Um conto sobre homens e seus pedestais

Disclaimer 1: Essa introdução é o inicio de uma série de trabalhos de ficção que pretendem seguir o universo mostrado nos mangas (Saint Seiya, Sant Seiya - Episódio G e Saint Seiya Lost Canvas) de Kurumada, o mais fielmente possivel. Estaremos completando com mitologia grega.

Disclaimer 2: Spoiler para o manga 6 da série original do santuário. Linha temporal alternativa, permitindo que Mu se encontre com Aldebaran antes dos bronzeados chegarem. Yaoi Aldebaran x Mu incluso.

Esse trabalho não tem fins lucrativos, e não busca denegrir os direitos autorais dos verdadeiros proprietários.

Mu observava sentado as covas abertas, mas só tinha olhos para as cartas em suas mãos. O buraco, mais a direita, era fundo e só mostrava suas paredes de areia esfarelentas. Seiya dormia nas suas sombras, os olhos fechados. Não respirava, o coração não batia, e no céu o cosmos ardia fraco, quase extinto. Mas "quase", não era extinto.

Mu embaralhou de novo, inconformado, e de novo tirou uma carta: Pégasus. Era a quinta vez que embaralhava, e reembaralhava, mas por mais que fizesse, o maço só lhe entregava o signo de Pégasos.

-O que esta fazendo, Mu? Essa, essa é a carta do cavalo alado, mas o que significa isso?

Bem de mansinho o santo de lagarto se aproximou por detrás, estava molhado e suado, cheio de adrenalina cheirando por todo o corpo como um sinal de guerra, mas nada disso o faria se sentar e sujar sua armadura na areia.

-Eu não sei o que significa.-confessou - É um modo de predizer o futuro.

-O futuro? Não seja idiota, não há futuro nenhum para eles além do outro mundo.

Misty usava um tom arrogante, tinha os braços cruzados defensivo, mas no final, ele não tirava os olhos da tal carta. E pra quebrar o gelo, Mu falou:

- Toda vez que eu embaralho, essa carta sai. Quando uma carta sai, pode significar duas coisas: pode se referir a lenda da constelação da carta se repetindo de alguma forma no futúro, ou ao próprio cosmos do santo chamando sua carta gemea. Por isso é tão difícil de compreender o que as cartas dizem.

-Talvez diga que ele deve descansar?-Tentou novamente, o moço vaidoso, com alguma sombra de consideração pelo menino de pégasos.

-Você deve ter razão, Misty. O lugar dessa carta é com Seiya. Eu a deixarei sobre seu corpo.

Levantou-se então,pegou a dita carta e lá ela deslizou certeira sobre o peito do menino. Dito isso se afastou, puxando outra carta, e outra. E a cada carta que puxava, vinha na ordem: Andrômeda, Dragão e Cisne. Carta após carta ele soltou sobre os corpos mortos, até por fim ter terminado sua tarefa. Cobriu tudo depois com bastante areia e completou com cruzes bem fincadas, de modo que a maré não lavasse nem cruz, nem corpos.

Misty olhava de longe, cismado com algo. Ou o futuro estava escrito na constelação, ou era o cosmos puxando a carta. Cinqüenta por cento de chance não era desprezível, era? Mas que cosmos havia, nenhum? E no céu limpinho, constelação nenhuma se via.

Mas se podia sentir - bem no fundo do coração - o galope violento de cavalo de batalha, que podendo voar, prefere trotar aspargindo pó de estrelas de seus cascos.

-Tire uma carta para mim Mu, desejo ver meu futúro.-Pediu Misty, em tom manso e fundo, de quem tinha um redemoinho dentro de si, pronto pra tumultuar tudo. Mas Misty não era de tumultos. Seus redemoinhos eram brisas frescas perfumadas de odor natural e viril de homem-mulher. Porque mesmo sendo tão vaidoso, ele ainda era viril.

Mu aquiesqueçeu, fechando os olhos claros de estraterrestre, ser de outro plano. Lá ele embaralhou e embaralhou misturando tudo muito bem, e estendeu o bolinho bagunçado pro santo molhado. Era esperado que Misty, homem fino, delicado de gestos poéticos e espírito fino, fosse mesmérico até nos mais simples esgar de respirar. Mas fosse o vento, ou fosse a mão úmida e a prata escorregadia da luva, ou o próprio desajeitamento de aprendiz de narciso, lá foram as cartas do topo caindo na areia, voando longe pra dentro das águas.

Correram Mu e Lagarto com seu clec clec suave, pra beira da água. As cartas - eram quatro - flutuavam molhadas de água salgada e manchadas. Eram obras artesanais pintadas a mão pelo próprio Shion com misturas especiais e nankin chinês. Os nomes ainda que borrados, se liam: a carta do caçador de baleias, do santo Moisés; a carta do cão de caça, do santo de Astérion;a carta de centauro, do santo Babel;e acarta de Lagarto, e Misty a olhava pálido.

Fossem como fossem interpretadas as cartas, os borrões de sangue negro-nanquin crescente só lhes traziam calafrios.

Mu deixou as águas levarem os tesouros arruinados para o mar, e silêncioso, se afastou.

Naquela tarde o poênte se ergueria sobre quatro cruzes, que indicavam quatro sepulcros abertos, e fora e dentro dos sepulcros sete corpos seriam achados. Três santos negros em covas fundas, e quatro santos de prata sobre as areias. Em cima de seus corpos inanimados - sejá de morte matada ou incapacidade de se mecher - viam-se negras e claras as cartas dos santos de bronze.

Eram assinaturas dos assassinos e também desafios.

E era a primeira grande traição para Mu.

Quisera o carneiro, chorando sósinho sentado no topo de uma rocha, ter tido a coragem para assinar seu nome em sangue na areia.

Ele teria escrito então: "Eu o vingarei Shion!!! Não importa quanto eu espere."

Mas o tempo viria, quando ele, descobriria toda a verdade sobre o desaparecimento de Shion.

A noite caiu fria sobre o mar, e na escuridão o carneiro viajou veloz, sem sombra de lua que lhe denunciasse. Agora, traidor, ele esperava e vigiava por um futúro melhor. Para Rozan.