Disclaimer: Personagens, situações e lugares podem não me pertencer. Não os uso com fins lucrativos.

Observação: a fic muda de POV nessa ordem: ginny/tom/ginny XD


-O que é que você está fazendo aqui, meu bem? Você não tem sequer idade para saber como a vida fica ruim depois.

E foi então que, oralmente, Cecília deu aquela que haveria de ser sua única explicação de suicida, uma explicação inútil naquele momento, já que ia viver:

-Evidentemente, doutor, o senhor nunca foi uma garota de treze anos.

As Virgens Suicidas, Jeffrey Eugenides

Desentendimentos

Você não entendeu os meus motivos.

Você jamais os entenderia.

Todo homem teme o que não conhece. Você temeu os meus motivos. O meu motivo.

Você jamais daria nome aos meus motivos. Você tinha medo e isso te incapacitava de entender. Não só os meus motivos, mas grande parte da vida.

Você envelheceu e você morreu sem entender os meus motivos. E os de quem te matou. E os de tantos outros que lutaram contra você.

Você morreu pelo que você não entende. Você não sabia, mas você temia isso. E, quando você percebeu o poder que isso tinha, o seu medo aumentou a ponto de você notar que tinha medo. Muito medo. E então passou a abominar isso, porque você entendia isso nem porque tinha tamanho poder. Você odiava esse poder porque não podia tê-lo.


Eu não entendi os seus motivos.

Eu tinha medo de você e dos seus sentimentos.

Eu jamais entendi você e o fato de que, mesmo depois de ter te abandonado, algo ficou em você. Algo que te perturbava e enlouquecia. Algo mais poderoso do que você ou sua vontade de viver, já que você tentou se matar. Não porque ninguém lhe dava atenção, ou porque a vida estava ruim. Tudo estava ótimo. Sua família nunca esteve melhor. Você deixava de agir como uma estranha e começava a parecer com uma pessoa. Mas ainda havia algo em sua mente que não estava normal.

E você tentou tirar sua própria vida, seis meses após a última vez que nos vimos. Eu te olhei com pena, e então você me acusou.

"É tudo sua culpa."

É fácil colocar a culpa em alguém quando se tem doze anos, garota. Eu não entendo porque você colocou a culpa em mim, já que não nos víamos há tempo mais do que suficiente para você se recuperar.

Quando te encontraram, você estava quase desacordada e, antes de desmaiar, pediu para que guardassem segredo.

"Por quê?"

Você não respondeu, mas eu sabia o motivo. Então prometeu a si mesma jamais fazer isso novamente. E não o fez. Não porque não quisesse, mas porque tinha medo. Medo de falhar. Medo de perguntas, perguntas que nem você sabia a resposta.

Mas nunca teve medo da morte e, mesmo assim, viveu uma vida longa e plena.

Eu nunca entendi você.


Eu não queria te deixar ir.

Não queria.

Eu até quis ir junto com você, eu preferia isso a te deixar ir.

Eu tentei ir junto com você.

Eu falhei.

E você foi, e eu fiquei. E eu não conseguia entender porque era tão difícil te deixar ir. Eu tinha nojo disso, de mim mesma. Eu odiava precisar pensar em você. Eu me odiava por isso, mas não conseguia te odiar. Eu desisti de tentar não pensar em você, eu decidi pensar em todo tipo de outras coisas. Outras pessoas.

O tempo passou. Eu vivi. Você morreu. Não só para mim.

Ninguém sabia, porém, que você estava vivo, mas não vivia. Você não entendeu isso, não é? Eu te amava. O meu motivo.

Mas você jamais entendeu. Você jamais amou. Você jamais teve esse poder. Você jamais viveu.

Eu tenho pena de você.


N/A: Para a Jã, dona do enésimo mini-chall de T/G... HAHAHAH

te amo, marshmellow.