Ele suspirou, enfim. Tentando concentrar-se em definitivo, esperou o sinal que viria do apito do árbitro. Podia sentir cada rosto em todas as arquibancadas lotadas do ginásio virados em sua direção. Até mesmo o silêncio parecia entender e cumprir o seu grande papel no momento, enquanto Troy Bolton, capitão estrela do Wildcats e um dos protagonistas do mais recente musical de inverno, dirigido pela Senhora Darbus, mais uma vez preparava-se para um lance livre. A coisa toda não era novidade, afinal, Troy sempre fora, desde o seu primeiro ano em East High School, o garoto mais popular da escola.

Parecia que nada em absoluto seria, em qualquer dia, bom o suficiente para tirá-lo de tal situação. Havia seus companheiros de time, sempre o pondo nas alturas, narrando suas incríveis jogadas e táticas; havia seu pai, técnico e professor, gabando-se do filho, do atleta e aluno perfeito por todos os cantos; havia as cheerleaders, cuja mera troque de olhares com o garoto era o bastante para iniciarem um romance platônico em suas miúdas mentes dissimuladas. Agora, havia também Gabriella.

Fazia quatro meses desde o início do ano letivo, um ano desde o momento quando a vira pela primeira vez, na virada do ano anterior. A garota era realmente encantadora. Inteligente, carinhosa e extremamente meiga, fora por causa dela e de sua voz que Troy decidira por tentar a vaga do papel de um dos protagonistas no musical de inverno. Cantar com Gabriella seria sempre algo inexplicável e ele era grato pela oportunidade. Havia três meses agora que eram namorados. Eram o casal mais popular e reservado de toda a East High, motivos da metade das brigas, apostas, intrigas e total inspiração ou assunto de todo o resto da maioria dos acontecimentos por ali.

O apito soou estridente, despertando-o. Quicou a bola duas vezes, sem tirar os olhos do ponto fixo na cesta. Preparou-se: em poucos segundos os uivos e gritos ecoaram por todo o ginásio, acompanhando os abraços e manifestações de euforia que tomavam conta das arquibancadas. Ele convertera a primeira cesta. Tentou não olhar para os lados, mantendo os olhos ainda fixos à frente. Mais dois quiques e suspendeu os braços, a bola firme sobre as duas mãos posicionadas. Mais gritos e uivos tomaram as arquibancadas ensandecidas.

- Agora que desculpa esfarrapada resta para você dar a si mesmo, Troy Bolton? – Troy perguntou suspirando, um pouco antes mesmo de a bola atingir o chão, quando finalmente fora abraçado e erguido no ar pelos eufóricos parceiros Wildcats, mais uma vez vencedores.

A vida seguia praticamente a mesma e isso o afetava. Toda aquela badalação e atenção desnecessária ainda continuavam a incomodá-lo intimamente. Mesmo com todas as mudanças recentes, ele sentia-se deslocado e inseguro, como um peixe magro e azulado que segue um cardume de peixes gordos e dourados.

Certas coisas haviam mudado em East High School desde o inicio do ano. Troy não sabia dizer o quanto ou o porquê exato, sabia simplesmente que a estúpida burocracia do East High, tão prezada pela elite local, havia sido derrubada, exatamente como um muro é derrubado a marretadas.

Skatistas, nerds, atores, cheerleaders, esquisitões e o que quer que fossem comungavam de um mesmo sentimento. Eram obviamente diferentes em suas particularidades, mas agora estavam definitivamente juntos em todos os cantos. Almoçavam, estudavam, faziam intrigas ou simplesmente vegetavam em companhias variadas, estendendo seus laços de amizade, estilos e afeição. Era como se o fato de Troy Bolton, o garoto de ouro, ter se interessado por Gabriella Montez, uma novata sem história alguma a não ser uma brilhante participação no Decato Acadêmico, encorajasse o resto da humanidade a interagir uns com ou outros, deixando de lado suas diferenças e crenças.

Chad e Taylor saiam juntos há mais de dois meses. Troy nunca vira uma coisa tão forte, quanto mais uma pessoa, ao ponto de equilibrar-se tanto com o basquete em níveis de importância ou interesse para Chad. Até mesmo Sharpay e Ryan pareciam, no momento, menos arrogantes e mais sociáveis com a (como a própria Sharpay nomeara) desestruturação da divisão natural elitista que tomara a escola. A popularidade tornara-se algo mais acessível para o resto mortal de East High, agora que todos pareciam estar juntos em algum um só propósito inexistente.

A vida de todos parecia enfim caminhar, exceto uma. Havia uma coisa ainda inabalada pela grande e surpreendente transformação em East High. Troy Bolton parecia continuar o mesmo garoto estrela de sempre. Notas perfeitas, um rosto perfeito, jogos perfeitos e agora, para satisfação de uns e delírio de outros, uma namorada perfeita.


"As coisas realmente aconteceram como o esperado" ele se pegou refletindo em uma aula monótona de biologia. Alcançou o lápis na mesa e rodopiou-o discretamente entre os dedos, os olhos fixos inconscientemente no relógio. "E por que então o esperado ainda não aconteceu?"

- Troy? – perguntou Chad ansioso.

- Uh? Chad! O que foi?

- Sabe – o garoto começou, aproximando sua carteira da de Troy, silenciosamente – somos amigos, não é? Por qualquer motivo do mundo você não caçoaria de mim por um assunto que considero – ele engoliu em seco – um tanto sério?

Troy sorriu parecendo intrigado. Levantou as sobrancelhas como se considerasse a pergunta do amigo e levou a mão ao queixo, uma falsa expressão de dúvida no rosto.

- Claro que não, cara! – disse por fim.

- Bem, é a Taylor. Você sabe como ela me deixa louco e tudo simplesmente...

- Uhum. Apaixonado! Eu sei... Relaxa!

- Mas... – Chad começou. Arregalou os olhos para o sorriso que se espalhava no rosto de Troy e também sorriu – Esta tão na cara assim?

- Digamos que... Sim! Você não fala de outra coisa a não ser Taylor ou basquete e você concorda que é apaixonado por basquete, certo? Tudo se encaixa, companheiro!

Chad olhou, sorrindo, do fundo da turma para o inicio das fileiras, exatamente para as primeiras carteiras. Taylor e Gabriella sentavam juntas, próximas à janela. Sorriam serenamente e gesticulavam enquanto copiavam os textos sobre a estruturação do aparelho digestivo aviário da lousa.

- Somos caras de sorte, não é mesmo? – ele disse, dando uma cotovelada no braço esquerdo do amigo – temos as garotas mais sensacionais de toda a escola!

Troy sorriu, acompanhando o olhar de chad. Taylor e Gabriella eram definitivamente lindas e ele tinha que concordar com Chad quando afirmava que Gabriella era uma das garotas mais exorbitantes do colégio. Ela parecia ter sido moldada cuidadosamente, como se desafiasse a perfeição e seus valores. Seus cabelos eram tão macios e perfumados, sua pele tão macia, brilhante como envolta por qualquer tipo de luz natural. Seus olhos escuros capturavam qualquer coisa ou qualquer um de um modo tão simples.

- Somos – ele disse com mais um sorriso.

Fechou os cadernos e os livros e guardou as coisas quando o sinal disparava, finalizando o último tempo de aula da manhã e anunciando o almoço. Pôs a mochila nas costas e levantou do fundo da classe, Chad logo atrás.

- Não! Temos reunião do musical agora na hora do almoço – dizia Gabriella, os livros em pilha sob os braços.

Troy aproximou-se por trás. Deu-lhe um beijo na bochecha e uma piscadela para Taylor logo a sua frente.

- Troy! – ela disse em tom de reprovação e parecendo encabulada.

Taylor sorriu, acomodou-se nos braços de Chad e acenou quando Gabriella e Troy deixaram a sala, abraçados, em direção ao auditório.

Cruzaram os corredores cheios de alunos que se dirigiam ao refeitório e tomaram o caminho contrário. O auditório ficava no térreo, um grande galpão iluminado, com centenas de cadeiras de acolchoado vinho, um palco grande e imponente, completamente assustador na opinião de Troy.

O fluxo de alunos que se dirigiam ao refeitório, os comprimentos e olhares de todos os passantes pelo caminho, os impediam de chegar a tempo ao local marcado dos ensaios e reuniões do Clube de Teatro, o que aparentemente Darbus não passaria muito mais tempo levando em conta.

- É a terceira vez esta semana, senhores! – ela disse consertando os óculos no rosto – se não conseguem chegar na hora marcada para as reuniões...

- É a última vez Senhora Darbus, eu juro! – Gabriella a interrompeu, as mãos postas juntas como se a suplicar na altura dos lábios.

- Foi exatamente o que o Bolton me disse ontem, senhorita Montez! Mais um atraso e as conseqüências não serão muito agradáveis para os dois!

Ela parecia séria, mas alguma coisa em seus olhos fez Troy se perguntar-se se realmente seriam expulsos ou sofreriam qualquer que fosse o castigo que Darbus os implicaria se os dois realmente se atrasassem por mais uma vez.

Subiu a pequena escada lateral de carpete preto até o palco, Gabriella logo atrás, conseguindo um espaço entre duas meninas no círculo que fora formado ao centro do local. Darbus parecia estar discursando há uns dez breves minutos.

- Como ia dizendo, antes de sermos interrompidos mais uma vez pelo senhor Bolton e senhorita Montez – ela dizia do meio do círculo, encarando a todos enquanto rodava lentamente, gesticulando a mão livre, a outra segurando uma pequena prancheta de madeira - precisamos de entrosamento entre todas essas adoráveis mentes brilhantes! Nosso grupo cresceu consideravelmente, pessoas que antes pensei nunca serem capazes de assimilar a arte como esta deve ser devidamente assimilada – ela inclinou a cabeça de forma quase imperceptível na direção de Troy – conquistaram minha confiança e ganharam seus lugares nesse seleto santuário!

Alguns alunos deram risos abafados, disfarçando rapidamente quando Darbus pareceu enrubescer.

- Precisamos de algo que torne a união do grupo mais concreta! – ela continuou - Precisamos de algo fora do teatro que possa fazer com que vocês permitam a si mesmos estar em sintonia aqui dentro, que lhes permitam conhecer um ao outro fora de nosso mágico santuário!

- A senhora quer dizer que... quer que tenhamos mais contato uns com os outros fora das reuniões e ensaios? – perguntou Sharpay apreensiva, os olhos ligeiramente esbugalhados.

- Praticamente, minha querida! Uma festa!

- Uma... O que?

- Uma festa, senhorita Evans! – repetiu Darbus com um sorriso.

- Uma festa? – perguntou Ryan abobalhado.

- Uma festa, meninos! Só o clube de Teatro! O que acham? Precisamos é claro, decidir o local e a data juntamente com o horário!

- Minha casa! – adiantou-se Sharpay – esse final de semana!

Ela levantou-se em seu canto do circulo parecendo animada, os olhos já perdidos no horizonte enquanto uma mão era suspensa no ar, como se revelasse a imagem exata da festa em sua mente para os demais presentes.

- Está certa disso, senhorita Evans? – perguntou Darbus – nenhum problema com seus pais?

- Absolutamente certa, Senhora Darbus! Nossa casa está de portas abertas para o grupo! - ela apontou para baixo, para Ryan de joelhos ao seu lado.

- Então, está certo! O resto fica em cargo de todo o grupo! E não se preocupem comigo meninos, tenho coisas importantes para tratar esse final de semana! Divirtam-se e comportem-se na minha ausência! Dispensados!

Ela rabiscou uma folha na prancheta de madeira, um sorriso de satisfação cobrindo todo o rosto enrugado.