Notas: História escrita para a Quinzena Saint Seiya Poseidon, um desafio promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal.

Esta história ocorre logo após o final do anime (saga de Poseidon). Saint Seiya, é claro, não pertence a mim e eu não lucro nadinha com isso. Nem se quisesse também poderia vender isto aqui, quem compraria!

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Olho Azul Apresenta:
Liberdade e Medo

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Capítulo 1 - A Nova Vida de Canon

Canon olhou para a gaveta à sua frente e então para a senhora que lhe estendia uma nota. Não havia troco. Não havia nada em caixa. Nem mesmo umas moedas pequenas. A loja também estava basicamente tão vazia quando o caixa.

- Eu sinto muito, não temos troco.

A decepção no rosto da senhora foi nítida, mas não havia o que fazer. Nenhum deles queria perder dinheiro ali e, por isso, o caixa continuou vazio com a saída da cliente.

Mais de uma hora depois, Petros retornou com um sorriso vitorioso e mais algumas verduras para sua pequena loja. Canon não se esforçou para lembrá-lo que àquela altura o dia já estava quase no fim e que se ninguém viesse, aqueles produtos estragariam até o dia seguinte. Não havia o que fazer, Petros era um típico otimista que trabalhava duro dia após dia, certo de que as coisas só podiam melhorar.

- Não há mais para onde ir quando estamos no fundo do poço, ficar parado é prejuízo, Canon! – dizia sempre que o outro tentava dar algum palpite sobre os negócios.

- A menos que haja um alçapão.

Mas Petros apenas ria da lembrança e uma vez lhe respondeu?

- Que tal não perder tempo olhando o que nem deve estar ali e apenas voltar a escalar? – sugeriu.

Para a surpresa de Canon, aquele jeito de seu benfeitor o salvara mais do que a acolhida que Petros ofertava desde o dia em que se conheceram.


Poseidon acabara de ser selado por Athena, quando Canon se viu um homem livre. Inicialmente, o sabor da derrota deixara-o desnorteado, mas assim que ele sumiu, Canon se percebeu livre após muitos anos do cativeiro que seu irmão lhe impusera e do qual derivara uma sucessão de eventos que, apesar de evitáveis na aparência, não realmente o eram para o cavaleiro de Athena.

Agora sim, Canon não possuía nada que o prendesse. Ele poderia ir aonde quisesse. Mas para fazer o quê? Para quê? Foi após vagar em direção à Grécia que, não muito longe do Santuário, encontrou um comerciante de cabelos negros e pele bronzeada, cujo nome era Petrus. O jovem aceitou que Canon ficasse em sua casa pela noite em troca de uma ajuda com um reparo na casa onde ele tanto morava quanto praticava sua atividade.

Petrus lhe perguntou algumas vezes sobre seu passado, mas Canon não sabia como contar a própria história. Ele não se lembrava bem dos pais que o deixaram com o irmão gêmeo no Santuário. Ele não queria falar de Saga, por razões óbvias. Ele não tivera nada na vida além de suas ambições de ter mais.

Intrigado com o visitante, Petrus insistiu que ficasse mais um dia. Mais um. Só mais um para que ele pudesse fazer uma viagem curta sem ter que fechar sua loja. Uma semana, um mês... Um semestre depois e Canon não se considerava mais um agregado, mas um empregado de Petrus em troca de casa e comida. Não, empregado dizia muito pouco daquela relação quase familiar. Canon se importava com aquele homem de uma maneira um tanto curiosa.

- O que acha de tirarmos umas férias no litoral? – sugeriu Petrus poucos dias depois. Os dois estavam se preparando para dormir no pequeno quarto que dividiam um beliche.

- E a loja?

- Uma irmã minha sempre vem aqui nessa época do ano e toma conta pra eu descansar. É assim desde que minha morreu seis anos atrás.

- Eu poderia ficar aqui enquanto você vai. Sua irmã também merece férias.

- Mas, Canon, eu já reservei tudo!

Canon o olhou com as sobrancelhas quase juntas.

- Eu não tenho dinheiro para pagar.

- Considere isso suas férias remuneradas! – Petrus sorriu.


Canon não sabia de onde saíra o dinheiro para pagar as despesas daquela viagem. Havia pouco o que fazer com o que sobrara, mas os dois conseguiram aproveitar cada dia daquelas duas semanas, viajando pelas ilhas gregas.

Era estranho ver o mar. Parecia fazer anos desde que ele o observara da praia, recém-saído do reino de Poseidon. Ainda assim, custaram-lhe apenas dois ou três dias para esquecer a sensação e simplesmente valer-se da companhia de Petrus. Naquela viagem, ele lhe contou várias vezes de como era próximo da mãe e de como não sabia o que fazer com a loja após sua morte.

- Eu não achava que a assumiria, - disse uma noite, enquanto jantavam. – Confesso que até aquele ano eu ainda pensava em ser... – Sua voz sumiu e ele bebeu mais alguns goles.

Canon o incentivou que continuasse agora que começara.

- Vamos, você, logo você! Você vai rir de mim. Vai rir muito! – Petrus já estava com o rosto todo vermelho e prendeu os cabelos com uma fina fita escura.

- Não é como se você houvesse virado o que seja. – Canon terminou o bife que comia e tomou um gole do vinho barato à sua frente.

- Quando eu era bem garoto, um moço passou na vila. Havia um grupo muito malvado que nos assaltava quase todos os meses, bastava nos recompormos que eles vinham. Minha mãe quase perdeu a perna em um desses ataques enquanto eu só podia chorar que eles a deixassem. Não estavam fazendo nada sexual, não. Eles estavam com um pedaço de madeira e batiam com força nela, porque minha mãe não tinha tanto dinheiro quanto eles pensavam.

- E esse moço a salvou?

- Mais que isso. Ele salvou a vila inteira. Uma pena haver sido um pouco tarde. Éramos bem prósperos antes, mas tanto tempo com aquele bando nos assaltando e os comerciantes se mudaram em massa. Talvez, por isso, ninguém se lembre muito desse herói, mas eu sim.

- Então, você quer se tornar... um herói? – Canon não riu, mas também não escondeu o sarcasmo.

Petrus mostrou um sorriso amargo.

- Enquanto ele colocava os curativos na minha mãe, nós conversamos um pouco. Eu falei que queria ser exatamente como ele, perguntei se me aceitaria como discípulo. Minha mãe, claro, soltou uma exclamação na mesma hora apesar da dor. Então, ele me disse que quando minha mãe estivesse melhor, eu poderia procurá-lo e me tornar seu discípulo. Quem sabe, um dia, ser um...

- Cavaleiro de Athena, - Canon completou para a surpresa do outro.

Petrus falara o final daquela história com os olhos embaçados, como se contemplando como sua vida seria caso houvesse seguido o que aquele cavaleiro dissera.

- Mas por que não o procurou, então? – perguntou Canon, antes que Petrus se desanimasse a contar tudo.

- Bem, custou meio ano para que minha mãe conseguisse andar novamente. Logo depois, minha irmã se casou e aí éramos apenas nós dois aqui na loja... E eu era uma criança, né? Não podia ir sozinho a sei lá onde era esse tal Santuário, onde ele morava.

- Desculpas. De criança que é bom, aprende sem ficar questionando isto ou aquilo.

- Ah, é? – Petrus pareceu um pouco perdido. – De toda forma, agora estou um pouco velho para ficar forte. – Ele levantou a camisa e mostrou os ossos. – E magro demais.

- Isso é. Se seu sonho era virar cavaleiro, pode esquecendo. Além do mais, não vale a pena. Virar cavaleiro e o quê? Matar os outros? Você sabe que a vida de um cavaleiro é servir de peão nas batalhas de Athena com outros deuses, né?

- E de um comerciante? Vender o almoço para pagar a janta? Se um grupo daqueles voltar, eu não poderei salvar nem a mim mesmo. E não sei se teríamos a sorte de o senhor Shion passar de novo por aqui.

Os olhos de Canon aumentaram assim que o nome do falecido cavaleiro de Áries foi pronunciado. Então, esse era o grande herói de Petrus? Aquele que Saga matara após uma provocação dele próprio? Apenas um nome fora capaz de fazer suas mãos tremerem.

- Você tá bem? – ouviu de longe a voz de Petrus lhe perguntar.

Canon ainda tentou fazer que sim com a cabeça, mas o outro já se levantara declarando que a noite estava encerrada.

Continuará...

Anita


Notas da Autora:

Típica fic em que eu acabo me perguntando onde fui amarrar meu burro. Mas a verdade é que o Canon sempre foi um personagem que me encantou desde suas primeiras aparições no reio de Poseidon, por isso não podia perder a oportunidade de escrever sobre ele.

Já sei que não receberei comentários, não recebi nem na comunidade em que postei primeiro. Fazer o quê, né? xD Então só espero continuar a contar contigo para o próximo capítulo ao menos.