Traduzida em: 22/11/2009
Autora: Tabitha
Sumário: Pierre conhece David; David gosta de arte, ele era o único aluno da oitava série em sua aula de matemática do colegial (bem, de acordo com Chuck) e ele era um nerd. Mas, então, David vai para a Inglaterra e agora ele voltou e ele está... Atraente.
Capítulo Um
Rejeição não era algo que eu entendia, nem algo que eu já experimentei. Nunca houve a possibilidade de eu ir até alguém, chamá-la para sair e ouvir a palavra 'não'. Quero dizer, honestamente, por que alguém diria isso? Eu sabia, meus amigos sabiam e todo o resto também sabia: eu era o melhor do meu colégio (e de alguns outros que eu não freqüentava). E por ter só dezessete, quase dezoito anos, isso queria dizer algo.
Eu descobri esse... 'Dom', vamos dizer, na tenra idade de sete anos. Meus pais diziam para os outros pais que eu era 'galanteador' e que eu cresceria para ser um desses caras que as garotas bajulariam.
Embora isso fosse verdade (eu tinha várias garotas dando risadinhas e sorrindo para mim o tempo todo, o que acontecia há um tempo), eu descobri que isso não me afetava. A única coisa que fez foi deixar meu ego maior, me deu uma razão para acreditar que eu era a melhor coisa acontecendo. Eu não ligava a mínima que essas garotas me queriam.
Por que eu queria os garotos.
Felizmente, não eram apenas as garotas que me seguiam – embora elas fossem a grande maioria. De vez em quando, eu me veria sendo encarado por garotos bonitos, tendo garotos bonitos e sem conhecimento flertando comigo. Isso aconteceu durante todos os meus anos, o grupo de garotos, eventualmente, se sobrepondo ao de meninas quando eu sai do armário aos dez anos.
Era um fato conhecido que todos eram atraídos por mim de algum jeito e o mais cedo que eles percebiam isso, o mais cedo estaríamos ficando. E nós sempre ficamos.
Agora, eram dez anos desde que eu descobri meu incrível poder sobre ambos os sexos e nada tinha mudado. Bem, além do fato de que minha genital estava maior. Bem maior.
O dia vinte e dois de agosto me encontrou no meu lugar favorito: a pista de skate, longe o bastante da escola (em um lugar onde professores não iriam perambular), onde eu estaria iniciando meu último ano em algumas semanas. Era entre duas ruas paralelas (Barker e Jack Rabbit), mas era longe o bastante de ambas. As casas de ambos os lados eram escondidas por arbustos, a uma boa distância, então o barulho não iriam perturbá-los e algumas árvores próximas à Rua Barker tirava o lugar do campo de visão.
Eu estava lá com cinco dos meus maiores amigos: Patrick, Josie, Sebastien, Anna e – "Pierre, não cutuque os pedaços de pizza que você não vai comer!" - Chuck Comeau, meu melhor amigo.
Chuck e eu somos amigos há mais tempo. Conhecemo-nos através de nossos pais. A mãe dele, Leanne, e meu pai, John, freqüentaram o colégio juntos, tinham até namorado por um tempo (eu sempre brinquei que eu poderia ter sido o irmão de Chuck se as coisas houvessem sido diferentes), então eles sempre marcavam dias para nós dois brincarmos.
Nós estávamos lá para o outro quando nós saímos do armário – embora Chuck tenha demorado um ano a mais que eu – e não havia nada que nós não soubéssemos sobre o outro. Inferno, nós nos conhecíamos desde o parto, é lógico que seria assim.
Algumas pessoas perguntavam se, eventualmente, iríamos terminar como namorados, mas nós negávamos. Nós já tínhamos tentado isso, de qualquer forma: nós nos beijamos no quarto dele uma vez, quando eu fui passar a noite na casa dele, quando tínhamos treze anos e isso basicamente confirmou que ficarmos juntos não seria uma boa idéia. Às vezes, eu pensava que Chuck tinha sentimentos maiores que fraternais, mas, então, eu o confrontaria e ele esclareceria tudo.
Eu ri e peguei um pedaço de pizza da caixa que estava sobre a nossa mesa de piquenique.
-Tudo bem, então. – eu disse e me afastei com o pedaço. Chuck era a única pessoa que podia me dizer o que fazer; nem sequer meus pais tinham o mesmo poder sobre mim, que ele tinha.
Patrick havia trazido duas caixas de pizza quando ele se encontrou conosco, há trinta minutos, e era isso que todos nós estávamos comendo. Josie e Sebastien (que namorava há uns três anos, agora) estavam em cima da pista de skate, Anna estava tentando fazer algumas manobras em uma das barras com seu skate, já tendo comido alguns pedaços de pizza e Chuck e Patrick estavam comendo na mesa de piquenique.
Chuck e Patrick continuaram sua conversa anterior, enquanto eu caminhava para pegar meu skate na grama e observar Anna falhar ao fazer a manobra que ela queria. Seu cabelo castanho, que ia até os ombros, estava preso sob um boné preto de baseball, mas toda vez que ela descia de seu skate e andava de volta para tentar de novo, ela o colocava atrás da orelha.
Eu conhecia Anna há três anos, mas nós nos dávamos bem. Ela amava as mesmas bandas que eu, era ótima skatista e o pai dela administrava a casa de show, então ela podia, facilmente, conseguir ingressos grátis para qualquer banda que estivesse tocando. Conhecemo-nos em uma competição de skate beneficente que a cidade tinha dado. Ela era lésbica também, e namorava Marissa, uma estudante da Universidade McGill, há dois anos.
Desde que ela parecia estar bastante concentrada, eu não quis incomodá-la, então eu fui até a pista de skate, onde Seb e Josie estavam terminando a própria conversa e Josie desceu. Ela sorriu para mim, antes de andar até a mesa de piquenique, onde Chuck e Pat estavam.
Eu conhecia Josie há nove anos, o mesmo tempo que eu conhecia Patrick, desde que eles eram irmãos, Josie sendo a caçula. Foi por meio dela que eu conheci Sebastien, por que eles já eram amigos. É claro, agora eles eram namorados.
Sebastien gesticulou para eu subir e eu o fiz, indo até onde ele estava.
-Quer ver quem pode fazer a melhor e mais complicada manobra? – ele perguntou.
Eu ri.
-Como se você sequer tivesse uma chance. – eu disse. Ele apenas encolheu os ombros, então eu concordei, deixando-o ir primeiro.
Eu o observei desaparecer na borda e fazer uma manobra no outro lado que poderia ter me impressionado, mas não o fez. Quando ele voltou aonde ele tinha começado, onde eu estava, ele tinha o sorriso mais prepotente que ele conseguia fazer, o que, honestamente, não era ruim.
Rindo novamente, eu balancei minha cabeça e fui na minha vez.
Nós ficamos no parque por mais uma hora, então o pessoal começou a dispersar. Sebastien e Josie se despediram primeiro, indo embora juntos. Eu voltei para a pista quando eles foram embora, desde que Sebastien e eu tínhamos terminado nossa, aparentemente, infinita competição que tínhamos começado na piscina vazia.
Eu estava sentado na borda, bebendo uma garrafa de Mountain Dew que eu tinha roubado de Chuck. O sol estava começando a se pôr e fazia sombras maravilhosas em alguns lugares. Patrick se despediu e foi embora, levando a caixa de pizza e, então, Anna também foi, deixando Chuck e eu sozinhos.
Eu olhei para a rua vazia à frente (Jack Rabbit). Essa rua não era, usualmente, movimentada e era por isso que gostávamos: podíamos nos safar de muita coisa aqui e preferíamos este lugar sempre que queríamos matar aula. Também, a Rua Jack Rabbit era uma rua sem saída, então as únicas pessoas que passavam por ela eram as poucas que moravam ali e pessoas que se perderam e não conseguiam ler o maldito aviso no começo da rua.
E foi quando eu o vi. Ele estava descendo a rua, carregando um tipo de container em uma mão, por suas alças e uma bebida na outra. Ele tinha o cabelo preto, que estava um pouco longo e se movia com a leve brisa. Sua calça apertada delineava suas pernas e bunda perfeita e sua maneira de andar era sexy.
Mas eu o conhecia de algum lugar. Ele parecia diferente, mas eu podia jurar que eu já o tinha visto antes. Seu cabelo estava mais escuro que eu me lembrava e suas calças mais apertadas e ele não estava usando óculos e ele estava... Muito melhor. Obviamente, desde que eu já teria ficado com ele, se ele fosse tão atraente antes.
-O que você está olhando?
Eu voltei para o presente e olhei para o lado, para ver que Chuck tinha se juntado a mim, sentando-se na borda, também.
-Hmm? – eu disse, meio distraído.
-Para o que você está olhando? – ele repetiu, um pouco mais devagar, e tentou olhar para onde meus olhos estavam antes. – Ohhh. – eu olhei de novo para o cara, que estava perto de sumir atrás de uma fileira de árvores. – Carne fresca, eu vejo. Por que você não está babando e correndo atrás dele? – Chuck provocou.
Eu o bati no braço: - Cale a boca. – eu disse. – Eu só... Ele ficou mais gostoso? Por que eu sei que o conheço.
Chuck o olhou, bem antes de ele sumir atrás das árvores: - É, eu também. – ele disse com o mesmo tom curioso que eu. Ele pausou, então o nome ocorreu a ele: - Ele é o David Desrosiers. Sabe, aquele nerd que estava na nossa sala de matemática, o único aluno da oitava série, que tinha aulas do colegial?
Encolhendo os ombros, eu disse: - Eu só lembro do rosto, eu não me importo com o que ele fazia.
Houve silêncio por um momento.
-Então, você tem algum plano agora? – Chuck perguntou.
-Você quer dizer, se eu tenho algum cara agora? – eu o corrigi desde que eu sempre tinha alguém.
Ele deu de ombros: - É. – ele disse. – Bem, eu quis dizer o que eu disse, também, mas eu quero saber se você tem alguém indo pra sua casa.
Eu balancei a cabeça.
-Hoje não. – disse. – Eu queria, mas não é tão fácil encontrar 'carne nova' fora da escola. Sempre tem caras novos na escola, todos os anos, às vezes, até durante o ano.
Estava ficando mais escuro agora, uma cor laranja legal em todo o lugar, o que sinalizava que a noite estava se aproximando rapidamente. E esse era o tipo de noite que eu amava, apenas Chuck e eu na pista de skate, uma brisa legal, fazendo as partes soltas das nossas roupas balançarem um pouco.
-E aquele garoto David? Você provavelmente conseguiria alcançá-lo. – Chuck sugeriu.
Eu suspirei: - Eu vou deixar para outro dia, Chuck. – eu disse. – Ele parece muito virgem para ser comido numa rapidinha.
Chuck apenas deu de ombros e olhou para seu relógio: - Eu provavelmente deveria ir para casa. Você sabe que meus pais não gostam quando eu estou fora depois do anoitecer. – ele disse. Eu ri e nós começamos a fazer nosso caminho de volta para o chão. Chuck pegou seu suéter e seu skate e nós fizemos nosso caminho de volta para casa. Nós decidimos andar, ao invés de irmos andando em nossos skates, desde que isso nos dava mais chance de conversarmos.
Como se sermos ex-amantes e amigos por muitos anos não fosse o bastante, meu pai e a mãe dele tinham se mudado para a mesma rua. Outra razão para o porquê Chuck e eu éramos tão próximos.
-Sabe o que eu acho? – Chuck perguntou enquanto andávamos.
-Que nomear uma cor depois de uma comida é levemente ridículo?
-Não. – Chuck disse. – Eu acho que seria bom se você voltasse para o cenário de encontros.
Eu dei de ombros: - Eu estou no 'cenário'. Você sabe quantos caras me abordam diariamente?
Ele riu.
-Sim, eu sei, e eu também sei quantos desses caras você rejeitou. – ele disse. – Quero dizer, já faz quatro meses desde que você terminou com Van. – perante a menção desse nome, eu me senti um pouco desconfortável. Chuck pareceu notar isso, desde que eu não tinha dito nada, e disse: - Desculpe mencionar isso. Eu achei que você já tinha o superado.
Superado meu primeiro namorado de verdade, a primeira pessoa com quem eu transei, a primeira pessoa que eu, realmente, me importei, talvez até amei?
-Eu o superei. – disse. – Não me incomoda que você diga o nome dele. Esses dez meses não significam mais nada para mim.
Chuck assentiu.
-Bem, eu só acho que está na hora de seguir em frente. – ele falou.
-É, onde está seu namorado, Chuck? Faz oito meses desde seu último. – repliquei um pouco aborrecido.
Ele ergueu uma mão, numa rendição de brincadeira.
-Ótimo, eu vou deixar isso pra lá. – ele falou. – De todo modo, o que você vai fazer amanhã?
Eu suspirei e coloquei meu braço ao redor do pescoço dele: - Eu entendo como é. É sempre o mesmo com vocês garotos bonitos, novos...
-Eu sou menos de cinco meses mais novo que você.
-Você quer uma saída só com a sua pessoa favorita de todo o mundo. – eu terminei.
Seus braços foram ao redor da minha cintura.
-Essencialmente, sim. Mas eu ainda preciso comprar algumas coisas para a escola e eu não sabia se você também tem, então eu pensei em perguntar. Eu consegui o carro pro dia todo e meu próprio dinheiro. – sim, por que ele não era tão preguiçoso quanto eu e tinha conseguido um trabalho na Movie Gallery.
-Certo, eu vou com você. – concordei. – Eu vou dormir na sua casa, só por conveniência. Mas eu ainda vou dormir, então não me tire da cama até o meio dia. No mínimo.
Chuck riu.
-Certo. – ele disse. – Agora, quer apostar corrida até minha casa? O primeiro que chegar lá escolhe o filme que vamos assistir.
Eu assenti.
-Pode apostar. – eu disse. – Nos nossos skates, certo? – ele concordou, então eu coloquei meu skate no chão. Nós começamos a apostar corrida desde que não estávamos tão longe da casa.
Nós acabamos chegando juntos, eventualmente caindo na grama fresca e verde do seu jardim, rindo. Nossos skates tinham caído em algum outro lugar, mas nós não nos importávamos, estávamos rindo muito. Demorou vários minutos para que nos acalmássemos, respirando levemente ofegantes, enquanto nós dois deitávamos sobre nossas costas, olhando para o céu escuro.
-Sabe, esse é o nosso último ano. – Chuck disse depois de alguns minutos.
Eu me virei sobre meu lado para olhar para ele. O brilho amarelo vindo da varanda de sua casa estava causando sombras em algumas partes de seu rosto, iluminando outras.
-O que quer dizer? – perguntei.
Chuck se virou sobre seu lado também.
-Quero dizer, depois desse ano, eu vou para a universidade e você vai para... Onde quer que você decida ir, se você decidir ter alguma educação após o secundário. – ele disse. – E é também nosso último ano de passar todos os momentos acordados, juntos.
Eu descansei minha cabeça no peito dele.
-Não se preocupe, Chuck, você sempre vai ser o primeiro. Você sabe que eu sempre vou te amar. – eu falei.
Ele sorriu.
-É, eu também te amo, Pierre. – ele disse e deu tapinhas nas minhas costas. – Só vai ser estranho. Eu sei que vamos sobreviver, entretanto.
Sorrindo também, eu me estiquei para beijá-lo nos lábios. Isso era algo usual entre nós e ninguém mais ligava. Era uma maneira de mostrar a ele minha afeição e calá-lo. E nós nunca usávamos língua, de todo modo, então não era como se isso significasse o que significava quando fazíamos isso com outros caras.
-Você pode escolher o filme. – eu disse, então me levantei, estendendo minha mão. Eu o ergui, então entramos na casa dele.
[...]
Os Comeau sempre gostavam quando eu ficava na casa deles. Bem, eles tinham dito isso só algumas vezes antes, mas eu sabia que eles me amavam. Eu era uma visita ótima; eu limpava o que sujava, ajudava com qualquer comida que eu fosse comer lá e eu sempre tirava Chuck das mãos deles e fora do caminho.
Além do mais, eu tinha ficado na casa deles tantas vezes ao longo da minha vida, que eles tinham praticamente me adotado como filho deles – certo, risque o 'praticamente', por que eu realmente me sentia mais confortável ali do que em casa. Embora eles tivessem mencionado antes que eu podia ser um pouco de má influência. Afinal, eu fui o responsável pela primeira vez que Chuck ficou bêbado e o responsável por ele ter pegado duas detenções em um mês, na sétima série.
Mas era por isso que Chuck e eu éramos tão bons um para o outro: nós nos equilibrávamos – eu era um punk maluco e ele era mais quieto e freqüentava a igreja com sua família todos os domingos.
-Pierre, minha mãe fez panquecas. Com gotas de chocolate, sua favorita. – Chuck estava falando. Eu abri um pouco meus olhos para vê-lo parado na porta de seu quarto. Eu ainda estava deitado.
Há muitos anos, quando Chuck e eu começamos a dormir na casa do outro, os Comeau trouxeram mais um colchão de solteiro para o quarto de Chuck, então eu pude deixar de dormir na cama de armar. O quarto estava arrumado agora de modo que, ao entrar, você visse a cama de Chuck diretamente do lado direito, um criado mudo ao lado, então uma escrivaninha e ao lado dela, a minha cama no lado esquerdo. Na parece oposta, na mesma parede que a porta estava, tinha um closet com espelho.
Eu gemi e puxei os cobertores para cima da minha cabeça para bloquear a luz do sol.
-Que horas são? – eu perguntei levemente abafado, já que eu tinha enterrado minha cabeça no travesseiro.
-Meio dia. Eu te deixei dormir, agora levanta. – Chuck disse e eu o ouvi abrir a porta do closet. – Aqui, use as roupas que você deixou aqui da última vez, que nós lavamos. De nada.
Rindo levemente, eu tirei os cobertores de cima da minha cabeça.
-Oh, por favor. Se nós juntarmos todas as minhas roupas que sua mãe teve que lavar, nós conseguiríamos encher o guarda roupa de uma celebridade. – eu disse e me sentei, enquanto Chuck jogava as roupas em mim.
Ele também riu: - Isso é verdade. – disse. – É melhor você se apressar, ou Lindsay vai comer todas as suas panquecas. – Lindsay era a irmã de treze anos de Chuck.
Sem perder tempo, eu estava no andar de baixo, comendo panquecas e, então, seguindo Chuck para fora. Estava um dia claro, limpo e quente, mas o ar ainda tinha a sensação de 'verão acabando'. Uma leve brisa evitava que ficasse muito quente, na temperatura certa. Eu coloquei os óculos de sol que eu encontrei no quarto de Chuck, inalando profundamente o ar fresco. Eu fiquei na escada na varanda, esticando meus braços sobre minha cabeça, enquanto Chuck abria as portas do carro.
-Sabe o que, Chuck? – eu falei, casualmente andando até o Pontiac prata.
Ele abriu a porta do motorista: - Que minha irmã pode comer o peso do corpo de panquecas, mas por que ela é tão magra, isso provavelmente não importa?
Eu fui até o outro lado, abrindo a porta do passageiro.
-Esse é um ótimo dia para transar. – conclui, sorrindo. Ele riu, concordando um pouco. – Então, só para evitar qualquer embaraço ou confusão mais tarde, se importa se eu arrumar alguém enquanto estivermos lá?
Chuck deu de ombros: - Que seja. – ele disse friamente e entrou no carro.
Ele não disse muito, mas eu sabia o que ele estava realmente pensando. Eu sempre tinha facilidade com os caras, mas Chuck não. Ele só tinha estado em um relacionamento antes – o nome dele era Luke e eles tinham namorado mais ou menos o mesmo tempo que eu namorei Van. Mas, ao contrário de mim, sua falta de namorados não se devia ao fato de que ele tinha recusado um milhão de candidatos. Nenhum garoto realmente se aproximava de Chuck e eu, às vezes, me sentia mal por ele. Eu o namoraria, se eu fosse outra pessoa.
Várias vezes, quando saiamos para algum lugar, e eu via algum cara bonito, e acabaria indo embora com ele. Mas Chuck nunca reclamou, então eu assumi que ele não se importasse, desde que ele sempre me dizia para contar a ele todos os detalhes no dia seguinte.
Chuck saiu da garagem e nós fomos até o shopping. Eu fucei no porta CD que estava no chão, na parte de trás do carro.
-Bad Religion, Lagwagon ou uma mistura? – perguntei.
-Mistura. – ele repetiu. – Então, lembre-se, eu preciso de dois cadernos, algumas canetas, uma calculadora e um novo estojo de lápis. Eu quebrei meu último.
Eu coloquei o CD no rádio.
-Você sabe que eu vou acabar vendo algum cara gostoso e esquecendo o que você me disse. – falei, colocando o porta cd de volta no banco de trás.
Ele deu de ombros.
-Eu sei, apenas achei melhor dizer. – eu sorri.
Não demorou muito para que chegássemos. Não estávamos com pressa, então levamos nosso tempo andando. Nós paramos na praça de alimentação, compramos algo para beber e descansamos. Não tínhamos muito para comprar, de todo modo e eu estava aqui mais para os caras do que compras. Quando eu pensei nisso, essa era quase sempre a razão que eu vinha aqui.
Relaxando na cadeira, eu analisei o grande grupo de pessoas. A quantidade de caras bonitos estava, estranhamente, grande, todos dos quais eu sabia que eu poderia ter se quisesse. Mas eu também sabia que eu não precisava me aproximar deles, eles viriam até mim, se eu meramente olhasse para eles. Era bastante conveniente que eu conseguisse fazer isso. Algumas pessoas iriam preferir voar ou ficar invisíveis como super poderes, mas esse batia todos eles.
Chuck pareceu notar o que eu ia fazer, por que ele perguntou: - Viu alguém que você gostou?
Dei de ombros: - Talvez. Grande seleção, entretanto. Ridiculamente grande. É como se eu tivesse entrando numa sala cheia de caras que Pierre Bouvier acha gostosos.
-Não é sempre uma grande seleção quando se trata de você? – ele riu. – Inferno, você poderia entrar em um cômodo cheio de temerosos a Deus, mães e homens machistas, fãs da bíblia. Você conseguiria até fazê-los pagar.
Sorrindo, eu percebi a verdade nisso: - Ooh, eu nunca estive com um temeroso a deus, mãe, nem homens machistas. Lembre-me na próxima vez que estivermos na casa do seu irmão. – eu disse e mostrei a língua para ele. Ele rolou os olhos e tomou um gole de sua bebida.
Então, lá estava ele. Aquele cara atordoante que eu tinha visto na noite passada, da pista de skate – David. Ele ainda estava bastante atraente e estava sentado sozinho com um livro e uma bebida, apenas oito mesas mais adiante.
Eu o encarei por um momento, quase esquecendo que Chuck estava lá.
-Pierre, volte para o planeta Terra, por favor. – Chuck disse calmamente e eu o olhei. – Você está prestando atenção agora? – eu assenti, então ele disse: - Você quer ir fazer comprar, para acabar logo com isso, e sair depois?
Eu balancei a cabeça e olhei para David.
-Só um minuto. – disse, bebendo minha bebida e pensando em várias formas de me aproximar dele.
-Você viu alguém, não viu? – Chuck perguntou, sabendo a resposta. – Onde ele está? Quão gostoso ele é?
Virando-me de volta para ele, eu assenti, minha mente em outro lugar: - É. – falei. – Eu não vou voltar. – eu dei um tapinha em seu ombro, então me levantei e caminhei até onde David estava sentado, ainda lendo seu livro. Eu parei ao lado de sua mesa e ele olhou para cima. Eu lancei o sorriso mais suave e sedutor que eu pude. Mas ele olhou de volta para seu livro.
-Olá. – eu disse na minha voz mais sexy, o que não era muito difícil.
Ele assentiu: - Ei.
Eu conhecia esse jogo e sabia como jogar. Ele ia ser recatado, como se ele não se importasse, apenas para ver se eu era capaz de agüentar e, então, ele iria embora comigo se eu conseguisse: - Eu já te vi antes? – eu perguntei.
Ele deu de ombros, os olhos ainda no livro.
Mas eu continuei: - Eu acho que devo estar louco, entretanto, por que eu duvido que eu não teria te notado, se já ficamos no mesmo cômodo. – disse. Eu pensei que essa era uma boa cantada, mas era mais verdade do que algo que eu peguei de uma revista.
Um 'hmm' deixou sua boca, mas seus olhos ainda não se desviaram do livro.
Certo, isso exigia um pouco mais de trabalho. Felizmente, eu estava preparado: - O que você está lendo? Honestamente, eu acho que você é do tipo que lê biografias. – disse. Ele me olhou brevemente, então ergueu seu livro para me mostrar a capa. Era a biografia de Andy Warhol. Sorri. – Bem, eu estou um por um. Posso tentar dois por dois?
-Não estou interessado. – ele falou.
Isso veio como surpresa. Então, ele não estava 'jogando'? Eu ri levemente, como se isso não me incomodasse um pouco. Eu sabia que podia fazê-lo dizer 'sim', entretanto, mesmo que com um pouco de dificuldade.
-Se você me falar quantos anos Warhol tinha quando ele pintou aquela lata da sopa, eu te digo quantos anos eu tinha quando meu pênis alcançou vinte centímetros.
Então, ele fez algo que me surpreendeu ainda mais, desde que Chuck era o único que fazia isso comigo: ele rolou os olhos. Eu estava bastante confuso. Todo mundo teria cedido com qualquer uma coisa das minhas cantadas (embora, eu tenho que admitir, a última não fosse uma das minhas melhores). Por que ele não cedeu? Isso era... Desconcertante. Por que ele me recusou? Isso era muito para compreender. Inferno, isso sequer era possível! Ao menos, eu não achava.
Bem quando eu estava prestes a dar outra cantada, mais alguém andou até a mesa. Um cara de cabelo castanho com um óculos de aro fino e uma camiseta do Rolling Stones.
-Eles não tinham hambúrguer vegetariano, então eu te comprei uma salada, como você queria... – assim que ele colocou a bandeja na mesa, ele apontou para mim. – Quem é esse, David? – ele soava amigável e eu notei um sotaque irlandês.
David colocou seu livro sobre a mesa e se levantou: - Ninguém. – disse, dando um beijo nele. Oh. Eu não precisava de nenhuma outra dica. Antes mesmo deles se afastarem, eu assenti e me afastei, sentindo-me estranhamente embaraçado.
Chuck não estava mais na praça de alimentação, então eu tive que pensar em lugares que ele estaria. Bem, ele iria fazer suas necessidades primeiro, o que significava que ele estaria na loja de estoque mais próxima. Eu verifiquei lá primeiro e o encontrei olhando para canetas, dois cadernos já em suas mãos.
-Ei. – eu disse, colocando minha mão em seu ombro.
Ele olhou para mim, assentiu e disse: - Ei. – então, ele pareceu registrar que era eu e se virou completamente. – Espere, o que você está fazendo aqui? O que aconteceu com David? – ele soava tão confuso quanto eu me sentia, desde que isso nunca aconteceu.
Eu suspirei, mas ainda tinha aquele ar feliz e confiante de 'nada pode dar errado, está tudo legal'.
-Mudança de planos, Chuck. – eu disse. Então, Chuck me deu aquele olhar de 'eu preciso saber o que você está tão obviamente escondendo, Pierre' e eu sabia que não conseguiria manter uma charada por muito mais tempo. Eu franzi o cenho e desviei o olhar, minha mente ainda trabalhando furiosamente para livrar-se da confusão. – Ele me rejeitou. – isso soou tão estranho dessa maneira.
Mas Chuck riu, então eu olhei para ele: - Desculpe. – ele disse. – É trágico, mas quero dizer... Já estava na maldita hora.
Eu dei de ombros, enquanto ele pegava um maço de lápis pretos e continuava a andar. Eu tentei entender a situação com David, mas ainda não conseguia acreditar. Era estranho até pensar isso: Ele me rejeitou.
