Brutalmente Quebrado

Parte I

By Misako Ishida

***DEZEMBRO***

- Não consigo acreditar que eles compraram tudo isso. – disse Mimi espantada olhando para a mesa. – Quanto você acha que eles conseguirão beber antes de entrar em coma? – perguntou para Sora.

A ruiva riu. – Eles estão apenas empolgados. São nossas últimas férias antes da formatura.

- Eu sei... Mas, olha para isso!

Nesse momento, Hikari e Miyako entraram na cozinha com mais sacolas.

- Não me digam que isso é bebida! – exclamou Mimi.

- Não, isso é carne! – respondeu Hikari.

- Para o churrasco. – acrescentou Miyako.

- Daisuke e Ken estão trazendo o resto das bebidas... E Yamato e os rapazes da banda irão trazer mais bebidas e mais carne quando chegarem à noite. – explicou a Yagami.

Sora e Mimi se entreolharam. – Não vai sobrar nenhum vivo para contar história. Escute bem o que digo.

As meninas começaram a rir. Após organizarem tudo, os meninos apareceram na cozinha. Taichi pegou algumas cervejas para que eles brindassem pelo inicio da viagem que seria a mais inesquecível de suas vidas. Os mais velhos, que estavam em seu último ano escolar, decidiram comemorar as últimas férias de suas vidas escolares de um modo, como chamou Taichi, épico. Akira ofereceu a casa de campo de sua família, que ficava num vilarejo longe de Odaiba. A casa ficava afastada da cidade e, por isso, ficariam totalmente à vontade.

A casa possuía três andares. No térreo ficava a sala de estar, a cozinha e dois banheiros. Além disso, tinha uma varanda grande com sofás cheios de almofadas e uma piscina. No andar superior ficavam os quartos. Haviam cinco no total e eles se dividiram entre si para se acomodarem. No último andar, ficava o terraço espaçoso que tinha uma churrasqueira e uma bela vista para floresta ao redor. Próximo à piscina havia um pequeno chalé, com um quarto e uma sala. A paz reinava naquele local.

Até o momento em que alguém ligou o som. A música dançante e animada preencheu cada canto da casa. Daisuke, Taichi e Ken se encarregaram de levar bastantes bebidas para o terraço, enquanto Joe e Koushiro se encarregavam de acender a churrasqueira. Em pouco tempo, todos estavam dançando e bebendo.

O frio característico do inverno não os desanimou. A neve que caíra no dia anterior dava um toque nostálgico ao lugar e fazia o clima mais acolhedor. Todos estavam animados, sem exceção. Tudo o que queriam era aproveitar aqueles preciosos momentos entre amigos. Passariam alguns dias juntos e aproveitariam para comemorar o natal. Já estavam quase todos reunidos e a alegria era contagiante.

Yamato e Takeru chegaram ao anoitecer. Tiraram as coisas que estavam no carro do mais velho e em pouco tempo já estavam reunidos com os outros no terraço. As meninas dançavam alegremente enquanto os meninos conversavam e bebiam.

Já passava da meia-noite quando Akira, Sasuke e Yoshi chegaram.

- Vocês estão atrasados. – comentou Takeru.

- Yoshi se perdeu no caminho. – delatou Akira rindo. – E enquanto ele estava perdido tentando encontrar a estrada certa Sasuke e eu estávamos bebendo. – completou.

- Está explicado porque tanta animação. – disse Joe.

Os rapazes cumprimentaram a todos e foram até onde as meninas estavam dançando. – Uau... – exclamou Akira. – Cara, não é por nada, mas Takenouchi e Tachikawa juntas, dançando desse jeito... É uma visão do paraíso. – comentou.

- Você não perdoa, hein Akira. – ressaltou Daisuke de forma brincalhona.

- Taichi e Joe que nos desculpem. – começou Sasuke. – Mas, devemos sempre falar a verdade e apreciar mulheres bonitas.

Os rapazes continuaram rindo e brincando. As meninas estavam animadas demais para parar de dançar. Sora e Mimi já haviam bebido bastante também, mas não estavam tão bêbadas quanto os garotos. Quando seus pés não aguentavam mais, sentaram-se próximas à churrasqueira.

Taichi abraçou Sora pelo ombro e ficou em pé ao lado dela. A conversa dos garotos ainda continuava.

- É meio injusto... Tem quatro casais aqui! E nós pobres mortais descomprometidos temos que ficar chupando o dedo. – reclamou Akira.

- Você reclama demais. – sugeriu Joe.

- Pense bem, Kido quase sensei. Aquela garota ali – apontou Akira para Mimi. – que estava dançando provocativamente junto com a sua amiga ruiva aqui – apontou para Sora. – não possuem consideração nenhuma por nós. Simplesmente, iremos admirar os corpos perfeitos dançando e depois o que acontece? Elas irão para o quarto com seus namorados. E nós ficaremos aqui, frustrados, enchendo a cara.

- Por que você não trouxe suas garotas então? – falou Taichi.

- Porque ninguém me falou que eu poderia trazê-las. – disse jogando as mãos para o alto.

Em meio às piadas da roda de amigos, Taichi levantou-se para ir buscar mais bebidas. Sora o seguiu. Eles namoravam há dois anos e Sora dizia que ele era o amor de sua vida. Era apaixonada por ele desde há muito, quando acreditava que ele seria eternamente seu amor platônico. Um belo dia, ele acabou por se declarar à ela, explicando que sentia algo mais por ela e que não queria apenas ser seu amigo. Seu coração transbordou de felicidade, pois seus sentimentos eram correspondidos. Seu namoro não agradou muitas pessoas. Várias meninas da escola ficaram com ciúmes. Taichi era o capitão do time de futebol e, em consequência, era muito popular. Era constantemente assediado pelas garotas, até mesmo quando todos sabiam que ele era comprometido com ela.

Seus pais também não fizeram graça de seu relacionamento com o moreno. Apesar de o conhecerem desde que ele era um garoto, era esse exatamente o motivo pelo qual o desaprovavam: o conheciam perfeitamente. Conheciam seu lado despreocupado da vida e a pouca propensão a assumir responsabilidades. Contudo, para Sora, ele tinha mais qualidades do que os defeitos que seus pais apontavam. E fora isso que a se deixou levar. E se arrastar... Num relacionamento com o seu amigo de infância, seu amor platônico.

Ao chegar à cozinha, a ruiva puxou o moreno para beijá-lo com desejo. Sua vida sexual com Taichi era simples, não costumavam viver grandes aventuras e quase não ficavam a sós. Contudo, Sora tinha vontades e essas aumentavam quando bebia.

Gentilmente, o moreno segurou as mãos da garota. – Sora, aqui não.

- Por quê?

- Alguém pode aparecer. – disse simplesmente.

- Bom... Essa é a graça. Alguém pode aparecer. – disse rindo.

- Melhor não. – disse se afastando.

Sora ficou olhando para ele incrédula. Apesar da personalidade expansiva e aberta, Taichi era reservado quando se tratava de sexo. Chegava a ficar espantado com as ousadias que sua namorada tomava às vezes. E quase sempre as recusava.

Estava frustrada e inquieta. Seu corpo formigava de desejo e fora bruscamente rejeitada. Ficava se perguntando até quando Taichi se comportaria como um garoto. O amava. O bastante. Mas detestava quando era rejeitada. Deixou o moreno sozinho na cozinha e subiu para o terraço com raiva. Ao chegar puxou Takeru e Akira para dançar com ela, tentando se animar novamente.

Mas, droga! Aquele fogo queimava por todo seu corpo. E se intensificava. Precisava de uma via de escape. Pensou que dançar lhe acalmaria os hormônios, mas não adiantara. Um tempo depois, Yamato estava ao seu lado. Ele era seu melhor amigo e sempre vinha em seu socorro quando precisava de ajuda. Por um momento imaginou que ele talvez pudesse lhe ajudar naquele momento, rindo por dentro com o simples fato. O álcool já tinha lhe afetado muito. Estava até mesmo a ter ideias delirantes.

Sentiu a mão cálida do loiro em sua cintura e continuou a mover-se conforme o ritmo da música. Era sensual e provocante. Mas Yamato era seu amigo. Por sua vez, Yamato estivera observando a ruiva desde mais cedo. Cada movimento daquele corpo o enlouquecia. Eles eram amigos apenas porque a ruiva havia escolhido Yagami. Ishida nunca escondeu seus sentimentos e ela os conhecia perfeitamente. Não existiam segredos entre eles.

Todos pareciam concordo que Ishida era o cara perfeito para a ruiva. Exceto, é claro, ela mesma. Yamato não conseguia compreender o que acontecia com ela, pois independente do que Taichi fazia, Sora parecia totalmente enfeitiçada e cega. Não conseguia enxergar como aquele relacionamento a sufocava. O quanto Taichi não era tão bom quanto ela imaginava. Os dois costumavam serem amigos, até o dia em que ele tomou Sora para si.

Um dia, Yamato admitiu para Yagami que estava apaixonado pela ruiva. E no outro, Taichi havia se declarado para ela e lhe prometido o mundo. Foi o dia em que o loiro considerou que o moreno era um verdadeiro traidor. Duvidava que ele realmente gostasse dela. A verdade era que sempre existiu aquela rivalidade entre eles, que sempre esteve acima de sua amizade. Para Taichi era necessário vencê-lo em tudo, em qualquer coisa, em qualquer aspecto. E ter a ruiva foi um deles. As atitudes dele confirmavam suas suspeitas, contudo cada vez que tentou dizer a verdade para Sora, ela não acreditava e, com o tempo, descobriu que isso apenas os afastava. Dessa forma, passou apenas a cuidar daquela garota que ocupava seu coração, seus pensamentos e sua vida.

Percebeu o estado em que ela estava. Com aquela expressão de decepção e tristeza que sempre aparecia quando estava frustrada (ou "rejeitada" quando se tratava de seu namorado). Ela havia sido deixada na mão. Yagami idiota. Se fosse com ele, não deixaria de aproveitar essa oportunidade. Colocou o copo sobre a mesa e foi ao encontro da ruiva. Ele não era Yagami, por isso não desperdiçaria uma oportunidade. Estava nítido nos olhos dela, aquele fogo pelo qual queria ser queimado. Pegou-a pela mão e a puxou para outro lugar.

- Onde você está me levando? – perguntou a ruiva quando estavam descendo a escada externa que levava ao térreo.

Yamato andou até chegar à porta da casa da piscina. Ele não gostava de barulho e agito, portanto, havia levado suas coisas para lá, para aproveitar o silêncio e a solidão que aquele lugar lhe proporcionaria quando estivesse cansado de estar naquele meio. Abriu a porta e entraram. Tomou os lábios da ruiva repentinamente enquanto tocava o corpo quente e macio, sem dar espaço para que ela tivesse outra reação que não fosse correspondê-lo.

- Yamato? – questionou Sora entre o beijo.

Ele não respondeu. Apenas continuou beijando-a. Mordiscou o pescoço até chegar ao ouvido. – Se você não quer, não te impedirei de ir.

Mas o problema era que ela queria. E foi ali que permaneceu. E foi incrível. Yamato lhe fizera coisas incríveis. Seu corpo estava em êxtase. Sabia que se arrependeria disso assim que todo aquele álcool deixasse seu corpo. Mas naquele exato momento, em que era tomada com ardência e paixão deixou de pensar nas consequências.

Queria sentir aquele corpo másculo, forte e delicioso. Yamato tinha um porte físico forte e atlético para um rapaz de 18 anos. E queria aproveitar todas aquelas sensações. Deixou-se levar pelas carícias e pelos beijos e pelos toques. Apesar da noite gélida lá fora, do lado de dentro estavam a experimentar o mais quente e intenso momento.

Yamato era excelente amante. Sabia conduzi-la e apreciava ser conduzido. Isso possibilitou algo que a ruiva desejava a muito tempo: realizar suas fantasias. Aproveitaram cada canto daquele chalé e Sora pode viver aqueles desejos que a tanto queria experimentar. Surpreendia-se com o fato de que Yamato aceitava cada um deles com prazer, literalmente, sendo que acabava por aperfeiçoar ou até mesmo melhorar cada um deles.

A noite havia se tornado, de repente, curta. Ela não queria que o tempo passasse. Queria que tudo ficasse congelado e que somente eles continuassem a se mover no mundo. Não queria pensar no depois, queria sentir o agora. Sempre soube que o loiro possuía suas aventuras de uma única noite, coisa que passara a acontecer desde que ela havia rejeitado sua confissão. E, no fundo, sentiu raiva de todas as outras que puderam apreciar aquele corpo, aquele toque, aquele beijo, aquela boca, aquela mão... Aquele homem.

XxXxX

Acordou com uma terrível ressaca. Pela janela percebeu que já havia amanhecido. Dormira mais do que esperava. Levantou-se com cuidado para não acordar o loiro e se arrumou. Precisava urgentemente de água. Ao entrar na casa percebeu que a mesma estava em silêncio, o que indicava que seus amigos estavam dormindo. Ao chegar à cozinha começou a arrumar um pouco da bagunça. Quando tudo estava limpo viu que ainda eram dez horas. Preparou um café bem forte e ajeitou a mesa para o café da manhã. Estava fazendo o possível para não pensar sobre a noite passada. Tinha medo de descobrir o que estava sentindo. E se manter ocupada era a melhor maneira.

Estava sentada tomando café quando ouviu passos. Era Yamato. Ele ficou parado na porta olhando-a de forma incomum. Sora tinha todas as lembranças claras em sua mente agora que estava a fitá-lo e, longe do que previra, não estava arrependida. Mas sentia-se mal por ter feito aquilo. Ela era a namorada de Taichi e sabia dos sentimentos que Yamato nutria por ela. Havia brincado com os dois. E não gostava dessa sensação.

- Eu espero que esse café esteja bem forte. – afirmou com arrogância sorrindo amigavelmente do jeito que fazia quando estavam juntos.

Sora sorriu e se sentiu mais calma. Pelo menos nada havia mudado entre eles. Era o que esperava. – Do jeito que você gosta. – disse estendendo a xícara para ele e tomando um gole da bebida.

Yamato se sentou perto dela e se serviu. O clima entre eles era nebuloso e um pouco desconfortável.

- Yamato... Sobre o que aconteceu... – disse depois da terceira xícara de café.

- Sora. Apenas aconteceu e não irá acontecer novamente. – falou olhando firmemente para ela. – Não vamos nos incomodar com coisas que não precisam de tanta atenção.

- Você tem razão. Mas...

- Não se preocupe demais... Senão irei achar que você se apaixonou por mim e que está confusa. – disse com sarcasmo.

Sora riu. Sim. Não havia com o que se preocupar. Estavam ambos bêbados e apenas foram um pouco longe demais. Contanto que ninguém mais soubesse tudo ficaria bem. Seu único medo era descobrir que nada ficaria bem. Não era ingênua. Por mais que o loiro estivesse alegando que aquela noite havia acontecido e não voltaria a se repetir, o conhecia perfeitamente para saber que era o seu modo de esconder e camuflar seus verdadeiros sentimentos. Negando sua importância.

Yamato sempre usava uma máscara, que impedia que as pessoas enxergassem seus sentimentos. Ele era a pessoa mais fria do planeta, com o olhar gélido, impessoal e invasivo. Porém, ela conhecia o verdadeiro Yamato, aquele por trás de toda aquela fachada de garoto mal. Ele era uma pessoa sensível, calorosa e, estranhamente, tímido. Era o lado dele que ela mais gostava. Se existisse uma palavra que pudesse descrever tudo o que Yamato Ishida era, talvez nem ela mesmo fosse suficiente. Sora o amava, não do jeito que ele queria que ela o amasse, mas o amava. De um jeito que somente ela podia entender e de uma maneira que jamais queria que ele saísse de perto dela. Ela precisava dele. Precisava do significado dele em sua vida, ainda sem explicação.

Tentou dizer a si mesma que deveria esquecer esse momento tão intimo para evitar futuros problemas. Yamato era mais importante que meros sentimentos difusos de uma noite em que estavam alcoolizados. Repetia essas palavras várias e várias vezes. Para torná-las verdadeiras. Para que fizessem sentido. E nesse momento, sentiu inveja dele, daquela postura fria e despreocupada que adotava para se defender. Queria poder ser assim agora. Queria ser indiferente, pelo menos por fora. Seu rosto era sempre muito transparente e deixava exposto à qualquer um o que sentia.

- Sora. – a voz rouca dele lhe tirou de seus devaneios. – Não vou negar para você que o que fizemos foi extraordinário. Tê-la nos meus braços foi simplesmente incrível. Será um dia que jamais poderei esquecer. E tenho certeza que você tão pouco conseguirá esquecer, pois querendo ou não isso foi especial para nós. – disse de forma que lhe desafiava a discordar de suas palavras. Mas, ambos sabiam que ela concordava até mesmo com as vírgulas daquelas sentenças. – Só que eu sei que as coisas entre nós não mudarão. Você continuará amando aquele... Cara. E eu continuarei te olhando de longe, pateticamente compondo canções românticas pensando em você. – às vezes ela ficava assustada com o modo como ele podia ser tão sincero. Engoliu seu café, desviando o olhar daquela figura ao seu lado. – Portanto, não precisamos agir como se algo tivesse de fato mudado entre nós. Onegai.

Sora abaixou a cabeça e colocou a xícara sobre a mesa. De fato, nada iria mudar. Yamato continuaria sendo seu melhor amigo. E o que sentia por Taichi continuaria sendo igual. Fora a lembrança que teria desse dia, nada mais mudaria. Ele tinha razão. Sorriu lentamente e o encarou. Ele também estava sorrindo, como sempre sorria para ela. Daquela forma que parecia estar abraçando-a.

- Certo. – disse apenas.

Yamato lhe serviu mais uma xícara de café e prosseguiram ali em silêncio, dessa vez confortável e leve.

XxXxX

Os dias transcorrem tranquilamente. Seus amigos continuavam a beber loucamente e Mimi continuava a fazer apostas de qual dos rapazes seria o primeiro a precisar de cuidados médicos. Tudo estava bem. Seus dias agitados ao lado de todos ali presentes evitavam que tivesse recordações de certa noite recente.

As coisas entre ela e Yamato estavam, felizmente, normais. Como sempre havia sido. E não precisou fazer esforços para seguir o fluxo. À noite, ele se recolhia para o chalé para ficar sozinho e todos respeitavam aquele espaço. Ninguém se atreveria de invadir a paz daquele lobo selvagem.

Naquele dia em especial, as coisas começaram a mudar. Faltavam dois dias para o Natal e a empolgação apenas aumentava. Já era tarde da noite, estava sozinha no quarto que estava a dividir com suas amigas secando o cabelo. Aquilo fora resultado das extravagâncias de Akira, o impossível.

Estavam todos reunidos na varanda do térreo, quando ele desafiou os companheiros de banda a pularem na piscina. Não soube exatamente em que momento aquilo havia virado um desafio geral, mas todos os garotos já estavam batendo o queixo dentro da água gelada. Foi quando sentiu braços tirando-a do chão e... buuuum! Estava dentro da piscina. Após a foto memorável daquele momento insano, todos haviam ido se agasalhar.

Estava distraída rindo da situação quando a porta do quarto se abriu. Não prestou muita atenção a quem era. Apenas olhou quando escutou que a pessoa havia trancado a porta. Era Taichi. O mesmo já havia trocado de roupa, mas o cabelo continuava úmido. Ele se aproximou com um sorriso no rosto. Puxou-a para seus braços e a beijou delicadamente. Ia perguntar o que ele estava fazendo ali, quando sentiu que ele lentamente tirava as roupas que havia acabado de colocar.

- Preciso me esquentar. – respondeu o moreno sussurrando em seu ouvido.

Ela sorriu e se deixou conduzir até a cama... E não deveria ter feito isso... Deveria tê-lo parado... Deveria ter inventado alguma desculpa qualquer.

Horrível era pouco para descrever aquele momento. Seu corpo não teve resposta quando ele a tocou. Os beijos que antes eram incríveis pareceram sem graça e desnecessários. Não sabia o que estava acontecendo. Talvez fosse a sensação de que alguém poderia aparecer. Mas, a porta estava trancada. Tinha amigas sutilmente compreensivas. Mas estava incomodada. Não se sentiu a vontade. E de repente, quando tudo acabara, percebeu que em vários momentos tinha pensado em sua noite com Yamato e estava comparando-os. E para seu espanto, o moreno pelo qual se dizia loucamente apaixonada, o mesmo que havia tirado sua virgindade, aquele que a fazia suspirar, estava perdendo em disparada para seu melhor amigo, que havia sido seu amante apenas uma única noite.

XxXxX

Na manhã seguinte, estava na sala aproveitando o silêncio que havia ali. A maioria de seus amigos havia saído para visitar o vilarejo, estavam entediados de ficarem ali e ao mesmo tempo já estavam ficando sem combustível (dito álcool). Estava deitada no sofá lendo um livro quando sentiu alguém mexer em seu pé.

- Ei. Você sabe que eu odeio que façam cócegas no meu pé. – disse brava. Viu o loiro rir e sentar-se no chão próximo ao seu rosto.

- E você sabe que adoro quando você está com raiva. – justificou-se.

Ambos ficaram ali, aproveitando um ao outro sem dizer nada. Enquanto Sora lia, Yamato dedilhava o violão que Sasuke havia deixado ali. Ele era considerado um gênio no mundo da música. Sabia tocar vários instrumentos e tinha facilidade em compor melodias e canções magníficas, capazes de transportar as pessoas para qualquer lugar.

Ele havia formado uma banda juntamente com seus colegas e não demorou para que se tornassem famosos. Tão famosos que em menos de um ano receberam a proposta de contrato de uma grande gravadora. Desde então, três anos haviam se passado e eles cresciam cada vez mais. Yamato num palco era uma visão maravilhosa. Ele cantava com o coração e tocava com a alma. Seus amigos também eram talentosos e era emocionante vê-los juntos. Realmente, aquele sonho em comum havia se tornado realidade e aquilo os manteve mais unidos e próximos.

Ishida havia se tornado mais sociável e mais amigável nesses anos. Não poderia dizer se era devido à imagem que tinha que manter perante a mídia e os fãs ou se realmente ele havia mudado. O que quer que fosse gostava de vê-lo mais relaxado e aberto para o mundo, apesar de que logo se trancava novamente.

- Quando retornam suas apresentações?

- Depois do ano novo. Iremos fazer alguns shows pelo país.

- Vai ficar muito tempo longe?

- Por quê? Vai ficar com saudade? – perguntou virando-se para olhar a ruiva.

- Talvez. – respondeu a mesma com certo ar de desprezo.

Yamato riu. – Não muito. Cerca de um mês mais ou menos.

Sora voltou a ler seu livro, depois de murmurar algo que o loiro não compreendeu. Ia perguntar o que ela havia dito, quando a porta da sala se abriu e Yagami entrou no recinto.

Ao ver o loiro perto de Sora, o semblante do moreno se endureceu. Ele simplesmente odiava vê-los juntos. Não falou nada e se dirigiu para a cozinha. Parecia existir um acordo silencioso entre eles que estipulava que apenas ocupariam o mesmo espaço quando estivessem cercados de várias pessoas.

Yamato acabou arrebentando uma corda do violão, o que lhe deu motivos suficientes para sair dali e voltar para o chalé. Despediu-se de Sora e se retirou. Taichi apareceu e sentou-se ao lado da ruiva no sofá.

- Sobre o que vocês estavam conversando? – questionou com raiva.

- Nada de mais. Estávamos falando sobre a banda. – Sora já havia se acostumado com o tom rude que os dois utilizavam para falar um do outro. Apesar de Yamato ser mais maduro que Taichi, nesse ponto os dois competiam para saber quem era mais infantil. E deveria admitir para si mesma que até nessas situações Yamato era mais educado e centrado.

Sentiu o moreno retirando o livro de suas mãos e o jogando no chão. Ficou brava com tal ação, tinha um apreço muito grande por seus livros e cuidava para que eles ficassem conservados. Viu como Taichi se aproximava de seu rosto para beijá-la, enquanto as mãos do rapaz percorriam sua perna.

- Taichi, aqui não. – disse meio irritada.

- Por quê? – questionou surpreso.

- Alguém pode aparecer.

- Não tem ninguém aqui. Todos estão no vilarejo. Além do mais, você não se importou com isso na outra noite quando quase arrancou minha roupa na cozinha. – disse ironicamente.

Aquilo bastou para que Sora ficasse ainda mais nervosa. Levantou-se de uma vez, empurrando seu namorado. Pegou seu livro e se dirigiu à escada.

- Então é assim? Você não quer ficar comigo porque acha que aquele infeliz vai entrar aqui, não é? – disse alto enquanto se levantava. – Que tal você ir para aquele maldito chalé para continuarem a interessante conversa que estavam tendo, hein. – gritou com todo o seu pulmão.

Takenouchi apenas permaneceu parada ao pé da escada, de costas para o moreno. Suspirou fundo e não querendo entrar numa briga desnecessária subiu para o andar superior, se refugiando no quarto.

Estava explodindo de raiva, mas não sabia o porquê. Queria ficar sozinha para tentar entender a si mesma. Antes o que mais desejava era que Taichi lhe tocasse. Contudo, isso não era mais tão prazeroso. Queria entender o que havia mudado. Sabia que o amava, pois mesmo após aquela briga ainda sentia seu coração apertado por estar longe do moreno. Precisa respirar, sentia-se sufocada entre tantas emoções controversas. Passou o resto do dia ali, trancada em sua própria confusão e solidão.

Na manhã seguinte, estava mais animada. Mesmo com as insistências dos amigos no dia anterior para sair com eles, não teve ânimos de encarar seu namorado. Ainda não tinha, mas pelo menos conseguiu estar tranquila. Ajudou as meninas a fazer a comida para a ceia de Natal. Todos estavam num clima natalino harmonioso e calmo, o que de certa forma lhe ajudou a ficar mais "calma". Tudo transcorria muito bem.

À noite, antes da ceia, resolveram trocar os presentes. Sugestão de Mimi, que estava ansiosa demais para esperar pela manhã. Em meio aos risos e diversão, se surpreendiam com os presentes inusitados e se emocionavam com os significados especiais de alguns. Sora foi a privilegiada da noite. Yamato, como sempre, lhe deu algo mais do que significativo. Seu presente estava dentro de uma caixa de madeira artesanal toda trabalhada. Dentro havia chocolate belga (o favorito da ruiva), junto à uma corrente fina de ouro com um pingo de luz em forma de estrela e o mais significativo de tudo: três rosas vermelhas, do tom carmesim pelo qual era apaixonada. Ela sabia o que aquelas três rosas diziam.

Eu te amo.

Tinha certeza que aquele havia sido um gesto inocente por parte do loiro e não uma provocação, como entendeu Yagami. O moreno, nada satisfeito com aquela declaração implícita, retirou-se da sala e se isolou na varanda, acompanhado apenas pelas doses de bebidas. Todos notaram como o clima havia ficado pesado. Porém, ninguém ousava sequer mencionar qualquer coisa que pudesse parecer irônica ou até mesmo divertida.

Fora Akira quem iniciou o agito dentro da casa, tentando levantar o humor de todo mundo. E deu certo. Formaram-se subgrupos e cada um passou a se preocupar apenas com sua própria diversão. Sora sentou no sofá depois de algum tempo, sozinha. Sua cabeça dava voltas e sentia-se um pouco enjoada. Seu propósito maior naquela viagem era se divertir, aproveitar suas férias ao lado de seu namorado e amigos. Fazer sexo com seu melhor amigo e brigar com Taichi não estavam incluídos em seus planos. Notou que Yamato se aproximava e ficou tensa. Sabia que aquela aproximação poderia ser perigosa e parecia que o loiro sentiu seu incômodo, pois passou por ela e saiu em direção à porta.

Não sabia se ficava aliviada por ele ter saído ou se ficava triste por ele não ter ficado. Estava entre a cruz e a espada. De repente, viu que alguém estava em pé à sua frente. Foi quando percebeu que ainda estava olhando para a porta pela qual o loiro havia saído. Levantou a cabeça e Taichi estava furioso.

- Vocês dois são extremamente descarados. – murmurou Taichi com um sorriso irônico. – DROGA! – jogou o copo que segurava na parede ao mesmo tempo em que gritou mais alto que a música. Todos os presentes congelaram. – Por que você não vai logo correndo atrás daquele perdedor já que está tão preocupada? A quem vocês acham que enganam? Por que não admite logo que você é igual a todas aquelas garotas idiotas que vivem correndo atrás dele? Faça um favor a si mesma e encare a realidade de que você também daria de tudo para estar na cama daquele f**** da p***. – disse aos gritos. – Uma vez mais você me decepcionou. Achei que você fosse diferente. Que você tinha opinião própria, mas não. Você não passa de uma qualquer que gosta de ganhar atenção de um cara mesquinho estragado pela fama e pelo dinheiro. Uma perda de tempo... – disse em tom baixo de modo que apenas a ruiva escutasse.

Uma lágrima solitária deslizou pelo seu rosto. Viu como Joe se aproximava para apaziguar a situação e que Mimi já corria até seu lado. Tudo o que não precisava nesse momento era de pessoas ao seu redor. Levantou-se de um salto e saiu pela porta, sem se importar em pegar um casaco.

A neve caía silenciosamente. Ouviu que a chamavam e saiu em disparada correndo, fugindo, enquanto deixava as lágrimas correrem livremente pelo rosto. Quando não escutou mais nada e não via mais nada devido à escuridão à sua volta foi que percebeu que estava tremendo de frio. Deu meia volta e seguiu o caminho para a casa. Parou diante da porta e hesitou. Tinha plena consciência de que se entrasse teria que encarar uma situação constrangedora. Não tinha muita opção, dado o fato de que o frio já estava a lhe queimar a pele. Bateu levemente e insistiu com um pouco mais de força. Continuou insistindo até que a porta se abriu bruscamente. E então Yamato se surpreendeu.

CONTINUA...