FAR WEST

Capítulo 1

AUTORA: Lady K

DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions (não venham me pentelhar). Esta história é também uma adaptação de um livrinho estilo Sabrina (não venham me pentelhar por isso tbm lol).

GÊNERO: Aventura, romance, comédia e umas cenas calientes. Eu sei q ninguém liga p/ esses avisos, MAS, fiquem fora desta fic, crianças! Não me responsabilizo por qqr dano psicológico ou moral lol Pessoas diabéticas e cardíacas, cuidado! Altas doses shipper R&M!

COMMENTS: Sim, sou eu mesmaaaaaa! Linda e morena como sempre :) Quero agradecer às reviews que recebi nesse tempão todo em que parei de escrever, especialmente de uma menina aqui do fanfic que tem o login de Marguerite. Fiquei surpresa por ainda ter gente lendo depois de taaaaaaanto tempo, fiquei nostálgica da época em que td mundo, inclusive eu, amava qdo tinha fic no grupo Casa da Árvore e vínhamos aqui para ler. Fora as escritoras anônimas, né? Kkkk Tenho consciência de q esses tempos não voltarão, mas não ligo, deu vontade de escrever e ponto. Esta fic vai ser só um aperitivo pra ocupar quem ainda lê as fics de TLW, enqto DDT4 está no forno. Então, crianças, divirtam-se!

Só lembrando que a realidade não é TLW tradicional, mas como dizem, "universo paralelo".


"Sente-se, Lord Roxton."

Lord John Roxton surpreendeu-se com o revólver apontado para seu peito.

"Esta não era bem a recepção que eu esperava, coronel Tribuno."

O oficial fez um gesto com o cano da arma em direção à cadeira, diante da escrivaninha. "Segundo suas próprias palavras, você cavalgou dois dias e uma noite para nos avisar sobre um ataque ao forte. Sem dúvida, pode fornecer os detalhes."

A única evidência do desagrado do coronel, além da arma apontada, era a frieza nos olhos. Roxton olhou para os outros três homens presentes, soldados. A expressão constrangida dos três indicava a perplexidade causada pelo comportamento de seu comandante.

Roxton aproximou-se da cadeira. Até descobrir o que se passava, aceitaria o tratamento estranho de Tribuno. Sem querer, pensou em Verônica e no que aconteceria a ela caso o revólver servisse seu propósito. A chegada tumultuada de Verônica em sua vida prenunciava uma série de complicações. Uma delas era a necessidade de se conseguir uma professora competente para educar uma jovem de 16 anos.

"Um instante. Tire a arma dele, Lawson." Ordenou Tribuno.

Roxton manteve-se imóvel, enquanto o Colt .44, que passara a usar desde a vinda para o oeste, era tirado do coldre. Não sabia quais eram as intenções de Tribuno, mas tinha certeza de que o coronel não o mataria diante de três testemunhas. Calmamente, sentou-se.

"Amarrem esse sujeito na cadeira" foi a ordem seguinte.

Roxton reclamou desta vez. "Chega, coronel. Vim procurá-lo para avisar que várias tribos estão se preparando para atacar o forte. Como já fiz isso, vou-me embora e..."

O ruído do gatilho sendo destravado interrompeu-o e Roxton voltou a olhar para a arma.

"Não gosto de amigos dos índios, Lord Roxton. Na minha opinião, eu faria um favor ao território inteiro se o matasse agora. Mas como sou civilizado, tenho que obedecer a lei. Portanto, vou prendê-lo sob jurisdição militar por ser cúmplice de índios assassinos. Agora, com todos os diabos, sente-se!"

O revolver permaneceu firme. Quatro soldados armados contra um civil desarmado não era uma situação favorável. Mas como havia sobrevivido a inúmeras batalhas na Guerra Civil e aos primeiros e perigosos meses no Território de Idaho, Roxton conservou-se tranqüilo. Sentou-se e sentiu alívio por não ter adiado as providências quanto ao futuro de Verônica. Graças a Deus, seu bom amigo e sócio, Arthur Summerlee, já havia contratado uma professora no leste para educar a moça. Como Roxton era seu tutor legal, ela não corria o risco de ficar desamparada caso algo acontecesse a ele.

Foi preciso uma alta dose de autodisciplina para Roxton se deixar amarrar em volta dos pulsos e dos tornozelos.

"Seu prazo esgotou, Lord Roxton. Quero saber já onde aqueles selvagens assassinos estão acampados."

Roxton observou a expressão intransigente de Tribuno. Embora achasse impossível convencê-lo de que nem todo selvagem era um assassino, precisava tentar.

"O povo de Ned, o Lobo da Noite, está em paz. Eles não tiveram nada a ver com o ataque às famílias do comboio de carroças. Também não tomarão parte no ataque ao forte."

Tribuno virou-se de costas e colocou o revólver sobre a mesa. Em seguida, girou o corpo, dando um murro no queixo de Roxton, cuja cabeça envergou pra trás.

"Você deu a resposta errada."

"É a única que tenho para dar" Roxton falou, ao olhar para os outros três oficiais.

"Saiam daqui e me deixem sozinho com o prisioneiro" ordenou com um olhar rancoroso.

"Coronel, o senhor acha uma boa idéia?" indagou um dos soldados, a voz insegura.

"Ele está amarrado. Não há perigo de se soltar e me fazer algum mal."

"Mas, senhor, ele veio nos avisar do ataque de Blackfeet e de outras tribos."

"Ele não quer dizer onde encontrá-las. Quero acabar com todos os homens, mulheres e crianças pagãs que infestam o território de Idaho."

"Mas Lord Roxton é o presidente do Banco Territorial" argumentou, tentando aplacar o comandante.

"Você está questionando uma ordem, soldado?"

"Não, senhor!" respondeu ao seguir os outros dois para a porta.

Quando esta se fechou após a saída dos três, Tribuno disse: "Muito bem, Lord Roxton. Agora somos só você e eu."

Roxton olhou para os braços amarrados e respondeu: "Devido às circunstâncias, o senhor deve me desculpar por não apertar a sua mão."

"Sempre com uma resposta incisiva e sagaz" o coronel resmungou, ao apanhar o revolver da mesa. "Você provoca uma impressão profunda nas mulheres, não é verdade?"

"O que?!" Roxton exclamou, certo de não ter entendido bem.

"Pirata Ardente, é assim que te chamam" acrescentou.

"O QUE?!" Roxton repetiu.

Dessa vez, sabia ter ouvido corretamente. Pirata Ardente? Por Deus, do que o homem estava falando? Ele nunca navegou pelo mar e...

"Você não sabia? É assim que as poucas mulheres honestas de Trinity Falls te chamam, quando comentam suas aventuras de alcova com mulheres de má reputação."

Perplexo, Roxton sentia como se tivesse deixado seu mundo ordenado e racional para entrar num grotesco pesadelo. Que interesse este empolado e preconceituoso oficial da cavalaria podia ter em sua vida amorosa?

"Danielle é uma delas."

A sensação de perigo dominou Roxton.

"Danielle?" ele repetiu.

"Exato. Minha lindíssima e infiel esposa. Você se lembra dela muito bem. Afinal de contas, não faz nem uma semana que a levou pra cama."

A acusação esclareceu a estranha situação. Infelizmente, também trazia a lembrança incômoda da mulher apalpando-o quando o marido estava de costas. Num tom cauteloso, Roxton falou: "Então é isso? Você acha que eu dormi com a sua mulher?"

"Não negue. Sua expressão o desmente. Vi bem como você olhou pra ela. Todos os homens a fitam desse jeito, e a desejam. Mas até você aparecer, Danielle me era fiel."

"O senhor perdeu o juízo. Não toquei na sua mulher. Maldição, só a vi umas poucas vezes e o senhor estava junto em todas as ocasiões."

Isso era verdade, exceto por um detalhe: Danielle quase lhe provocara um enfarte ao chocar-se contra ele e apalpá-lo. Roxton ficara tão atônito com o contato que, com dificuldade, reprimira uma exclamação.

Uma outra lembrança surgiu-lhe na mente. Seis anos atrás, tinha ouvido os protestos do irmão mais velho, a quem amava e admirava. Willian havia negado ter seduzido a noiva de Roxton. A diferença entre o passado e o presente era o fato de Willian ter mentido, e Roxton não.

O coronel riu com sarcasmo.

"Devo acreditar nas negativas do Pirata Ardente?"

"Não posso ser responsabilizado pela maledicência de mulheres frustradas."

"Danielle não é frustrada!"

"Não ligo a mínima para os detalhes de sua vida conjugal, coronel. Vim ao forte para avisá-lo do ataque. A tribo de Ned Lobo da Noite foi dizimada e ficou reduzida a uns poucos velhos, algumas mulheres e crianças. Eles não representam uma ameaça ao senhor. O melhor será fazer planos para enfrentar os Shoshone e os Blackfeet, que estão dispostos a guerrear."

Como se tivesse recebido um golpe, Tribuno gritou: "Não se atreva a me dar ordens, Lord Roxton!"

"Aceite-as como sugestões" Roxton respondeu, com expressão carrancuda. "Como é? Vai me soltar agora?"

"Te soltar? Você deve estar louco em pensar que eu faria isso."

Roxton sabia que um dos dois estava louco. Infelizmente, para ele, era o homem com o revólver empunhado.


Marguerite Krux enrolou as largas rédeas em volta dos dedos e as puxou com toda força. Os bois pararam, fazendo a carroça coberta estalar. Ela esticou o pescoço e vasculhou o panorama em todas as direções, mas não viu sinal algum de habitação humana na luxuriante vegetação do Território de Idaho. Também não viu o forte que, segundo informações, deveria estar nessas redondezas. Após viajar quatro dias sozinha pela trilha, calculava estar a uns noventa quilômetros de Trinity Falls, onde o novo patrão e a nova vida a aguardavam. A fim de enxergar melhor, ficou em pé.

"Alguém pode me ouvir?" gritou.

A única resposta foi o farfalhar dos pinheiros e álamos. Tolice esperar por algo mais, mas sentiu-se desapontada. Havia se enchido de esperança ao aceitar a oferta de Arthur Summerlee de um emprego como professora de uma mocinha. Um novo começo tinha parecido muito tentador. O propósito de deixar Londres havia pesado mais do que as dúvidas quanto à decisão. Com a reputação em frangalhos, sua presença no seio da família tinha se tornado constrangedora.

Não queria pensar muito na verdade dolorosa. Nenhum argumento seu tinha convencido os pais de que a filha mais nova, Adrienne, podia se casar antes da mais velha.

Marguerite suspirou e instigou os bois a continuar em frente. Estava com vinte e quatro anos e ainda não havia encontrado um homem com quem quisesse se casar. Por causa da maneira antiquada de pensar dos pais, sua intenção era encontrar um marido em Trinity Falls, na América, bem longe da hipocrisia londrina.

Talvez não precisasse se casar antes de Adrienne. Quem sabe os pais não desistiriam da atitude arcaica, caso ela ficasse noiva? Por se encontrar a quilômetros de casa, ela poderia se atrever a escrever cartas um tanto criativas. Naturalmente, não contaria nenhuma mentira. Apenas exageraria certas situações.

A roda direita da frente passou por uma vala e a carroça tremeu. Marguerite foi jogada para cima, mas caiu de volta no banco. Isso a fez pensar de novo nas circunstâncias atuais.

Sua grande aventura no oeste não estava correspondendo às expectativas. Quem haveria de supor que o comboio de carroças continuasse em frente, sem ela, só porque ela não conseguia manter a mesma velocidade dos outros? Ficara chocada com o fato do chefe do comboio não entender que ela não podia se livrar da preciosa carga, afim de seguir mais depressa.

Marguerite não guardava raiva do homem. Ele e os outros não percebiam como lhe era impossível separar-se de seus livros queridos.

No início, ela não se sentira alarmada por ser deixada para trás. A trilha era larga e bem marcada pela passagem de centenas de carroções. Havia alimentos suficientes e o rio Ruby, ao longo da trilha, fornecia água para ela e para os bois. Além do mais, o chefe do comboio tinha lhe garantido que o forte ficava perto. Tão logo o alcançasse, pediria para um grupo de soldados acompanhá-la até Trinity Falls.

Mas a solidão começava a enervá-la. Isso sem falar nos guerreiros indígenas, sobre os quais ouvira tantas histórias. Ela se sentiria muito mais segura se tivesse uma arma de fogo. Infelizmente, ela provocara um incidente no quinto dia de viagem pela trilha e o chefe do comboio tinha lhe confiscado a carabina. O homem alegara que Marguerite, de posse de uma arma de fogo, constituía uma ameaça não só para si mesma como às outras pessoas também.

Por Deus! Não podiam culpá-la por atirar no pé do Sr. Tom Colton. O homem tinha rondado seu carroção de madrugada e ela o tomara por um urso. Em sua opinião, tratava-se de um erro compreensível. Mas o Sr. Colton e o chefe do comboio pensavam de maneira diferente.

De maneira geral, as pessoas mostravam-se intolerantes com os pequenos percalços da vida, considerou Marguerite. Se não fosse por isso, ela jamais teria vindo parar no oeste. Tudo tinha começado quando um dos pretendentes da irmã fora apanhado em seu quarto com a calça abaixada. Ninguém havia acreditado que o pobre rapaz escalara na treliça, do lado de fora, a fim de oferecer uma rosa para Adrienne. Tratava-se de um mero acidente ele ter entrado na janela errada.

Nesse momento, Marguerite estava mudando de roupa e encontrava-se apenas com a camisa e os calções. Trocaram olhares assustados. Mas antes que ele retornasse para a janela, uma abelha tinha saído da rosa, circulando-o por duas vezes e entrado pela perna da calça dele.

Sem pensar, Marguerite havia puxado a calça dele para baixo e matado o inseto com pancadas, usando a escova de cabelo.

Se ao menos ele não tivesse gritado...

As visitas da mãe, inclusive a esposa do reverendo, ouviram os gritos e subiram correndo ao segundo andar. Ser apanhada semi-nua e ajoelhada diante de um homem com a calça abaixada havia sido o momento mais mortificante de sua vida.

Nenhuma das mulheres se mostrara interessada em suas explicações. Escandalizadas, foram embora e espalharam o boato mais ultrajante sobre o acidente inocente. Numa simples tarde, a reputação de Marguerite havia ficado perdida. O noivo da irmã, talvez com medo de ser forçado a se casar com ela, partira para a Europa.

Até agora, não se conformara com o fato de uma vida inteira de comportamento prudente e ajuizado, ser arruinada por uma ocorrência infeliz.

O rio sinuoso forçava a trilha a fazer mais uma curva. Ao terminá-la, Marguerite avistou uma grande construção, a centenas de metros de distância. Seria o forte? Não tinha importância. Em seu estado, até um bar seria bem-vindo.

Pessoas viviam lá.

Ao chegar mais perto, viu tratar-se, de fato, do forte. Sentiu um alívio imenso. Estava segura. Firmou os olhos e tentou ler a placa de madeira sobre a imensa porteira.

Forte Hoover.

Marguerite foi dominada pela euforia. Um a um, os músculos do pescoço e dos ombros relaxaram.

Estranhando ver a porteira aberta, parou. Nenhum homem uniformizado a observava da torre de vigia. Nenhum soldado correu para levar o carroção para a segurança dentro das muralhas. Nenhum som de ocupação do lugar alcançava-lhe os ouvidos. Sentiu um arrepio de alarme.

"Olá!" gritou, mas o vento abafou sua voz.

Instigou os bois a prosseguir em frente. A sensação de perigo, provocada pelo farfalhar dos pinheiros e dos álamos, a forçava a procurar a segurança relativa do forte vazio.

Correu os olhos pelo pátio deserto. Construções compactas, numa mistura de escritórios e habitações unidos por meia-parede, davam-lhe a impressão de um pequeno povoado, rodeado por muralhas de proteção.

Todas as portas estavam abertas.

"Olá!" tornou a gritar, mas o silêncio foi sua única resposta.

Ela mal podia acreditar que uma fortaleza deste tamanho, construída para abrigar centenas de pessoas, tivesse sido abandonada.

Desceu do carroção, lutando contra o mal-estar. Os bois estavam inquietos. Com certeza, sentiam o cheiro da água nas cisternas baixas, em frente dos currais vazios. Estremeceu ao lembrar-se de que os animais precisavam ser desatrelados a fim de matar a sede. Embora exausta, só lhe restava executar o serviço. A vida dos bois valia tanto quanto a sua.

Enquanto lidava com os arreios, admitiu que a nova vida do oeste era bem mais dura do que tinha imaginado, ao assinar o contrato enviado pelo Sr. Summerlee. Naturalmente, ela fez isso no conforto de sua casa em Londres. Como estava longe!

Quando finalmente soltou os animais, foi checar os prédios. Escritórios e residências mostravam indícios de terem sido abandonados às pressas. Gavetas abertas e remexidas, camas fora do lugar, roupas espalhadas, entulhavam os aposentos.

No escritório maior, tinha-se a impressão de que um furacão passara por lá. Mapas e papéis estavam jogados por todos os cantos. No chão, ainda via-se uma cadeira tombada e metros de corda.

Não importava o quanto estava cansada, ela precisava pensar. Que ameaça terrível havia forçado o comandante a evacuar o forte? O silêncio opressivo aumentava-lhe o nervosismo. Pela primeira vez na vida, não sabia o que fazer. Parecia loucura permanecer num lugar abandonado por um exército armado.

Com os ombros curvados, Marguerite voltou ao pátio. Ao se aproximar do carroção, mal notou uma pequena e baixa prisão de madeira. Estava cansada e com fome, combinação propícia para se tomar decisões erradas. Talvez a situação não parecesse tão feia se estivesse com o estômago cheio.

Em questão de minutos, estava acampada no centro do pátio. No inicio da viagem, ela havia aprendido os detalhes para se acender uma boa fogueira.

Para preparar os bolinhos, precisava apenas de farinha, sal, água e gordura. Pouco depois, já os fritava. A atividade deu-lhe a sensação de estar no controle da situação.

As sombras já envolviam as construções, delineadas pela luz da fogueira, e o aroma dos bolinhos impregnava o ar. Com um garfo de cabo longo, ela os virou na gordura.

"Com todos os diabos, quem é você?" A voz rouca e masculina vibrou no ar à volta de Marguerite. Ela pulou para trás e olhou pela escuridão, na esperança de ver o intruso.

"Eu te fiz um pergunta" a voz áspera disse, ralando-lhe os nervos - "Tribuno te mandou aqui pra me soltar?"

"Soltar?" Ela olhou para a pequena prisão a poucos metros da fogueira. Assustada, percebeu que, afinal de contas, não estava sozinha.

O odor da massa frita chamou-lhe a atenção. Os bolinhos estavam prestes a queimar e isso ela não deixaria acontecer. Segurando o cabo da frigideira com a ponta da anágua, tirou-a do fogo.

"Quem está aí?"

Marguerite teve a impressão de detectar um misto de desanimo e raiva na voz masculina. Depois de transferir o ultimo bolinho da gordura para um prato, aproximou-se da prisão. Ficou aliviada ao ver uma barra de metal, firmada em dois suportes de ferro nas laterais da porta. Isso impedia que o preso a arrombasse. Sem dúvida, só o mais empedernido e desprezível dos vilões poderia ser trancado numa cela tão horrorosa.

Mas ser abandonado a uma morte lenta e dolorosa de fome e sede... Seu instinto humanitário a instigou a soltá-lo. Que crime tão hediondo fora cometido para merecer tal castigo? "Assassinato" - a mente lhe respondeu imediatamente. Um assassino talvez fosse entregue a esse destino cruel.

De repente, Marguerite deu-se conta de que não era mais só responsável pelos bois, mas também pelo prisioneiro desconhecido. Se a cavalaria não voltasse ao forte, caberia a ela resolver se este homem viveria ou morreria.

"Com todos os diabos, responda de uma vez! Quem é você?" gritou a voz.

Marguerite desviou o olhar da porta para as mãos trêmulas. Por mais pena que tivesse do homem, seria uma louca se o soltasse antes de descobrir que crime ele cometeu. Também não seria sensato deixá-lo perceber que se tratava de uma mulher. Os homens se acham superiores a elas.

Tossiu duas vezes e engrossou a voz o quanto lhe foi possível. "A pergunta, moço, é: quem é o senhor e o que você fez para terminar nesta situação terrível?"

CONTINUA...