N/A: Pois bem... Aqui estou com uma fic totalmente... trabalhosa.

Para quem conhece Isaac Asimov, Matrix e Serial Experiments Lain, é nesse ambiente que se passa a Dreamweb. Quem não conhece, espero dar descrições suficientemente boas para que a pessoa se localize nesse mundo escuro e cinzento que é o futuro.

Bom, todo mundo já sabe que Sirius Black, Lucius e todo mundo da fic pertence à nossa aclamada J. K., sim?

Ah! E claro... Sobre o ship da fic, acho que vocês se perguntam com quem Sirius vai ficar afinal. Bem... O objetivo da fic em si não é defender um ship ou mesmo formar um. Haverá Sirius&Narcissa e Sirius&Luna (sem pedofilía, já que estamos num Universo Alternativo onde tudo é possível), mas não pretendo fazer disso o enfoque principal da fic, certo?

Aliás, sugiro que ouçam ao "Dreamweb", da dupla austríaca mind.in.a.box, pois foi com base nele que formulei a fic, e o som ajuda muito no clima da mesma.

Enfim, acho que é só. Reviews são muito bem vindos, mas só os construtivos, sim? Obrigada e enjoy!


Tape Evidence

New York City, 21 de Janeiro de 2065.

Um cachorro. Um campo escuro. Altos portões escuros, enferrujados.

O animal corria e corria, mas parecia não sair do lugar. Ouviu vozes.

Eram milhares de gritos, gemidos, lamúrias, pedidos. Milhares deles, e ele não conseguia escapar daquilo tudo. Os portões estavam fora de seu alcance.

As vozes se intensificaram, agora emergindo como tentáculos invisíveis do chão, atando-o ao vazio. Vazio.

Sirius Black acordou.

my sleeping had become restless.

I was now dreaming all the time.

dark sounds and images were haunting me, unsettling me.

there were many things from my past.

Ele pingava um suor fétido. Havia dias desde seu último banho, e ele sabia que muitos mais haviam de vir antes que tomasse outro. Na verdade, não tinha nem idéia do porque continuava naquela vida medíocre, imunda.

O mundo que se erguera fora de sua casa continuava acolhedor, em se tratando de empregos e oportunidades. Ou seria mera crença dele? Não importava.

A única coisa relevante para ele era que o futuro chegou, e seu gênio estúpido não quis acompanhá-lo. Não. Ele se prometeu controlar as rédeas da própria vida, e foi o que fez. Agora, vivia numa casa destroçada, renegada pela Nova Iorque que se erguera a poucos quilômetros dali. Para se manter, catava destroços de ferro em multinacionais e revendia para jovens que se interessavam por construir seus próprios robôs. Sim, a era da robótica havia chegado. Há muito, aliás.

Coçou os cabelos desengonçados, olhando para o dia cinzento que se estendia no lado exterior da janela de seu quarto. Ou seria a poeira na janela que deixara o dia nublado?

most of what I saw and heard I didn't understand.

but they were not only dreams, they were somehow more real...

I felt followed.

again I had fallen asleep with my headphones on.

Lembrou-se do sonho que tivera. Das vozes horrendas que ouvira, das meias palavras que entendera. Eram vozes sem face, mas que juntas formavam uma grande feição de dor. Sim, um monumento acústico tomou forma na mente de Sirius, que tentou apagar aquela imagem de sua mente.

Aquilo parecia permear seu corpo com um estranho calafrio. Olhou para o chão.

Então era isso... Havia adormecido com seus velhos fones na cabeça.

Usar qualquer tipo de fone na segunda metade do século XXI não era só cafona, como também obsoleto. Novas tecnologias agora dominavam o mercado, desde fones wireless até chips que, implantados na camada subcutânea da pele, transmitiam as ondas sonoras direto para o nervo acústico da pessoa, sendo controlados apenas pelo pensamento da mesma – ou seja, por ondas cerebrais.

Boa parte dos equipamentos se utilizava disso. Ondas.

Mas de que isso importava a Sirius? Seria um excluído digital até o fim de sua existência, e ele tinha a sensação de que esta não duraria muito mais.

the doorbell. it pulled me from my dreams.

I dragged myself to the door.

someone had left a tape on the doorstep.

"BEOW!" soou a campainha, já antiquada também. Sirius se levantou e foi, caminhando a passos largos e sem pressa, em direção à porta.

A princípio, quando abriu a porta, não se surpreendeu com o que vira: ninguém.

Era até comum crianças tocarem sua campainha só para se divertirem às custas de sua miséria. Adoravam o fato de alguém, naquela era, ainda precisar de tal tecnologia já esquecida por todos. Adoravam também como Sirius era pobre e imundo, já que em seu mundo as pessoas todas possuíam bens materiais em excesso e estavam em condições esteticamente impecáveis. Para ele, tudo bem. Não ligava para esse tipo de coisa.

Mas algo chamou sua atenção naquele dia. Não havia criança alguma ali perto para caçoar de sua imagem podre. Não. Pelo contrário... O terreno baldio, onde sua casa se encontrava isolada, conservava o ar que Sirius tanto gostava: silêncio e tranqüilidade.

Além disso, um objeto familiar, há muito esquecido, chamou a atenção de seus olhos: uma fita. Não era uma fita qualquer. Era uma fita cassete.

Ele escancarou os olhos, alisando a barba mal feita com a ponta dos dedos calejados. Não podia acreditar em seus olhos.

Quem naqueles tempos haveria de ter uma fita? E mais: quem saberia que ele ainda conservava seu videocassete intacto? Novamente, outro calafrio percorreu-o.

Pegou o objeto e voltou a se enfurnar dentro de sua casa.


Rapidamente, Sirius limpou a tela de sua televisão, ainda de tubo, de quarenta polegadas. Comprara-a na época em que ainda cogitava a possibilidade de acompanhar os avanços tecnológicos.

Feito isso, desenterrou de uma pilha, de livros e papéis mofados, uma caixa de papelão já carcomida pelo tempo, onde as letras "VHS" jaziam desbotadas. Era ele, seu maravilhoso vídeo JVC. Na época em que foi comprado era um dos melhores do mercado, se não o próprio. Para a sorte de Sirius, seus contatos pareciam ter resistido ao tempo, assim como seu cabeçote. Ele sorriu.

- Não fazem mais belezinhas mecânicas como esta – falou como se alguém pudesse ouvi-lo – Agora, vejamos o que estes pestes andaram tramando...

Ligou os cabos que precisavam ser ligados e logo estava sentado numa almofada velha, descosturada, para ver à fita.

No começo, era como um filme antigo... Havia o famoso teste de cores, onde o vídeo dispunha de várias faixas de cores distintas simultaneamente para o usuário constatar se os ajustes de cores da TV estavam certos ou não. Logo em seguida, um chiado.

Era o que faltava... Uma fita sem conteúdo algo. Ele rosnou para a fita, descontente por ter tido todo aquele trabalho e nada de algo interessante.

Mas estava enganado. Havia, sim, algo naquela fita.

Algo que, se ele soubesse, nunca teria ligado aquele vídeo.

in my head.

in my head.

I can feel them,

in my head.