Notas iniciais : Saint Seiya pertence à Masami Kurumada. Não ganho um tostão furado com isso. (Droga!).

Dedico esse trabalho a minha irmã que me agüenta todos esses anos. (Ohhh).

Sobre a fic: Um pouco sobre como eu imagino a relação de Milo e Camus durante a infância e adolescência. Talvez eu tenha exagerado um pouco na questão fraternal, mas no final das contas eu gostei do resultado.

Boa leitura!

Amigos Irmãos

Era uma manhã de sábado quando Camus e seu pai iam de navio para a Grécia pela primeira vez. Na época ele tinha pouco mais de seis anos e já não sentia mais a falta da mãe que tinha abandonado o lar para se casar com outro homem e ter outros filhos.

A verdade seja dita: o relacionamento com o senhor Louis Lantier andava conturbado, cheio de brigas turbulentas, palavrões e coisas desse tipo. Na sua adolescência o marido queria ser cavaleiro de Athena, mas não atingiu os padrões necessários, pois tinha um problema na perna esquerda e andava com ajuda de uma bengala.

Enfim, virou um bom e renomado economista.

Não era essa frustração que queria ao filho e por isso, desde bem cedo, começou a contar – ainda quando ele estava na barriga de sua mãe – que se tornaria cavaleiro e realizaria o sonho do papai.

Um dos motivos para o fim do casamento.

Não vamos nos iludir, pois sua mulher Anne Marie Vasseaur também não era de temperamento fácil e tinha uma boa posição social, coisa que ela vivia jogando na cara de Louis. Apaixonou-se, coitada, por um homem dez anos mais velho que ela. Prometeu que um dia voltaria para buscar o filho.

Ela entrou com um processo há um ano, mas nenhum juiz nesse mundo daria a guarda para uma mulher que abandonou o lar. Portanto, o processo rola até hoje.

Sem empecilhos o jovem pai de pouco mais de 30 anos transfere seus negócios para a cidade de Atenas com o intuito de iniciar o filho no treinamento que ele sempre quis.

"Você vai ficar comigo, papai?". – perguntava no navio enquanto o pai abotoava os botões do pijama de listras azuis e de algodão. O pequenino Camus tinha cabelos ruivos claros como os da mãe e eram curtos, olhos de um castanho amendoado sereno, pele branquíssima (como a do pai) e algumas sardinhas na ponta do nariz.

"Sim, filho. Não sabemos aonde você vai treinar ainda".

"O navio ta balançando".

"O navio ESTÁ balançando, Camus".

"Sim. Esqueci" – pede desculpas já entrando embaixo do edredom – "Pai, to com enjôo".

"Eu falei para não comer demais no jantar. Vai ficar gordinho e não vai conseguir correr e Atena não vai te escolher" – retribuiu risonho o homem de cabelos negros e compridos, até a altura do ombro – meio arrepiado com uma franja – enquanto levava os óculos de armação preta até a ponta do nariz – "Vou pegar um remédio para você".

"Sim, senhor" – disse fechando os olhinhos e esperando.

Logo veio com um remédio em cápsula e um copo com água.

"Não consigo engolir".

"Tem que tomar. Senão vai continuar com dor".

"Mas, não passa na garganta, pai".

"Camus, não vai vomitar! Ande logo!".

"Não!".

"Camus Lantier, me obedeça! Agora" – retribuiu pegando o menino pelo braço – "Senão a mamãe não vai querer voltar para casa se você não se comportar e não me obedecer".

"Eu não ligo! Ela não veio no Natal, ela não volta nunca mais!".

"Claro que volta, se você se comportar ela volta...".

"Promete?".

"Prometo!".

"Com o mindinho?" – perguntou estendendo o pequeno dedinho.

"Com o mindinho!" – sorriu o homem dando o mindinho para selar o trato – "Agora tome o remédio".

"Tá!".

Com certa desconfiança o menino tentou engolir o remédio, mas acabou vomitando-o em cima das cobertas.

"CAMUS! E agora? A camareira só passa amanhã".

"Desculpa! Não grita!" – pediu quase chorando de vergonha e dor, cobrindo o rosto nas mãos – "Eu não consigo comer isso!".

"Ah! Levanta daí. Vai para a minha cama!".

O menino trocou de lugar enquanto o homem tirava os lençóis e colocava em um canto da cabine.

"Vou pegar outro remédio e vou amassar numa colher. O gosto vai ser amargo, mas vai ser melhor para você",

"NÃO!".

Muita insistência, gritos depois, Louis conseguiu que Camus bebesse o comprimido amassado, depois deu um caramelo para tirar o gosto ruim da boca e ele parou de reclamar.

"Conta uma história?".

"Filho, o papai não sabe mais nenhuma... acho que eu já contei todas que eu sabia".

"Por favor".

Inventou qualquer coisa e logo conseguiu que ele se cansasse.

"Essa noite vamos ter que dormir juntos na cama de casal, então nada de roubar todo o edredom ou jogar futebol dormindo" – respondeu fazendo cócegas em sua barriga enquanto o garotinho se retorcia – "Papai vai fumar um cigarro no convés e já vem".

"Tá. Não demora. Não quero ficar no escuro".

"Eu vou deixar a luz do banheiro acessa. Não demoro" – abaixa-se e sente o menino agarrá-lo pelo pescoço – "Meu beijo?".

O menino dá um beijinho no pai e o homem retribui.

"Durma bem, pai".

"Você também filho".

Ele sorriu enquanto deixava sua cabine e dirigia-se para o convés onde poderia tragar alguma coisa sem ser incomodado. Começou a pensar como o seu filho era maravilhoso e sentiu um aperto no coração com a mesma dúvida que já teve várias vezes: como iria sobreviver sem a companhia dele? Será que estaria fazendo a coisa certa? Esperar talvez fosse o mais adequado, aguardar sua vontade, mas talvez fosse tarde demais para iniciar um treinamento avançado com o cosmo.

Era difícil ser pai solteiro.

Parou a borda, vendo o escuro do mar Mediterrâneo abaixo, as ondas relutantes e seu isqueiro recusava-se a acender. Viu um pouco mais próximo dali uma mulher, vestindo um casaco de tricô rosa que fumava um cigarro.

"Olá. Desculpe, poderia me emprestar seu isqueiro?".

Ela deu uma tragada e estendeu o utensílio ao homem que não se demorou no ato.

"Obrigado".

"Não por isso".

"Estamos tanto tempo nesse navio, na próxima parada vou comprar um isqueiro com gás".

"Pode ficar esse se quiser, já está quase no fim e eu tenho outros na cabine".

"De modo algum, não posso aceitar, obrigado".

"Porque não? Vamos, pegue, é uma gentileza".

"Bom, já que insiste obrigado". – guardou o objeto no bolso da camisa – "Uma moça tão jovem, já fumando?".

"Haha. Não tão jovem assim! E sim, comecei mais cedo do que gostaria de admitir, coisas de jovens".

"Posso dizer o mesmo. Bem, me chamo Louis e você?".

"Agathé".

"Seu nome é diferente".

"É que sou grega. Significa: Bondosa. O seu também é estranho em meu país".

"Sou Francês".

"Percebi pelo sotaque". – retribuiu sorrindo – "Mas, fala bem meu idioma".

A jovem mulher de pouco mais de 25 anos sorriu e deixou a mostra seus dentes perolados. Os olhos azuis eram muito intensos como o céu da manhã e os cabelos loiros e longos. Seu rosto era levemente vermelho devido ao sol, mas era uma mulher contida e bonita.

"O que está fazendo indo para Atenas?".

"Ah, vou trabalhar lá! Você mora na capital?".

"Não. No momento eu não tenho um endereço fixo na Grécia".

"Hum... e o que está fazendo tão longe de casa?".

"Fui visitar uma irmã que se casou e pediu minha visita em Portugal, terra do marido dela".

"Diria que era uma estudante se não tivesse dito isso".

"De qualquer modo achei mais relaxante (e barato graças aos pacotes promocionais) vir de navio. De avião iria me cansar muito a ponte aérea e os trens estão pela hora da morte. Vim direto de Lisboa".

"Peguei o barco na Marselha. Moro lá".

"É um lugar muito bonito, já vi as fotos".

"Sim. É um bonito lugar e...".

"MÃE!".

O homem olhou para baixo e viu um menino pequeno, aproximadamente da mesma idade de Camus, com um nariz empinado e queixo forte. Tinha olhos de um azul mais profundo e bonito que o da sua mãe, lembrava não ao céu, mas o revolto do mar, sua pele era mais queimada de um dourado bonito que contrastava com o loiro de seus cabelos levemente cacheados e curtos que iam até os ombros, fazendo-o parecer, ate certo ponto, uma menina.

"Milo, mandei você não sair do quarto e me esperar lá!".

"Você tava demorando muito. Vamos dormir..." – aproximou-se da mãe e abraçou suas pernas.

"Primeiro, tenha modos, dê boa noite ao senhor".

"Oi" – ele sorriu peralta, olhando a bengala que o homem se apoiava – "Isso é um cajado de mágico?".

"Não. É só uma bengala" – retribuiu sorrindo.

"Ah. Iguais os dos velhos?".

"Mais ou menos isso".

"E porque você usa? Você é velho, mas nem tanto".

"Milo!" – sibilou a mãe – "Me desculpe, não sei mais o que faço com esse meu filho".

"Haha... tudo bem. Estou acostumado às perguntas do meu filho".

"Oh. Você tem um menino?".

"Sim. Chama-se Camus, tem 6 anos".

"Milo também tem 5 anos, mas fará 6 em Novembro".

"Você ainda não respondeu!".

"Ah sim, desculpe, eu tenho um problema na perna".

"Sério?".

"Sim! Eu fui cobaia de uma experiência mutante e agora guardo essa cicatriz da CIA".

"Mentiroso! Você não tem cara de agente secreto".

"Eu não sou. Eu já fui".

"Uau. Parece legal, menos pela parte da perneta, mas...".

"Milo, é melhor irmos dormir!".

"Foi o que eu disse uma hora atrás, mãe!".

"Certo, olha, foi um prazer" – disse sorrindo – "Ainda temos uns dias de viagem, quem sabe não nos encontraremos não é?".

"Sim. Existe essa chance!".

"Boa noite".

Ele acenou com a cabeça vendo o menino puxar a mãe pelo braço de volta a cabine.

"Tchau, Milo!".

"Tchau, seu Hulk".

Louis sorriu com a visão daquele menino sapeca, tão diferente de Camus que era bem mais tímido e dificilmente conseguia conversar normalmente com estranhos. Lembrando-se dele, apagou o cigarro no beiral do barco e procurou um lixo para se livrar da butuca enquanto voltava para a sua cabine.

Para seu alento Camus estava dormindo tranquilamente.

Devagar, tentando não fazer barulho, trocou de roupa a meia luz e empurrou delicadamente o filho pro lado tentando não acordá-lo.

"Pai...".

"Hum?".

"Você esqueceu-se de tirar os óculos de novo".

"Oh! Obrigado, filho". – o homem colocou a armação na mesinha de cabeceira ao lado – "Agora, vamos dormir. Até amanhã".

"Até, papai".

Continua.

N/A:

Sempre imaginei que na infância o meu amado Francês fosse doce e tímido, mas acabou mudando seu jeito de ser graças ao treinamento em um lugar frio e sem o apoio de nenhum familiar.

Milo, oposto disso, nunca teve problema para se relacionar, amante do sol e das pessoas, será para mim o eterno menino encrenqueiro que fala tudo o que pensa.

Espero que o desenrolar da história agrade mesmo os mais exigentes leitores de fics e fãs de Milo e Camus. Por favor, deixe sua opinião.

Luna.