Vacilo
Fora fraco. Por muito tempo, e por tantas vezes, deixara-se levar pelas circunstâncias. Não punha motivos em suas ações, permitindo que os acontecimentos, por si só, estabelecessem sua vida. A carta que recebera de Hogwarts causara sua ida à escola, por que ele jamais defendera essa oportunidade. Era como se, de fato, nunca tivesse defendido a si mesmo, ou julgado que sua vontade merecesse ser respeitada.
Ocultava-se na escuridão de casa, da escola, da mente. Quando os pais brigavam, não ouvia a própria voz, era desespero. Acuado pelos grifinórios todas as vezes, sentia-se covarde. Em raríssimas oportunidades invocava seus instintos vingativos – apenas quando seus planos estavam minuciosamente planejados e não havia risco algum de falhas; envergonharia-se ao extremo caso fosse surpreendido no ato.
Sendo infalível, aconteceu. À primeira vez, através da diretora da Grifinória, Minerva McGonagall, seu novo feitiço fora descoberto, assim como a utilização que Snape dera a ele. Não se manifestou; acreditava – em confusa ciência – não ter razão. Sim, ela estava certa, sim, aquele era um comportamento inadmissível, sim, ele não podia usar artes das trevas contra os outros colegas novamente. Sua boca sequer cogitou pronunciar escusas; não era de sua natureza falar ou admitir erros. Tomou, daquela vez, para si a culpa – injustificadamente, não recebera pena. Daquele dia em diante, redobrou os cuidados em ordem de não ser mais surpreendido.
Seus experimentos secretos poderiam ser descritos como rituais sacrossantos se uma comparação trouxa fosse inevitável. Seguiam, pois, regras e costumes por ele mesmo instituídos. À primeira – e mais importante – lei era não depositar em ninguém sua confiança – e não se permitir ser observado por bruxo algum.
Ele, entretanto, se dissimulando entre paredes e capas, observava. Eram seus os dois olhos brilhando na escuridão, observando os quatro rapazes que se aproximavam dele e da Floresta Proibida. Já ouviram aquele causo e não mais julgava coincidência o fato de tais incursões no Salgueiro Lutador ocorrerem em noite de Lua Cheia.
"Lupin é um lobisomen", repetiu para si mesmo, em um murmúrio. A voz soou-lhe mas alta do que na noite em que descobrira esse segredo. Isso porque agora, solitário em meio à floresta, poderia fazer-se ouvir.
Essa afirmação carregava muito mais implicações do que outrora pudera supor. Uma vez, temera. Não a criatura das trevas que o colega se transformara, mas o que esse fato poderia representar. Há tempos convencera-se que não sentia medo – e que a distância era mantida apenas por prudência.
Cogitou encerrar as aventuras daquela noite no mesmo momento, retornando ao castelo e ao dormitório. Um curto movimento, não longe dali, de James Potter virando-se para observar a árvore próxima, o obrigou a manter-se escondido. Em seu ato, havia uma urgência que não encontrava razão.
Em um instante, julgou que a escuridão da noite não era suficiente para ocultar sua presença, necessitava de um ambiente que lhe garantisse algum reconhecimento e familiaridade. Com a varinha em punho, correu para não ser visto ou para que, se fosse visto, não o identificassem. Correu até refugiar-se em outra escuridão, a das masmorras.
