedade de J.K. Rowling, Warner Bros, Scholastic e Bloomsbury, entre outros. Ou seja, quase todo mundo, menos eu.

Minha Imortal

O MESTRE DE POÇÕES

Olhos castanhos encontraram os seus, um misto de pavor e dor passou por eles enquanto sua mão tapava-lhe a boca, sufocando qualquer grito que pudesse emitir. O corpo retesou pela última vez, permanecendo inerte no chão frio. Pela porta aberta, sumiu um vulto preto. Malditas lembranças! Ele se sentou na cama, o corpo suado, a respiração alterada. Levantou, foi até o banheiro, abriu a torneira da pia, e molhou o rosto. Puxou a toalha com uma das mãos, enxugando-o, a visão do espelho era clara: cabelos negros, olhos penetrantes, a pele branca. Sacudiu a cabeça negativamente, atirou a toalha ao chão com raiva. Fitou sua imagem novamente no espelho... Por quanto tempo ainda viveria com isso em sua mente?

Voltou para o quarto, sentou-se na poltrona, apoiou a cabeça nas mãos longas e depois as escorregou pelos cabelos lisos. Olhou para o relógio sobre a mesinha perto da cama, cinco horas e trinta minutos, daqui a duas horas teria que descer para o café da manhã e não dormira nada. As lembranças de cinco anos atrás o atormentavam. Passara quase vinte anos combatendo em segredo Voldemort, mas muitas coisas que fizera por causa disso não tinham perdão. É verdade que fora absolvido por ter matado Dumbledore, que fora readmitido em Hogwarts por seus feitos na última batalha, mas também era verdade que aqueles olhos nunca abandonaram seus pensamentos. A visão que tinha de si mesmo era clara: a de um homem desprezível, e sempre seria.

Começou a se arrumar para enfrentar mais um dia de aulas, ensinar um bando de cabeças-ocas. Bela escolha, Snape... mas devia ter escolhido caminhos mais dignos para alcançar isso! Pensou abotoando os últimos botões de suas vestes. Bufou... 43 anos, professor e não construiu nada... a não ser uma sólida reputação de ranzinza, rancoroso e insuportável... Bufou novamente colocando a capa preta, e crispou os lábios, no que provavelmente seria um sorriso de escárnio de si mesmo... Pelo menos evitei que mais alguém convivesse com minhas escolhas erradas... o erro foi só meu... só meu! Deixou-se ficar parado olhando as chamas crepitantes da lareira, olhos castanhos o espreitavam por entre o leve sibilar do fogo, fechou seus olhos ao lembrar: ela fora seu pior erro! Segundos depois, o fogo recebeu uma lufada de vento frio e apagou. Snape deixara seus aposentos indo na direção ao Salão Principal.

Eu tentei acabar com a dor

Mas só me trouxe mais

(muito mais)

Eu caio morrendo

E eu estou derramando remorso sanguinário e traição

- Página 15 - falou com a voz ríspida, ao entrar na sala do primeiro ano. - Não tolerarei erros! Quero essa poção em minha mesa, CORRETA! - rosnou e olhou ameaçadoramente a classe - Até o final da aula.

Com a respiração suspensa os alunos se entreolharam, um leve brilho de prazer passou em seus olhos negros. Ele arqueou as sobrancelhas, virou-se caminhando a passos largos para sua mesa e disse num tom frio que lhe era peculiar:

- Estão esperando o que para começar? - um leve tumulto a suas costas o fez virar, ao mesmo tempo em que todos estacaram. - Em dupla, senhores!

Seu olhar frio e penetrante caiu sobre todos, tudo o que se ouviu na sala nas horas seguintes foram o tilintar de vidros e caldeirões. Snape se sentou em sua cadeira, dando um último olhar desprezível a turma, então começou a corrigir os trabalhos a sua frente. Como previra, não tivera problemas até o final da aula, sua mesa se encheu de vidrinhos com um líquido marrom que apresentava, de um para outro, algumas variações de tonalidade. O sinal soou e um tropel de alunos foi ouvido deixando a sala fria das masmorras.

Nas últimas duas semanas acumulara a cadeira de professor de Poções, pois Slughorn estava doente e o professor substituto ainda não chegara. Estava exausto, era sua última aula do dia, e sentiu um alívio ao ver os alunos sumirem de sua vista. Naquele dia, em especial, não se sentia particularmente com humor para aturá-los, ou até mesmo, derramar sobre eles suas frustrações. Apesar de estar debruçado sobre os trabalhos a aula inteira, só conseguira corrigir a metade, sua mente borbulhava com as lembranças de seu passado.

Ele se levantou, foi até as imensas janelas de vidro da sala, e olhou para os jardins da escola. A noite caía sobre ele, derrubando um brilho prateado sobre a grama. Snape fixou o olhar num ponto distante, e seus pensamentos rodaram em sua mente. As lembranças cruzaram sua mente como um raio.

Eu estou morrendo,

Orando, sangrando e gritando

Estou perdido demais pra ser salvo?

Estou perdido demais?

Voltava da Floresta Negra, estava indo para seus aposentos quando ouviu um barulho no corredor as suas costas, e virando-se, tomou outra direção. Quem estaria fora da cama essa hora? Pensou enquanto avançava pelo corredor. Provavelmente algum grifinório... E sorriu ante a perspectiva de dar uma detenção. O barulho se fez ouvir mais perto, era o som de uma respiração acelerada, manteve o sorriso, sua presa estava próxima e aterrorizada. Apontou a varinha na direção do som, um feixe de luz saíra da ponta dela iluminando um rosto pálido e infantil. Os cabelos ruivos caíam-lhe sobre rosto, os lábios finos abertos em sinal de pavor e os olhos castanhos intensos grudados nele. Snape movimentou a varinha verticalmente, medindo a menina de 17 anos a sua frente, e deu-lhe um riso caustico. Ele acertara em cheio, era uma grifinória. Seres insuportáveis que adoram passear pelos corredores durante a noite... de dez, onze são grifinórios! Pensou consigo mesmo.

- O que uma aluna da Grifinória faz aqui? - ele frisou a última palavra dando-lhe um tom ameaçador.

Apesar de experimentar um sabor de vitória, aparentemente ela não se sentia ameaçada com sua presença, pois não respondeu. Snape inquietou-se. Ela deveria pensar melhor antes de provocar minha fúria... Será que já não me conhece o suficiente para saber que ganharia uma detenção de uma semana agindo assim? A menina não se mexeu, e ele perguntou mais uma vez impaciente:

- Senhorita Norris, não me ouviu? - falou ríspido. - Ou será que terei que fazê-la novamente? Dez pon...

Suas palavras morreram no mesmo instante em que ela se atirara em seus braços e o abraçara, escondendo o rosto em suas vestes. O livro que trazia junto a si caíra no chão, e ele podia sentir os soluços percorrendo o corpo dela. Surpreso com a atitude da menina, e com sua própria, viu-se abrigando-a em seus braços. Ao sentir os braços do professor sobre seus ombros, ela levantou os olhos até encontrarem os dele, profundos e negros. Snape a encarou, foi a primeira vez que se viu naqueles olhos castanhos, e ao invés de medo, ele encontrou uma tristeza profunda.

Antes que pudesse se recompor de seus atos, sentiu a tensão dos braços dela diminuírem e seu corpo escorregar até o chão, retornando com o livro junto a si. Não sabendo direito o motivo da reação, Snape a deixou partir sem dizer qualquer palavra, apenas a viu sumir correndo no corredor mal iluminado. Virou-se, ainda atordoado com a cena e caminhou a passos largos de volta para seus aposentos.

Meu Deus, minha protetora

Retorne para a minha salvação

Meu Deus, meu protetor

Retorne para a minha salvação

Você se lembra de mim?

Perdido a tanto tempo

Você vai ficar do outro lado?

Ou vai me esquecer?

Um Snape cansado continuava fitando os jardins desertos de Hogwarts. Seu semblante não era duro como de costume, ao contrário, todas as linhas de seu maxilar tinham afrouxado e seus olhos negros estavam impregnados de dor. Ele queria evitar essas lembranças, mas nunca tinha conseguido apagá-las, estavam gravadas a fogo em sua alma. Onde ela estaria? Nunca pedira desculpas, nunca a procurara e, provavelmente, nunca seperdoaria por isso. Abaixou seu rosto, era um ser imundo e nojento, como se desculparia? Desculpas não cabiam ao que fizera, a dor que provocara, ela nunca o perdoaria! Nunca! Fitou mais uma vez o gramado lá fora e com a capa esvoaçando, deixou a sala.

Minhas feridas imploram por um túmulo

Minha alma implora por libertação

Eu vou ser negado?

Cristo!

Protetora!

Meu suicídio.

( Tourniquet - Evanescense )