Caros leitores,
Antes que a fic propriamente dita comece, permitam-me esclarecer algumas coisas.
Se vocês leram a sinopse da história, devem ter percebido que o enredo de "Aborrecimentos e Saudades" não tem nada de original. Sim, vocês já leram muitas histórias como esta e certamente podem prever como esta fanfic será, do início ao fim. Não me agradam os clichês, mas esta é uma história baseada em clichês clássicos do gênero romântico. Então, por que decidi escrevê-la?
Primeiro, porque as cenas e os diálogos surgiram em minha mente de forma espontânea e não consegui me livrar deles. Segundo, porque quero usar esta fic como um teste para mim mesma. Quero descobrir se sou capaz de imprimir alguma marca pessoal a uma trama que tem tudo para ser apenas mais uma na multidão da Literatura.
Ah, um aviso importante: embora esta seja uma comédia romântica, eu não deixarei de incluir cenas ou até mesmo capítulos inteiros num tom mais sério, se/quando isto for necessário ao bom andamento da história. E notem que o que temos aqui não é uma comédia pastelão. Portanto, não esperem cenas do tipo que causaria gargalhadas estrepitosas. Se eu conseguir inspirar alguns sorrisos simpáticos, já ficarei bastante satisfeita. (Hum, pensando bem, escrevi dois avisos e não apenas um.)
Muito obrigada por sua atenção! Boa leitura!
ABORRECIMENTOS E SAUDADES
Uma comédia romântica assumidamente feminista e sadomasoquista
Por Vane
"Saint Seiya" pertence a Masami Kurumada, Toei, Shueisha e Akita Shoten.
Capítulo 1
Saori pedira a um soldado que chamasse Shion, e agora o aguardava numa saleta de reuniões localizada dentro de seu templo no Santuário.
O Mestre não tardou em chegar. Eles se cumprimentaram amigavelmente e se sentaram em torno de uma mesa circular.
- Em que posso ajudá-la? - Shion perguntou, solícito.
- Pode tirar a sua máscara, Shion.
- Ah, é verdade - ele disse, retirando a peça e colocando-a sobre a mesa. Estava tão habituado a usá-la, que às vezes se esquecia de que ninguém tinha o direito de esconder suas expressões faciais de Athena se ela desejasse vê-las. Depois ele fitou a deusa em silêncio.
- Eu o chamei até aqui porque quero discutir um assunto que me incomoda há tempos - ela começou, explicando em seguida, num tom irritado: - essa mania que a Shaina tem de perseguir o meu Seiya!
- E o que eu tenho a ver com isso? - Shion perguntou, já achando que iria perder seu tempo ali.
Ao ser fuzilado pelo olhar de Saori, ele se encolheu um pouco na cadeira e apressou-se em dizer:
- Naturalmente, terei imenso prazer em ajudá-la no que quer que seja!
- Acho bom - respondeu Saori, inclinada em sua direção e olhando-o com certa desconfiança. Após um breve instante, ela desviou seu olhar do rosto dele, franziu o cenho e pôs-se a falar com alguma irritação: - Shion, eu já estou cansada dessa situação. Ela já se declarou há muito tempo para o Seiya e ela sabe que estamos juntos. Mesmo assim, ela insiste, insiste e insiste. Está sempre atrás dele com aquela cara melosa de coitadinha, e sempre que enfrentamos algum inimigo, lá vai ela bancar a Andrômeda e tentar se sacrificar por ele.
- Mas não acha que Shaina está apenas honrando a tradição do Santuário? Afinal de contas, Seiya viu o rosto dela, mas ela não o matou. Portanto, a única alternativa que resta a ela é...
Saori interrompeu o Mestre de seu santuário, rebatendo com sarcasmo:
- Ora, Shion, por favor! A Shaina teve o rosto dela visto pelo Seiya? Sim... por ele e por toda a torcida do Panathinaikos!
- Que culpa ela tem se a máscara dela foi mal-feita e quebra à toa?
- Quem é que conserta máscaras e armaduras quebradas? É o Mu. E quem foi que treinou o Mu mesmo, hein?... - ela devolveu, com um sorrisinho.
- Errr... hum... ahn...
Shion foi salvo de seu constrangimento pela própria Saori, que prosseguiu:
- E não podemos nos esquecer das várias histórias sobre as ocasiões em que ela tira a máscara voluntariamente, quando lhe convém. - Aumentando a carga de ironia em sua voz, ela emendou: - Pelo conteúdo dessas histórias, podemos deduzir que ela realmente é uma amazona empenhada em honrar a tradição das máscaras: se um homem vê seu rosto, ela faz questão de... "amá-lo" - ela completou, fazendo com os dedos o gesto indicativo de aspas.
Embora tivesse entendido perfeitamente o tipo de amor a que sua deusa se referira, Shion ainda fez uma tentativa:
- Viu só que atitude bonita a dela? Eu acho tão lindo quando uma pessoa respeita as leis dos deuses! - ele exclamou, pondo a mão sobre o peito e sorrindo enlevado.
- Por mim, ela pode ter "atitudes bonitas" para com todos os homens que ela quiser, desde que não tente incluir o Seiya entre eles - a deusa retrucou. - Mas ela não desiste dele! No mês passado eu mesma vi quando ela tentou mais uma vez. Ando pensando muito nisso, e hoje finalmente consegui decidir o que fazer.
- Athena, perdoe-me, mas gostaria de lembrá-la de que hoje o Santuário está sob ataque de forças inimigas. Acha mesmo que é apropriado discutirmos este assunto enquanto dezenas de cavaleiros lutam lá embaixo? - Shion perguntou num tom contido, sem conseguir disfarçar de todo sua impaciência.
- Oh, você pode estar certo de que meus mais profundos sentimentos estão com eles e de que estou preocupadíssima com o resultado desta nova batalha - Saori falou entediada. - Agora, voltando ao que interessa...
- Athena! - Shion exclamou, escandalizado com a indiferença de Saori.
- Qual é o problema, Shion? Não se preocupe tanto. Nós sempre vencemos - a jovem enfatizou, fazendo um gesto displicente.
- Ah, é verdade... e tenho certeza de que desta vez nossa vitória será especialmente tranqüila, pois você finalmente conseguiu não ser seqüestrada - Shion observou, mal contendo um sorrisinho sardônico.
Saori arregalou os olhos, contraiu os lábios e bateu as palmas das mãos sobre a mesa. O Mestre do Santuário teve um sobressalto e seu sorriso se desfez imediatamente.
- Por favor, conte-me a sua decisão sobre a Shaina - ele pediu, preocupando-se em exibir a docilidade de um humilde carneirinho.
- Obrigada pelo interesse - Saori disse secamente, ainda bastante irritada.
Porém, em poucos segundos Shion viu o semblante de sua deusa se transformar. Inicialmente ele viu surgir nos olhos escuros de Athena um brilho peculiar. Depois a expressão séria deu lugar a um sorriso que se abria gradualmente, até que a moça se pôs a dar risadinhas entusiasmadas.
Por fim, ela falou animada:
- Eu já tenho a solução perfeita para esse problema, Shion: vou arranjar um marido para ela!
- Um marido?! - ele repetiu, perplexo.
- Sim! - Saori confirmou. Em seguida, acrescentou lentamente: - E foi por isso que eu pedi que você viesse até aqui.
Com os olhos muito abertos e uma certa hesitação, Shion indagou:
- Athena... você... quer que... que eu me case com Shaina?
NOTAS: Peço desculpas aos fãs da Saori por tê-la retratado de uma forma não tão simpática. Se serve de consolo, eu mesma sou fã da personagem e só a descrevi desse modo porque isto era importante para o enredo. Ademais, futuramente o próprio Shion tentará justificar as atitudes politicamente incorretas de sua deusa.
Por falar em Shion... o que será que vai acontecer ao pobre ex-cavaleiro de Áries? Muito em breve vocês descubrirão.
Obrigada por lerem esta história!
Capítulo concluído em 27 de setembro de 2008.
