Nota: Infelizmente, nada disto me pertence. Harry Potter ™ e todas as personagens e locais fictícios relacionados com a sua história são propriedade de J.K. Rowling, pelo que nenhum proveito monetário está a ser tirado desta história e qualquer infracção aos direitos de autor é completamente acidental.
PRÓLOGO
Reino Unido, 1997
"Mãe! Pai! Cheguei!"
Charles Morrissey chegou a casa com um sorriso estampado nos lábios. Mal podia esperar para dar a notícia aos pais – o seu grande sonho – e o deles – poderia agora ser concretizado. Estava tudo ali, naquela abençoada carta.
Secretamente, Charles estava grato por ir deixar o país. Aquela bolsa de estudo caíra do céu – e agora podia finalmente visitar um outro país enquanto fazia algo de que gostava. Claro que iria sentir saudades dos pais e do irmão, ainda tão pequeno, mas nunca iria chegar a lado algum sem qualquer tipo de sacrifício. Andrew Morrissey era a luz dos olhos de Charles. Com um ano de idade, podia facilmente ser tomado por seu filho, se bem que Charles cumprisse apenas dezassete anos. Enquanto os pais trabalhavam na loja de mobiliário que tanto se esforçavam por manter, Charles brincava com o irmão mais novo, vigiava o seu sono enquanto revia apontamentos, e esforçava-se ao máximo por desempenhar o papel de irmão babado – o que, claro, conseguia na perfeição.
Não, não era certamente por deixar a família que tanto adorava que o jovem queria deixar o Reino Unido. De facto, ele tentara arranjar maneira de os levar consigo, face à sucessão de coisas estranhas que ali se passavam, mas os pais haviam recusado, apegados como eram à terra natal.
Carlotta Morrissey saía agora da cozinha. Baixa e magra, pareceria ter retornado à infância, não fossem as rugas prematuras que lhe sulcavam o rosto e o modo com que andava ligeiramente curvada, numa pose que em tudo denotava cansaço. O seu rosto abriu-se num sorriso ao ver o filho mais velho.
"Charlie, até que enfim! Estava a ver que nunca mais chegavas! Anda sentar-te à mesa, filho, ainda estamos a almoçar..."
Charles seguiu a mãe até à cozinha, um dos seus pontos preferidos da casa. Pequenina e acolhedora, era constituída por um pequeno balcão de mármore ao longo da parede oposta à porta, um pequeno armário para guardar os utensílios, as indispensáveis máquinas de lavar e uma mesa velha, de madeira, com quatro cadeiras à volta. Numa delas, o seu pai refastelava-se com o manjar cozinhado pela mulher. Charles tomou uma das cadeiras vazias enquanto Carlotta se atarefava a pôr mais um lugar à mesa e a servir-lhe uma pratada descomunal de costeletas, assumindo depois o seu lugar à mesa e voltando ao seu prato. William dirigiu-se ao filho por entre duas garfadas:
"Que cara é essa, Charles? Da última vez que te vi assim tinhas começado o namoro com aquela rapariga, a Celia." Fez um ar desaprovador. "Que se passa agora?"
Charles sorriu ainda mais amplamente em resposta, o que fez o seu austero pai carregar o sobrolho em forma de desaprovação.
"Se tu, por algum acaso, não conseguires essa tua bolsa por causa desses teus namoricos, eu nem sei o que te..." William calou-se ao ver o filho levantar a mão como que pedindo-lhe para parar.
"O pai tocou no ponto-chave. A bolsa. Já recebi a resposta à candidatura."
O ambiente em torno da mesa mudou de um momento para o outro. De um ápice, William e Carlotta estavam debruçados sobre a mesa, expectantes, desejando ouvir as palavras da boca do filho.
"Consegui a bolsa."
Carlotta deu um grito e atirou-se para os braços do filho, lágrimas de alegria a escorrerem-lhe pela face. William sorria agora abertamente, em sinal de aprovação. Até Andrew, sentado na sua cadeirinha, parecia adivinhar o contentamento da família com aquela notícia, esboçando um sorriso de orelha a orelha daqueles que só os bebés conseguem esboçar. Charles, rindo, pegou no irmãozinho ao colo, o que despoletou uma série de gargalhadinhas pela parte do pequeno. Entretanto, Carlotta, excitada, já se encontrava dependurada no telefone a contar a novidade a uma das suas amigas. O jovem voltou-se ao sentir alguém a tocar-lhe no ombro, deparando-se com o pai.
" Olha lá filho, diz-me uma coisa... tu e essa Celia, vocês ainda namoram?"
Charles riu-se. "Já não, pai. Chegámos à conclusão que somos muito melhores amigos que namorados" fez um sorriso embaraçado. "Mas porque pergunta?"
William fez uma cara desanimada. "É pena. Tinha ar de ser muito boa mocinha..." e, ignorando o ar de incredulidade do filho, deu-lhe uma palmada nas costas e saiu para ir ao café contar a nova a quem o quisesse ouvir.
XoX
O céu estrelado em que resplandecia a Lua em quarto crescente, aliado à temperatura amena de Verão, fazia daquela noite uma noite de sonho. Ou faria, se não fossem as circunstâncias.
Em vez de servir de cenário a uma qualquer cena de amor entre um casal apaixonado, o luar banhava os corpos espalhados pelo jardim, maioritariamente crianças e idosos, embora se pudesse avistar aqui e ali um homem de meia-idade e até alguns homens e mulheres jovens. Mesmo assim, um grande grupo de pessoas ainda se atarefava a identificar os mortos e incapacitados e a ajudar os poucos que, por milagre, tinham escapado à fúria dos homens e criaturas causadoras da devastação. Do outro lado do jardim, uma grande tenda fumegava ainda.
A poucos metros, uma jovem e bela mulher vestida de branco puro soluçava no chão, agarrando o corpo frágil de uma menina que, embora estivesse ainda viva, já não a podia ouvir. Junto a ela, e com um ar de dor estampado no rosto, ajoelhava-se um homem, também ele ainda jovem, de cabelos cor de fogo e com cicatrizes que lhe sulcavam a face de outro modo perfeita. Harry desviou deles o olhar; nem Bill nem Fleur mereciam tamanha desgraça, principalmente naquele que devia ser o dia mais feliz das suas vidas. A raiva escaldou-lhe no peito de tal forma que lhe vieram lágrimas aos olhos – estava na altura de fazer alguma coisa.
Voltou-se, sentindo uma presença atrás de si e, empunhando a varinha à altura dos olhos do possível agressor, lançou um poderoso feitiço de atordoar na sua direcção. O desejo de fazer aquela pessoa em farrapos evaporou-se assim que deu por si a olhar para a cara da mais nova dos Weasley, que caíra inanimada no chão. Com uma expressão culpada no rosto, Harry baixou-se e reanimou-a de imediato. Ginny gemeu baixinho e sentou-se, esfregando a parte de trás da cabeça.
"Se eu não soubesse da tua vida, pensaria que estás a ficar paranóico", resmungou, mas faltava-lhe a habitual graça por detrás das palavras, aquela ironia que ele tanto apreciava nela e que, ao mesmo tempo, era capaz de o exasperar profundamente. Harry sentiu um aperto no coração por a ver assim. Sim, já era altura de meter mãos ao trabalho. Os dois jovens começaram a caminhar, afastando-se da destruição e morte que os angustiava a ambos. Harry olhou aquela que considerava ainda sua namorada nos olhos. Havia ali qualquer coisa de feroz, completamente animalesco, algo que tanto o entristeceu como lhe deu forças.
"Algum de vocês...?"
"Não, só a Gabrielle. A avó do Neville também, acho eu, e, de resto, parece-me que não conheço ninguém..." a expressão de infelicidade e ódio estampada na cara de Ginny deixava bem claro que pouco lhe importava, naquele momento, a identidade das vítimas. Harry reconheceu a mesma raiva cega que ele próprio sentia, um desejo quase incontrolável de vingar cada uma daquelas pessoas independentemente da sua identidade. Pegou-lhe na mão.
"Os feridos já foram todos transportados para S. Mungo?" perguntou.
Ginny assentiu com a cabeça. "Os... Os mortos estão a ser levados para o Ministério, para serem identificados..." disse numa voz mortificada, esboçando um gesto vago na direcção dos oficiais do Ministério da Magia presentes no local. E depois, parecendo recordar-se, "Os meus pais pedem-te autorização para utilizarmos Grimmauld Place como refúgio provisório, pelo menos até repararmos a Toca...".
Harry silenciou-a com um gesto. "É claro que podem, nem precisavam de perguntar. Continua a ser o Quartel-General, de qualquer modo, por isso mais vale que estejam bem no seio da Ordem..." interrompeu-se quando Ginny estacou, uma expressão de tristeza ainda maior a ensombrar-lhe o rosto.
"Vocês vão partir, não vão? Tu, a Hermione e o meu irmão... Vão partir hoje..."
Harry olhou-a, desamparado. "Era o que estava nos nossos planos, sim, mas agora..." calou-se, revivendo novamente o ataque que, apesar de não ser inesperado, ainda assim os apanhara a todos desprevenidos. Ginny, porém, parecia não querer que ele acabasse a frase.
"Por favor, Harry... só mais um dia..." pediu. "Desculpa, sou uma fraca... sou uma fraca..." e, agarrando-se a ele, deixou por fim cair as lágrimas que a tanto custo tentara manter. O rapaz envolveu-a nos braços e apertou-a contra si.
E ali ficaram os dois, abraçados, possivelmente imaginando, mas sem poderem saber que o seu tormento ainda mal começara.
XoX
Leyla ajeitou por uma última vez o cabelo castanho em frente ao espelho, sentindo-se mais nervosa do que alguma vez se havia sentido. Não era todos os dias que se conhecia a nossa mãe biológica, afinal de contas.
Não que os seus pais adoptivos não a tivessem criado com todo o carinho que possuíam, claro. Desde pequenina, Leyla sempre soubera que era adoptada e, desde que os pais lhe haviam confiado essa informação, sempre tivera um desejo insaciável de conhecer a mãe biológica, de falar com ela. Nunca imaginara, porém, que isso fosse possível, razão pela qual se encontrava ainda algo incrédula por lhe ser fornecida esta oportunidade aos dezoito anos de idade e quase após outros tantos de espera.
Ao som do toque da campainha, a jovem sentou-se direita como um fuso, olhando a sua face espantada no espelho. Após o choque inicial, contudo, levantou-se de um salto e correu pelo corredor na direcção das escadas. No piso térreo já se ouviam as vozes dos seus pais a cumprimentar a recém-chegada.
Leyla acorreu à sala de estar, onde as visitas eram normalmente recebidas, e estacou na ombreira da porta. Acabara de receber a primeira surpresa da tarde.
Sentada num dos modestos sofás da salinha encontrava-se uma mulher de meia-idade. No entanto, qualquer semelhança ao que Leyla imaginara que seria a aparência da sua mãe ficava-se por aí. A senhora em questão era baixa, roliça e possuía, na sua generalidade, a aparência de um sapo. O seu gosto no que tocava ao vestuário era, no mínimo, duvidoso, escolhendo modelos e cores que em nada a favoreciam, e usava uma fitinha no topo do cabelo de rato da cor do casaco de malha que trazia vestido. A mulher voltou-se ao ouvir o som dos passos da jovem.
"Tú debes ser Leyla. Mi nombre es Dolores Umbridge. Placer en conocerte." Disse na língua materna, estendendo uma das suas mãozinhas sapudas que a filha apertou, sem fôlego, murmurando um fraco "Lo placer es todo mío, señora".
"Toma alguma coisa, Ms Umbridge?" ofereceu Mrs Rojas, a mãe adoptiva de Leyla.
"Apreciaria um chá, se não for muito incómodo..." foi a resposta de Umbridge. Mrs Rojas retirou-se discretamente para a cozinha, deixando mãe e filha reunidas com o marido.
"Vamos, querida, conta-me coisas sobre ti" pediu Umbridge em Inglês. Leyla notou o sorriso estranho que lhe brincava na boca de sapo, mas depressa esse facto caiu no esquecimento na pressa de lhe contar a sua vida, de partilhar com ela os momentos de felicidade e de tristeza que ela havia perdido. As horas passaram e a tarde dava lugar à noite quando finalmente Leyla fez uma pausa na sua narrativa. "Peço desculpa, preciso de utilizar os lavabos. Não me demoro nada..." e, com isto, saiu da sala, decidida a voltar o mais depressa possível.
Ao descer as escadas para o piso térreo, porém, ouviu algo que lhe chamou a atenção. O pai adoptivo conversava com Ms Umbridge num tom de voz baixo e grave, como se receasse ser ouvido. Curiosa, Leyla aproximou-se para ouvir melhor.
"... Não lhe posso dar o cheque agora, já lhe disse..." murmurava ele.
"Esqueceu-se foi de me dizer que a rapariga falava pelos cotovelos, não foi, señor Rojas? Sabe o que isso significa, não sabe?"
"Ms Umbridge..."
"Quero um acréscimo no pagamento. Não estava previsto ter de perder aqui uma tarde inteira nesta fantochada..."
"Perdão!" insurgiu-se Mr Rojas. "A Leyla, quer queira quer não, é sua filha, madame. Não tem o direito de falar assim dela..."
Umbridge fungou com desprezo. "Ora, podia ser o próprio Merlin reencarnado que a minha opinião não mudaria! Aliás, para quem quer que eu trate a sua filha tão bem, o senhor não dá um exemplo adequado, pois não?"
"Eu só quero que ela esteja feliz..."
"E afinal trata-a como uma bonequinha de trapos, fomenta-lhe ilusões absurdas! Com a idade dela, já devia ter percebido há muito tempo que eu nunca quis ter nada a ver com ela... Muggle nojenta" acrescentou a mulher com asco na voz.
Foi a gota de água final. Chorando silenciosamente, Leyla afastou-se da porta da sala de estar, confusa e enojada pelo que acabara de ouvir. Num repente, a raiva que sentia veio ao de cima, aliada ao ódio que agora sentia pelas três outras pessoas presentes na casa. A jovem abriu a porta da rua e saiu, atirando com ela com quantas forças tinha e jurando nunca mais tornar a por lá os pés.
N/A: Um pequeno "cheirinho" do passado. O resto da história passa-se 6 anos depois destas cenas. Por favor, COMENTEM! É mesmo muito importante para mim. Por favor? Aviso desde já que trato toda a gente por tu, por isso espero que não se importem. E não fiquem na sombra! BOTÃOZINHO ROXO! IMEDIATAMENTE:) Nem que seja para dizer que a história não vale nada! Okay:D
- CM
