Oi pessoal, eu sou a MahhCullen e estou aqui com a minha primeira adaptação. Eu amo esse livro e espero que vocês gostem também. Espero muitos coments
Bjos e boa leitura
King's House, 20 de junho de 1820
Ele achava engraçado que o considerassem o melhor cavalheiro corsário de sua época. «Cavalheiro» e «corsário» eram duas palavras que jamais deveriam pronunciar-se na mesma frase, embora ele mesmo fosse uma exceção a regra. Edward de Cullen, terceiro e menor filho do conde de Masen, contemplou com expressão séria o cadafalso recentemente construído. Sim, era certo que nunca tinha perdido uma batalha nem sua caça, mas não tomava a morte à ligeira. Segundo suas estimativas, já tinha usado umas seis vidas pelo menos, e esperava que ficassem três mais no mínimo.
As execuções na forca costumavam serem as que mais atraíam gente. Vagabundos, latifundiários, damas e rameiras chegavam à cidade para presenciar a execução do pirata. No dia seguinte esperariam ansiosos e cheios de excitação, aplaudiriam e gritariam com entusiasmo quando o pescoço do pirata se quebrasse com um sonoro estalo.
Edward era um homem alto e bronzeado. Tinha o cabelo comprido e de um tom cobre com reflexos dourados, e os brilhantes olhos verdes que caracterizavam aos homens da família de Cullen. Vestia botas altas, calças brancas de ante e uma singela camisa de linho, e estava bem armado. Inclusive quando se encontrava entre a alta sociedade estava acostumado a levar uma adaga sob o cinturão e um estilete na bota, já que tinha conseguido sua fortuna pela via dura e ganhou uma boa quantidade de inimigos; em todo caso, nas ilhas não tinha tempo para preocupar-se com a moda.
De repente, deu-se conta de que ia chegar tarde a sua entrevista com o governador colonial, mas nesse momento estavam entrando no lugar três damas muito elegantes, entre elas que havia uma especialmente formosa. As mulheres começaram a sussurrar com excitação assim que o viram. Era óbvio que se dirigiam para o cadafalso, para observar o lugar onde ia celebrar-se a execução no dia seguinte. Em condições normais já estaria decidindo com qual delas ia deitar-se, mas lhe deu repugnância o interesse mórbido que mostravam pela execução.
Com a imponente entrada de King's House, a residência do governador, as suas costas, observou-as enquanto se aproximavam do cadafalso. A fascinação que despertava nas damas da alta sociedade lhe resultava do mais conveniente, porque igual ao resto dos homens de Cullen, era muito viril. A loira era a esposa do dono de uma plantação ao que conhecia bem, mas a beleza morena devia ter chegado recentemente à ilha. Lançou-lhe um sorriso. Era óbvio que sabia quem era ele e o que era… e estava claro que se mostrava disposta a lhe oferecer seus serviços, em caso de que estivesse interessado em aceitá-los.
Mas não o estava, assim se limitou a saudá-la com amabilidade com um gesto da cabeça. Sustentou-lhe o olhar por um instante, e ao final girou. Ele era um nobre e um comerciante quando não estava ocupado aceitando tarefas de corsário, mas as falações que o pontuavam de canalha e ladrão o seguiam de todas as formas; de fato, uma amante especialmente apaixonada lhe tinha chamado de pirata. O certo era que, apesar de que tinha recebido a educação de um cavalheiro, encontrava-se mais cômodo em Spanish Town que em Dublín, em Kingston que em Londres, e não ocultava isso. Ninguém podia ser um cavalheiro estando no convés de um navio, em meio de uma caçada; nessas circunstâncias, a nobreza podia conduzir a morte.
Em todo caso, os rumores nunca lhe tinham importado. Construiu a vida que tinha desejado sem a ajuda de seu pai, e tinha ganhado no punho que lhe considerassem um dos maiores navegantes de sua época. Apesar do muito que sentia falta da Irlanda, que era o lugar mais formoso do mundo, em seu navio era livre. Inclusive quando estava no condado, rodeado da família a quem adorava, era consciente de quão diferente era de seus dois irmãos, o herdeiro e o segundo na linha de sucessão ao título. Eles deviam carregar um montão de obrigações e responsabilidades, e em comparação ele era um verdadeiro corsário. A sociedade lhe acusava de ser diferente, dizia-se que era um excêntrico e que não se encaixava, e era certo.
Justo antes que se voltasse para entrar em King's House, duas damas mais se uniram às anteriores. Na praça cada vez havia mais gente. Um cavalheiro ao que reconheceu, um próspero comerciante de Kingston e vários marinheiros também se aproximaram das mulheres.
—Espero que esteja desfrutando de sua última comida — comentou um dos marinheiros, com uma gargalhada.
—É verdade que cortou o pescoço de um oficial da armada inglesa, e que pintou seu camarote com o sangue? — disse uma das damas.
—É uma velha tradição pirata — lhe respondeu o homem, com um sorriso.
Edward fez uma careta ao ouvir aquela tolice.
—Julgam a muitos piratas neste lugar? —disse a bela morena, claramente fascinada.
Edward voltou com desagrado. A execução ia ser um circo, e o mais irônico era que Charlie Swan era um dos piratas menos ameaçadores e com menos êxito que tinham sulcado os mares. Iriam enforcá-lo porque o governador Volturi estava empenhado em repartir um castigo exemplar fosse como fosse. Os crimes de Swan eram insignificantes em comparação com os dos canalhas desumanos que abundavam o Caribe, mas o tipo tinha sido bastante inepto para deixar que o apanhassem.
O conhecia, embora de forma superficial. A casa que ele tinha na ilha Windsong estava no extremo noroeste da rua do porto, e a Swan estava acostumado vê-lo frequentemente consertando seu navio ou desSwangando a mercadoria. Ao longo dos últimos doze anos não deviam ter trocado mais que várias dúzias de palavras, e por regra geral se limitavam a saudarem-se com a cabeça quando se viam. Não havia razão alguma para que lhe afetasse a execução daquele homem.
—Vão pendurar também à filha do pirata? —perguntou uma das mulheres com excitação.
—Não apanharam a Selvagem[1]— disse o cavalheiro— Além disso, não acredito que alguém desta ilha queira acusá-la de algo.
Edward se deu conta do motivo de seu desgosto: Swan tinha uma filha, que ia ficar órfã. Era muito jovem para que a acusassem de pirataria, mas tinha navegado junto a seu pai.
Disse-se com firmeza que aquilo não era assunto dele, mas enquanto ia para King's House a recordou com total claridade. Tinha-a visto algumas vezes, nadando como uma doninha vestida com uma simples regata, ou de pé na proa de seu navio, desafiando o vento e o mar com atitude temerária. Não a conhecia, mas igual ao resto dos habitantes da ilha, podia reconhecê-la imediatamente; ao que parecia, a jovem corria livre pelas praias e pelas ruas da cidade, e sua vasta e selvagem juba da cor da lua contribuía para que fosse impossível passá-la por alto. Era indômita e livre, e ele levava anos admirando-a a distância.
Sentiu-se incômodo, e decidiu pensar em outra coisa; ao fim, no dia seguinte nem sequer estaria em Spanish Town quando pendurassem Swan. Perguntou-se por que o governador teria chamado ele. Eram amigos, e tinham trabalhado juntos frequentemente em assuntos de política concernentes à ilha e inclusive em temas de legislação. Ele tinha aceitado dois encargos seus de momento, e em ambas as ocasiões tinha conseguido capturar os piratas em questão. Volturi era um político e um governador decidido ao que respeitava… e inclusive tinham saído de farra juntos várias vezes, porque o governador também gostava de divertir-se com as damas quando sua esposa não estava na ilha.
As esporas de ouro e rubis que levava marcaram seus passos enquanto deixava atrás as seis colunas jônicas que seguravam uma fachada com o brasão britânico. Ao chegar às enormes escadas da residência do governador, dois soldados lhe fecharam o passo imediatamente, mas relaxaram ao reconhecê-lo.
—Bom dia, capitão de Cullen. O governador Volturi ordenou que lhe deixasse entrar imediatamente.
Edward assentiu, e entrou em um enorme vestíbulo com o chão de parquet[2] perfeitamente encerado. Um enorme lustre de cristal pendia do teto. Além de uma entrada circular, alcançava a ver-se um salão formal onde preponderavam os veludos e os brocados vermelhos.
Aro Volturi estava sentado atrás de seu escritório, mas ao vê-lo sorriu e se levantou.
—Olá, Edward! Entra homem, entra.
Edward entrou no salão, e lhe estreitou a mão. O governador era um homem magro e atrativo de uns trinta anos, e levava um elegante bigode.
—Bom dia, Aro. Já vi que a execução se levará a cabo segundo o previsto — as palavras pareceram escapar de sua boca como por vontade própria.
Volturi assentiu com satisfação, e comentou:
—Esteve quase três meses fora, assim não sabe o que significa tudo isto.
—Claro que sei — Edward voltou a sentir aquela estranha tensão ao pensar no futuro da filha do pirata; de repente, decidiu que possivelmente iria visitar Swan em Port Royal— Swan segue em Fort Charles?
—Foi transferido para a prisão do tribunal.
O edifício do tribunal se completou no ano anterior, e estava justo em frente à residência do governador, do outro lado da praça.
Volturi se aproximou de um enorme aparador dinamarquês que continha uma prateleira com bebidas, serviu dois copos, e lhe deu um.
—Brindo pela execução de amanhã.
Em vez de responder ao brinde, Edward comentou:
—Talvez devesse tentar capturar os piratas que navegam sob a bandeira de José Artigas. Charlie Swan não tem nada a ver com esses assassinos, meu amigo.
Artigas era um general gaúcho, que estava em guerra tanto com a Espanha como com Portugal.
Volturi sorriu, e lhe disse:
—De fato, esperava que aceitasse encarregar-se dos homens de Artigas.
Edward era um caçador nato, assim que a proposta lhe interessou. Volturi estava lhe oferecendo uma missão perigosa, e embora em condições normais a teria aceito sem pensar duas vezes, seguiu insistindo no tema que mais lhe interessava.
—Swan nunca cometeu a imprudência de atacar interesses britânicos — disse antes de tomar um sorvo de clarete[3].
—E por isso se supõe que é um pirata decente? Acaso é um pirata «bom»? Não entendo por que o defende. Julgaram-lhe e foi condenado, assim será executado amanhã ao meio dia.
Na mente de Edward apareceu uma imagem vivida e inapagável: com aquela juba de cabelo tão escuro como a escuridão da noite, vestida com uma camisa e umas calças empapadas, a Selvagem elevou os braços e mergulhou ao mar da proa do navio de seu pai. A tinha visto por sua luneta da fortaleza de sua fragata preferida, a Fair Lady, ao retornar para casa no ano anterior. Ao vê-la emergir da água rindo, quase tinha desejado poder mergulhar junto a ela nas cristalinas águas cor turquesa.
—O que me diz da menina? —ouviu-se dizer. Não tinha ideia de sua idade, mas como era miúda e esbelta, supunha que devia ter entre doze e quatorze anos.
Volturi pareceu sobressaltar-se.
—Refere-se à filha de Swan? A Selvagem?
—Tenho entendido que a Coroa lhes tomou sua granja. O que vai ser dela?
—Pelo amor de Deus, Edward não tenho nem idéia. Há rumores que a jovem tem família na Inglaterra, pode ser que vá viver lá. Embora suponha que também poderia ir a Sevilha, ao orfanato das Irmãs de Santa Ana.
A Edward não fez nenhuma graça a ideia, porque era impossível imaginar um espírito livre como ela apressado daquela forma. Não sabia que a jovem tinha família na Inglaterra, embora como Swan tivesse sido em outra época oficial da armada, era possível.
—Está um pouco estranho, meu amigo — comentou Volturi— Te pedi que viesse para me ver porque esperava que aceitasse um encargo.
Edward se obrigou a deixar de pensar na filha de Swan, e esboçou um sorriso.
—Posso albergar a esperança de que o objetivo que tem em mente seja O Toureador? —perguntou-lhe, fazendo alusão ao pirata mais sanguinário que atuava na zona.
—Claro que pode — respondeu Volturi, com um enorme sorriso.
—Estou mais que encantado de aceitar o encargo.
Edward disse para si mesmo que a caça eliminaria sem dúvida seu estado de ânimo irascível, e a intranquilidade que o embargava. Estava acostumado a ficar um ou dois meses em Windsong, mas nessa ocasião só levava três semanas justas. O único que lhe causava pena era separar-se outra vez tão cedo de seus pequenos. Seu filho e sua filha viviam na casa da ilha, e ficava muitíssimo pior quando estava longe deles.
—Venha, vamos jantar. Pedi a meu cozinheiro que prepare seus pratos preferidos — disse Volturi com camaradagem, enquanto o levava pelo braço— Aproveitaremos para falar dos detalhes do encargo, e também quero pedir sua opinião sobre a nova empresa relacionada com as Índias Orientais. Suponho que terá ouvido falar da companhia Phelps.
Edward estava a ponto de responder afirmativamente, mas desencapou seu sabre ao ouvir que os soldados que estavam de guarda na porta principal soltavam gritos alarmados.
—Atrás — disse ao Volturi.
O governador empalideceu, e apesar de que tirou uma pequena pistola, obedeceu e se apressou a retroceder até o extremo mais afastado do salão. Ao sair do vestíbulo, Edward ouviu que um dos soldados soltava um gemido de dor e que o outro gritava:
—Não pode entrar!
A porta principal se abriu de repente, e uma jovem miúda e esbelta com uma juba de cabelo cor de chocolate entrou como um ciclone empunhando uma pistola.
—Onde está o governador? —perguntou-lhe, enquanto lhe apontava com a arma.
Quando os olhos do verde mais vivido que jamais tinha visto se encontraram com os seus, Edward se esqueceu de que tinha uma pistola lhe apontando à frente. Ficou olhando-a emudecido. A Selvagem não era nenhuma menina, a não ser uma jovem mulher… e muito formosa, por certo. Tinha um rosto triangular, as maçãs do rosto elevadas, um nariz pequeno e reto, e uma boca carnuda; entretanto, o que mais lhe impactou foram seus olhos. Nunca tinha visto outros tão enigmáticos, eram tão exóticos como os de um felino da selva.
Baixou o olhar por seu corpo. A juba frisada chegava à cintura, e a forma de seus seios se insinuava desde debaixo da folgada camisa masculina que chegava à altura da coxa. Usava calças e botas de moço, mas tinha umas pernas largas e incontestavelmente femininas.
Apesar de que só a tinha visto da distância, pareceu-lhe espantoso havê-la tomado por uma menina.
—Acaso é um panaca? Onde está Volturi? —perguntou ela gritando
Edward respirou fundo, e conseguiu esboçar um sorriso enquanto ia recuperando a compostura.
—Peço que não me aponte a pistola, senhorita Swan. Está carregada? —disse-lhe com calma.
Ela empalideceu ao reconhecê-lo.
—De Cullen — tragou com força, e vacilou por um instante— Volturi, tenho que ver o Volturi.
De modo que lhe conhecia, e sabia que não era um homem com o que se pudesse jogar. Era consciente de que qualquer outro já teria morrido por atrever-se a lhe ameaçar com uma arma? Ou era uma mulher muito valente, ou se tratava de uma imprudente muito desesperada.
Apesar de que a situação não o fazia nenhuma graça, Edward intensificou seu sorriso. Tinha que acabar com aquele tenso momento antes que a jovem acabasse ferida ou detida.
—Dê-me a pistola, senhorita Swan.
Ela negou com a cabeça, e lhe perguntou com tom firme:
—Onde está Volturi?
Edward soltou um suspiro, e passou à ação de repente. Antes que ela pudesse reagir, agarrou-a pelo pulso e lhe tomou a pistola.
Ela o olhou sobressaltada e os olhos se alagaram de lágrimas de fúria.
—Maldito seja! —equilibrou-se contra ele, e começou a lhe esmurrar o peito.
Depois de dar a pistola a um dos desconcertados soldados, Edward voltou a agarrá-la pelos pulsos com cuidado de não lhe fazer dano. Sua força o surpreendeu. Sua esbelteza lhe proporcionava uma aparência de fragilidade falsa, mas mesmo assim, não tinha nenhuma possibilidade contra ele.
—Detenha-se, por favor. Vai se machucar — disse isso com suavidade.
Ela estava lutando para se soltar como uma gata selvagem, inclusive grunhia e tentava lhe arranhar o rosto.
—Detenha-se — insistiu cada vez mais molesto— Sou muito mais forte que você.
Ela se deteve de repente, e lutou por recuperar o fôlego enquanto seus olhares se encontravam. Edward sentiu uma pontada de compaixão, porque apesar de que pudesse ter uns dezoito anos, era óbvio que em muitos aspectos seguia sendo uma menina devido à vida pouco ortodoxa que tinha levado. Nesse momento, deu-se conta de que, além de desespero, seu olhar refletia medo.
No dia seguinte iriam enforcar seu pai, e isso a tinha empurrado a ir ver o governador.
—Suponho que não pensa assassinar meu amigo Volturi, verdade?
—Faria se pudesse, mas deixarei seu assassinato para outro dia — lhe espetou ela com fúria. Começou a lutar de novo, e acrescentou— vim pedir que tenha clemência com meu pai.
Edward sentiu que lhe rompia o coração.
—Ficará quieta se soltá-la? Posso te conseguir uma audiência com ele.
Ela o olhou esperançosa e assentiu enquanto umedecia os lábios antes de dizer:
—De acordo.
Edward vacilou por um segundo, já que estava confundido pelas estranhas emoções que o embargavam. Apesar de que não era apropriado, perguntou-se quantos anos teria a jovem. Não estava interessado nela, claro, ao menos nesse sentido. Não podia está-lo, porque era muito jovem e além disso era filha de um pirata. Sua última amante tinha sido uma princesa da casa de Habsburgo, a que se considerava a maior beleza de todo o continente. A defunta mãe de sua filha tinha sido uma exótica e formosa concubina, que tinha vivido escravizada no harém de um príncipe berber. Chamava-se Rachel, era judia, tinha recebido uma educação esmerada, e era uma das mulheres mais inteligentes às que tinha conhecido em toda sua vida. Era muito seletivo no concernente às mulheres com as que se deitava, assim era impossível que se sentisse atraído por uma marota temerária que empunhava uma pistola com a naturalidade com a que outras mulheres levavam sombrinhas.
Ao dar-se conta de que estava observando-o com uma expressão da mais inocente, sentiu uma desconfiança imediata.
—Irá se comportar bem-disse com firmeza. - Não se tratava de uma pergunta.
Quando ela se limitou a esboçar um pequeno sorriso, sentiu-se alarmado de verdade. Perguntou-se se levava alguma arma escondida, possivelmente a tinha sob a volumosa camisa. A ideia de revistá-la o incomodava, apesar de que não se tratava de uma dama.
—Senhorita Swan, me prometa que vai comportar-se com cortesia e respeito enquanto estiver na casa do governador.
Ela o olhou com perplexidade, como se não tivesse entendido nenhuma palavra do que acabava de lhe dizer, mas assentiu.
Edward lhe tocou o braço com suavidade para conduzi-la para o salão, mas ao ver que ela dava um pulo, afastou a mão.
—Pode sair um momento, Aro? Eu gostaria de apresentá-lo à senhorita Swan.
Volturi se aproximou da entrada do salão. Estava muito sério, e ligeiramente ruborizado.
—Uma garota conseguiu deixar para trás meus guardas? —perguntou com incredulidade.
Ao dar-se conta de que seu amigo estava cada vez mais zangado, Edward comentou:
—É lógico que está preocupada com seu pai. Prometi para ela que a escutaria.
Volturi não se mostrou muito conciliador.
—Atacou meus homens! Te feriu, Robert?
O soldado britânico estava alerta e firme no vestíbulo, e seu companheiro permanecia junto à porta principal.
—Não, senhor. Peço-lhe desculpas por tão terrível intrusão, governador.
—Como pôde entrar sem seu consentimento? —perguntou-lhe Volturi.
Robert ficou vermelho como um tomate.
—Não sei senhor…
—Pedi-lhes que me ajudassem a encontrar meu periquito — disse a Selvagem, com um tom ligeiramente zombador. Balançou os quadris, e soltou uma lágrima— Estavam tão preocupados…!
Edward a olhou boquiaberto, e se deu conta de que se equivocou ao julgá-la. Aquela mulher tinha utilizado seu considerável encanto feminino para enrolar os soldados, assim não era tão inocente como parecia.
Volturi a olhou com frieza, e disse:
—Prendam-na.
Ela soltou uma exclamação afogada, e olhou Edward com uma expressão surpreendida que se voltou acusatória quando os soldados foram para ela.
—Prometeu-me isso!
Ele se interpôs no caminho dos soldados para impedir que a capturassem, e lhes disse com um tom de voz suave que continha uma ameaça velada:
—Não a toque.
Os soldados se detiveram em seco.
—Atacou meus homens, Edward! —protestou Volturi.
Ela se voltou para o governador, e lhe gritou com fúria:
—Vai enforcar meu pai!
Edward a agarrou pelo braço. Disse-se que era para poder segurá-la em caso de que fosse necessário, mas era consciente de que sentia uma estranha necessidade de protegê-la.
—Deve-me vários favores, Aro. Devolva-me um escutando-a.
Volturi o olhou com consternação.
—Maldito seja, de Cullen. A que se deve sua atitude?
—Escute-a. - disse ele, com voz ainda mais suave. Tratava-se de uma ordem.
Volturi não se incomodou em dissimular o desagrado que sentia, mas indicou com um gesto a Selvagem que o precedesse para o salão. Ela negou com a cabeça, e entreabriu os olhos com desconfiança antes de lhe dizer com frieza:
—Você primeiro. Eu não gosto de ter meus inimigos às costas.
A Edward gostou de sua audácia, mas seguia lhe preocupando que levasse alguma arma oculta.
Volturi soltou um suspiro de impaciência.
—Robert, espera aqui. Johns, retorna a seu posto na porta principal — enquanto os soldados obedeciam, entrou no salão.
Fez um gesto para a Selvagem segui-lo, mas Edward a tinha visto esboçar um sorriso e a agarrou pelo braço.
—O que está fazendo?
Em voz muito baixa, para que Volturi não lhe ouvisse, murmurou:
—Está desarmada, verdade?
—Claro que sim, toma-me por tola?
Ela nem sequer piscou ao dizê-lo, não se ruborizou nem tentou afastar o olhar, mas Edward soube com certeza que estava mentindo. Agarrou-a com mais força, e se negou a soltá-la quando ela tentou afastar-se.
—Peço que me desculpe senhorita Swan — lhe disse com voz tensa, enquanto sentia que se ruborizava.
Começou a passar a mão livre por sua cintura, por cima da camisa. Esperava encontrar outra pistola, mas não pôde evitar notar quão estreita era aquela cintura; de fato, certamente poderia abrangê-la com ambas as mãos.
—Tire as garras de cima de mim — disse-lhe ela com indignação.
Não lhe fez caso, e foi baixando a mão até a base de suas costas enquanto tentava não pensar em baixá-la ainda mais. Ela começou a resistir, e exclamou:
—Pervertido!
—Fica quieta — resmungou, enquanto media o outro lado da cintura.
—Está contente? —estava ruborizada, mas não deixou de retorcer-se.
—Está dificultando as coisas — Edward se deteve ao notar algo sob a camisa, no lado esquerdo da cintura.
Quando ela tentou afastar-se, limitou-se a lhe lançar um olhar firme e deslizou a mão por debaixo da camisa até que tocou o fio da adaga que tinha atada às costelas.
—Maldito seja! —espetou-lhe ela, enquanto seguia lutando por liberar-se.
Edward fez gesto de agarrar a adaga, mas ficou sem fôlego quando a parte inferior de um seio nu lhe encheu a mão.
Os dois ficaram imóveis.
—Mal nascido! —disse-lhe ela, antes de liberar-se.
Edward tentou conter uma súbita onda de desejo. De baixo daquela volumosa camisa se ocultava um corpo sedutor que pertencia a uma mulher feita e direita. Colocou no cinturão a adaga que lhe tinha arrebatado, e ao cabo de uns segundos recuperou a fala.
—Mentiu para mim.
Ela lançou-lhe um olhar cheio de fúria, e se apressou a ir para o salão.
Edward rezou para que não tivesse outra adaga oculta, já que era possível que a tivesse atada ao quadril ou à coxa. Não podia entender sua própria reação ante aquele corpo tão magro em algumas zonas e tão excessivamente voluptuoso em outras. Tinha estado com centenas de mulheres formosas. Quando o momento era apropriado ou lhe convinha, permitia-se desfrutar do desejo, mas não era um moço inexperiente e era mais que capaz de controlar a luxúria; entretanto, apesar de que não queria sentir nenhuma atração por a Selvagem, seu corpo o tinha traído, e isso era algo que não o fazia nenhuma graça.
Deixou a porta aberta ao entrar no salão, e viu o governador sentado em uma enorme poltrona. Parecia todo um rei em vez de um homem cujo cargo tinha sido atribuído pela realeza, e lhe deu permissão para falar com a moça com um gesto abrupto e bastante desdenhoso que não gostou nada. Era óbvio que Volturi estava decidido, e que não ia trocar de opinião por muito que dissesse ou fizesse a Selvagem.
Sentiu-se comovido ao ver que ela punha-se a chorar, que lágrimas fruto do medo e o desespero começavam a deslizar por aquele rosto cativante, e disse a Volturi:
—Dê-lhe uma oportunidade de verdade.
—Isto é uma perda de tempo — protestou o governador, claramente zangado.
—Por favor — disse ela. Era um sussurro suave e feminino, uma súplica.
Quando entrelaçou as mãos ante seu peito como se estivesse entoando uma prece, a folgada camisa se esticou sobre seu corpo e revelou a forma de seus seios, que eram surpreendentemente turgentes. A imagem distraiu imediatamente aos dois; ao parecer Volturi tampouco era imune a seu encanto.
—Meu senhor, meu pai é tudo o que tenho. É um bom homem, e um bom pai. Não é um pirata de verdade, a não ser um simples granjeiro. Pode ir comprová-lo você mesmo em Belle Mer, tivemos a melhor colheita em anos.
—Os dois sabemos que cometeu numerosos atos de pirataria — lhe respondeu Volturi com firmeza.
Ela seguiu chorando, e ficou de joelhos. Edward se esticou ao ver que seu rosto ficava justo diante da virilha de Volturi, e se perguntou se era consciente de quão provocadora resultava aquela posição.
—Equivoca-se, meu senhor! Meu pai nunca foi um pirata, o jurado se equivocou! Era um corsário que trabalhou para a Inglaterra perseguindo piratas, igual o capitão de Cullen. Se o perdoar, jamais voltará a navegar.
—Senhorita Swan, vos rogo que levante-se. Os dois sabemos que seu pai não se parece em nada a lorde de Cullen.
Ela permaneceu onde estava, e começaram a lhe tremer os lábios. Estava tão provocadora, que teria resultado impossível permanecer indiferente embora tivesse estado de pé. Estava de joelhos, como se fosse uma rameira pronta para servir um cliente, e Volturi tinha o olhar fixo em sua boca carnuda e sedutora. Estava visivelmente tenso, e seus olhos escuros pareciam quase negros.
A Edward não gostou nada o que estava ocorrendo.
—Não posso perdê-lo — sussurrou ela, com voz rouca— Respeitará a lei como um santo se lhe perdoar a vida, e eu… — se deteve por um momento, e umedeceu os lábios— Eu estarei agradecida, meu senhor. Eternamente agradecida, e acessarei a fazer… o que me peça.
Volturi abriu os olhos como pratos, mas permaneceu imóvel.
Ao dar-se conta de que estava disposta a prostituir-se por seu pai, Edward a agarrou pelo braço, obrigou-a a que se levantasse, e lhe disse com firmeza:
—Já basta.
Ela o fulminou com o olhar.
—Por que se mete no que não lhe incumbe? Deixe-me em paz, estou falando com o governador! Ides ocupar-se de seus próprios assuntos!
—O que quer é se oferecer — lhe espetou furioso, antes de lhe dar um ligeiro puxão— Fica quieta — se voltou para Volturi, e lhe disse — Aro, por que não perdoa Swan? Se sua filha for sincera, não voltará para a pirataria, e se voltar para as andadas, eu mesmo me ocuparei de capturá-lo.
Volturi se levantou pouco a pouco. Lançou-lhe um breve olhar, mas sua atenção seguia centrada em a Selvagem, que estava tremente apesar de que permanecia erguida e desafiante.
—Vou considerar sua proposição, senhorita Swan.
Tanto Edward como ela o olharam surpreendidos.
—Fala a sério? —perguntou-lhe a moça.
—Penso passar toda a noite fazendo-o — o governador se deteve para deixar que assimilassem a mensagem.
Edward entendeu à perfeição o que queria dizer, e se enfureceu ainda mais. A Selvagem não era tão experiente como eles, assim demorou uns segundos em entendê-lo, mas quando captou o duplo sentido daquelas palavras, ergueu-se ainda mais apesar de que não pôde evitar ruborizar-se.
—Posso esperar aqui até que tome uma decisão?
—É obvio — respondeu-lhe Volturi, com um sorriso.
Edward se interpôs entre eles, e disse ao governador com voz tensa:
—Não posso acreditar que tenha considerado-o um amigo.
Volturi arqueou as sobrancelhas, e comentou com diversão:
—Seguro que você também aproveitaria uma oportunidade assim, acaso está defendendo sua virtude?
Sim, ao que parecia isso era o que estava fazendo.
—Devo supor que sua esposa ainda está em Londres?
—De fato, neste momento está na França — respondeu-lhe o governador, imperturbável— Venha Edward, te acalme. Será melhor que vamos jantar, enquanto a senhorita Swan permanece aqui à espera de minha decisão.
—Sinto muito, mas perdi o apetite — Edward se voltou para a Selvagem, e lhe disse — Vá.
Parecia muito jovem, mas também inflexível e decidida. Dava a impressão de que acabavam de condená-la a morte, mas negou com a cabeça e respondeu:
—Fico — seus olhos se encheram de novo de lágrimas— Vá embora Cullen. Deixe-me em paz.
Edward lutou consigo mesmo. Que mais lhe dava o que lhe ocorresse? Apesar do jovem que parecia, era impossível que fosse inocente com a vida que tinha levado; além disso, ele não era seu protetor.
—Ouviste a… dama — disse Volturi com suavidade— Não vai sofrer nenhum dano, Edward; de fato, pode ser que desfrute.
Cegou-o a fúria mais selvagem que tinha experimentado em toda sua vida, e sua mente se encheu de imagens. Volturi abraçando a Selvagem, possuindo aquele corpo esbelto e de uma vez voluptuoso. Lutou por respirar, e quando foi capaz de articular palavra, olhou o governador e lhe disse:
—Não o faça.
—Por que não? É uma beleza, embora seu aroma resulte um pouco desagradável.
Cheirava a mar, e a Edward não resultava nada desagradável.
—Espera que perdoe a vida a seu pai.
—Acaso é seu protetor? —perguntou-lhe Volturi com tom zombador.
—Não sou o protetor de ninguém — lhe respondeu com secura.
—Deixem de falar de mim como se não estivesse aqui — lhes disse ela.
Edward se voltou para olhá-la.
—Venha comigo, não têm necessidade de chegar a estes extremos.
Ela ficou olhando-o durante vários segundos muito pálida e ao final lhe disse:
—Tenho que liberar meu pai.
—Então, exija um contrato assinado. Seus serviços, em troca de seu perdão.
—Não sei ler.
Edward soltou um som gutural, e olhou o governador.
—Será capaz de suportar o peso da culpa depois?
—Pelo amor de Deus, só é a filha de um pirata.
Edward se voltou para olhá-la de novo, mas ela cruzou de braços e afastou o olhar. Estava furioso com ela, com Volturi, e inclusive consigo mesmo. Saiu dali como uma exalação, e lhes deixou sozinhos com aquele acidentado assunto.
O céu tinha começado a nublar-se, e se tinha levantado uma brisa de quase vinte nós. Spanish Town estava a uns dezenove quilômetros da costa, mas apesar de que não tinha chegado pelo rio, a não ser em carruagem, sabia que havia um bom fluxo e que era um dia estupendo para navegar; de fato, nesse momento desejou com todas suas forças enfrentar-se em uma corrida ao vento, navegar a toda vela.
O martelar as têmporas. Por que queria fugir? Esfregou a testa enquanto a tensão aumentava. A Selvagem não era assunto dele, mas estava claro que era muito ingênua em certos aspectos e que não tinha entendido a situação. Acreditava que ia comprar a liberação de seu pai com seu corpo, mas Volturi ia usá-la e depois penduraria Swan de todas as formas.
A Jamaica era seu lar, e apesar de que só passava vários meses ao ano ali, era um dos habitantes mais influentes e eram muito poucas as coisas que aconteciam na ilha sem seu consentimento. Se tivesse estado presente durante a captura de Swan, teria se enSwangado de que não lhe julgassem, mas o julgamento se celebrou e a notícia não só se publicou no Jamaican Royal Teme, mas também tinha se difundido pela maioria das outras ilhas. Inclusive os jornais norte-americanos tinham informado sobre a captura do pirata. Era muito tarde para deter a execução.
Volturi era um governador forte. Tinha havido melhores, mas também piores. Ele apoiava sua nova política de tentar terminar com os malfeitores cubanos, e acontecesse o que acontecesse, devia manter uma relação cordial com ele porque tinham muitos interesses comuns.
Meu senhor, meu pai é tudo o que tenho. É um bom homem, e um bom pai…
Não ia poder salvar seu pai, e muito menos na cama de Volturi. Voltou-se de repente, e ficou olhando a imponente porta principal da residência do governador. Maldição tinha que fazer algo.
Retornou sobre seus passos, e disse aos soldados:
—Temo que deva voltar a falar com o governador.
—Sinto muito, capitão, mas ordenou que ninguém lhe incomodasse por toda a tarde —lhe respondeu Robert.
Edward o olhou com incredulidade, mas se recuperou imediatamente.
—Isto não pode esperar — de forma inconsciente, usou um tom de voz suave que continha uma clara advertência.
O jovem soldado se ruborizou, e começou a dizer:
—Sinto muito, senhor…
Edward levou a mão ao punho de seu sabre, e lançou um olhar acerado ao soldado antes de passar junto a ele. O silêncio que reinava na casa o envolveu assim que abriu a porta principal, e soube que estavam juntos. Acelerou-lhe o coração. Sabia que as habitações principais, entre as que se encontrava a suíte privada do governador, estavam no primeiro andar. Como Volturi tinha optado por não conceder a Selvagem uma pausa aquela tarde, era pouco provável que estivessem em uma das habitações para convidados. Seguro que a tinha levado a seu próprio dormitório.
—Por favor, senhor…! —exclamou Robert da entrada.
Edward lhe olhou com um sorriso carente de humor, e fechou a porta no nariz antes de correr o ferrolho. Avançou com decisão pelo corredor, enquanto o alagava a calma que estava acostumado a sentir justo antes de dar início a uma batalha. Saboreou aquela sensação, a serenidade justo antes da explosão.
O silêncio que reinava na casa resultava quase ensurdecedor. Enquanto andava não pôde evitar imaginar-lhes nus, suarentos, com seus corpos entrelaçados, ao Volturi enlouquecido de desejo, e sua fúria se acrescentou.
Nunca tinha estado nas habitações privadas do governador, mas como a casa se construiu uns cinquenta anos atrás, deduziu que a suíte estava na asa oeste, igual em muitas outras construções georgianas.
Foi abrindo as quatro portas que encontrou a seu passo, mas em todos os casos encontrou dormitórios vazios para convidados. Quando chegou à porta do final do corredor, ouviu uma suave risada masculina, e sentiu que fervia o sangue. Abriu sem pensar duas vezes, e os viu imediatamente.
Volturi estava de pé no centro da habitação, diante de uma enorme cama com dossel. Tirou a jaqueta, o colete e a camisa, e seu musculoso torso estava nu. Tinha as calças abertas, e o membro viril ao ar.
Ela estava junto à cama, coberta com uma bata masculina de seda azul. O objeto estava desatado e aberto, e deixava ao descoberto suas coxas douradas, seu ventre suave e seus seios plenos. Seu olhar refletia desolação, mas também uma determinação firme. Era óbvio que não estava disposta a voltar atrás.
Edward rogou para que não fosse muito tarde, e foi para Volturi.
O governador estava tão concentrado em sua vítima, que nem sequer notou sua presença até que viu chegar o punho. Soltou uma exclamação, mas o golpe demolidor o lançou de costas contra a parede. Deslizou para o chão, e ficou ali encolhido como se estivesse inconsciente.
Edward lhe aproximou, agarrou-o pelo cabelo, e lhe jogou a cabeça para trás. Quando Volturi o olhou com expressão aturdida, disse-lhe com fúria:
—Seus conhecidos adorariam inteirar-se de uma intriga assim, verdade? —a ameaça foi impulsiva, mas ideal. O governador devia conservar sua reputação, e sua esposa se indignaria se se inteirasse de seu comportamento escandaloso.
—Mas…! Somos amigos! —exclamou Volturi.
—Não mais! — Edward conteve com muita dificuldade a vontade de lhe dar outro murro.
Ao ouvi-la soltar uma exclamação afogada, voltou-se de repente para ela e se apressou a ir a seu lado. Agachou-se até ficar de joelho, e estava lutando por manter a compostura. Ajoelhou-se junto a ela, terrivelmente consciente de que estava meio nua e de que o mais provável era que Volturi já a tivesse usado da forma mais desprezível e menos respeitosa possível.
Quando ela elevou o olhar, viu em seus enormes olhos verdes de gata uma mescla de dor e de súplica. Desejou estar equivocado, e que em realidade não tivesse ocorrido o que temia.
—Vou tirá-la daqui — lhe disse com suavidade.
Ficou atônito quando ela negou com a cabeça.
—Deixe-me… em paz — sussurrou, com voz rouca.
Teve vontade de matar ao que em outros tempos tinha sido seu amigo. Emoldurou seu rosto entre as mãos, e lhe disse com obrigação:
—Acredite em mim! Faça o que faça, por muitas vezes que o repita, não vai perdoar seu pai. Está claro?
—É a única possibilidade que tenho de salvá-lo!
Ao dar-se conta de que tinha a boca machucada a elevou em seus braços, e lhe surpreendeu que se aferrasse a ele. A necessidade que sentia de protegê-la era inegável, mas era mais que consciente de que sua bata seguia aberta e de que tinha seus seios apertados contra o peito. Além disso, tinha vislumbrado o tesouro que se escondia entre suas pernas.
—Jamais teve possibilidade alguma — lhe disse com voz rouca, enquanto a tirava da habitação.
Deteve-se ao sair ao corredor, já que de repente se deu conta de que os soldados seguiam postados na porta principal e de que acabava de atacar o governador real. Não ficava mais remédio que sair o antes possível por alguma janela, e ao longo dos dias seguintes ia ter que lutar com algumas manobras políticas. Embora Volturi tivesse deixado de ser amigo dele, tinham que seguir trabalhando juntos se queria seguir sendo um cidadão influente na ilha.
Baixou o olhar ao notar que ficou muito quieta, e justo nesse momento ela elevou os olhos. Seguia obstinada a seu pescoço, e estava cada vez mais ruborizada.
Baixou o olhar até seus formosos seios e foi baixando-o por seu torso, por sua delicadamente delineada caixa torácica, por seu pequeno umbigo e pela bela cor de chocolate que havia um pouco mais abaixo. Como além de corsário era um cavalheiro, apressou-se a elevar o olhar até seus olhos enquanto sentia que se ruborizava, e com uma mão conseguiu fechar torpemente a bata.
—Tem-lhe feito muito dano? —perguntou-lhe com voz rouca.
— Se importara de me baixar?
Edward obedeceu imediatamente, ela sorriu antes de lhe dar um forte chute na tíbia seguida de um empurrão. Tentou apanhá-la quando se pôs a correr, mas era ágil e rápida e, além disso, estava decidida. Conseguiu evitá-lo e se afastou correndo pelo corredor, com a bata ondeando como uma bandeira atrás de seu corpo nu. Seguiu-a a passo mais lento, enquanto em seu interior se formavam em redemoinhos um sem-fim de emoções desencontradas. Esteve a ponto de desejar não haver-se envolvido naquele assunto, já que intuía que aquilo não era mais que o princípio. Chegou à porta, e não viu ninguém. A Selvagem se esfumaçou.
