Parte 1 - O início de uma Guerra

Ele sentia. Sabia que sentia alguma coisa, mas logo desencanou. "Isso não é bom, Malfoy", disse com rispidez ao terminar de amarrar seu casaco. O frio o esperava.
Abriu sua barraca e via uma cena maravilhosa. Montes de neve e árvores brancas. Nenhum animal à vista, a não ser um gavião que passou rápido por entre os pinheiros. Fora isso o silêncio.
A sirene havia tocado mais cedo essa manhã. O Sol estava começando a nascer, quando encontrou Hermione selando um cavalo.

- Não sabia que damas selavam cavalos tão firmemente. - disse Draco.

- Vou atribuir isso a um ato de bom dia, Malfoy.

- Faça como quiser.

Draco virou as costas, enquanto Hermione o olhava. "Ele nunca irá mudar", foi o pensamento que ela teve ao montar Sirena, a égua que estava sobre seus cuidados.
Ele olhou para trás e viu que Hermione havia ido embora. Talvez ele estivesse sozinho no acampamento, pensou. Podia estar. Assim não precisaria ver a cara de Harry Potter pela manhã.

- Neville espere! - gritou Gina saindo de sua barraca com montes de livros e maletas, quando tropeçou e tudo foi à neve - Droga! Neville!
Draco olhou para a garota e por um instante exitou em ajuda-la. Mas o que fez foi ficar parado olhando, rindo. Era uma Weasley. E achava engraçado o jeito como ela arrumava suas coisas. Seus cabelos vermelhos eram a única coisa que realmente apareciam sobre o monte de neve. Suas vestes longas e brancas se perdiam em meio a uma pele sedosa e pálida...

Malfoy pegou-se pensando novamente. E isso era errado.

Montou Tempestade, seu cavalo, e seguiu adiante para a sede do outro acampamento. Tempestade era negro como a capa de Draco. Correu o mais que pôde, pois acreditava estar atrasado para a reunião. Mas o que importava essa reunião? Ele já sabia o que teria que fazer...
Chegando, deixou o cavalo junto aos outros e seguiu para a pequena barraca. Lá dentro, porém, era enorme. Uns cem aurores, Malfoy podia chutar, estavam lá. Todos conversando. Sinal que Magret não havia chegado. Magret era o chefe e instrutor dos acampamentos. Era o maior Auror dos últimos anos e por isso, Dumbledore o havia convocado. Liderar vários acampamentos, em plena guerra, na neve, não era uma tarefa fácil. Muito menos interessante.

- Quer comer alguma coisa, Malfoy? - perguntou Hermione tentando ser gentil. Afinal, agora ele era um deles. E teria que conviver com isso.

- Não tenho fome. - disse com rispidez ao passar os dedos finos pelo cabelo louro prateado, ao tirar as luvas.

Hermione olhou e foi ao encontro de Rony. Draco ficou um tempo andando, quando esbarrou em alguém.

- Foi mal e... - ele disse ao olhar para frente.

- Malfoy. - Harry se ajeitou acenando com a cabeça.

- Potter. - Draco fez o mesmo. Puxou a capa e retornou para o centro da sede.

Harry ficou olhando Draco se esvair pela multidão. Ele não muda, pensou bebericando a cerveja amanteigada, é sempre o mesmo Malfoy.

- Senhoras e senhores - disse uma voz em cima de um palco improvisado. Era Magret, com sua enorme capa roxa e botas de arminho. - Convoquei-os hoje, para mais um dia doloroso. Vamos avançar.

- Isso significa atacar os rivais? - perguntou Hermione - Não acho que seja a hora certa, senhor. Os Comensais acabaram de sair de uma luta, onde nenhum auror voltou com vida. Isso seria arriscado...

- Mas eles estão cansados, senhora Granger - continuou Magret - Vamos nos separar em grupos distintos de dez. E cada um seguir por si próprio, à conta risca!

Um murmúrio de aprovação correu pelo local, o que fez Hermione ficar terrivelmente irritada. Não era a hora, ela sabia.

- Não esquenta, Granger, caímos no mesmo grupo. - disse Draco se aproximando dela, depois de ler a escalação dos grupos - Como sempre, cismam em colocar-me junto à ti e ao Potter. É perseguição!

- E eu? - perguntou Rony ao ler o folheto - Mesmo grupo de Neville. Vamos, pelo menos a Gina é uma boa médica!

Ao ouvir isso, Malfoy empalideceu. Sua pele branca se tornou azeda. Hermione e Rony olharam para ele. Ele disfarçou um calafrio e virou as costas, pondo-se de frente para a porta. A Gina seria de seu grupo...iria para guerra com Virginia Weasley? Ele sabia que era hora de voltar para casa.

Montou em Tempestade e retornou ao acampamento. Não, não podia estragar tudo, agora que estava tão perfeito. Ele era um Auror. E muito bem decidido. Caçava Comensais da Morte, mesmo essa não sendo sua afinidade. Mas ele tinha que cumprir o prometido.

Ao descer do cavalo, sentou-se em uma pedra mais próxima. Fitou os vários Aurores chegando e arrumando suas coisas. Cada um seguiria para um acampamento distinto, separados. Porém, Draco, Hermione, Harry e Gina ficariam naquele grupo. Ele não queria. Pensou, por um momento, em trocar com Rony. Mas não se atreveria a falar com aquele Weasley novamente.

- É melhor levantar-se, Malfoy. - disse uma voz atrás dele. Ele fitou Gina por uns instantes e fez cara de desentendido. - Teremos que mudar de acampamento.

- Mas esse não era o nosso?

- Não. Outro grupo ficará aqui. Não reclame, apenas levante-se e se arrume. Partiremos em algumas horas.

Ele olhou querendo dizer alguma coisa. Uma Weasley estava querendo lhe dar ordens, quando nem sua própria mãe fazia isso. Mas não teve reação. Gina o olhou com um ar muito frio e virou as costas, indo para o lado de Harry Potter.
Malfoy não se entendia. Estava isolado, triste, como sempre fora. Mas algo parecia diferente. E nem ele mesmo sabia do que se tratava. Podia ser aquilo...não...aquilo seria demais.
Ele seguiu para sua barraca, que dividia com um outro auror. Encontrou-o chorando, pois se separaria de sua mulher.

- Não preciso te contar, não é? - perguntou o rapaz secando as lágrimas, após contar sua historia a um Malfoy desinteressado. - Você nunca foi capaz de amar alguém assim. Te conheço. Você é Draco Malfoy, o perverso aluno Sonserino. Não sei o que fazes aqui. Nem como deixaram você vir, sendo que seu pai é um famoso Comensal. Mas espero que tenham feito a coisa certa. Com licença. - e saiu da barraca ainda chorando.

Draco apenas olhou e sentou-se. Sim, como deixaram ele entrar? Seu pai era mesmo Comensal. E um dos mais importantes líderes Comensais. Mas poucos sabiam de sua historia. Poucos.

- Gina, onde esteve ontem à noite? - perguntou Rony arrumando suas coisas. Seu grupo ficaria naquele acampamento.

- Dormindo. - respondeu a menina, enquanto guardava seus livros - Onde mais estaria?

- Não sei. Você anda estranha...

- Não sei de onde tirou essa idéia, Ronald Weasley. Mas trate de colocá-la no lugar.

Rony ficou um tempo olhando para sua irmã. Sua pequena irmã estava na guerra com ele. Era bem verdade que ela sempre quis virar medica de guerra. Mas era estranho. Ele nunca havia pensado em se tornar Auror. E hoje, aos dezoito anos, estava na maior guerra dos tempos. A guerra contra os seguidores de Voldemort. Depois dele ter sido vencido por Harry Potter, ano anterior. E sua irmã, estava ali. Ela e Mione. Ele amava muito Mione, embora nunca conseguisse dizer isso à ela. Talvez ele morresse ali, daqui a alguns dias e seu amor por ela acabasse. Mas ele preferia não dizer nada. Era nobre morrer com um grande segredo.
Mas Hermione não achava isso. Ela amava Rony, com todas as suas forças. E quando soube que não ficariam no mesmo grupo, correu com Sirena para longe do acampamento, junto à um enorme precipício. Queria pensar um pouco na vida. Poderia morrer ali, na guerra. E Rony não saberia do seu amor. Não poderia morrer assim. Ele já demonstrara muitas vezes que sentia algo por ela. Mas ela, sentia medo. Nunca admitira isso, em toda sua vida. Mas tinha medo de revelar à Rony, seu eterno amor.
Harry porém, sabia de tudo. De tudo, mas não contava à ninguém. Sempre encorajava Rony a dizer o que sentia à Mione. Mas ele nunca se rendeu. Mione, por sua vez, não dava o braço a torcer, o que deixava Harry extremamente furioso. Harry não sofria tanto assim. Gostava muito de Gina, mas desde que descobriu que o amor dela pertencia a outro homem, ele desistira. Queria deixar ela, sua irmã menor, viver sua vida. Passou todos os anos sabendo do amor dela por ele. Sabia disso, desde que entrara para Hogwarts. Mas não queria acredita, aceitar isso. Ela era sua irmã! Enquanto estudou, namorou muitas meninas. Cho Chang foi a que mais gostou. Mas ela não servia para ele. Ela era mulher de algum homem rico, cuidadoso, romântico...e isso Harry tinha de admitir que não era. Ele era corajoso e amava aventuras. Sua mulher seria alguém que fosse capaz de enfrentar uma guerra por ele. Mas pena que Gina amava outro homem. Mas ele era feliz por ela. Ele não sofria. Ao contrário, torcia para que ela encontrasse alguém que realmente não a fizesse sofrer como Harry fez durante anos.
Gina ficava sentada numa pedra, vendo aurores irem e virem dos acampamentos. Não gostava muito dessa reação de guerra. Mas estava aqui por um bom motivo. Cuidar das pessoas que amava. Tinha dezessete anos, e acabara de sair de Hogwarts. Viera direto para a Irlanda, onde se encontravam os Aurores em preparação. Ela apresentara-se e fora aceita. Ela amava muito o que fazia. Medicina Bruxa. Tinha grandes experiências, por ter trabalhado um ano com Madame Pomfrey na escola. Harry passou por ela e acenou. Sabia que ele sentia algo por ela. Mas agora, era tarde demais. Ela sempre o amara. Sempre. Durante toda sua juventude. Mas ainda era jovem e queria alguém que realmente a desse valor. Porém, apaixonara-se por outro homem. Malfoy nunca havia sequer olhado para ela. Era uma Weasley. Pobre, cheia de defeitos. Sim. Ele era Draco Malfoy. O homem que tanto amava. Mas ninguém sabia disso. Ninguém poderia saber. Malfoy era filho de um Comensal, alguém que destruiu a vida de sua família. Mas ela gostava disso. Desse desafio de amar alguém inatingível. Ele brincava com o coração dela, desde que chegaram aqui.
O acontecimento que Rony reclamava, na noite passada, era algo que ela queria esquecer. Um erro, talvez o maior de sua vida. Ela estava sozinha na fogueira, quando Malfoy chegou. Sentou do outro lado, com aquela cara de desdém que somente ele sabia fazer. Ficou fitando o fogo.

- Fique mais um pouco, Weasley. - disse ao ver Gina se levantando para dormir. Ela parou espantada. Era Draco, ele mesmo, falando com ela. Ela sentou-se.

- Porque se importa? - perguntou Gina com tom de desdém na voz. Ela não gostava dele. Não queria admitir. Ele era uma pessoa arrogante, não servia para ela.

- Não me importo. - ele disse e ela fez tentativa de levantar - Mas fique aqui. É um pedido, não uma ordem.

- Achas que se fosse uma ordem eu sentaria, Malfoy? - ela perguntou voltando a se sentar. Ela não entendia. Ele nunca havia falado com ela.

- Não seria capaz. - ele respondeu frio.

- Então porque se importa que eu fique aqui? Sempre viveu sozinho, não é? - ela disse.

- Mas ninguém nunca ficou sentado ao meu lado por algum tempo. Experimente. Não é algo muito ruim. - ele disse levantando a sobrancelha - Mesmo sendo uma Weasley, estamos juntos na guerra.

- Mesmo sendo uma Weasley... - ela repetiu, com uma pequena lágrima escorrendo pelo seu rosto. Malfoy olhou e teve um primeiro sentimento, desde que chegara ali. Talvez, fosse o primeiro que sentia há anos. Estava com pena.

- Isso. - ele concluiu, mas logo se calou. Não sabia porque, mas não a queria machucar. Ela estava ouvindo-o.

- Pois posso me levantar. Um Malfoy nunca conversaria com uma Weasley. Mesmo sendo mulher, não é mesmo? Seu tipo favorito...

- Não gosto de homens, se é que me entende. - ele disse e ela fitou-o com cara de desespero. Esperava ouvir algo mais rude. - Inclusive de teu irmão. Ele e o famoso Harry Potter sempre me odiaram.

- Não é por menos, você nunca gostou deles...

- Isso é pouco. Sempre os odiei. Mas também, não pude conhece-los... - e ele se calou. Estava contando algo de sua vida que ninguém jamais poderia saber. Ele tinha sentimentos.

- E nem poderá. Estaremos morrendo daqui a pouco. Pelas mãos do seu pai e seus Comensais. Espero que esteja satisfeito. - ela disse com rispidez. Ele olhou e se levantou. Era bem verdade isso. Ele estava ali, metido numa enrascada. Andou em volta da fogueira, passando por ela. Ela reparou que seus cabelos faiscavam no fogo. Cabelos louros platinados.

- Não fico satisfeito. Sabes que não me importo mais com meu pai, ou com qualquer coisa que se relacione à ele.

- Então, porque está aqui?

- Está querendo saber demais, Weasley.

- Me desculpe. Havia me esquecido com quem eu estava conversando. - e ao dizer isso se levantou. Não esperava uma resposta dele. - Boa noite.

- Boa noite. - ele respondeu com a cabeça baixa. E ela se espantou. Ele podia ter mudado. Ele olhou para o chão, pensando no que deveria fazer. Quando ela se virou para ir embora, ele a segurou pelo braço e a beijou. Não tinha certeza do que estava fazendo, ele jurava. Fora um impulso. Sentia algo por Gina Weasley. Ele não podia admitir.

Ela o afastou e tampou a boca. Estava sendo suja, imunda. Estava sendo usada. Mais uma que Malfoy teria para sua coleção. Ela deu um tapa na cara dele e voltou para sua barraca. Somente lá dentro que começou a chorar.


E era disso que ela se lembrava enquanto sentava na pedra. Na mesma pedra da noite passada. Enquanto todos arrumavam seus cavalos, Malfoy passeava com seu negro cavalo. Tinha um olhar distante e frio. Não estava naquele acampamento, em sua cabeça, ela podia chutar.
Draco olhou para os lados e viu Gina Weasley sentada numa pedra. Estava apoiada com os braços sobre o cotovelo, como uma criança. Ele quis sorrir, mas não conseguiu. Não era capaz. Olhou e viu ela se levantando e indo embora. Talvez porque tivesse visto ele ali. Ou porque não havia gostado da recordação que aquela pedra lhe trazia. Mas ele gostava. Ele havia beijado uma Weasley. E pensava nela a toda hora que pudesse. Mesmo não querendo. Aquelas mãos macias, o rosto pálido, os cabelos rubros...e sua boca...uma boca repleta de sensualidade. Uma coisa que ele nunca havia reparado, se não fosse aquela noite. O fogo dançando sobre sua figura. Ela encolhida de um canto e ele de outro. Conversavam, algo que ele não conseguia se lembrar. Apenas lembrava de seu coração batendo. Ele não sabia porque. Sempre teve todas as mulheres que queria. Sempre. Mas com ela era diferente. Ele não a queria para usar, sentir prazer. Queria para beijar, sentir seu coração, sua pele...era algo gostoso que ele nunca havia sentido. Pena que era com uma pessoa tão indesejável.
A sirene voltou a tocar. Sinal que os aurores seguiriam para seu acampamento. Era hora de enfrentar Harry Potter. Ele seria o líder de seu grupo. Malfoy montou seu cavalo, assim como todos os outros e encontrou com Hermione despedindo-se de Rony. Ela chorava e ele também. Bem sabia que os dois se gostavam. Somente eles, estúpidos, não percebiam. Ele olhou para o lado, querendo não mais ver aquela cena deplorável.

- Prometa-me que não morrerá... - disse Hermione à Rony, chorando e o abraçando.

- Prometo apenas se me prometer... - ele respondeu.

- Eu prometo voltar.

- Eu também.

- Rony, não achas que devemos partir? - perguntou Neville magoado por ter que estragar aquela cena romântica. Gina o empurrou do cavalo quando ele ameaçou atrapalhar de novo.

- Estou indo, Neville. - disse Rony enxugando as lagrimas e se dirigindo à Harry. Hermione abraçou Gina. - Tome cuidado, Harry. Sabes que morreria se soubesse que algo lhe aconteceu. Estarei aqui, esperando vocês. Sempre. Não esqueçam.

- Força, Rony. Estamos quase vencendo mais uma luta, não é verdade? Tantas brigas que tivemos, tantos momentos bons...ainda bem que tenho à vocês. - disse Harry abraçando Rony e Hermione. - Mas agora eu e Hermione temos que partir. Está ficando tarde. Boa sorte.

- Boa sorte, Harry, Mione...Gina! - disse Rony abraçando a irmã com toda a força. - Sabes que papai ficaria muito satisfeito se ajudássemos a matar Lucio Malfoy - e Gina tremeu ao som daquele nome. Malfoy olhou para os dois - Sabes o quanto precisamos vencer isso. Prometa-me também, que voltarás, salva!

- Prometo fazer o possível! - ela disse o abraçando e logo depois enxugando suas lagrimas.

- O possível é um futuro incerto. - disse Malfoy sem muito pensar. Rony o olhou como ato de reprovação.

- Boa sorte, Malfoy. Se estiver do nosso lado realmente. Não queria pedir isso, mas cuide dos meus amigos, ok? - disse estendendo a mão, que Malfoy apertou sem saber o que fazia. Nunca ninguém se dirigiu à ele assim. - Muito bem, vamos Neville!

- Gina, não morra, ok? - disse Neville em meio a soluços, abraçando a amiga - Vocês são as únicas pessoas que me aceitaram na vida. Não tenho mais ninguém, sei que sabes disso. Por isso eu imploro que voltem. Isso será importante para mim! - e abraçou Mione e Harry.

- Neville, tenha força. Seu regresso também será uma vitória para nós. - disse Harry. - Vamos! - ele gritou e todos os aurores de seu grupo montaram a cavalo. Entre eles, Gina, Hermione e Malfoy. Eles então, partiram para a guerra.