Ela acordou com o sol batendo em seu rosto. O próximo mês seria surreal.
Para uma agente do FBI,como era, fora fácil se infiltrar num campus de universidade e fingir que era só mais uma aluna para uma palestra. Para Sara, era só mais um caso. Mal ela sabia que aquele caso mudaria seus princípios e consequentemente mudaria sua vida. Prevendo como o dia seria quase entediante, pois assistiria a uma palestra sobre insetos, ela levantou trôpega e começou a se vestir. Foi ao banheiro e fez somente um rabo de cavalo.
Olhou no relógio. 08h48min AM
Teria que se apressar, a palestra começaria dali a 12 minutos.
Como uma estudante qualquer, pegou sua mochila e saiu do dormitório. Mentalmente revisou o caso 907. Um estudante, filho de um importante diretor do Pentágono, estava ali. Esse mero estudante era como ela: carinha de jovem, mas com mente bem mais velha. O plano era simples, seduzi-lo e prendê-lo. Nada mais.

Sara olhou ao redor e viu adolescentes sem rumo, rindo com seus colegas apesar de suas olheiras, que relatavam a madrugada: ou em baladas ou estudando, simplesmente. Já passara por isso quando fizera seu curso de Física. Por coincidência era esse o curso que ela fingia cursar. Estava distraída caminhando pelo campus quando alguém trombou com ela, fazendo-a derrubar sua mochila. Com um rápido reflexo, ela agarrou a mochila no ar mas isso não impediu que o conteúdo caísse. Droga – pensou ela

# :Me desculpe – falou o menino que tinha uma cara de bebê.

SS : Não foi nada, deixa que eu junto as minhas coisas.

Ela olhou rapidamente o que tinha caído: um estojo, uma agenda e sua pasta do caso. Não seria nada demais se não tivesse o emblema do FBI estampado na capa. Droga, mil vezes droga!

#:Oh! FBI hein?

SS : Haha – ela riu forçado, porém ele não percebeu – Isso é só uma pasta que a minha irmã me deu, eu me interesso por coisas policiais, mas isso é só uma pasta... Quem me dera ser do FBI. - Mentiu ela rapidamente. Deu Sara, para de falar! – se alertou

# : Ok Sidle, pode para de fingir.

Meu deus, ferrou tudo – pensou ela. Ela acirrou os olhos para observar melhor quem tinha desmascarado. Viu que não era um menino, tampouco um homem muito velho. Deveria ter a sua idade ou um pouco mais. Tinha os olhos amendoados e muito bonitos. Barba mal feita. A pele não era bronzeada, incomum para San Francisco. Media mais ou menos 1,87 e pesava de 62 a 65 kg, porém dava de notar que era musculoso, pois a camiseta imaculadamente branca denunciava isso. Ela percebera isso em segundos para ser capaz de alguma defesa física. Bom, a melhor defesa é o ataque. Então, vamos lá.

SS : Quem é você? – disse ríspida.

# : Como assim não sabe quem eu sou? George não contou a você?

SS : G, como você deve chamá-lo, não me contou nada. Quem é você? E devolva minhas coisas, eu estou atrasada para...

Ele a interrompeu e devolveu a pasta, junto com o estojo e a agenda. Sara colocou na mochila e saiu andando, sem se preocupar. Pelo menos, naquele instante. Depois teria uma conversa muito séria com seu supervisor. George está louco? O que esse cara faz aqui? Ele não pode atrapalhar meu caso, isso é um caso de carreira!

# :Eu vou com você. Desculpe-me, estou sendo muito grosseiro. Meu nome é John Hopkins. E sim, você está atrasada para a palestra sobre insetos na cena de crime.

SS : Bom sabichão, o que está fazendo aqui? - disse rudemente

JH : Sou do FBI também. Pelo visto, o seu caso tem muita ligação com o meu, e por isso eu tenho que fingir que sou um estudante também.

SS: Você chegou a fazer um treinamento? Porque nenhum estudante em sã consciência consegue lavar uma camiseta e deixá-la tão branca. Nenhum estudante deixa a barba crescer porque as meninas não gostam de ficar assadas no rosto, por causa da barba. E nenhum estudante estaria vestindo calça jeans com um sapato preto tão bem lustrado. Eles não vestiriam sapato, e sim um tênis All Star ou um chinelo.

JH: Wow, calma! Pelo visto sua fama de teimosa tem seu motivo. E pavio curto também.

Sujeitinho folgado! Sara se controlou e tomou as rédeas da situação. Não deixaria isso estragar seu plano.

SS: Aonde é o seu dormitório? - disse calma - Vá para lá, coloque uma camisa lisa de cor que não esteja tão bem passada, um tênis e me encontre na fileira D do auditório. Guardarei um lugar ao meu lado. Entre pela porta esquerda, será mais fácil de me localizar.

JH: Tem tudo tão bem planejado assim?

SS: Eu tenho que conhecer o terreno onde piso não?

JH: Claro Sidle.

SS: Me chame de Sara, nenhum estudante chama o outro por sobrenomes.

JH: Ok, Sara. Vá indo, já são 09h10min. Te encontro lá.

E nisso John deu um sorriso. Não dava para negar que ele tinha carisma e um sorriso muito bonito. Não tinha motivos de ficar brava, eles estavam no mesmo lado: tentando fazer justiça. E pensando nisso, rumou até o auditório. Não estava tão vazio quanto esperava. Qual adolescente levanta às 08h30min para ver uma palestra sobre insetos? Notou que o palestrante tinha acabado de chegar e ainda estava se ajeitando no palco, então rapidamente foi até o seu lugar. Por fim, a palestra começou.

GG: Bom dia, meu nome é Gilbert Grissom e sou eu que vou dar a palestra. Sou entomologista e estudaremos esta semana sobre os insetos em cenas de crime.

Sara já sabia o que ele iria falar: o desenvolvimento das moscas para relatar o tempo do cadáver, qual é a ordem que os bichos aparecem, se é primeiro besouros, moscas...Essas coisas que já tinha aprendido no FBI. Mas para sua surpresa, ele foi mais a fundo, e explicou sobre formigas. Isso ela ainda não tinha aprendido. E assim, surgiram dúvidas em sua cabeça assim que ele mostrou fotos de cadáveres. Ela nunca tinha percebido com tanta atenção que as formigas ficam, no começo, só na superfície do corpo. É claro que na exibição dessas imagens houve alguns gritinhos de nojo e algumas meninas saíram da sala.

GG: Alguma pergunta referente a essa imagem?

E por mais que não fosse estudante, Sara levantou o braço.

GG: Sim?

SS: Por que as formigas não entram pelo nariz ou orelhas, até chegar ao cérebro? Lá tem proteína.

E ele a olhou com mais curiosidade. Talvez porque ela não parecia ser uma estudante qualquer. Parecia entender do assunto, parecia mais adulta, mais sensual. Talvez porque aqueles olhos o fitavam, pedindo uma resposta. Talvez pelo modo que ela descruzava e cruzava as pernas, modo que ela ajeitava o cabelo. Talvez, porque sem saber, Grissom se encantara por aquela mulher. Ele voltou ao real, tinha de responder a pergunta.

GG: Formigas são carniceiras, elas têm a tendência de ficar na superfície, mas depois elas vão para o cérebro depois que toda a pele se for.

SS: Bom, obrigada.

E aqueles olhos azuis de Grissom ainda a fitavam. Ele tinha lindos olhos. Tão azuis que parecia que não conseguiria achar o fundo. Como se pudesse entrar neles, como se entra num mar azul turquesa, e nadar e mesmo assim não achar fim. Nadar ou flutuar, não tinha diferença. Ela estava...deslumbrada. Nada mais importava naquele instante. Não fazia diferença que o caso desse errado. Que John estragasse tudo. Que ela fosse demitida. Olhar naqueles olhos valia à pena, mesmo que não fosse uma estudante que tinha o direito de estar ali. Valia a pena o risco.

Esse pensamento bom continuou. Gilbert Grissom retomou a palestra, mas Sara não estava mais ali. Estava em corpo, mas sua mente só estava focada em Grissom. Ela nunca fora assim, nunca se apaixonara à primeira vista. E então, ironicamente ela estava entorpecida pelo olhar dele.