Disclaimer: Furuba é muito foda pra me pertencer.
N/A: Alguns avisos: Esse ficvai teralguns spoilers até o volume 13 de Furuba e também do cap96. Quem só viu o anime já vai ficar perdido logo nesse comecinho do fic. Mais notas no final.
Silence Apart
Come up to meet you, tell you I'm sorry
Vim te encontrar, dizer que sinto muito
You don't know how lovely you are
Você não sabe o quão amável você é
I have to find you, tell you I need you
Eu tenho que te encontrar, dizer que preciso de você
And tell you I set you apart
Dizer que a abandonei
Tell me your secrets, and ask me your questions
Me conte seus segredos, me faça suas perguntas
Oh let's go back to the start
Oh, vamos voltar pro começo
Running in circles, coming in tails
Correndo em círculos, surgindo as caudas
Heads on a silence apart
Cabeças num separado silêncio
Nobody said it was easy
Ninguém disse que era fácil
It's such a shame for us to part
É tão vergonhoso para nós, nos separarmos
Nobody said it was easy
Ninguém disse que era fácil
No one ever said it would be this hard
Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim
Oh take me back to the start
Oh, me leve de volta pro começo
"The Scientist" – Coldplay
Encarou o reflexo dos próprios olhos escuros, com uma espécie de determinação enfurecida. Conteve a vontade de socar o espelho. Por mais que certas coisas tivessem mudado, a repulsa que aprendera a ter por si mesma era algo que provavelmente persistiria para sempre como parte de sua personalidade.
Aquele desprezo que a ensinara a afastar os outros. Não era digna e não queria ou precisava de ninguém. Assim como ninguém precisava dela.
Ou era naquilo que ela tentava se convencer a acreditar.
Colou os dedos na superfície gélida do vidro, primeiro sobre o reflexo dos olhos negros, contornados com lápis preto. Sempre com aquela expressão feroz e meio triste.
Sua mão passou rápida sobre a imagem dos lábios, pintados com um batom claro. Os lábios... Há quanto tempo não tinha aquela boca quente sobre a sua?
Há quanto tempo ela vinha afastando, e tratando como qualquer um, a pessoa de quem mais gostava? Que lhe ensinara que não precisava estar o tempo todo na defensiva...
Podia ter aprendido essa lição, mas jamais tornaria a usá-la na prática. Mais que nunca, tentava manter-se sozinha. Dessa vez por uma razão.
Mesmo que ninguém entendesse. Podia ser egoísmo de sua parte, mas queria salvá-lo; mesmo que o preço fosse sequer conseguir olhar para ele de novo.
Rin suspirou. O amor dos Juunishi era algo amaldiçoado, sujo; proibido. Porque os próprios representantes dos doze signos, não passavam de meros objetos, cada qual carregando sua maldição.
Não queria isso para Haru. Queria que ele fosse uma pessoa; livre para amar.
Por isso, debatia-se daquele jeito para quebrar o destino. Mesmo sabendo que nadava para morrer ainda no oceano. Não importava se o preço a pagar fosse o abandono. Acostumara-se a ser sozinha.
Escolheu no armário um vestido preto, de festa, jogando um pesado casaco por cima. Estava frio.
Mal podia acreditar que teria que revê-lo, depois de tanto esforço para ficar longe. Tinha medo que, ao encontrar-se com ele, todas as suas resoluções simplesmente se desfizessem.
E acreditava menos ainda no motivo daquilo. O aniversário do patriarca do Clã Sohma. Mais uma das reuniões hipócritas daquela família. Como se qualquer um deles quisesse comemorar o dia do nascimento daquele que os mantinha ligados por aqueles laços... O dia que marcara para sempre suas vidas como amaldiçoadas.
A pessoa que destruía tudo em que tocava. Porque era seu direito natural. Rin ainda tremia um pouco ao se lembrar daquela fúria glacial, que vinha silenciosa e arrasava tudo, como uma tempestade... Akito.
Ela sempre soubera que o que quer que tivesse com Haru, só podia ser errado. E mesmo assim, continuara... Era tão bom. Quando Akito descobrira...
Isuzu estremeceu de leve. Sempre o fazia ao recordar aquele tipo de passado.
Os dias no hospital pareceram não passar nunca. E ele sempre ao seu lado. Agora não mais. Não queria correr o risco de que ele se machucasse da mesma forma. Se ela pudesse ter certeza de que Haru ficaria bem... Valia muito mais que qualquer um daqueles momentos pequenos de felicidade.
Calçou as botas, também negras. Parecia viver num luto constante. Era uma pessoa amarga, infeliz e agressiva. Como alguém como ele podia ver qualquer graça nela?
"Rin... Vamos nos beijar?"
"Por quê?"
"Porque nós nos amamos."
Deu um sorriso tímido, contido. Ele era mesmo uma pessoa única. Começara, na verdade, muito antes daquele beijo e ambos sabiam disso.
Podia se ater daquela forma àqueles momentos? Lembranças que a mantinham indo em frente e, ao mesmo tempo, presa ao passado. Era uma idiota por ter se entregue à situação de forma que tudo tivesse saído tão drasticamente de seu controle, mas era grata por isso.
Tornara-se uma contradição. Mas se não tivesse sido assim, continuaria pra sempre um nada e sua vida, um espaço em branco.
Ela o amava demais. Daquele jeito, quase visceral. Quando não estava perto dele parecia apenas estranho. Como se algo constantemente lhe faltasse; como se estivesse perdendo uma parte de si sem a qual não podia viver. Tinha medo.
De que um dia aquele sentimento, aquela dependência acabassem por sufocá-lo... E ele iria embora. Talvez além da vontade de salvá-lo, de vê-lo livre, um pouco daquele medo a tivesse levado a se afastar.
O caminho que escolhera percorrer estava agora muito distante do dele para que pudesse voltar atrás.
Tanto melhor; pensou; voltando as costas para o espelho e se dirigindo à porta. Antes que sua mão alcançasse a maçaneta, ouviu batidas leves do outro lado.
"Rin?" a voz irritante de Kagura se fez ouvir dentro do quarto.
Não importava que já houvesse anos desde que ela fora adotada pela família da juunishi do Javali. Jamais se acostumaria. Forçava-se a continuar estranhando. Não conseguia admitir que tinha um quase pavor de ser rejeitada outra vez como fora por seus pais.
Então escondia aquele distanciamento, aquele comportamento arredio, por trás da desculpa verdadeira de que, mesmo que compartilhassem uma maldição, um destino; continuavam diferentes demais uma da outra.
Revirou os olhos e deu um suspiro de impaciência antes de abrir a porta.
"O que você quer?" perguntou, sem se importar se estava sendo rude enquanto olhava Kagura de alto a baixo.
Desprezava aquele jeito de menininha meiga da outra. Arrumada para a festa, parecia mais uma bonequinha do que nunca. Por menos que a conhecesse, para Rin era mais que óbvio que aquilo não passava de outra máscara.
Uma das coisas mais detestáveis daquela família. Eram poucos os que não mostravam apenas uma parcela insincera de sua personalidade aos outros. Apenas os membros da família dotados daquela gentileza estúpida, conseguiam ser quem realmente eram. E, justamente por isso, eram eles os mais vulneráveis.
E Haru era tão gentil.
"Queria saber se você está pronta para irmos juntas à festa." Ela disse meio sem jeito. "Não vai ser tão ruim. O Kyo kun vai estar lá e quando eu o encontrar..." Kagura tinha mais uma vez aquele brilho sonhador nos olhos enquanto falava sem parar.
Isuzu tinha muito pouco contato com a sua 'meio irmã' como Kagura se auto-intitulava. Mas já conhecia aquele modo delirante bem o bastante para irritar-se.
"Pare." Ela disse depois de um tempo; o olhar duro. "Pare de ficar imaginando coisas e rastejando pelos cantos por algo que não vai acontecer. É patético. Me deixa constrangida o jeito como você fala dele."
Kagura calou-se no mesmo instante, parecendo prestes a verter em lágrimas. Se tinha uma coisa que Isuzu não queria era presenciar uma cena dramática.
"Você pode ir com a sua mãe à festa. Eu prefiro ir sozinha." E andou até a porta da frente.
Totalmente diferentes e, no entanto, o que mais irritava Rin a respeito de Kagura era uma das poucas semelhanças entre as duas.
Os estardalhaços que a Javali fazia em cima de seu amor por Kyo, a faziam soar artificial ao extremo, mas Isuzu tinha certeza de que pelo menos aquela faceta da garota era sincera.
Ela amava o Gato de verdade; por menos que parecesse. E era capaz de tudo por ele.
Aquilo incomodava Rin de uma maneira quase irracional. A ponto de que apenas estar na presença da Javali fosse desconfortável. Odiava ver alguém cometendo os mesmos erros que os seus.
O vento de fora passou cortante por entre seus cabelos negros e uns dois ou três flocos gélidos de neve pousaram em seu pescoço, fazendo com que sua pele se arrepiasse.
Apertou o casaco contra o corpo, para se aquecer. Estava muito frio, provavelmente por isso não havia sequer uma alma nas ruas.
O som solitário de seus saltos contra a calçada manchada de branco, fazia aquele cenário parecer ainda mais desolado. Andou meio a esmo; sabia onde estava indo e por onde passava, mas relutava em chegar.
Por isso caminhava como se estivesse perdida, em passos lentos, lançando olhares inseguros para todos os lados. Conhecia bem demais aquela região, de seus passeios com Haru. Incrível como aquele lugar lhe parecia estranho quando andava sem ele.
Lançou um olhar por cima dos ombros, observando o caminho que deixara para trás; a marca de seus passos, manchando o manto branco de neve. Era fraca por achar que andara demais sozinha?
Por não querer continuar errante? Por se cansar de andar em círculos?
Encostou-se ao muro de madeira atrás de si, jogando sobre ele todo o seu peso. Quando sequer conseguia carregar a si mesma; o que esperava conseguir?
Observou pensativa a árvore à sua frente.
Uma cerejeira enorme, seus galhos vazios eram grandes sombras negras contra o céu cinza-pálido. Uma ou duas flores ainda resistiam aos primeiros dias de inverno. Cedo ou tarde acabariam morrendo.
"Estava esperando você." Rin levantou os olhos para os galhos ainda mais altos da árvore.
Seus instintos lhe diziam para correr. Para não acreditar. Que aquela não era a voz que ela tanto se esforçara para tirar da cabeça.
"O que você está fazendo aqui?" Ela gritou com fingida irritação para a figura empoleirada nos galhos.
"Acabei de dizer. Sabia que você viria por esse caminho."
"O que você quer comigo?" com dificuldade, forçava-se a ser agressiva.
Haru foi lenta e desajeitadamente descendo da árvore. Rin se perguntou como ele teria ido parar lá em cima e se não teria caído umas dez ou vinte vezes antes de conseguir subir, distraído como era.
Não precisou divagar muito sobre o assunto; a resposta veio na forma do garoto, despencando de um dos galhos um pouco mais baixos e aterrissando com um baque no chão branco.
"..." Isuzu controlou o impulso de correr até ele e apenas esperou.
Se havia doído ou se machucado, Haru pelo visto preferira ignorar quando se levantou sem sequer uma reclamação e espanou a neve do corpo.
"O que diabos você estava fazendo em cima daquela árvore?" Ela perguntou por fim, muito mais indignada que preocupada.
"Não tinha nada para eu fazer enquanto te esperava."
"!" Haru nunca mudava mesmo. Sempre as mesmas respostas óbvias e sem nenhum sentido.
"E você ainda não me respondeu por que estava me esperando! Que eu saiba, eu não tenho mais nada a ver com você, então não tem qualquer motivo pra essa palhaçada." Disse de um fôlego só.
Terminar com Haru fora das coisas mais difíceis que ela já fizera; não ia fraquejar na hora de manter o ato. Havia algo maior em jogo do que apenas a felicidade dela. Só poderia garantir que Akito não iria machucá-lo se ficasse longe. Fora de alcance.
"O que aconteceu com você, Rin? Não sou eu que preciso explicar. Você sabe por que eu estou aqui."
"Eu não preciso explicar nada! Porque você acha que eu te devo alguma coisa?" Gritou.
Não importava; pensou. Se ele ficasse magoado ou decepcionado; não era importante. Precisava apenas ficar longe... Ou iria tudo por água abaixo. Aqueles olhos tão calmos, tão diferentes dos seus... Nunca conseguira resistir a eles.
"Você está com medo." Ele disse categórico e ela calou-se na hora. "Você fala como se estivesse com raiva, mas a sua expressão... Seus olhos... Eu conheço você." A garota permaneceu estática, enquanto Haru em poucos passos já estava tão próximo dela que Rin podia sentir o calor emanando de seu corpo; ouvir seu respirar.
Ele a acalmava. Era natural.
Nem pensou em tentar impedir quando Haru a abraçou. A saudade daqueles braços, do único lugar onde se sentia protegida, era mais forte que ela. O pouco que restava de seu auto controle, usava para forçar-se a não retribuir o carinho.
Agora o vento e os flocos de neve pareciam incrivelmente mornos com o calor daquele corpo, que a protegia do vento.
Hatsuharu abaixou o rosto, procurando a boca da garota.
Rin não impediu o beijo, mas também não beijou Haru de volta. Mais uma vez ficava entre o que tinha que fazer e o que desejava. Sem tomar qualquer posição.
Agindo certo ou errado aquilo já estava, há muito, fora de seu controle.
A língua dele contra a sua, o aperto firme daqueles braços, os cabelos macios entre seus dedos. Era tudo que ela queria poder sentir para sempre. O que queria de verdade era poder trocar tudo que tinha para que aquilo não acabasse.
As mãos ousavam alguns toques atrevidos, diante dos quais ela derretia. Podia sentir as unhas dele tentando arranhar suas costas sob o tecido grosso do casaco, que ela queria tirar ali e agora.
Queria tirar tudo que estava usando e se render àquele calor ali mesmo.
Mas tudo o que lhe sobrara fora uma resolução. Estava determinada a conseguir. Separou-se dele de maneira brusca. Se tentasse parar aos poucos, jamais pararia.
"Não." Tentou manter a voz firme. "Eu terminei com você, lembra?"
"Não é o que você quer. Você tem medo. Me diz do que. Eu vou te proteger."
"Não é mais dever seu, me proteger."
"Diz que não quer mais e eu vou." Ele respondeu impassível.
Tudo que ela não queria era outra decisão. Tarde demais para voltar. Tarde demais para pensar duas vezes.
"Eu. Não. Quero." As palavras caíram pesadas, como uma nevasca, seguidas apenas pelo som do respirar pesado de ambos.
Haru deu um passo em direção a Isuzu, que não ousou recuar. Ele puxou a mão da garota para si, voltando a palma para cima. Depois colocou sua própria mão sobre a dela.
O toque pareceu durar pouco mais que uma fração de segundo, antes que ele virasse as costas e fosse embora. Desaparecendo, em meio à neve que caía devagar.
O tempo que Isuzu levou para se dar conta do que acontecera, foi muito maior. Olhou para a própria mão, ainda espalmada para cima e para a delicada flor branca que Haru deixara ali.
"Por isso..." Ela sussurrou, contemplando uma das últimas flores de cerejeira a resistir ao inverno. Por causa daquilo ele subira tão alto na árvore...
Era apenas o modo que ele tinha de dizer que não desistiria.
Ela também não.
Ajoelhou-se e deixou a flor ao pé da árvore. As pétalas se camuflavam no chão branco. Levantou-se e continuou andando.
Chegava finalmente a uma bifurcação. À frente, o caminho para a Mansão Sohma. À esquerda, qualquer outro lugar.
A primeira decisão diante da qual ela não hesitou.
Era demais ter que agüentar aquela festa num dia como aquele. Seria punida depois. Akito nunca gostara dela, de qualquer jeito. Com sorte, sequer notariam sua ausência, pensou virando a esquina.
Sempre andando, não importava para onde. Porque havia algo que a mantinha lutando. Algo que ela queria proteger.
xXxXx
N/A: Primeira saga de Furuba! Esse fic, na verdade, já está quase inteiro pronto e eu vou postar os capítulos aos poucos. A idéia é basicamente a seguinte: um capítulo por personagem ou casal, quase como se fossem one shots unidos por um ponto em comum. Todas as histórias giram em torno dessa festa que seria o aniversário de Akito e como cada um dos doze signos reage a esse evento. Não segue uma linha temporal muito certa na história, mas acho que seria um pouco depois dos mangás 12 e 13...
Ayumi e Lithos que foram minhas betas pra esse fic (e não só pra esse capítulo, pro fic todo!), valeu!
Quem leu, gostou e quiser dar uma incentivada o botão de review é ali embaixo!
Bjos
Lyra
