Oneshot "Meds"

"I was alone falling free, trying my best not to forget

(Eu estava sozinho em queda livre, tentando não esquecer)

What happened to us, what happened to me, what happened as I let it slip

(O que aconteceu conosco, o que aconteceu comigo, o que aconteceu quando deixei isso escapar)"

Sua cabeça estava uma bagunça.

A dor era tão intensa que ele sentia ânsias, como se seu corpo estive a se revirar loucamente por dentro. Dedos se encravavam nos cabelos a ponto de arrancá-los, ferimentos sangravam manchando os lençóis – tudo era automutilação. E apesar de estar sozinho naquela casa enorme, a horrível sensação de alguém o observando não o deixava.

Estava enlouquecendo, tinha certeza disso.

"I was confused by the powers that be, forgetting names and faces

(Eu estava confuso pelos poderes que há, esquecendo nomes e rostos)

Passers-by were looking at me as if they could erase it

(Os passantes estavam olhando pra mim como se pudessem apagar isso)"

Acordou assustado. Num impulso, agarrou com força a mão que lhe tocara.

- I-idiota, o que pensa que está fazendo? M-me larga!

O som daquela voz conhecida o fez abrir de vez os olhos para encontrar sua antiga metrópole com uma expressão pouco agradável, tentando desesperadamente se livrar de sua forte força. A mão do inglês estava ficando roxa.

- Ah, desculpa. – o americano o largou. Com um pouco de esforço, ele se colocou sentado na cama. Olhou para a cômoda onde estavam seus óculos jogados de qualquer jeito ao lado de um copo d'água meio cheio. Antes que pudesse pegá-lo, o inglês já o tinha em mãos.

- Você está um caco, América. – ele disse se sentando na cama, próximo a sua antiga colônia. – Não posso deixá-lo sozinho um segundo se quer e já fica assim.

Com um suspiro exasperado, América passou a mão nos cabelos, bagunçando-os, nunca tentativa de se manter calmo.

- Iggy, não comece. Isso é problema meu. – ele tentou pegar o copo das mãos do outro, sem sucesso. – Estou com sede, Iggy.

O outro lhe olhou sério.

- Tremendo desse jeito, é mais provável que acabe se molhando todo. – Inglaterra olhou para o outro lado, incômodo. – Deixe que eu cuide de você dessa vez... c-como nos velhos tempos.

- Iggy... – sua voz era de impaciência.

- Cala a boca e toma logo isso aqui! – o inglês praticamente colocara a água garganta a baixo no americano, fazendo-o se engasgar.

Depois de uns minutos de tosse e um inglês desconsertado xingando baixinho a cada segundo diante a situação, tudo ficou em silêncio. O copo voltou ao seu lugar de origem e Inglaterra se pôs a falar novamente:

- Como está se sentindo? Melhor?

- Não graças a você. – o outro respondeu para o desgosto do inglês.

- Eu estava tentando ajudar! – Inglaterra sentia vontade de gritar contra o mais novo, mas respirou fundo antes continuar. – É melhor você se deitar e dormir um pouco.

- Não, eu tenho coisas pra faze-

- Eu disse que você precisa dormir. – o americano sentiu as mãos do outro cobrir seus olhos. – Agora, deite-se. Eu... vou ficar aqui com você.

América sentiu um pequeno sorriso se formar em seu rosto diante a atitude do Inglaterra. Isso o lembrava da época em que não passava de uma pequena colônia sob as asas do Império Inglês. Talvez não fosse tão ruim reviver algumas memórias em um momento de fragilidade. Assim, ele não demonstrou nenhuma resistência quando Inglaterra o forçou a se deitar, e fechou os olhos.

- Tenha bons sonhos, América. – o inglês se aproximou de seu ouvido, mas este soava diferente. – Aproveite-os o quanto puder, pois quando acordar, o farei se partir em dois.

"Baby, did you forget to take your meds?

(Querido, você se esqueceu de tomar seus remédios?)

Baby, did you forget to take your meds?

(Querido, você se esqueceu de tomar seus remédios?)"

Os olhos abriram em sobressalto.

Não havia nada no quarto; não havia ninguém. Fora apenas um sonho, porém a sensação de vazio que sentira no momento em que as últimas palavras de Inglaterra foram proferidas continuava ali, ainda mais intensa. Era como se tivesse faltando alguma coisa.

Uma parte de si havia se perdido.

"I was alone staring over the ledge, trying my best not to forget

(Eu estava sozinho olhando por cima do abismo, tentando não esquecer)

All manner of joy, all manner of glee, and our one heroic pledge

(Toda forma de alegria, toda forma de júbilo e nossa promessa heróica)"

Havia se passado alguns dias, e ele não conseguia dormir.

As roupas grudavam ao corpo devido ao suor, e seu corpo atingia temperaturas insanas. Se fosse humano, estaria tendo convulsões até a morte, no entanto teria acabado com aquele mal-estar maldito. Um tiro na têmpora não seria uma má idéia, talvez assim ele não haveria de encarar mais aqueles olhos azuis iguais aos dele a lhe olhar de volta.

Apontou sua mão em forma de arma em direção ao seu próprio reflexo na janela do quarto. Pela primeira vez na vida ele desejou ver a si mesmo morrer.

"How it mattered to us, how it mattered to me, and the consequences

(Como isso nos importava, como isso me importava, e as conseqüências)

I was confused by the birds and bees, forgetting if I meant it.

(Eu estava confuso pelos pássaros e pelas abelhas, esquecendo se eu queria dizer isso)"

Encarou o espelho, incrédulo.

- O que foi que você disse? – se sentia um idiota por estar falando consigo mesmo, mas ele sabia que aquele diante de si era mais real do que nunca.

Um sorriso se formou em seu próprio reflexo.

- Você ouviu bem. – os olhos azuis não hesitavam. – Eu disse que não preciso mais de você. Quero independência.

Antes que se desse conta do que havia feito, o espelho se trincou. O punho do América se encontrava cerrado contra o vidro, o sangue preenchendo as rachaduras.

- Cala a boca. – ele disse em uma voz baixa. – Independência? Não brinque comigo.

América apertou os dentes com força ao perceber que ele não era tão diferente assim do Inglaterra.

"Baby, did you forget to take your meds?

(Querido, você se esqueceu de tomar seus remédios?)

Baby, did you forget to take your meds?

(Querido, você se esqueceu de tomar seus remédios?)"

Farda alinhada e arma em punho.

América, que havia lutado pela independência e união da nação que representava, não iria permitir que alguém – ele mesmo – questionasse sua soberania. Nem que isso significasse uma guerra.

O seu mosquete estaria pronto para atirar quando chegasse a hora.

Apenas um sobreviveria. E seria ele.

"Baby, did you forget to take your meds?

(Querido, você se esqueceu de tomar seus remédios?)"

Eles eram dois, no entanto eram apenas um.

Eram América.

"Baby, did you forget to take your meds?

(Querido, você se esqueceu de tomar seus remédios?)"

Finalmente deixaria aquele reflexo em pedaços.

The end


Nota da autora -Como posso resumir esta fic... FAIL =.="

Isso que dá escrever em momento de insônia, mas eu tinha que fazer isso, pois a idéia não saia da minha cabeça.

Tentei escrever em um ponto de vista psicológico, porém falhei miseravelmente. Por isso, me perdoem!

Quis representar aqui a Guerra de Secessão, a guerra civil americana. Tive a idéia da oneshot depois de ler uma tirinha mostrando Al com uma crise de personalidade durante essa guerra, então resolvi trabalhar em cima disso. Não sei se todos se lembram das aulas de história, mas em 1861-1865 ocorreu a guerra civil americana, onde os estados do sul declararam independência, dando origem aos Estados Confederados da América. Desconsiderando qualquer personalização além do próprio país, fiquei imaginando se Alfred realmente teria sofrido algum transtorno psicológico ou teria se dividido em duas nações distintas. Fiquei com a primeira opção, mas seria interessante haver dois Alfreds como entidades separadas xD E por que Arthur está no meio da estória? Só porque eu quis colocá-lo. u_u

A música "Meds" do Placebo foi escolhida, pois simplesmente ela apareceu em minha mente quando comecei a escrever.

Bem, se você chegou até aqui, eu agradeço. Espero que não tenha decepcionado demais.

Deixem reviews! Nem que seja para criticar.

Nyuu-neechan