Querido Colin,

Antes de lhe contar sobre a foto, eu provavelmente deveria explicar o que aconteceu naquela ocasião. Você sabe como foi o seu lado das coisas, é claro, e você sabe como sua noite acabou, mas eu não acho que você entende como eu me senti - e nem poderia. Porque não importa o quão próximos somos, ou éramos, você estava lá fora enfrentando uma batalha e eu fui forçado a sentar e esperar um irmão que nunca voltaria.

Eu ainda me lembro de cada mísero detalhe. Como você sentou-se ao meu lado e ofereceu ajuda com meu trabalho de Feitiços, e nós mal o começávamos quando McGonagall invadiu a sala comunal, bradando que Você-Sabe-Quem estava por perto e todos deveriam ir ao salão principal. Eu estava tão assustado, Colin, você sabe que eu estava. Em primeiro lugar, havia nos sido concedida uma permissão especial para voltar à escola, pois "prometíamos", e eles precisavam de vítimas para ilustrar aos outros como os sangue-ruins eram inferiores.

Já imaginou o que Você-Sabe-Quem faria à nós quando nos encontrasse? Estávamos em maior perigo do que os demais naquele momento, e você sabia disso tanto quanto eu. E é por isso que tanto me chocou quando voltou-se à mim na sala precisa, no fim da fila de evacuação, e disse-me que queria ir, que queria lutar. Quais eram as suas chances? Como nascido-trouxa, você teria um alvo bem no meio da sua testa, assim como Harry Potter certamente tinha.

Ginny Weasley te deu cobertura, amargurada por não poder ela mesma se juntar à luta. Eu me recusei a partir sem você, e você me disse para ir até a sala comunal, pois lá era um lugar seguro, pois os comensais não poderiam entrar lá, pois a Mulher Gorda haveria de me proteger. Eu concordei. Eu prometi que jamais sairia dali sem você. Você não percebeu que havia a possibilidade de enviarem homens para as torres, mas tudo bem.

Quando ouvi o som de passos ecoando no corredor, somados à voz da McGonagall, escondi-me no meu dormitório, bem naquele cantinho onde eu poderia espiar pela janela, mas também me esconder rapidamente caso fosse necessário. Nenhum comensal foi até lá, obviamente se dirigindo às torres acima, onde poderiam ter uma visão mais privilegiada. Isso me deu uma bela chance de escutar e descobrir o que estava havendo sem ter que me preocupar com bruxos das trevas me encontrando.

Após o que me pareceu uma eternidade, a voz de Você-Sabe-Quem atravessou os terrenos da escola, e seus seguidores recuaram. Os duelistas se acomodaram na torre esquerda, ansiosos para ver o que estava acontecendo nos andares abaixo, agora que tinham feito seu trabalho. Mas eu estava congelado no meu lugar.

Eu vi pessoas lutando pelos terrenos, Colin, pessoas matando e morrendo, mas eu não vi ninguém que se parecesse com você. E isso me aliviou - eu pensei que você estava à salvo. Mesmo que estivesse ferido, eles teriam uma hora para te curar antes que a luta começasse novamente, e você estaria novinho em folha. Talvez você lutasse lado-a-lado com o próprio Harry Potter! Eu sei o quanto isto significaria para você.

Eu retornei à sala comunal, sabendo que quando você viesse me buscar, esperaria que estivesse lhe aguardando. Quando você não veio, não fiquei amargurado - provavelmente estava procurando pelos seus amigos, se assegurando que todos estavam bem.

Me contaram que levou apenas uma hora para Você-Sabe-Quem se pronunciar de novo, mas pareceu muito mais. Quando ele disse que matara Harry Potter, o grandioso Harry Potter em pessoa, eu corri para a janela mais uma vez, desesperado para descobrir se isto era verdade. Quando vi que sim, chorei. Não me envergonho de admitir isso. Você passou seis anos me explicando como Harry era o herói, como ele nos salvara uma vez e o faria de novo. Eu acreditei em você. Mas se ele morresse, não havia muita chance para nós dois, Colin.

Não podia aguentar mais aquilo, então somente sentei e esperei. Se houvéssemos perdido, então eu certamente ficaria sabendo disso. Se ganhássemos... estava soando um tanto quanto improvável no momento. Eu esperei horas e horas por um sinal, assustado demais para espiar pela janela e vislumbrar algo que desejava não ter visto. Afoito por uma distração, corri até o seu dormitório e apanhei a câmera sobre sua cama. Isso me confortou levemente, por ser algo seu.

Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, eu ouvi vozes próximas à comunal mais uma vez. Me pondo de pé e postando com firmeza a varinha à minha frente, fiquei chocado quando três setimanistas da Corvinal entraram, dois garotos e uma menina. Eles não pareciam me reconhecer, e mesmo que conhecesse seus rostos, não poderia confirmar quem eles eram.

"A professora McGonagall nos pediu para subir e checar se não sobrou ninguém nas salas comunais. É seguro ir ao Salão Principal, agora". Ela me sorriu de forma tranquilizadora, e meu coração palpitava conforme eu atravessava corredores e escadas para lhe alcançar, segurando a câmera fortemente entre meus dedos.

Nós ganhamos! Como podíamos, possivelmente, ter ganhado? Deveria ser um milagre! Eu estava tão alegre que não percebi o estado do nosso castelo, de fato, e foi só quando alcancei as portas do local que tive a constatação e vacilei. Se tudo estava tão mal por ali, o quão terrível se encontraria o salão em si? Respirando fundo, eu puxei a maçaneta.

O salão se voltou como um único ser para ver quem havia chegado, e para mim, pareceu completamente silencioso. A professora Sprout debulhou-se em lágrimas. Flitwick parecia prestes à ter a mesma reação.

Uma mão em meu ombro me sobressaltou, e eu olhei para o lado, vendo Luna Lovegood me encarando. Ela havia sido uma boa amiga sua, eu sei. Enquanto os outros faziam graça de você e te chamavam de estranho, ela sempre fora gentil. Cuidadosa e deliberadamente, ela tomou minha mão e guiou-me através do lugar, entre olhares dos demais e famílias se agrupando, voltados para o fundo do salão.

Eu pensei no quão estranho era você ainda não ter corrido em minha direção, me abraçado e assegurado-me de que estava bem. De que tudo estava bem.

Quando Luna finalmente alcançou o fim do salão, eu percebi que você nunca o faria.

E foi assim que eu vim a descobrir, Colin. E foi só mais tarde que eu percebi que quebrara minha promessa à você. A última coisa que me dissera.

Me desculpe.

Encarando o chão, as lágrimas me enchendo os olhos, eu percebi que ainda segurava sua câmera, e uma ideia me veio à mente nesta hora. Você viveu sua vida através da fotografia, então, eu manteria o seu espírito vivendo através do meu. Me pareceu uma ideia genial. Você se fora, nada podia lhe trazer de volta. Eu sentia que meu coração poderia se despedaçar em minúsculos pedacinhos, mas se eu conseguisse expulsar cada pedacinho da minha dor em cada foto que tirasse para você, talvez fosse mais fácil seguir em frente. Eu documentaria minha vida através das fotos, tudo que você perdeu.

Então aqui vai a primeira delas, Colin. Eu sabia que deveria registrar este dia de alguma forma - era, sem sombra de dúvidas, o mais importante da minha vida: o último da sua. Isso talvez soe estranho, mas eu me virei, atravessei o salão, e tirei uma única foto de Harry Potter e Ginny Weasley. Eles não se importaram. Eu poderia até dizer que eles sentiam pena por mim, o garoto sem um irmão. Ginny me abraçou e disse-me que sentia muito, que você sempre seria amigo dela.

Harry Potter fora seu ídolo, ele era o símbolo de tudo com que ansiávamos e sonhávamos. Ele era a nossa chance de um futuro melhor. Ele sobrevivera e você não, mas eu não me magoei, pois você sempre teria preferido desta forma. Como você disse uma vez, ele fez a diferença e você não. Eu nunca concordei, você sabe. O braço dele está ao redor de Ginny, e isso é importante. Harry, seu ídolo, e Ginny, sua primeira amiga de verdade em Hogwarts, conectados por amor e perda.

Felicidade, tristeza, esperança, desespero, perda, amor e amizade, tudo selado em uma única fotografia.

Colin, você deveria ter visto isso.


Esta história, que pessoalmente considero uma das mais belas envolvendo os Creevey, foi originalmente escrita por eskimoRock sob o título de 'Dear Colin'. Ela está nos meus favoritos, para quem quiser checar. Obviamente, tenho a devida permissão da autora para estar postando isso. Gostaria de aproveitar o espaço para agradecer à BarbaraEvans, que deu uma betada básica na tradução pra mim.

Ainda há uma segunda parte desta história, que eventualmente poderei traduzir ou não de acordo com a resposta de vocês. Então, reviews, people?