CAPÍTULO UM

James Potter, o bilionário do setor de softwares, olhava o mar do convés de seu mega iate Lestara. Construído sob medida, com as exatas especificações do dono, o iate era um palácio flutuante, considerado o mais bonito e sofisticado já feito. Completo, tinha um heliporto, uma sala de cinema, uma piscina e um barco na popa. No entanto, James estava irrita­do com alguns pequenos detalhes que não lhe agrada­vam.

Seus convidados, porém, falavam do iate com en­tusiasmo e admiração.

- Incrível...

- A embarcação mais luxuosa que já vi...

- Você tem um hospital particular... Uau! É só o que tenho a dizer...

- A sala de ginástica e a quadra de basquete são surpreendentes...

- A vista da parede de vidro no casco do navio é maravilhosa...

- Sessenta empregados na tripulação a seu dis­por... Deve se sentir como um rei...

O perfil belo e moreno estava inclinado e distante, os olhos castanho-esverdeados expressavam desânimo; James permanecia olhando para o horizonte. Um rei? Não era como se sentia. Perguntou a si mesmo se não ha­via trazido companhia a bordo para exprimir por ele o que já não conseguia dizer ou sentir. Cada vez mais, apenas esportes radicais e aquisições de impulso pro­porcionavam satisfação a James.

Nascido em berço de ouro, havia descoberto que poucas experiências ou mesmo posses superavam as expectativas.

- Está sabendo da última fofoca? - A socialite Jodie Morgan perguntou com seu esnobe sotaque in­glês, quando ele saiu de seu devaneio. - Sobre a Lil Evans - continuou.

James ficou visivelmente tenso ao ouvir aquele nome e as risadas femininas em seguida.

- Londres inteira está sabendo do boato. Quero só ver como ela vai sobreviver na cadeia.

- De quem você está falando? - Philip Hazlett, seu amigo, perguntou.

-Lil Evans... A modelo que começou a sair com Mort Stevens. A carreira dela afundou depois que ele foi pego com drogas e ela sumiu do mapa - lembrou Jodie ao noivo, em tom irônico. - Há cerca de dois meses ela tentou dar a volta por cima promovendo um evento beneficente.

- Ah, sim. Lembro que ela organizou um desfile de moda para levantar fundos para uma instituição de caridade. Parece que foi um fracasso - comentou Philip, dando a entender que o assunto podia ser en­cerrado ali mesmo.

Indiferente à deixa de que o assunto não era o mais apropriado, Jodie continuou a contar o resto da histó­ria.

- Lil convenceu algumas colegas de profissão a desfilar de graça e doar o cachê para a instituição. E ela acabou enfiando o dinheiro da arrecadação no bolso e roubando as pobres criancinhas cegas!

Uma faísca brilhou nos olhos de James. Ele achou pateticamente divertida a tentativa de Philip de calar Jodie. Era evidente que Jodie não fazia idéia de que Lil Evans e James haviam tido um caso amoroso. Foi um curto período, dezoito meses antes, quando James pôs os olhos em Lil Evans pela primeira vez, num desfile em Paris. Elegante, esbelta, de curvas sinuosas, ela havia entrado na passa­rela triunfante, como uma verdadeira rainha. Os ca­belos, completamente ruivos, penteados para trás dei­xavam o lindo rosto à mostra, que brilhava como raios de sol. Os olhos enormes, de um verde-esmeralda penetrante, o cegaram quando os dois foram apresen­tados. Ao conhecê-lo, ela deu um sorriso que era a representação fiel da indiferença. Acostumado a rea­ções imediatas de admiração e bajulações, James ficou intrigado e seu desejo por ela aumentou ainda mais pela sensação rara de desafio. Havia ficado an­sioso para descobrir até que ponto ela conseguiria manter o ingênuo joguinho, que, na opinião dele, não tinha outro propósito senão aumentar seu interesse por ela.

Porém, ele havia subestimado a obscena ambição de sua mais nova vítima. Apesar de, na época, ainda não saber, ele não havia sido o único homem rico na mira de Lil. Além disso, ela estava buscando algo mais que apenas um caso sem compromisso. Depois de algumas saídas, ele a convidou para passar um fim de semana na casa de campo. Lá, Lil se fez de donze­la e se recusou a dormir no mesmo quarto que ele. De madrugada, no entanto, ela foi embora com um dos convidados de James: um cantor de rock libertino que tinha o dobro da idade de Lil, famoso pelo dis­pendioso hábito de se casar com menininhas com ida­de para ser sua filha.

Ao anunciar, com estardalhaço, o noivado com Lil, Mort Stevens valorizou, e muito, seu cachê. In­felizmente, para Lil, o destino cruel interveio, pro­vando que o esforço para se dar bem não a havia leva­do a lugar algum, no final das contas.

Com um sinal quase imperceptível, James cha­mou o assistente, que foi, em seguida, até ele. En­quanto os convidados eram servidos com um almoço no deque principal, James estava em seu escritó­rio, recebendo todas as informações que desejava. Um telefonema ao editor de um jornal de âmbito na­cional foi suficiente para que James tirasse todas as suas dúvidas. O editor revelou que Lil estava aju­dando a polícia a solucionar o caso, mas que a situa­ção não estava boa para o lado dela. Afinal, quem te­ria compaixão por uma pessoa acusada de roubar dinheiro de crianças carentes?

Um sorriso confiante e exultante se formou lenta­mente na face de James. Ele estava ciente da ener­gia malévola que se agitava dentro dele. Todo o tédio havia se esvaído. O ditado dizia que a vingança era um prato que se comia frio, mas ele preferia bem quente e apimentado.

Lil Evans havia bancado a santinha, fingindo-se de casta e pura para não dormir com James. E então, sem qualquer pudor ou ver­gonha, o enganou debaixo do próprio teto dele. Ela havia sido a única mulher a dizer não a ele, a dispen­sá-lo sem dó nem piedade. Ele sabia que a atração persistente que sentia por ela era apenas fogo de pa­lha e estava associada ao ego ferido, por ter sido re­jeitado. Ela havia se transformado num desafio a ser ultrapassado.

Quando o assunto era sexo, James mostrava-se um especialista. Ao contrário de seu pai, que não sabia separar luxúria de amor e acabou arruinado por amar uma única mulher, que tinha um coração de gelo e era desprovida de sangue nas veias. É verdade que, inicial­mente, James criou algumas expectativas com rela­ção à Lil Evans. Ela havia se mostrado, no final das contas, uma pessoa sem caráter ou moral. Porém, con­tinuava a ser uma mulher irresistível e, pelo preço da liberdade, com certeza ela seria dele, pensou.

Qualquer instituição de caridade iria preferir uma boa recompensa e uma quantia considerável de di­nheiro a ter de se envolver num longo e escandaloso processo judicial. Ele poderia comprar a liberdade de Lil Evans. No entanto, nunca havia pagado para ter sexo. Será que realmente queria tê-la sob essas condi­ções? Descobriu que só de pensar em ter aquele mulherão, enroscada com ele sob os lençóis, disposta a satisfazer suas fantasias sexuais, ficava louco de de­sejo. Algo raro nos últimos tempos. Ela teria de es­tar à disposição sempre que ele a quisesse e, assim, James poderia ter sexo fácil e descomplicado.

James não se sentia constrangido em reconhe­cer que não possuía muita paciência para as mulheres e que sérios compromissos o entediavam logo. Na verdade, era conhecido por suas relações efêmeras. Mas o que planejava para Lil Evans era algo dife­rente - novo e fresco. Um acordo contratual seria o mais indicado para garantir que seu plano seria con­cretizado. Seus advogados adorariam ter de traba­lhar num documento tão incomum e noveleiro. E James adoraria ter Lil satisfazendo cada uma de suas fantasias obscenas e inusitadas...


O jovem e talentoso advogado olhava com preocu­pação para Lily.

- Não posso ajudá-la se você não se ajudar.

Lily baixou a cabeça, num gesto angustiado.

- Eu sei...

- Você precisa se defender - ele a advertiu, com pesar.

- Não posso incriminar minha irmã para salvar minha pele - respondeu ela, com a voz embargada.

- Mas, como responsável pelos cheques das doa­ções, ela está envolvida - o advogado lembrou. - Naturalmente, a polícia vai querer interrogá-la tam­bém.

Lily não disse nada. Durante o interrogatório, longo e enervante, com dois policiais, ela havia sido perguntada repetidas vezes onde estava sua irmã, Petúnia Dursley. Ninguém acreditou quando ela disse que não sabia; embora essa fosse a verdade. No en­tanto, mesmo se soubesse, nunca contaria aos policiais. Sua intenção era protegê-la. Estava determina­da a fazer tudo o que pudesse para que a irmã não pa­gasse pelos erros cometidos por ela mesma, Lily.

Um dos policiais voltou a aparecer e disse que ela estaria livre sob fiança enquanto as investigações prosseguissem. No entanto, ela teria que voltar em quatro dias para responder a mais perguntas. Seu co­ração apertou-se ainda mais com a notificação. Dis­seram-lhe que ela teria de sair da sala de interroga­tório e esperar em uma cela até que os papéis para a liberação fossem assinados. Seu estômago revirou-se de nervosismo. O advogado de defesa protestou, mas não foi atendido.

A cela foi fechada, com ela dentro. O ruído do ca­deado se fechando arrepiou cada fio de cabelo de Lily. Ela afundou-se na dura cama que havia no lugar e envolveu os braços trêmulos, tentando manter o controle. Não tinha por que se entregar ao medo e ao pânico que estavam à espreita, prontos para atacá-la. Se assim o permitisse, tudo só iria piorar. Seria pro­cessada e, caso fosse condenada, seria presa. Pensou que no futuro poderia ter de viver numa cela igual à que estava. O dinheiro arrecadado com o evento be­neficente havia desaparecido e ela não tinha como ressarcir a entidade, nem tinha alguém para quem pudesse pedir dinheiro emprestado. A convicção de que aquilo tudo era culpa sua a atingiu em cheio.

Os ombros franzinos caíram pelo peso da culpa. Esse era um sentimento comum para ela. Tudo sem­pre parecia dar errado e era como se a culpa fosse dela todas as vezes.

Aos dez anos, Lily sobreviveu a um acidente de barco, em alto-mar, que matou seu pai e sua mãe. A irmã mais velha, Petunia, ficou destruída. Foi sua cul­pa! - ela dissera, aos berros, furiosamente, para Lily. Quem foi que implorou várias vezes para pas­sear naquele maldito barco? Você os matou! Matou os dois!

Embora algumas pessoas tivessem tentado contro­lar a mulher, que estava histérica, Lily nunca mais esqueceu que a irmã havia falado a mais pura e cruel verdade. Então, quando o negócio do pai foi à falên­cia e o padrão de vida confortável que levavam caiu de um dia para o outro, Lily também se considerou culpada por mais esse infortúnio. Sentiu um grande alívio quando conseguiu ganhar dinheiro suficiente para proporcionar à irmã o estilo de vida que costu­mavam ter antes da tragédia. Entre os catorze e vinte e um anos, Lily havia conseguido acumular uma respeitável fortuna como modelo.

No entanto, Lily agora se dava conta de sua con­dição. Tinha se tornado absurdamente egoísta e me­díocre. Odiava a carreira de modelo e uma decepção amorosa acabou fazendo com que ela desistisse do mundo da moda e se dedicasse à carreira de paisagis­ta. Até que Lily resolveu tomar a decisão mais estú­pida e equivocada de todas...

Ainda com medo das câmeras e dos repórteres, Lily chegou tensa à recepção da delegacia. Por sor­te, a única pessoa no local que demonstrou interesse pela presença dela foi uma pequena e elegante more­na que se levantou ao vê-la. Era sua prima Alice, que franziu a testa ao ver o estado lastimável de Lily, embora ela continuasse linda. Os olhos verdes penetrantes, a pele alva, os cabelos naturalmente ruivos e o corpo esguio costumavam tirar o fôlego da maioria das pessoas.

- Alice? - Lily estava surpresa e emociona­da ao ver que a prima havia se prestado àquele constrangimento de ir até a polícia por ela. - Você não precisava...

- Não seja boba - Alice disse antes de escol­tar a prima para fora da delegacia, até o carro. Os flashes das câmeras não davam trégua, mas as duas saíram com a cabeça erguida, fingindo segurança e tranqüilidade. - Família é família, e era minha obri­gação estar aqui, agora. Vou levar você para casa.

Lily ficou tão emocionada com o que ouviu que não conseguiu expressar em palavras sua gratidão pela prima. Apenas a abraçou com carinho. Na infância, havia passado muito tempo na casa dos tios, que só falavam galês, língua do país de origem da família.

Dezoito meses antes, quando a vida de Lily havia se tornado um pesadelo horripilante, Alice telefonou e ofereceu a fazenda da família à prima, como refú­gio. A oferta generosa havia significado muito para ela, num momento em que todas as suas amigas a ha­viam abandonado.

- Muito obrigada, Alice, mas acho melhor você se afastar de mim por um tempo.

- Vou fingir que não ouvi o que você disse. - Alice a interrompeu, num tom como se estivesse falando com um de seus alunos da escola. Aos trinta anos, Alice tinha os cabelos pretos e tão brilhantes que pareciam lustrados.

Lily abriu a porta de casa e Alice foi direto para a cozinha.

- Vou fazer um chá para nós duas, enquanto você sobe e prepara a mala.

Lily ficou confusa.

- Não, não vou para sua casa. Essa é uma comu­nidade muito pequena e você precisa seguir com a sua vida, trabalhar, não pode se prejudicar envol­vendo-se com os meus problemas.

- Lily...

- Não - Lily disse com firmeza. - Estou fa­lando sério. Pense no seu pai. Ainda está abalado com a perda da sua mãe. Não há motivo para deixá-lo ainda mais angustiado.

A expressão desconcertada no rosto de Alice dizia que Lily havia tocado num assunto delicado, mas convincente, pois Alice era superprotetora com o velho pai.

- Mesmo assim, obrigada por se preocupar comi­go - disse Lily gentilmente.

De repente, Alice demonstrou irritação.

- Não tem nada a ver com se preocupar. Você não roubou esse dinheiro e nós sabemos quem foi.

Lily soltou um suspiro melancólico.

- Talvez você ache que sabe.

- Corta essa! Você é tão correta que não conse­gue mentir - disse a prima, impacientemente. - Quer que eu fique quieta, enquanto você leva a culpa por algo que não fez para proteger uma mulher que não dá a mínima para você?

Lily ficou pálida com a dura declaração e acen­deu o fogão. Nunca havia sido capaz de entender a singular relação que tinha com a irmã. A parte morena da família havia tido uma vida tranqüila e es­tável, enquanto Petunia havia experimentado uma tragédia e uma sucessão de fracassos amorosos com homens sem caráter.

- Minha irmã teve uma vida muito dura.

- Lembra de quando você tinha cinco anos? Ela vivia fazendo você de escrava, fazendo você pegar as coisas para ela, enquanto reclamava dos horrores. E mesmo depois que você cresceu, ela continuou abusando da sua boa vontade. Ela e aquele marido dela gastaram cada centavo de toda a fortuna que você juntou com seu trabalho.

Lily esboçou uma expressão de reprovação.

- Não pode culpá-los pelo fracasso da discoteca que abrimos e que me fez perder tudo no ano passado. Eu era muito ingênua e não tinha noção da quantida­de de dinheiro que ganhava como modelo. Achei que fosse durar para sempre.

- Teria durado se você não tivesse gastado tudo com os carros importados e a mansão que comprou para a Petunia e o Valter. Também não acredito que a idéia de abrir uma discoteca tenha sido sua.

Lily não respondeu. Quando ela largou a carreira de modelo, o padrasto também perdeu a carreira de empresário e administrador financeiro. Concordou com a idéia de financiar a abertura da discoteca para ele, pois achava que era o mínimo que podia fazer para amenizar a situação. Infelizmente, o negócio não deu certo. No entanto, Lily se resignou. Apesar de na época contar apenas vinte e um anos de idade, estava acostumada a dar a volta por cima depois de uma grande decepção.

Tentando se manter ocupada preparando o chá, Alice apenas desejava que pudesse colocar as mãos em cima da gananciosa Petunia e do marido la­drão. Quando tivesse a chance, diria na cara deles tudo o que achava e descontaria toda a raiva que sen­tia pelo que haviam feito à sua prima. Os dois tinham transformado Lily num caixa eletrônico para leva­rem uma vida de luxo e desperdício, enquanto a irmã trabalhava como modelo, horas a fio. Petunia nunca havia trabalhado, mas gastava como se o mundo fos­se acabar no dia seguinte.

- Você tem que admitir – Alice disse à prima, com impaciência. - Petunia roubou o dinheiro do show beneficente e torrou tudo.

Lily balançou a cabeça, negando, num movi­mento que demonstrava fadiga.

- Valter deixou minha irmã cheia de dívidas. Ela sabia que não podia ajudar e entrou em pânico.

- Pare de arranjar desculpas. Ela falsificou sua assinatura nos cheques e esvaziou a conta bancária onde estava guardado o dinheiro da arrecadação do evento. Ela fez com que você assumisse toda a culpa e fugiu como uma criminosa. Você não pode deixar, Lily - Alice pediu em tom de súplica. - Se você for condenada, vai arruinar sua vida. Quantas pessoas vão querer contratar uma ex-presidiária?

Depois que Alice foi embora, Lily apanhou uma carta que havia sido deixada na bandeja onde ficava a correspondência e sentiu um frio na es­pinha ao ler o conteúdo. Era um curto bilhete de um casal que estava interessado nos serviços de paisagis­mo de Lily. Eles teriam sido seus primeiros clientes desde a conclusão do curso. No entanto, naquela ma­nhã, eles já haviam deixado outro bilhete na caixa postal dizendo que haviam mudado de idéia. Lily suspeitava que a notícia da visita dela à delegacia os havia feito mudar de idéia. Não tinha dúvida de que estaria na capa de todos os jornais no dia seguinte.

Mais tarde, já deitada na cama, não conseguia dor­mir e ficou revirando-se de um lado para o outro, atormentada. Na tarde daquele dia, tinha saído para comprar comida. Um silêncio esquisito parecia cer­cá-la, enquanto colocava os produtos no carrinho do mercado. Avistou duas mulheres cochichando e olhando feio para ela. Obviamente os rumores sobre o dinheiro roubado já tinham se espalhado por toda a cidadezinha onde morava. Havia sido uma experiên­cia perturbadora.

Enquanto se lembrava disso na cama, foi acometi­da por um barulho repentino de vidro se quebrando. Ela saltou da cama e foi descendo as escadas, caute­losamente, até a sala de onde havia escutado o bara­lho, sem conseguir imaginar o que poderia ter causa­do aquele estrondo.

Acendeu a luz e viu uma pedra no chão, com um pedaço de papel preso a ela. Retirou o papel e o abriu.

SUA LADRA SAFADA, VOLTE PARA O LOCAL DE ONDE VOCÊ VEIO!

As letras garrafais estavam escritas em vermelho. O coração disparou e Lily sentiu-se lívida e enjoada.

Apanhou uma vassoura e uma pá de lixo e come­çou a varrer os cacos de vidros espalhados ao redor da janela. Depois, arranjou uma tábua que ficava jun­to com outros entulhos na garagem e colocou na jane­la para tapar o buraco. Finalmente, foi subindo lenta­mente as escadas de volta para o quarto. No entanto, se já estava sendo difícil dormir, após o ocorrido, seria impossível. Ficou deitada, sem se mover, com a respiração ofegante, morta de medo de que a pessoa que havia jogado aquela pedra resolvesse invadir a casa.

Finalmente, conseguiu cair no sono, às sete da ma­nhã do dia seguinte. Poucas horas depois, foi desper­tada pelo som da campainha. Acordou assustada, mas logo pensou que poderia ser o carteiro. Levantou-se, vestiu um robe e foi atender a porta.

Ficou petrificada ao abrir a porta e dar de cara com aquele homem alto, de cabelos negros e desalinhados. Estava bo­quiaberta e sem reação. Não podia acreditar.

James Potter.

Por alguns instantes, duvidou da razão e achou estar imaginando coisas. O coração começou a bater forte.

Charmoso e sensual, como sempre, ele apenas sor­riu sedutoramente, ressaltando o seu maxilar máscu­lo. Ela ainda não conseguia acreditar no que seus olhos viam. James Potter não poderia estar na­quele fim de mundo, numa cidadezinha do País de Gales, em pé, na soleira da porta de uma humilde casa. O mundo dele era bem mais sofisticado e sun­tuoso.

James a estudava com um olhar intenso. Nunca a tinha visto sem maquiagem. Percebeu as mudanças que sofria uma mulher sem os artifícios da pintura e buscou cada defeito com a avidez de um homem que desejava mais que qualquer outra coisa se decepcio­nar com a mulher que o atraía. Ela havia perdido peso, estava pálida e com o cansaço estampado em seu rosto. Os cabelos ruivos e compridos caíam natu­ralmente pelos ombros, sem os apliques e escovas que ele estava acostumado a ver. Foi então que en­controu aqueles olhos verdes parecidos com esmeraldas. E subitamente, deu-se conta de que ela continuava fatalmente bela, senão ainda mais estonteante. Ela era naturalmente bonita, concluiu. Olhos cativantes, pele sedosa, lá­bios carnudos. O desejo o tomou com a força de uma tempestade violenta.

- Posso entrar? - perguntou preguiçosamente. Aquela voz macia e máscula e o tom sedutor carrega­do em cada sílaba não deixaram nem que passasse pela cabeça de Lily a idéia de não deixá-lo entrar.


N/A: Vocês pediram e aqui está! Vou intercalar nas postagens! Espero que gostem!Beijãooo