Primeiro Capítulo ~ A Nobreza se Apresenta
Não importava o tempo ou o temperamento da realeza. Mesmo que ambos estivessem abalados pelo maior dos escândalos, ainda sim os festivais de inverno jamais seriam cancelados. Era uma regra dos nobres manterem a suposta ordem de sua sociedade a qualquer preço, mesmo que essa causasse quase que um ar insuportável de falsidade, de sorrisos forçados e danças mal dançadas.
Por sorte, ou por azar de alguns, este festival não foi afetado por nenhum escândalo. Talvez os oficiais especiais do regente estivessem realmente fazendo o seu ardiloso trabalho de maneira correta, apesar de esses nem sempre conseguirem encobrir os casos de adultérios ou mesmo as idas e vindas de certos nobres a zonas dadas como "baixas" pela nobreza. Provavelmente, vossa majestade teve especial zelo para com esse ano, 1817, que, segundo o mesmo: "era de grandes realizações para o poder e integridade do Império".
O Palácio de Blenheim estava impecável. Era uma típica morada da mais requintada realeza britânica do século XIX. Ao longe, viam-se as majestosas tochas que iluminavam a entrada do enorme reduto. As carruagens chegavam aos montes, sendo estacionadas pelos cocheiros. Os nobres saíam pomposos, sempre nos modos mais finos e especiais para tal ocasião. Não se via uma só pessoa mal vestida ou com qualquer problema reparável que fosse, já que isso não era permitido em uma festa de gala de tal estirpe.
O Duque* de Buccleuch, uma das figuras mais conhecidas de todo o Reino Unido, descia de sua carruagem e avisava o cocheiro para arrumar os cavalos após a meia-noite. Como de costume, não iria ultrapassar muito os horários. Geralmente esse tipo de ocasião era interessante para rever seletas pessoas, mas desinteressante após excedido certo tempo, quando as outras não muito "seletas" se aproximavam.
Subiu as escadarias do Palácio, que estava forrada pelo habitual tapete vermelho destas ocasiões, segurando seu cetro ornado na ponta com uma maravilhosa rubi brilhante, envolta de ouro, lavrado com o brasão dos Buccleuch nas laterais. A roupa era impecável, digna de sua posição, ocasião e época: cartola alta e negra, laço vermelho fino de seda todo trabalhado, preso a um lenço branco de bordas negras, que envolvia a gola da camisa branca frisada. No decorrer do corpo, jaqueta mais justa, contornando a curvatura de sua cintura, acompanhado do colete também negro. A calça era esguia e da mesma cor dos outros trajes, indo até a bota preta alta, justa ao pé, de couro como as luvas finas e apertadas aos dedos. Os cabelos do duque eram longos, negros e lisos, que ondulavam nas pontas, indo até o meio das costas, presos por um laço vermelho da mesma grossura do que se destacava no pescoço. Sua pele tinha aparência sedosa, bastante alva e os traços delicados, mas com certa firmeza no final do maxilar e o olhar penetrante. Não era nenhum segredo que Belus, o Duque de Buccleuch, era um dos homens mais formosos da corte. Conhecido por alguns pelo codinome de "Juan dos Olhos de Esmeralda", encantava todos ao seu redor.
Ao atravessar a porta, parou e esperou ser anunciado. Como de costume, certos murmúrios se formaram e ele adentrou, finalmente, o palácio, se misturando com a realeza polvorosa. Deixou a cartola com um dos empregados encarregados, para logo depois entregar-se a champagne que vinha em sua direção, sendo entregue com toda a elegância que se esperava da criadagem de Blenheim.
Mal sorviu o líquido e já foi conduzido pela Condessa de Granville, Harriet. Com um espartilho bastante provocante, vermelho, e cabelos ruivos encaracolados era quase uma Afrodite, se comparada às outras nobres presentes. Os olhos azuis profundos da condessa demonstravam facilmente sua personalidade impetuosa. Provavelmente, herdara essa característica de sua mãe, a Duquesa de Devonshire, a qual Belus teve o prazer de conhecer. Uma das únicas mulheres que conseguiram participar de assuntos políticos, mesmo que de maneira nada categórica, já que trocava beijos por votos a favor de partidários amigos. O sangue Devonshire sem dúvidas circulava o caloroso corpo da condessa.
-Oras, Belus... mas que demora! Disse que viria as oito em ponto!
-Mas oras, como exasperante está hoje, cara Condessa! Não sabe que a nobreza só chega uma hora após o horário marcado?
-Hãm... como ousa... e pare de falar como um lord opulento da década passada. Sabe como odeio o seu cinismo.
-Hahahaha... entendo e adoro sua irritação. –Belus sorri, sendo correspondido por Harriet, que continua a guiar o duque com passos suaves pelo chão em um andar charmoso, quase sexy, pelos corredores cheios de lords e ladies observadores. Olhos que passavam hora ou outra pelos dois. –E como vai seu marido, o Conde de Granville? –Falou forçando o som no final de maneira pomposa.
-Hurf! –A condessa virou a cara em deboche. –Falar dele? Do cansativo e um dos "opulentos lords da década passada"? –Repetiu as palavras que acabara de usar contra Belus, que gargalhou com o uso. Sabia que Harriet não suportava os modos do marido. –Aquele cansativo senhor nada tem de minha paciência... não sei o que deu na cabeça de minha mãe para casar-me com aquele velho irritante. Entretanto, deixemos isso de lado... assunto que já vai tarde, Belus, já vai tarde! –Harriet dava leves tapas no braço de Belus, como se estivesse irritada, mas na verdade apenas brincava. –Gostaria mais é de falar sobre aquele... aquele assunto...
-De novo? Mas, céus, agora o ser irritante é você... o que quer saber de novo? Anda curiosa, não?
-Mas é claro! Hum... aquele homem... O Conde de Lucan... irlandês maravilhoso.
-Silêncio... comporte-se, Harriet! Chegamos ao Salão de Cerimônias e, olha quem...
-O Duque de Buccleuch e a Condessa de Granville! –O anunciador, como já era de praxe, bateu com o cetro palacial no chão e anunciou a entrada de ambos. Era um costume muito rígido ser anunciado quando se entrava no Salão de Cerimônias. Geralmente, é nele em que se cumprimenta o anfitrião e onde as honrarias são feitas.
O ambiente era bastante rebuscado. O salão era colossal e, proporcional a ele, os enormes vasos em cima de pedestais, cheios de scarlet roses importadas. Se um boticário adentrasse, ficaria estupefato, pois o cheiro no local era característico, bastante "nobre". Além das rosas, que tinham um diâmetro grande típico de flores plantadas em grandes altitudes e que geralmente exalam mais aroma, misturavam-se os perfumes franceses. Agora, tal produto era ainda mais cobiçado. Como a Revolução Francesa e as Guerras Napoleônicas**, as importações desses adorados se reduziram a poucos frascos ao ano. Mesmo que Napoleão tenha sido mandado para Santa Helena, ainda sim o governo francês não se recuperou dos ressurgimentos do pequeno monarca ao poder, o que dificultava as exportações francesas.
As roupas dos outros eram parecidas com as de Belus e Harriet, entretanto alguns não eram lá muito formosos. Os mais velhos ainda gostavam das jaquetas grandes e mal encorpadas, diferente da silhueta bastante extravagante da condessa e cintura apertada de Belus, junto do espartilho de Harriet e o peitoral vistoso do Duque, especialmente moldado pelo traço do traje.
Porém, assim como os jovens nobres que acabaram de ser anunciados, uma série de outros eram também belos e bem vestidos. Alguns nobres daquela festa poderiam causar até certo desconforto, tamanha a sua presença, sua beleza. Contudo, desse grupo não fazia parte o espalhafatoso George Spencer, Duque de Marlborough, o anfitrião do festival, que não era jovem e muito menos belo ou bem vestido. Exagerava nas roupas, usando trajes reais de se pousar em quadros, tecidos dourados e extravagantes que lembravam o Palácio de Versalhes. Lá estava ele sentado em uma espécie de trono da onde esperava o anúncio de todos os convidados.
-Mas, oras! Sejam bem vindos a minha morada! Bela Harry... –O anfitrião fez questão de se levantar e cumprimentar a adorada "Harry", como ele dizia. Apesar de egocêntrico, o Duque de Marlborough possuía ótimo humor e caráter, o que acabava tornando-lhe um bom acompanhante para conversas e um bom amigo.
-Hahahaha... continua me chamando desse apelido, hum? Minha mãe me chamava assim quando eu era pequena, até uns oito anos de idade... Apesar de que com vossa excelência eu já me acostumei.
-E como haveria de não se acostumar? –Falava alto, vibrante, articulando com os braços. –Conheci a senhorita, lady Harriet, com essa mesma idade.. enquanto fazia uma visita na casa dos Devonshire. Sinto falta de sua mãe! Era uma das poucas que falava tão alto quanto eu!
-Haha... de fato, a duquesa era articuladora de belas e altas conversas.
-De fato, de fato... mas, com licença minha cara, agora cumprimentarei o Duque... –Fez reverência, educadamente, e se voltou para o Belus. –Duque de Buccleuch, seja bem vindo a minha moradia! Já não o via desde a última viagem que fizestes em nome do império! Como foi pelas estadias austríacas?
-Obrigado, excelência. E sobre minha viagem, sabes que muito não posso dizer, pois o regente me fiaria a língua... ou ele, ou um de seus comensais... –Sorriu Belus, recebendo uma gargalhada do anfitrião. –Mas saiba que o Império Austríaco está ainda um pouco abalado com as várias investidas de Napoleão nos últimos anos, mesmo que agora ele esteja preso na Ilha de Santa Helena, como sabes, e dificilmente fará algo de lá.
-Hum... como imaginado... mas enfim. –George Spencer fez uma leve pausa, pensando sobre o assunto e logo continuou. -Divirtam-se. Peço que pela meia-noite sigam os guias até o jardim principal, onde eu farei um discurso. Logo, logo nos veremos novamente.
-Até lá, excelência.
-Com licença, lord Buccleuch. E com licença minha cara condessa. –Se despediu apertando uma das bochechas de Harriet, que revirou os olhos em desaprovação, mas permitiu o ato. Após isso, dirigiu-se a outros convidados que esperavam pelas boas vindas do Duque. Com seu afastamento, a Condessa de Granville puxou Belus para mais perto, em um canto menos barulhento.
-Então quer dizer que você andou por terras austríacas na última missão, é? Não me disse nada, como de costume...
-Como se pudesse... sabe como funcionam essas missões! Um dos grandes problemas de ser muito abastado e ter sido criado por uma gigantesca fila de tutores é ter, no futuro, qualidades que poucos têm... e aí, God Save The King! –Riu no final, voltando a tomar o champagne de outra taça que acabara de achar em uma bandeja por ali.
-Mas não é para pouco... é um ótimo lutador, tanto corpo-a-corpo quanto esgrima. Sabe mais de 15 idiomas! Alguns que eu nem mesmo me lembro e que, pelo que sei, ninguém mais fala. Como se chamava mesmo aquele... sanscri... sans..?
-Sânscrito... sim... é talvez a língua mais antiga do mundo, ninguém mais fala mesmo, porém, em algumas ocasiões muito especiais, acaba-se por encontrar algum louco que o use. E não me venha falar sobre os tutores de Etiqueta, Esportes, Literatura, Dança, Moda e os outros milhares... hunf! Tenho meus dotes hoje, mas fui uma criança muito ofuscada. Sabe muito bem quantas vezes deixei de brincar com você pelos jardins por causa das irritantes e intermináveis aulas... nem nos domingos, às vezes, eu tinha descanso.
-De fato. Oh, pobre Belus... –A Condessa aperta o ombro do duque e sorri. –Mas agora é um dos nobres mais cobiçados de toda a Alta Sociedade britânica... talvez, se não tivesse todos esses dotes, seus encantos não chegariam ao... dito Conde de Lucan, hum?
-Mais uma vez você com essa história? Deixe-o em paz... sabe bem que ele está aqui nessa festa e não vá incomodá-lo com qualquer comentário que seja!
-Você entende que eu não sou condessa de ficar me rebaixando a atos tão vis quanto os de perguntar diretamente sobre esse tipo de assunto... –A condessa deixa o falsete e sorri novamente da mesma maneira que antes. -É por isso mesmo que sou sutil.
-Hãm, hahaha... por Jorge III, o Louco***... você não desiste de perseguir meus entraves amorosos, não?
-Oras, como sempre fiz.. desde sempre, não? Pensando bem, mais tarde converso com vossa excelência sobre isso. Agora irei me distrair, acho que cumprimentarei algum de meus admiradores por aí. Até mais, lord Belus, Duque de Buccleuch. –A condessa se despediu, fazendo reverência em todos os bons modos da época. A cena era realmente hilária, mas o duque estava acostumado com esses lapsos de falsidade que Harriet gostava de fazer às vezes.
-Até, ó Condessa de Granville. –Reverenciou, curvando-se na direção da amiga, continuando toda a falsidade. Esperou que ela saísse e resolveu andar pelos corredores. Tinha interesse de se encontrar com alguns nobres especiais para saber as novidades econômicas e sociais. Na realidade, o Duque acabara de chegar da misteriosa viagem comentada ao anfitrião de Blenheim há pouco. Estava sem notícias vindas diretamente de nobres há seis meses. Isso era muito tempo na sociedade britânica do século XIX.
Em sua busca, achou nobres de todos os tipos. Fez os cortejos necessários a todos eles. Aqueles tempos eram bastante estranhos, já que a partir do turbilhão de novidades vindas com a Revolução Industrial até nobres passaram a se interessar pelo comércio, coisa que seria vista como insulto pelas antigas cortes. Alguns ainda viam dessa forma – "ó que ridículo o ofício dos burgueses, aqueles brutos sem bons hábitos que mais se preocupam com o dinheiro do que os costumes." – diziam. Porém, a grande maioria dos nobres realmente poderosos vinha mudando alguns hábitos e administrando de forma original a abastada renda, que nascia dos plantios de suas enormes propriedades, direcionando-a para a produção têxtil, muito forte na época, e em outras áreas mais originais, como a de bebidas, alimentos e afins.
De nobres "novos" a nobres antigos, acabou por encontrar o Conde de Liechfield, um sujeito estranho, mas que era reconhecido por todos pela enorme capacidade intelectual que possuía. Usava roupas antigas, uma casaca negra já meio gasta, e jamais ousaria ser um nobre "novo". Esse era mais de se enclausurar em seu enorme castelo Shugborough Hall e revirar a magnífica biblioteca dos Liechfield, conhecida mundialmente como uma das mais ricas e raras do mundo. Apesar de não ter ligação com as indústrias, seu condado lhe dava uma renda astronômica pela grande fertilidade.
-Thomas William Anson, o Conde de Liechfield! –Belus sorriu e elevou a mão na direção do conde. Thomas, como lhe era próprio, observou com os olhos arregalados através dos óculos sem hastes, presas no paletó através de uma corrente de ouro fina por uma presilha dourada com o brasão Liechfield. Reconheceu-o e apertou sua mão no mesmo instante.
-Oras, mas se não vejo o Duque de Buccleuch! Como vai, meu jovem? Tudo bem pelos ares austríacos? –O conde sorriu, prevendo que Belus se espantaria com o conhecimento que tinha de suas viagens.
-Como de esperado, não deixa passar uma só informação ligada ao monarca, não é excelência? Isso já é esperado de alguém como o senhor.
-Agradeço o elogio, agradeço... mas saiba que esses... er, conhecimentos secretos, eu diria, chegam-me aos ouvidos sem querer. É a ligação com o regente.
-Com ele ou os cães dele?
-Ha-ha-ha! –O conde andava com o jovem, apoiando uma mão em seu ombro e dando uma de suas risadas altas e pausadas, até um pouco pomposas. –Deixe disso... Jorge IV precisa de seus homens para manter a ordem... sabes que ser o rei da nação mais poderosa do mundo é algo extremamente difícil e há poucos anos estávamos passando pelo Bloqueio Continental de Napoleão... é normal que ele queira saber mais de perto sobre os países compradores de nossas tão famosas mercadorias industrializadas. –Dizia balançando a cabeça em desalento no final da frase. –Mesmo que essas sejam feitas a partir do sangue dos homens britânicos... e até das crianças britânicas.
-Creio que ainda se preocupe com esse fator dos trabalhadores... é um homem raro na nobreza, caro conde, a grande maioria se preocupa muito mais com as roupas que usarão na próxima festa ou a próxima bela carruagem que irão comprar... Mas, voltando ao assunto, eu não ligo para as preocupações do rei em relação aos outros países, o que incomoda realmente são os espiões que não param de nos avaliar, dia e noite, não só nas missões, mas em tudo.
-Esse é o lado ruim de ser um dos preferidos do reino, meu caro! –Riu e deu alguns tapas nas costas de Buccleuch. –Quando se representa tanto o rei, não se pode cair em escândalos...
-Enfim... seja como for, irrita-me em certos momentos. Sinto-me perseguido... o senhor, apesar de ter suas fortes ligações com Jorge IV, não é perseguido. Nem os outros de tua estirpe, como o Duque de Beaufort, Marquês de Winchester... e alguns outros que conhece melhor que eu.
-Oras, eu sou um velho que passa o dia lendo... que escândalo eu poderia causar? E esses outros dois rabugentos que mal aparecem na Corte também não são fonte de suspeitas, apesar de, notavelmente, ambos estarem hoje na ocasião.
-Que interessante. Há muito, muito tempo não me correspondo com ambos. Será uma honra ter uma conversa com os lords hoje, logo os procurarei.
-Faça como quiser, entretanto nem sei se terá tempo para isso... eles vieram rapidamente, apenas para tratar de um assunto especial com o nosso querido Marlborough... mas isso não lhe convêm. –O homem meneou a cabeça, falando com Belus sem parar de olhar para o chão. –Como eu dizia, nós somos a velha guarda... Porém, um belo jovem como o duque, rodeado de nobres polvorosas... quem sabe? –Liechfield observou Belus e sorriu, dando-lhe tapinhas no rosto como se fosse um filho. Era um de seus costumes para com os mais novos. –Mas, deixarei lord Belus em paz! Procurarei um de meus velhos amigos por aqui e depois nos vemos mais. Até, Henry Belus von Montagu. –Fez reverência e saiu de perto de Belus, após este corresponder cordialmente. De certa forma, Thomas tinha razão em seus pontos de vista, mas que era irritante ser espionado e, pior, saber disso, sem dúvida era.
Por alguns instantes Belus parou para pensar no que faria esses homens saírem de suas confortáveis e distantes casas para se mostrarem à Corte de nobres insaciados. Talvez o próprio Thomas, também extremamente ligado aos outros, iria participar dessa reunião inusitada.
Os nobres da "velha guarda", como eram chamados, trabalharam há anos e ainda trabalham para o rei, apesar de com certo conforto. Haviam muitos lords bastante próximos de sua majestade, Jorge IV, porém nem o próprio Belus, que seria uma espécie de "agente secreto", se equiparava a alguns que apareceram naquele festival. Há muitos anos alguns deles não davam as caras na Corte, como por exemplo o Duque de Abercorn. Era um dos mais famosos entre os de grande estirpe. Riquíssimo, poderoso, ligado ao rei e famoso pelos seus conhecimentos relacionados à Herbologia e Medicina. Não era fácil de encontrá-lo, geralmente ele ficava anos em seu palácio, no ducado de Tyrone, Irlanda, sem participar de festivais, encontros ou até mesmo casamentos de amigos íntimos. O Marquês de Winchester seguia o mesmo padrão, entretanto era menos anti-social por ser um grande pesquisador dos corpos celestes, arquitetando trabalhos que há anos vinham ajudando a entender melhor o comportamento dos planetas. Já o Duque de Beaufort era outro rodeado de mistérios. Seus trabalhos incentivaram as novidades científicas da época, sendo que os estudos de Antoine Lavoisier****, um pouco antes de sua cabeça ser guilhotinada na Revolução Francesa, foram continuados por ele e incrementados de forma original, a sua maneira. Assim como os outros, o Duque tinha suas estranhezas. Sabia-se que também estudava Alquimia antiga, uma ciência dada como mística e que misturava ambas as ciências em seus verdadeiros experimentos, na segurança de Badminton House, sua enorme moradia.
Talvez, de todos, o mais sociável e menos misterioso fosse o próprio Duque de Marlborough. Esse sim adorava todo tipo de celebrações e festas que surgiam aqui e ali. A única coisa que ele tinha como um suposto mistério era sua valiosa coleção de objetos antigos, a qual, segundo alguns, possuíam desde estátuas de deusas pagãs até mesmo pergaminhos, livros e esculturas de culturas antigas. Entretanto, poucos se importavam com isso. Nunca ninguém fora do palácio de Blenheim teve acesso à famosa coleção, pelo menos não abertamente, e a grande maioria achava mais que deveriam ser um monte de bugigangas antigas, sem valor grande o suficiente para merecer muita agitação.
Coincidentemente, virando um dos corredores, encontrou todos os cinco reunidos dentro de uma sala que permanecia aberta, porém mais silenciosa, permitindo um ambiente de entretenimento. Estavam sentados em grandes poltronas acolchoadas, bordadas e ornamentadas em tecidos dourados com estampas campestres. Bebiam whisky e davam gargalhadas. Era o que se via a distância, mas nada se ouvia. Belus resolveu adentrar a sala com certa cautela para não atrapalhar a conversa e cumprimentar os tão furtivos senhores.
Continua...
Observações Importantes:
*Títulos Nobiliárquicos
Para melhor entendimento da fanfic, é importante que o leitor saiba a ordem de grandeza dos títulos nobiliárquicos (Conde, Duque, Barão etc) do Reino Unido no século XIX. Aqui vai uma lista ordenada:
Imperador (Kaiser, Csar)
Rei
Regente
Príncipe monarca
Príncipe
Duque (mais importante se não da Família Real)
Marquês
Conde
Visconde
Barão
Senhor (Lord ou Lady, podendo ser usado independentemente da existência ou não de algum título nobiliárquico).
Cavaleiro
Nem sempre um nobre com um título acima de outro é mais poderoso e esse tipo de regra não deve ser instaurada pelo leitor ao ler esta fic. Entretanto, geralmente os de elevado título possuem maior número de terras e patrimônios em si, exatamente pelo fato de um ducado ser maior que um condado. Mesmo assim, isso novamente não é uma regra. Cabe ao leitor compreender pela narrativa os personagens mais importantes na realeza britânica, sendo que o autor irá deixar a posição social e econômica dos personagens bastante evidente, dando especial grau de descrição aos personagens mais importantes da fanfic.
**No ano de 1817, onde estão atualmente os personagens, Napoleão Bonaparte já havia sido deposto após a sua volta ao governo, quando escapou da Ilha de Elba. O Bloqueio Continental já havia sido derrubado, com a perda da França para a Rússia em 1812. No atual momento da fanfic, Napoleão está exilado na Ilha de Santa Helena, completamente impossibilitado de fugir por ser totalmente inóspita. Lá ficou até sua morte, em 5 de maio de 1821.
***Jorge III, o Louco, era o atual rei no início do século XIX. Foi assim reconhecido por cair em uma enfermidade genética, que o deixou louco.
****Antoine-Laurent de Lavoisier (Paris, 26 de agosto de 1743 — Paris, 8 de maio de 1794) foi um químico francês, considerado o criador da Química moderna. Foi o primeiro cientista a enunciar o princípio da conservação da matéria. Além disso identificou e batizou o oxigênio e participou da reforma da nomenclatura química. Célebre pela sua frase "Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma."
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Nota do Autor: Oi pessoal! ^_^ Sejam bem vindos a minha "fanfic" e espero, sinceramente, que tenham gostado desse primeiro capítulo. Quando eu decici escrever essa história estava cheio de idéias e tal, mas para colocá-las em prática foi necessário muita pesquisa, ou seja, deu bastante trabalho. Saibam que os títulos de vários personagens, pelo menos os mais importantes, existem até hoje na Inglaterra, sendo que o próprio palácio de Blenheim existe até hoje, lindo e exuberante... caso queiram procurar na internet sobre vale a pena, ele é muito bonito ^^ Bom.. retomando, eu espero que o trabalho tenha dado um boa história... e que os mistérios estejam corroendo a mente de vocês XDDD *ficwriter mau* Eu tenho que fazer, como de praxe, alguns agradecimentos. Agradeço, acima de tudo, minha beta reader *-* minha cara Aquarius Chann! Ela me ajudou muito betando a fic e conversando comigo sobre algumas coisas na hora da produção que foram importantes para ela ficar legal. Também agradeço aos meus amigos com quem eu tenho comentado e tudo mais.. foi mais de um e como eu não lembro quais foram todos com quem comentei, prefiro agradecer a todos os meus amigos ^^ A história está se desenrolando e logo cada vez mais mistérios irão aparecer... para quem gosta de mistérios, creio que essa fic foi feita para você XD Também vai ter ocultismo, romance, LEMON *-*, romance, LEMON *-*, glamour, maldições e até fatos históricos, que obviamente aconteceram de verdade, e vão mexer com a história e os personagens... enfim, é uma fic interessante, acredito, espero que esteja agradando vocês ^_^ Por favor, não se esqueçam dos reviews, viu? E ah, sei que o primeiro capítulo foi longo, mas os próximos serão mais curtinhos, ok? Até mais e agradeço desde já a todos os leitores.
