Prólogo
Eu estava correndo por um beco escuro, não sabia o motivo de fazer aquilo, só sabia que se o fizesse talvez me pouparia do pior, apesar de não saber o que me esperava do outro lado. Minhas pernas já doíam devido ao vento gelado que batia em minha face enquanto eu corria, não estava devidamente vestida para uma noite fria como essa, apenas um vestido leve e um bolero para esquentar meus braços, em vão, por isso joguei o bolero longe, aquilo só atrapalhava a minha corrida. O ser de quem eu estava correndo logo alcançou o lugar em que meu bolero estirava-se no chão, pegou-o e inalou profundamente meu cheiro, e num piscar de olhos, voltou a me seguir. Ele não estava ao menos correndo, andava depressa apenas, silenciosamente, o que terrivelmente me deixava mais apavorada. Ele não parecia se preocupar com meu medo, pelo contrário, parecia deliciar-se com meu desespero de ser assombrosamente seguida por um ser que não era humano, tinha a forma humana, mas seus traços eram *inumanos, quase demoníacos.
Continuei a correr, como se isso fosse garantir a minha sobrevivência, o que vi naqueles grandes olhos vermelhos que me fez fugir do meu predador, era certamente um sinal, um aviso de perigo mortal. Ia finalmente me aproximando da saída do beco, onde desejava intensamente que houvesse uma rua lotada de pessoas. Mas para a minha infeliz surpresa, o beco acabava em uma rua deserta onde havia um grupo de cinco pessoas que vestiam longos mantos e cobriam suas cabeças com um capuz, os cinco puxaram os capuzes para trás em perfeita sincronia, e logo percebi que, igualmente ao meu caçador, todos no grupo tinham olhos vermelhos demoníacos. Eram eles que me esperavam.
Obriguei-me a parar, chocada com o que estava prestes a acontecer, comigo. Não foi preciso nem um segundo para que meu caçador chegasse. E então senti uma dor terrível de pontas afiadas atravessando a minha pele e sangue escorrendo de minha jugular. Mas no mesmo momento em que a dor começou, ela cessou e deu lugar a uma sensação de frio, mas não um frio ambiente, um frio vindo de mim, do meu interior. Meu caçador juntou-se ao grupo que me observava atentamente, e eu percebi que vestia um manto longo e escuro, olhei para a minha pele, era tão clara como a deles, então, como um espelho, vi meu reflexo e agora carregava aqueles temidos olhos vermelhos, uma borda de espelho foi se formando na situação como um quadro, ali estava eu, com o grupo que eu tanto temia e eu era igual à eles.
