I- Cicatriz
Quantas vezes perguntamos o porquê?
Quantas vezes perguntamos como?
E quantas vezes, perguntamos, quando não queremos saber a resposta...
Uma mera resposta, pode fazer ferida, e ferida transforma-se em cicatriz, e a cicatriz não é o fim, mas pode ser o principio de algo...
Eu vivi a minha vida toda a coleccionar cicatrizes, feridas que curam sem deixar qualquer tipo de marca.
Tudo começou em 1989, no meu 18º aniversario, a minha mãe doente, e o meu pai bêbedo, e eu fechado no celeiro da nossa barraca.
Cerca da uma da manhã, os gritos do meu pai começavam a entuar pelas paredes de madeira.
A razão?
Não, sei sinceramente, mas muito provavelmente era porque a minha mãe estava sempre doente, e não fazia o que ele queria.
Na casa toda só se ouvia "CRISTINAH, CRISTINAH!" (era o nome da minha mãe)
E em poucos segundos comecei a ouvir os grandes e rocos gritos da minha mãe, a curiosidade possuiu-me, subi as escadar do celeiro, tão rápido que mal me lembro de o ter feito, chegando a cozinha vi a cena que mais me marcou, a minha mãe encostada ao armário da cozinha meia despida, e o meu pai, com uma cerveja na mão...
" Deixa-me, por favor..." Dizia a minha mãe
"Fazes o que eu quero!" O meu pai gritava 5 em 5 segundos
No momento em que o meu pai, ia mandar com a garafa de cerveja à minha mãe, ela agarou numa faca que estava bem próxima dela.
O meu pai sente-se ameaçado e tirando a faca da mão da minha mãe, espeta-a sete vezes no peito dela, matando-a instataneamente...
Ele ria-se tão alto, mas tão alto, que as gargalhadas dele pareciam as de um lunático. Com a minha mãe no chão, esvaindo-se em sangue, ele virou-se para trás e vendo-me, coreu na minha direção com um olhar pesado. O suor que lhe caia da cabeça era espesso e seco.
Chegou-se bem ao pé da minha cara e disse " Porque estás tão sério?"
Eu, com medo da reação dele, fiquei calado e conti as lagrimas. Mas ele não desistiu...
"Porque estás tão sério, rapaz?" Ele continuava a dizer
Eu baixei a cabeça com muito medo mas ele levantou-ma com bastante força e disse "vamos por um sorriso nessa carinha!"
Puxou a mão que tinha a faca atrás, e com bastante força mandou-me uma chapada, com a faca, fazendo um grande corte e abrindo-me a boca, deixando-me de rastos no chão.
A bebedeira era tal, que o meu pai não ficou muito tempo em pé. Depois de esfaquear a minha mãe e de me deixar a sangrar no chão, foi-se deitar, como se nada fosse... É incrivel o meu pai... O monstro que me criou.
Sem forçar e arastando-me, fui ter com a minha mãe. Eu tinha os olhos com tantas lágrimas, que mal via o caminho.
Abracei-me à minha mae, morta, e jurei, que nada disto iria ficar assim...
Limpei as lagrimas dos olhos e amarrei um lenco à volta da cabeça fechado a boca. Fui ao quarto do meu pai, com a mesma faca na mão. Levantei a mão, e espetei-a sete vezes no peito dele. Tal como ele tinha feito à minha pobre mãe. Não tive outra reação a não ser fugir daquela cabana...
Parei na cidade mais próxima, onde me cozeram a boca e me traram. Alimentaram-me e tudo, mas não me curaram as mazelas daquela noite...
