silêncio.


i can't my eyes off of you.

não sabia o que lhe havia despertado, de repente, tamanho sentimento. no entanto, a verdade é que aqueles olhos azuis - mistura de céu, mar e perfeição -, puxavam a sua atenção com uma força impressionante. e, devido às trocas de olhares, conheciam-se fisicamente. sabiam da postura uma da outra; aliás, ela sabia da postura da loira de longos cabelos ondulados que teimava em roubar a sua curiosidade, mas não sabia se ela saberia como pintar o seu retrato, a imagem hipnotizada e confusa da sua, secretamente, admiradora.

subitamente, as pessoas davam por ela a sorrir. a sorrir, a rir. havia algo de novo nela, alguma coisa tinha acontecido ou aparecido na sua vida. e, de facto, tratava-se de isso mesmo - de algo novo e inexplicável.

com as pálpebras a cobrirem-lhe as íris castanhas, ela pensava na beleza que constituía aquela misteriosa criatura tão distante. com os toques dos dedos nos seus lábios, tentava ler nas, pequenas e quase invisíveis, rugas o caminho que o seu destino havido decidido tomar - contudo, tudo permanecia na dúvida e no mundo dos porquês.

não conseguia entender o quão mudara, nem sequer sabia dizer se seria para sempre.

estava, somente, na (quase) certeza de que todos os dias que compunham tamanho sentimento seriam horas e minutos de sorrisos tolos e rasgados, e de olhares quentes e viciantes. sim, porque viciava; olhar naqueles pequenos globos de misturas violetas, era a droga que ela precisava de consumir a todo o instante. nada bastava, mas aquele toque de clemência tinha-se tornado o necessário para a sua sobrevivência, apenas porque sim.

i can't take my mind off of you.

mirava o chão enquanto reflectia sobre a melhor maneira de actuar em seguida; ergueria a sua cabeça para perder-se de novo naquele misto de cores intensas? ou recusaria uma terceira, quarta, quinta trinca no fruto proíbido?

olhou. e caiu em profundo transe; à sua volta, nada mais era concreto. nem mesmo aquelas orbes que, unicamente elas, saciavam a sua sede - por fracções de segundo. mas isso não a deitava em profundo sofrimento; doía, mas não se tratava de um gume de faca afiada a penetrar cada camada da sua pele na zona do seu coração. tratava-se, sim, de uma obra prima envolta na arte de umas mãos artísticas. obra tal que a essência da ganância tornava-se forte demais para aguentar ficar de pés colados no chão. sem tocar. sem pegar. sem saber. sem conhecer.

embora a dor tivesse uma capacidade estúpida de ser tão instável, ela permitia-se viver apenas daquela miragem. não queria pensar sobre a bonita ilusão com que todas as noites se cruzava ao andar pelas areias do seu deserto.

era ela. ela estava ali. ela via os seus olhares amantes. ela parecia retribuir, veemente, olhares tal. e isso bastava.

o silêncio, que reinava os diálogos entre ambas, era suficiente.

and so it is.


. música: the blower's daughter - damien rice.

summersandy.