PRELÚDIO, O PRIMEIRO MOVIMENTO

PRELÚDIO, O PRIMEIRO MOVIMENTO.

As pesadas portas de pedra se abriam lentamente. Pouco a pouco a luz da lua iluminava fracamente aquele local esquecido há muito tempo. A silhueta de dois seres se formava, se podia ver quem eram aquelas pessoas, uma delas começa caminhar lentamente para dentro do local, seus passos ecoavam por todo o recinto, a segunda pessoa, que aparentava ser uma mulher, dá apenas alguns passos para frente.

O enigmático homem que entrou primeiro no local para diante do que parecia ser um altar semi-destruído, se agacha diante das ruínas. Havia uma espada fincada no lugar, vários ossos "enfeitavam" o local. Ele limpa a poeira de algo que não pode ser visto nitidamente e então ergue diante do seu rosto um crânio. O homem sorri ao olhar para aquele crânio e o beija.

- Seja bem-vindo "Pai"! – exclamou em um tom sombrio.

Ele se levanta em seguida e se vira para a mulher que permanecera todo o momento parada atrás dele e em seguida vira a cabeça, olhando para o local onde a espada estava. Um sorriso maligno se forma em seu rosto coberto pelas sombras. A mulher que o acompanhava se aproxima com uma caixa preta e o mesmo se vira guardando o crânio delicadamente dentro da caixa que é fechada e lacrada logo em seguida. Ele olha para sua companheira ainda sorrindo.

- O "Jogo" acaba de começar, minha querida... – Ele começa a caminhar calmamente para fora daquele misterioso local -...acaba de começar! Hahahaha!

O homem sai e a mulher continua parada ali por mais uns instantes olhando para aquela espada e em seguida se retira como seu companheiro.

1 –

DESPERTAR, AVISO AOS PECADORES.

Tóquio, 3 de Janeiro de 2012...

Nos últimos dias por todo o Japão só se comentava sobre o terrível acidente envolvendo um trem em Echijuma. Não pelo acidente em si, mas para o curioso fato de apenas haver um único sobrevivente. Um garoto de 16 anos sobrevivera, apenas com leves ferimentos, a um acidente que vitimou todos que estavam naquele trem. Todos os jornais noticiavam tal acontecimento e milhares de especulações e teorias surgiam por todos os locais. Repórteres se aglomeravam na frente do hospital onde Yori Hagara estava internado.

No interior do hospital, uma jovem de estatura média e cabelos claros até os ombros, observava todas aquelas pessoas. Eram como abutres ao redor de alguma carcaça qualquer. A mesma já havia sido uma "vitima" desses sensacionalistas, afinal, era seu irmão o sobrevivente.

- Cretinos... – resmungava para si mesma enquanto observava a segurança do hospital "pedir" para que todos se retirassem dali.

Manami os olhava com certo desprezo enquanto os mesmos se eram expulsos. Ela balança a cabeça e pega a lata de suco pedira na máquina. Se virando e caminhando de volta para o quarto no qual seu irmão estava.

Era noite e o hospital estava silencioso e pouco movimento, a não ser pelos repórteres que ali estavam anteriormente. Manami não suportava mais aquele local, já se haviam passado duas semanas desde que Yori fora para lá. Entre uma série de exames e períodos de observação, Manami sempre se via obrigada a aturar os diversos comentários e perguntas sobre seu irmão. Tudo aquilo a desagradava e contribuía para seu já rotineiro mau-humor.

A jovem sobe as escadas e caminha pelo corredor vazio até o quarto de seu irmão. Ele era o único paciente naquele andar, por motivos óbvios. O grande movimento causado por seu caso em particular perturbaria os outros pacientes. Logo ela adentra o quarto, Yori estava deitado lendo uma revista qualquer e ao ver a irmã ele a cumprimenta.

- Oi nee-san! – exclamou Yori.

Manami nada diz e apenas faz um gesto com a mão, se sentando em uma poltrona de frente para a cama de Yori. O jovem já se acostumara com o jeito rude de sua irmã mais velha e não se importava com toda aquela irritabilidade.

- O Dr. Fukuoka disse que logo vou terei alta, só vão fazer mais alguns exames antes.

- Ótimo, não agüento mais esse lugar... – retrucou Manami, tomando um gole de seu suco em seguida.

De fato Yori também desejava ir embora, tudo aquilo afetara sua cabeça. Sempre que fechava os olhos podia rever tudo novamente. O som das explosões, as pessoas gritando, as imagens dos corpos dilacerados e queimados, ele podia até sentir o calor do metal retorcido. Porém o que mais lhe marcava a memória era a imagem de sua amiga Mitsuko, com seus olhos mortos fixos nele. Fora a ultima coisa que Yori havia visto antes de desmaiar. E o fato dele milagrosamente ter sobrevivido a aquele acidente só o deixava mais confuso e transtornado. Ele apenas desejava ir embora dali, esquecer tudo que havia acontecido.

A noite avançava, o relógio no hall principal marcava 02:34h da madrugada e seu som cadenciado embalava a tranqüilidade do local. Não havia muitas pessoas no local, apenas alguns visitantes, enfermeiras e médicos.

A porta principal se abre e uma figura peculiar adentra o local a passos lentos e ritmados. Usava um sobretudo e possuía longos cabelos negros, aquele homem causava espanto a todos ali, por usar uma máscara que cobria a parte inferior de seu rosto.

Ele se aproxima do balcão da recepção, imediatamente a enfermeira que ali estava ergue sua cabeça. Um intenso brilho foi a ultima coisa que aquela pobre mulher pode ver antes de ter sua cabeça decepada. Sangue espirra para todos os lados e um tumulto começa a se formar no local. Pelos contornos da máscara pode ser perceber que ele estava sorrindo.

O destino de todos ali já estava traçado, no momento que aquele homem adentrou o recinto, todos sabiam que estavam mortos.

No andar de cima, Manami e Yori dormiam. A jovem adormecera desconfortavelmente no sofá em que estava. Enquanto Yori estava tranquilamente acomodado em sua cama. De repente Manami abre seus olhos, sua expressão era séria. Algo lhe incomodava, ela então se levanta e caminha para fora do quarto sem acordar Yori.

O corredor estava escuro, apenas a luz da lua, que entrava pelas janelas, iluminava fracamente o ambiente. Um fato um tanto estranho, as lâmpadas do corredor deviam estar acessas. Manami caminhava cautelosamente pela escuridão, seus olhos percorriam todos os cantos do local.

De repente ela para, virando sua cabeça para o lado, observando suas costas com o canto do olho. Algo estava acontecendo ali e Manami estranhamente parecia saber o que era. Sua expressão se mantinha séria, mantinha a respiração contida.

Na escuridão dois olhos brilhavam no teto, acima de Manami. Uma fileira de presas brancas se revela em um grotesco sorriso, contrastando com o breu da noite. Manami sorri, era um estranho sorriso quase imperceptível.

A criatura salta sobre Manami, emitindo um feroz uivo raivoso...