Essa é minha primeira tentativa de uma Fic fora do universo de Naruto e isso me assusta. Foram quase seis anos dedicados apenas à eles e agora estou com frio na barriga, como se essa fosse minha primeira Fic xD De certa forma é, então, vamos ver como a coisa anda XDD
A Fic é baseada no livro Phantom de Susan Kay então quem leu deve reconhecer a jovem Luciana e seu pai Giovanni. Para o que pretendo fazer, envelheci Erik e Luciana em um ano, ou seja, eles estão com dezesseis anos no começo da nossa história.
Sem mais delongas, quero agradecer à Samantha Michaelis pelo apoio (lê-se: me aturar por horas enquanto eu deixava minha imaginação maluca tomar espaço) e pelas ideias e a avaliação da história antes da postagem. Muito obrigada!
Boa leitura!
..
Ele a mataria se tivesse chance e Luciana sabia disso, ainda que preferisse não dar ouvidos a esse alerta. Também sabia que não devia ter despedaçado cada um daqueles projetos, mas mesmo assim o fez. Ela tinha essa mania e nunca se sentira mal por gritar com o pai ou a mãe, ou até mesmos as freiras do colégio interno. Mas agora era diferente.
Ela tinha irritado Erik.
Claro que se o pai a visse pular a janela da cozinha teria surtado e obrigado a menina a voltar para o quarto imediatamente. Ignorou esse pensamento: se ele não a deixava sair pela porta da frente, sairia pela janela, pela varanda, voando se fosse necessário. Abraçou os próprios braços sentindo a pele arrepiando pelo vento gelado e seguiu pelas ruas vazias.
Ela não devia ter gritado com ele. Não devia ter enfrentado Erik. Ele havia ficado irado quando a menina insinuou que nada funcionava e mesmo percebendo que havia tocado num assunto tão delicado, algo dentro dela cresceu o suficiente para que ficasse ainda mais revoltada com tudo aquilo: ele estava protegendo seus inventos! Ele preferia tomar as dores por objetos, coisas inanimadas do que por ela!
Se bem que Luciana sabia nunca ter feito nada para merecer algo próximo de afeto.
Pelo menos até agora.
- Onde ele está? – balbuciou para si mesma, levemente irritada ao ver que a viagem havia sido em vão. Involuntariamente olhou para cima e o viu lá, tão no alto que prendeu a respiração: como conseguia chegar até lá em cima? – Erik? – apertou os olhos para vê-lo com o rosto mascarado erguido. Ele parecia distraído. – Erik!
Na primeira vez, ele achou ser coisa de sua cabeça. Na segunda, prendeu o ar duvidando da própria sanidade. Na terceira vez, teve certeza que era mesmo o seu nome que chamavam e, pela voz estridente pela raiva, sabia ser Luciana, o que era loucura. A jovem filha de Giovanni não iria atrás dele.
- Erik! Não finja que não está me ouvindo! – pelo jeito, iria sim.
Olhou para baixo e levou tempo para conseguir focar na menina de braços cruzados e olhos cerrados. Os lábios fechados num bico a fazia parecer ainda mais infantil. Erik suspirou sentindo a irritação de manhã voltar. Não iria suportar mais nenhum grito ou dedo apontado no meio de seus olhos. A suportava unicamente por ser filha de seu patrão e amigo, mas o que ela fizera havia mexido com todos os seus nervos e se ela não fosse tão pequena teria a agredido. Quando começava a discutir, Luciana nem parecia uma menina.
Desceu com uma agilidade que fez a menina arregalar os olhos castanhos em surpresa. Quando Erik se aproximou sentiu-se muito pequena: ele era tão alto!
- E então...? – ela perguntou, ajeitando os cabelos apressadamente com as mãos.
- Me diga você. – pega no susto, só então a moça percebeu que era ela que havia ido de encontro a Erik.
- Eu... Estranhei sua demora e vim te buscar. – disse olhando para o chão. Ele não respondeu. – Já está tarde, é perigoso. – e dito isso, concluiu que seu argumento era inválido. Se era perigoso para Erik andar sozinho, não seria para ela? Em resposta, ele apenas suspirou, sem sair do lugar.
Como Luciana odiava isso.
- Eu gostaria de pedir desculpas. – disse enfim, tirando coragem de algum lugar que ela desconhecia e olhando nos olhos dourados. Ela congelava toda vez que seus olhares cruzavam, estar olhando-os fixamente agora era um teste de fogo. – Por ter quebrado suas coisas...
- Projetos. – respondeu ríspido. Ele ainda estava irritado.
- Sim, seus projetos. Me desculpe. – Erik continuava quieto, apenas observando. – Você deve me achar uma menina mimada e infantil... – balbuciou com pena de si mesma.
- Sim. – como é? Ele achava? Respirou fundo, pronta para rebater, mas as palavras morreram e de seus lábios apenas saíram ar. Ele estava certo e, de alguma forma, era a primeira vez que conversavam sem ninguém se exaltar.
- Pode me perdoar?
Ela percebeu Erik enrijecer com a pergunta. Respirando fundo e fingindo prestar atenção a seu redor, começou a andar silenciosamente a caminho de casa. Isso! Ela havia conseguido! Tentando conter a alegria, Luciana apressou os passos e se colocou ao lado de Erik que com as mãos no bolso, parecia evitar a qualquer custo olhar para a menina. Estava constrangido demais para falar qualquer coisa e a casa de Giovanni nunca pareceu tão longe. Não sabia se seu constrangimento era pelo fato de Luciana ter ido até à construção buscá-lo ou por ter pedido perdão.
Até onde se lembrava, era ele quem vivia pedindo isso à mãe.
Ele nunca foi respondido.
Se tivesse fé, Erik ergueria as mãos aos céus para agradecer ter chegado em casa. Abriu a porta com cuidado para não acordar Giovanni e deixou que Luciana entrasse primeiro. Após fechar a mesma atrás de si, esticou a mão para a maçaneta do porão, quando a menina o chamou apressadamente:
- Você não gostaria antes de comer? – ele a olhou intrigado. – Ficou o dia todo fora e pelo jeito não comeu nada. – ele continuou encarando-a sem reação. – Sabe isso me irrita muito! – soltou sem expressar nenhum sentimento além de tristeza. – Você quase nunca come nada do que eu faço! Eu cozinho tão mal assim? – Erik apertou os olhos. Ele nunca havia pensado nisso.
- Não, eu só não sinto muita fome... – confessou ainda intrigado. Não sabia que Luciana considerava tanto assim suas refeições.
- Aqui. – ela estendeu o prato e o talher para ele, que pegou sem falar mais nada. – Posso esquentar se quiser, acho que já esfriou... – Mas ele não respondeu, o que a fez contrair os lábios em sinal de desgosto. – Então boa noite. – disse não muito convencida de ouvir uma resposta.
- Boa noite.
Luciana estava no céu. Escondendo o sorriso que quase escancarava a ponto de mostrar a fileira de dentes, subiu apressadamente pelos degraus de madeira, esquecendo-se de manter a descrição quanto acordar o pai. Fechou as portas com força demais, embora não tivesse percebido. Jogou-se na cama e abraçou o travesseiro, escondendo o rosto nele enquanto ria. Nessa hora se achou muito estúpida: como um simples 'boa noite' havia feito isso com ela?
Mas claro, não era um 'boa noite' qualquer. Era o 'boa noite' de Erik.
Ele, no entanto, estava se esforçando para limpar o prato. Não que a comida fosse ruim, era ele que não tinha fome. Dificilmente sentia fome, ainda mais quando brigava, ficava irritado ou sob pressão – realmente, não era uma pessoa de grande apetite, mas se sentiu culpado e continuou comendo até não restar migalha alguma no prato. Distraído, olhou para a cama improvisada e percebeu que algumas peças estavam depositadas perfeitamente alinhadas sobre o lençol. Ele se lembrava delas, jamais esquecia um invento. Seria possível que Luciana tivesse se preocupado em salvar algumas peças antes de colocar os cacos inúteis no lixo? Pegou um pistão, um pouco torto, mas perfeitamente funcional, e analisou. Ele ainda poderia usá-lo, assim como as barras de cobre e os parafusos de oito milímetros. Provavelmente a menina pegou as peças maiores e as separou, sem saber que eram as mais importantes do projeto. Sem perceber, Erik sorriu.
..
O Sol já entrava pela janela do quarto de Luciana, e a mesma estava andando de um lado para o outro com a escova enroscada nos longos fios ondulados. Não conseguira pregar o olho a noite toda, tamanha sua alegria. Ao ouvir a agitação nos degraus do porão, saltou para fora do quarto, olhando rapidamente para o espelho da penteadeira para ver se os olhos não estavam muito inchados. Quase tropeçou no último degrau, mas conseguiu se ajeitar a tempo de ver Erik saindo:
- Bom dia. – disse, antes de ver o prato nas mãos dele. – Estava boa? – ele acenou com a cabeça. – Que bom... – riu sem graça o seguindo até a cozinha. – Quer que eu faça seu café? – Erik estava pronto para negar, mas impedido pelo gesto da noite anterior, acabou aceitando.
- Giovanni não acordou ainda? – perguntou olhando para o corredor.
- Não... – Luciana fez o mesmo. – Que estranho...
Mergulhados novamente no silêncio, ficaram um bom tempo sem nada dizer. A menina colocou a jarra de café na mesa e tirou o pote de manteiga do armário enquanto Erik se prontificava a pegar a cesta de pães. Luciana agradeceu entregando-lhe uma caneca de porcelana e sentando-se à mesa. Ambos comeram sem trocar nenhuma palavra, até que Erik disse:
- Separou algumas peças ontem. – a comida pareceu ter parado no meio da garganta.
- Eu achei que fossem importantes... – respondeu depois de fazer um enorme esforço para terminar de engolir.
- E são. Obrigado.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Giovanni apareceu na soleira da porta tossindo bastante: a tuberculose esta deixando o antes robusto homem, muito magro e abatido, com olhos fundos e inchados e a pele amarelada e pegajosa pelo suor abundante. Acenou para os jovens e pegou uma caneca de café, dizendo que já estava tarde e que já deviam se apressar em ir para a construção. Luciana correu para pegar o casaco que o pai pedira e antes de voltar, o senhor ainda olhou para Erik:
- E vocês estão se dando bem? – ele apenas concordou. – Mulheres são assim mesmo rapaz... – concluiu, já pegando o casaco das mãos da filha. – Voltamos para o almoço.
- Certo... Tenham um bom dia!
Ela ficou os observando até desaparecerem na rua, torcendo e dizendo a si mesma para não fazer mais nenhuma besteira. Pela primeira vez conseguia compartilhar de uma refeição com Erik sem alfinetá-lo. Certo que não trocaram nenhuma palavra, mas antes não trocá-las do que arremessá-las sem nenhum cuidado. Estava mesmo muito feliz, rindo enquanto torcia o pano de prato entre os dedos e desejando internamente que tudo continuasse daquele jeito.
