Estados Unidos, 1897. A jovem descendente de ciganos espanhóis, Ana-Lucia, raptada de sua caravana é vendida pelo dono do saloon onde vive como escrava para um cowboy, futuro xerife de uma cidadezinha nos confins do oeste norte-americano. Mulher indomável, ela deseja desesperadamente fugir desse homem e conseguir voltar para os seus, mas o que ela não contava era que seu coração já havia sido roubado pelo cowboy desde o início.
As Aventuras de James Sawyer e Lulu Cortez
Capítulo 1
O Leilão
Santa Fé, Estados Unidos, 1897
– Vá!
A voz dela saiu hesitante, baixa, quase um murmúrio. Ele não podia ir, não agora que tinham chegado tão longe. Estavam juntos nisso, mas Goodwin havia partido com Juliet e os deixado para trás. Mas Sawyer não faria o mesmo, ele era leal aos seus amigos, até o fim.
– Vá, James!- a voz dela repetiu, lânguida, os olhos quase se fechando.
– Não Kate, eu não vou deixar você aqui. Eu te amo, baby!
Ela sorriu e disse:
– Cínico!- uma tossida acompanhada de um engasgo a fez manchar a mão dele, que a segurava, com sangue.
– Kate, preciso levar você a um médico, nós agora temos dinheiro...
– A polícia virá atrás de nós, James!- ela disse com firmeza, juntando as últimas forças que tinha. - Você precisa fugir enquanto ainda há tempo!
– Não posso deixá-la!
– Sim, você pode...- ela insistiu. – Eu ficarei bem...por favor...nós nos reencontraremos...
Sawyer olhou para um lado e para o outro do beco onde ele e sua parceira Kate estavam escondidos. Ela tinha razão, logo a polícia chegaria e nenhum dos dois teria chance. Ele precisava fugir. Pensando rápido, ele escondeu entre os pertences dela uma boa quantidade de dinheiro e disse:
– Eu vou, Kate! Mas eu coloquei dinheiro na sua bolsa, você ainda pode se salvar! Nós nos reencontraremos!
Ele beijou os lábios dela com delicadeza e juntando o resto do dinheiro que tinham conseguido roubar do banco, Sawyer montou em seu fiel alazão e partiu sem destino. Kate fechou os olhos quando ele se foi e a inconsciência a tomou por completo.
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3 meses depois
Pueblo de Santa Rosa, 200 km de Santa Fé
– Agora que terminou de limpar a despensa, vá servir bebidas aos cowboys!- ordenou Dom Guimarães à jovem criada, ríspido como sempre.
Ana-Lucia ergueu a cabeça, mas manteve uma postura humilde e respeitosa ao dizer ao patrão:
–Dom Guimarães, com todo o respeito, eu prefiro limpar o estábulo a servir aos cowboys, por favor, me deixe separar o feno e alimentar os animais!
– Isto não é serviço pra mulher!- ele retrucou. – Prefiro que você sirva os cowboys, a tonta da Sra. Ferguson não dá mais conta de fazer isso sozinha. Está muito velha.
– Mas senhor, é que os cowboys não são homens respeitosos. Eles sempre tentam passar as mãos em minhas nádegas... – ela corou ao dizer isso.
O homem deu uma gargalhada.
– Hum, quer dizer então que você não gosta das investidas dos cowboys? Ora, menina, deverias te dar por satisfeita que os homens daqui possuem algum interesse em você, pelo menos isso me faz perceber que todo o investimento que tenho feito em você não foi em vão.
– O que o senhor quer dizer com isso?
– Que já está mais do que na hora de você assumir outras funções aqui no salão como as outras meninas.
Os belos olhos escuros da serviçal se alargaram.
– Não me olhe assim, menina! Quando eu te comprei daquele mercador que te trouxe até aqui era o que eu tinha em mente. Mas você era muito magra, tinha cara de doente, os olhos fundos...
– Mas aquele homem terrível me deixou sem comer vários dias quando me raptou de meu povo!- ela justificou.
– Eu sei disso! Por isso mesmo foi que alimentei muito bem você nos últimos três anos e agora quero minha devida recompensa!
– Dom Guimarães, eu faço o que o senhor quiser, trabalho dobrado, mas não posso ser como as outras moças, eu não conseguiria...
Ele pôs a mão sobre o queixo dela e ergueu-lhe o rosto como se verificasse uma mercadoria.
– Ès bonita, Lulu! E o melhor de tudo, intocada! Posso conseguir um bom dinheiro contigo! Posso fazer um grande leilão! Moças virgens e disponíveis para o meu saloon são uma raridade por aqui, os cowboys vão pagar quantias altas para ter você.
– Não, Dom Guimarães, eu imploro que não faça isso!
– Cala-te mulher! Mudei de idéia, não vai mais servir cerveja aos cowboys hoje, vais fazer companhia a eles. Vou mandar Nikki arrumar-te como se deve para que os homens a vejam esta noite. E hoje mesmo irei anunciar o leilão. O homem que pagar mais vai reivindicar tua virgindade.
Horrorizada, Ana-Lucia não conseguiu dizer palavra. Dom Guimarães chamou Nikki e explicou a ela o que queria que fosse feito em Ana-Lucia. Prontamente, a moça o obedeceu levando Ana para o quarto dela.
– Nikki, por favor me ajude!- apelou Ana-Lucia. – Não posso fazer isso!
– Não é tão ruim assim!- Nikki tentou acalmá-la enquanto vasculhava seu baú em busca de um vestido bonito e sensual para a nova dama do saloon. – Os cowboys são legais!
– Legais?- Ana-Lucia retrucou. – Não entendo como associar esta palavra a um cowboy. Eu já os vi muitas vezes aqui pelo saloon, são grosseiros, nojentos, estão sempre devorando as mulheres com os olhos...
– Você vai se acostumar!- Nikki retirou um vestido azul céu de dentro do baú. – Esse vai ficar perfeito já que você ainda é virgem! Os homens vão ficar loucos por você.
Ana-Lucia sentou-se na cama de Nikki com uma expressão desolada no rosto.
– Oh querida, não fique assim! Vai ficar tudo bem. Agora melhora essa carinha e deixa eu arrumar você. Dom Guimarães é um homem generoso, ele vai deixar você ficar com um pouco do dinheiro que ganhar para comprar vestidos novos e perfumes.
– Não quero nada disso! Só quero ir embora daqui!
Nikki acariciou o rosto dela e disse:
– Você não tem escolha, meu bem. Agora experimente o vestido.
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Sawyer amarrou seu cavalo em uma árvore próximo ao estabelecimento mais freqüentado da cidade, porém o menos respeitável e se encaminhou para a entrada. Era sua última noite por aquelas bandas. Tinha conseguido uma resposta ao seu pedido para ser o novo xerife de uma cidade pequena chamada Vila Dharma, muito quilômetros dali.
Desde que ele e seus ex-comparsas assaltaram o banco de Santa Fé meses atrás, ele vinha fugindo, sem poder conseguir um local para se fixar e usufruir do dinheiro. No entanto, há cerca de duas semanas ele soube que estavam precisando de um novo xerife em Vila Dharma e ele resolveu se candidatar ao cargo. O problema era que uma das exigências, por sinal uma das mais importantes, era que o xerife fosse um homem honrado e muito bem casado.
Bem, esse não era exatamente o caso dele. Como um ladrão de banco procurado poderia ser considerado um homem honrado? Além disso, ele precisava desesperadamente de uma esposa em pouco tempo. Não podia chegar à cidade solteiro. Resoluto, resolveu que iria convidar alguma dama do saloon a participar de uma pequena farsa com ele. Ele pagaria à moça para se passar por sua esposa durante todo o tempo em que ele permanecesse no cargo. Se Kate estivesse com ele, não estaria tão preocupado, ela não se importaria de se passar por sua esposa. Mas ele não sabia nada dela há meses, esperava que ela tivesse conseguido escapar e estivesse viva.
Deixando seus pensamentos de lado, ele caminhou para dentro do saloon e pegou uma mesa. Precisava se concentrar na tarefa de escolher uma prostituta que tivesse capacidade e talento para atuação também. Quando ele lá chegou, as moças do saloon ficaram em polvorosa. Sawyer sorriu orgulhoso, sabia do seu poder de atração.
Ele pediu uma caneca de cerveja a uma senhora idosa e estava começando a bebericar do líquido amargo e reconfortante quando uma mulher morena, vestida de azul, com os longos cabelos negros presos em tranças como uma coroa ao redor da cabeça foi levada ao palco por duas outras moças de vestidos espalhafatosos e emplumados. Ela usava maquiagem leve e tinha rosto de anjo, um contraste com o corpo curvilíneo e voluptuoso que as camadas de tecido que a cobriam não podiam esconder. O colo altivo inspirava e expirava como se ela estivesse muito nervosa.
– Gostei de você, nenê. -ele comentou consigo mesmo.
O dono do saloon subiu ao palco e anunciou.
– Esta noite temos uma garota nova aqui no saloon. Virgem.- ele acrescentou com malícia e os homens começaram a conversar entre si, afoitos. – Mas se vocês pensam que o preço usual que querem pagar por esta morena de sangue espanhol será válido, podem esquecer! Esta noite estou leiloando a virgindade da moça por 2 mil guinéis.
Um sonoro ohhhhhh foi ouvido no salão. Era um preço alto, mas Dom Guimarães sabia que iam pagar. Uma virgem era sempre uma virgem.
– Dou 2 mil e 100 guinéis!- anunciou o prefeito de Santa Rosa.
– Dou dois mil e 200 guinéis!- ofereceu outro homem.
Ana-Lucia queria gritar. Estava sendo oferecida como um pedaço de carne, a sensação era horrível. Já não bastava a humilhação que teria de passar ao ter que entregar sua virgindade a um homem estranho, a quem não amava. Em seu povoado existia o costume das moças se casarem com noivos escolhidos por seus pais, mesmo assim, Ana-Lucia conhecia desde a infância o noivo que seu pai lhe escolhera, não era um estranho. Mas agora ela não se casaria com o jovem e belo cigano Yago, ela se tornaria uma prostituta e jamais veria sua família novamente.
O leilão continuou por mais alguns minutos, até que um cowboy loiro, barbado, usando camisa quadriculada e calça jeans suja ergueu a mão e disse:
– Dou cinco mil guinéis por ela. Mas não a quero somente por uma noite. Quero levá-la comigo. Sou o novo xerife de Vila Dharma.
O saloon ficou todo em silêncio. Ninguém ousou cobrir a proposta do xerife. O homem realmente tinha dinheiro para fazer uma proposta como aquela.
– Bem, já que não temos mais nenhuma proposta, eu vendo a moça ao xerife de Vila Dharma. Pode levá-la, senhor!- falou Dom Guimarães, atirando Ana-Lucia nos braços do xerife.
Os olhos escuros dela se encontraram com os olhos azuis dele e Ana-Lucia soube que seu destino estava traçado.
Continua...
