Sem Sentido

Primeiro Capítulo.


"A primeira impressão é a chave para um bom e sólido relacionamente. Isso define se o casal será aquele que todos invejam ou aquele que briga cada vez que estão à 50 metros um do outro. E, cara, eu fudi tudo com ela as duas vezes que nos conhecemos e reencontramos." - Uchiha Sasuke.


Eu podia começar dizendo que acordei com o canto dos passarinhos, que saí saltitante do quarto dando bom-dia para todas as lindas empregadas da casa e que agora estava tomando um delicioso café-da-manhã com meus pais.

Mais é claro que eu não sou uma pessoa tão falsa assim.

Pelo menos é o que eu acho.

Acordei com às cinco da manhã com o Naruto - meu autoproclamado melhor amigo - me ligando pra perguntar onde estava o dever que a Anko passou semana passada. Agora eu me pergunto... Como eu diabos vou saber?

Depois de quinze minutos tentando convencer aquele dobe de que bolas de cristal ainda não vendem no Mercado Livre e que nem se vendesse eu teria uma, ele finalmente desligou.

Dormi mais trinta minutos quando fui acordado pelo meu irmão mais velho abrindo a porta com tudo e secando o cabelo no meu banheiro.

Com toda a calma do mundo fui perguntar pra ele o que estava fazendo ali, e com a maior cara de santo aquele filho-da-mãe se virou pra mim e disse: "Otouto, o espelho do meu banheiro me deixa gordo."

E pensar que anos atrás eu agradecia por não ter irmã.

Qual é a diferença de ter uma e ter o Itachi?

Bem, o meu irmão não chega da escola com amiguinhas gostosinhas.

1x0 pra irmã imaginária.

Levantei da cama - derrotado pelo espírito feminino do Itachi - e arrastei meu cobertor quente e macio pelo corredor, descendo as escadas como uma lesma.

Finalmente cheguei ao meu objeto de prazer: O enorme sofá recém-comprado pela minha mãe. Ela odiava que deitassem nele mas eu acordaria antes dela de qualquer jeito.

Dei de ombros me esparramando, naquele momento eu tinha certeza de que nada estragaria meu dia.

Senti uma lingua molhada e macia lamber minha bochecha, me fazendo cosquinha. Que coisa, eu não me lembrava de ter levado nenhuma garota pra casa.

Estiquei o braço pra fazer, quem quer que seja a sortuda, parar mas no lugar em que devia estar um longo cabelo macio, só conseguia encontrar pêlo.

Mas que diabos...?

Abri os olhos dando de cara com os alegres olhos azuis da Annie, minha Rusky Siberiano. Ela estava abanando o rabo pra mim, encolhida ao meu lado debaixo do cobertor e parecia dizer: "Hey, chefe! Finalmente aceitou meu convite de dormir comigo?"

Dei um berro pulando do sofá, o que - graças à Lei da Gravidade - me fez cair de cara no tapete persa da minha mãe. Deus abençõe a compulsão dela por coisas macias.

Meu grito foi tão alto (ou quem sabe eu dei um baque tão grande no chão?) que meu irmão apareceu no alto da escada com os olhos arregalados e a Annie escondeu o focinho com as patas.

Levantei tocando meu nariz.

Ouch, tadinho... Levou todo o impacto.

- Sasuke-kun! - me virei pra minha mãe que me olhava aterrorizada e cobria a boca com as mãos ao lado do meu pai que parecia usar toda a força de vontade pra não rir.

É, se fosse ele eu queria ver.

Mas foi ai que a realidade caiu sobre mim. Itachi já estava vestido como se estivesse de saída, meu pai de terno e minha mãe acordada...

Virei para o enorme relógio no canto da sala.

Ah, são só 7h55.

Puta que pariu!

Levantei desesperado do chão arrancando a roupa pelo caminho, as empregadas da casa já estavam acordando e deram pequenos gritinhos corando enquanto eu passava.

Que coisa, parece até que nunca viram homem na vida.

Se bem que considerando a fuça dessa gente... Cristo, eu devia dar um prêmio pra que traçou essas mulheres.

Fiz uma mágica escovando os dentes, penteando o cabelo e abotoando minha camisa do uniforme ao mesmo tempo. Pelo espelho, pude ver o Itachi escorado no batente da porta rindo como um tarado assistindo True Blood - oh, bem... Vocês entenderam.

Cuspi o resto de pasta que não desceu pela minha goela e quase caí de susto quando meu irmão se aproximou arrumando meu cabelo.

Deus, ele foi abduzido por aliens?

- Sabe, Otouto... - começou distraídamente, arrepiando a parte de trás do meu cabelo com gel. - Algum dia eu vou me arrepender por não ter me aproveitado de você nesse momento, mas eu realmente fiquei com peninha agora.

- Hã? - acho que o secador dele tava tão quente que fritou os poucos neurônios sobreviventes.

- Você se esqueceu de que... - se curvou, um sorriso divertido enfeitando seus lábios enquanto sussurrava no meu ouvido. - Hoje nós só teremos aula às 10h00?

A escova de dentes caiu da minha mão.

Choque.

Eu sou um idiota.

Choque.

Não acredito que eu me esqueci.

Choque.

Eu tinha falado disso ontem com o Itachi!

...Descansar, soldado.

xXxXx

- Eu não acredito que você se esqueceu tão rápido! - franzi o cenho olhando pro borrão que passava pelo vidro escuro do carro do Itachi. Desde às 8h00 ele continua rindo disso.

- Sério, as vezes eu me pergunto quem é o irmão mais novo. - resmunguei virando pra ele. - E porquê diabos você começou a se arrumar às cinco da manhã? - sim, eu to revoltado. Por culpa dele eu caí de cara no chão e to cheio de olheiras.

- Oh, Otouto. - eu sinceramente odiava aquele sorriso que dizia que a resposta era muito óbvia. - Você se esqueceu disso também? Na sexta a mamãe pediu pra gente acompanhar nossa prima, ela e a tia Hikari estão vindo pra cá.

- Mesmo? - perguntei surpreso tentando lembrar o que eu estava fazendo quando minha mãe falou isso.

A gente estava em casa, jogando Guitar Hero (bem, eu jogando e o Naruto berrando à cada nota perdida). Lembro dela falar "Crianças!", "Prima", "Mudando" e "Escola".

Eu achei que as criaças da prima dela estavam mudando de escola e não que as 'crianças' éramos nós e que a 'prima', 'mudando' e 'escola' queriam dizer: "Sua prima está se mudando para a escola de vocês".

- Só por isso? - balancei a cabeça saindo dos meus devaneios. - Você está se arrumando pra aquela pirralha meio gótica que vivia chorando por qualquer merda? Quero só ver sua cara se ela continuar estranha como era da última vez que a gente se viu. - não evitei a risada.

- Uchiha Itachi nunca faz nada pela metade, okay? - rolei os olhos. Só o dever de casa, a lavagem do carro, o hamburguer do Mc Donald's, aqueles quebra-cabeças de 500 peças...

- Então, sabichão. Ilumine minha mente pouco desenvolvida.

Reparei vagamente que tinhamos estacionado quando ele tirou o telefone do porta-luvas e quase o esfregou na minha cara.

Antes que eu pudesse reclamar com ele sobre como meu nariz ainda estava dolorido e sensível, meus olhos se focaram na tela do telefone.

A garota na foto era gata, muito gata.

Estava vestindo uma mini-saia e uma blusa social branca transparente o suficiente pra eu conseguir ver a sombra do sutiã preto. Seu cabelo era o mesmo rosa que eu me lembrava, mas muito mais brilhante e bem cortado (antigamente ela parecia aquelas índias com o corte reto. Dizia que era pra esconder a testa). Um maxi-óculos escondia as esmeraldas verdes chorosas que eu cansei de caçoar e um sorriso, parecido com o do Itachi quando ia fazer merda, enfeitava sua face.

- Itachi... - engoli seco, arregalando os olhos quase infantilmente pra ele. - Sério, desgraçado. Que porra fizeram com a nossa prima? Quer dizer, não tinha como ela ficar assim!

Ele riu tirando o telefone da minha frente devagar, quase como se fosse um adulto convencendo um bebê a largar um doce.

Foi ai que eu reparei que estava agarrando o celular com ambas as mãos.

- Vamos entrar, Otouto. Ainda faltam quinze minutos pra bater o sinal e a mãe dela disse que só iam chegar quase em cima da hora. - balancei a cabeça resmungando algo que nem eu entendi.

Continuei andando emburrado, ignorando o pessoal que passava e tentava me comprimentar. Eu tinha uma prima gostosa que simplesmente me odiava mais do que tudo na vida.

A vida não é justa, né?

- Não faz essa cara! - ouch, não acredito que ele jogou o braço em cima de mim colando nossas bochechas enquanto ria igual uma hiena. - Você é meu irmão, Uchiha-baby! Ela não pode te achar nada menos do que uma belezura. - piscou.

- Você fala isso porque não foi você que ela amaldiçoou até a quinta geração antes de ir embora. - gruni.

Olhei em volta, as garotas pareciam quase desmaiar de emoção ao nos ver abraçados.

Por acaso elas acham que a gente vai fazer uma cena yaoi?

Hn, depois eu sou o maluco.

Respirei fundo agarrando o braço do Itachi e tirando-o de cima do meu ombro. Deus, a criatura é pesada!

Pensei que ele ia começar a reclamar sobre como na 'época dele' os irmãos mais novos eram bem mais úteis pro irmão mais velho mas ao invés disso ele riu jogando o cabelo para trás.

Estanquei no lugar olhando pra ele com a sobrancelha arqueada. Saiu do armário, hn?

- Se tem uma coisa que eu aprendi sobre garotas, - quem vê falando assim até acredita, ele só sabe arrancar o sutiã e tirar a calcinha delas. Falo mesmo. - é que elas dão muita idéia pros comentários no banheiro.

- Então... - pausei um instante, batendo o dedo na ponta do nariz. - você espera que a nossa prima vá com elas pro banheiro e pergunte o que acham de você?

Posso não ser um expert em mente feminina, mas isso é o cúmulo do absurdo.

Ir no banheiro com garotas desconhecidas pra fofocar sobre o próprio primo e pedir a opinião delas?

Tá parecendo até aqueles filmes idiotas que quase me fizeram acreditar que a escola era maneira. Cadê as professoras sexys? E as líderes de torcida peitudas? As daqui parecem o puro-osso das 'Terríveis Aventuras de Billy e Mandy'.

- Teme! - franzi o cenho ao escutar o grito agudo do ser humano mais sem noção do mundo. Uzumaki Naruto correndo na minha direção como um São Bernardo. Só faltou a língua pro lado de fora.

- Dobe. - resmungue chegando um pouco pro lado, vai que a criatura não tem freio. - O que foi agora? - perguntei curioso, vendo-o praticamente me arrancar do lugar como se estivesse procurando algo.

- Cadê ela? - não consegui evitar a risada, vou mandar o Naruto e o Itachi pro Dr. House porque não é possível. Seres humanos podem ser burros assim?

- Bom, se você está falando da sua amiguinha imaginária... - fiz minha melhor cara séria, mordendo minha língua pra não rir. - é melhor começar a procurar debaixo da sua cama e não debaixo de mim. Eu gosto de um pouco de carne. - pisquei.

A cada vermelha do Naruto foi o ponto alto do meu dia cheio de pequenos probleminhas.

Quem eu estou querendo enganar? Daqui a pouco o Orochigay aparece sorrindo pra mim e me chamando de 'Sasuke-kun'.

- Teme, cadê a sua prima? Tia Mikoto disse que vocês vinham com ela hoje! - tudo bem, congelei no lugar. Todos meus lindos neurônios morrendo de inanição.

O Naruto, esse dobe com 'D' maiúsculo, escutou o que minha mãe estava dizendo?

Céus, eu vou voltar pra minha cama e esperar a morte chegar.

Hn... Isso foi emo demais.

- Segundo o Itachi, ela vai chegar na hora do sinal bater então não deve demorar muito. Não é, Itachi? Hey, Itachi! - sim, o ser humano teve a capacidade de me deixar falando sozinho enquanto sussurrava no telefone.

- Espera Otouto. - resmungou desligando o celular. - O sinal já vai bater, fiquem me esperando na porta da sala que eu vou ter que buscar a Sakura. - encarei-o como um demente. Talvez uma pequena parte de mim esperasse que a 'prima', da qual todos se referiam e se lembravam, fosse uma gêmea da que eu zuava aos 11 anos.

Eu só podia rezar pra que ela não guardasse mágoa no coração. Dá câncer, sabiam?

Antes que eu pudesse fazer algum comentário engraçadinho pra quebrar o clima tenso em que eu me meti, ele já tinha disparado até a nossa vaga cantando pneu pra fora da escola.

De duas coisas eu estava certo: 1º → Deus é pai e aquele carro não é o meu e 2º → Ele realmente se esforça quando quer impressionar alguém.

Ri comigo mesmo colocando as mãos dentro do bolso e caminhando ao lado do Naruto para dentro da escola.

Ênfase para o resto da gangue que foi atrás da gente perguntando coisas sobre a prima que eu nem sabia lembrava até poucas horas atrás e só tinha visto (atualmente) por uma foto colada no meu nariz deficiente.

Assim que chegamos à porta da sala, Anko cruzou os braços dando um olhar que faria Chuck Norris se borrar nas calças.

Dez minutos de explicações intermináveis sobre como eu estava tentando ser gentil e responsável, esperando minha prima para que ela não tivesse que entrar sozinha na sala, Anko finalmente me deixou ficar do lado de fora.

Aha! Só eu. Arrumem uma prima como desculpa pra vocês idiotas.

Cruzei os braços e fiquei olhando enquanto a tiazinha da limpeza passava pano no corredor. Arqueei a sobrancelha quando ela fez um círculo perfeito à minha volta.

Será que ela é muda ou tímida o bastante pra não chegar e dizer: "Queridinho, pode chegar para o lado? Eu preciso passar pano ai." ou até mesmo um: "Capeta! Sai da frente, moleque! Eu querendo trabalhar e fazendo nada escorado na parede!"

Não, ela tinha que deixar um círculo bem visível à minha volta e ainda sorriu pra mim dizendo: "Fique ai paradinho até secar."

Bom, não era como se eu quisesse sair correndo pra escorregar no piso molhado. Eu tive infância, tá?

Tudo bem, só deu um pouquinho de vontade. Aquela que vem lá da parte mais sombria e cheia de poeira do nosso inconsciente.

Profundo.

E então aconteceu, uma idiota veio correndo na minha direção carregando três livros monstros nos braços e não parecia estar enchergando um palmo na frente da cara.

Quando ela ia passar na minha frente, acabou escorregando e - maldito reflexo - eu me estiquei pra segurá-la. Seria heróico se tivesse dado certo.

Aquelas merdas de livros eram tão pesados que eu acabei caindo com ela em cima de mim.

Graças à Deus todos estavam na aula e não viram a posição estranha em que estavamos. Eu estava com uma mão no peito dela - não que fosse grande coisa - e outra dentro da saia dela.

Pra completar ela segurou a minha camisa tão forte que arrebentou a maioria dos botões, então a cara dela estava bem em cima do meu peito.

Completando, ela estava tão corada que eu achei que o rosto dela fosse explodir.

Pareceu uma cena clichê de anime quando todo mundo aparece colocando a cabeça pra fora da sala com os olhos arregalados assistindo o tipo de situação que faz você querer desesperadamente dizer: "Não é isso o que vocês estão pensando!"

Nunca mais vou rir daqueles maridos safados que usam essa desculpa. Pode muito bem ser verdade e ninguém acredita.

- Sr. Uchiha! - virei minha cabeça para Anko, que me olhava de um jeito um tanto... Intimidador. - Pensei que fosse esperar sua prima e não ficar fazendo coisas indecentes com meninas mais novas!

Oh, então é por isso que o peito dela era tão pequeno.

- Nossa, Otouto. Se eu soubesse que você estava tão ansioso, eu tinha te levado comigo. - céus, comecei a hiper-ventilar virando a cabeça com medo para frente.

Itachi estava sorrindo divertido pra mim de mãos dadas com 'A' garota, que mordia o lábio inferior tentando rir.

Ah, capeta!

- Bom saber que certas coisas não mudam, não é? - ela sorriu maliciosa prendendo o óculos de sol no alto da cabeça. Com certeza ela não parecia a prima tímida que eu tinha à alguns anos atrás. - Não vai comprimentar sua priminha, Sasuke-kun?

Oh, bom Deus... Porque você me odeia tanto?