O luar entrava por uma fresta do reposteiro sublime mas simples. A luz prateada serpenteava pela carpete e subia pela cama iluminando um corpo destapado e quase desnudo de um homem, um homem jovem, um homem rapaz. A face bela e suave assumia uma palidez encantada, como dos príncipes dos contos de fadas; o peito delineado e sem pêlos subia e descia no ritmo calmo da respiração dos que dormem tranquilos, pois nada fazem de injusto ou errado durante o dia para que os fantasmas das suas acções os perturbem durante a noite. Os seus lábios, carnudos, suavemente delineados, rosados e húmidos, que, como um morango que é orvalhado pela frescura da manhã, apeteciam beijar, estavam entreabertos e os olhos suavemente cerrados. O rapaz deu uma volta na cama e apertou a almofada entre os dedos. Depois soltou um suspiro profundo ao mesmo tempo que os seus lábios se distendiam num doce sorriso.

- June. - enroscou-se e voltou-se a estender, as pálpebras contraindo-se preguiçosamente para logo se descontraírem , acompanhando o sorriso. Sonhava. - . amo-te.

Você é assim Um sonho pra mim E quando eu não te vejo

Era normal ao rapaz pensar na doce amazona. Esse era um acto constante no seu dia-a-dia pensar nesse amor que o encantava, obcecava, aquecia e fazia-o descobrir as mais incríveis sensações, ainda mais agora, desde o término das batalhas. Era puro deleite a que entregava todas as horas que estava acordado, pensar, pensar nela, nas linhas do seu corpo, do calor que este emanava.

Eu penso em você Desde o amanhecer Até quando eu me deito

. na sua voz que o arrepiava e enternecia o coração, em certas palavras que combinavam tão bem com ela e que ele ansiava ouvi-la dirigi-las para si, no seu riso quente e contagiante, que se misturava com o dele e que os fazia terminar exaustos de tanto rirem, encostados um ao outro, os corpos tocando- se no que para ela não passava de um momento de amizade e que para ele era bem mais que isso.

Eu gosto de você E gosto de ficar com você Meu riso é tão feliz contigo O meu melhor amigo é o meu amor

. nas recordações de infância, nas boas, somente nas boas, em que afinal, raras excepções, era o mesmo que pensar nela, na inocência das suas brincadeiras, que os faziam descobrir o mundo sem culpa ou vergonha a cobrirem-lhes as puras faces.

E a gente canta E a gente dança E a gente não se cansa

De ser criança Da gente brincar Da nossa velha infância

. nos seus olhos azuis, que somente ele admirava, que derramavam carinho e amor, que luziam iluminando-lhe o caminho quando este era difícil (bastava segui-los, e isso era fácil, segui-los-ia até à morte), olhos que lhe sorriam, que o confortavam e que o repreendiam por segundos para logo lhe voltarem a sorrir; na sua companhia que nunca lhe faltara.

Seus olhos meu clarão Me guiam dentro da escuridão Seus pés me abrem o caminho Eu sigo e nunca me sinto só

.no seu peso adormecido nos seus braços, no aconchego da sua cabeça no seu ombro, no beijo doce que lhe roubara quando ela dormia angelicamente e que ele ansiava repetir para sempre, mas com ela acordada, para sentir a maciez dos seus lábios corresponderem ao amor dos seus.

Você é assim Um sonho pra mim Quero te encher de beijos

Eu penso em você Desde o amanhecer Até quando eu me deito

.e no amor que sentia por ela, que sempre sentira, mesmo antes de ver o seu rosto, amor que o fulminara, como a flecha de Cupido enterrando-se permanentemente no seu doce coração, amor de infância, amor de adolescência, amor sublime e forte, do mais elevado que pode haver de um simples homem honrado e valoroso por uma deusa de beleza inatingível.

Eu gosto de você E gosto de ficar com você Meu riso é tão feliz contigo O meu melhor amigo é o meu amor

E a gente canta E a gente dança E a gente não se cansa

De ser criança

Da gente brincar Da nossa velha infância.

E Sonhar. sonhava tanto com ela.que a perdia para sempre, ela caindo num precipício sem fim, esticando os braços para ele e ele sem conseguir salvá-la. Mas agora, agora e outras vezes, não. Agora era um sonho lindo, paradisíaco como lhe parecia agora a ilha de Andrómeda, rodeada por aquele mar azul, azul como os olhos de June, sobre aquele céu limpo azul, azul como os olhos de June, olhando os rios azuis, azuis, sim, como os olhos de June. e toda a ilha selvagem, coberta de uma densa floresta, árvores, ervas, mesmo o terreno inóspito em que treinavam coberto de erva alta e fresca, o verde, cor favorita de June, as flores e os animais, com que ele e June brincavam, e flores entre as quais nos seus sonhos se deleitavam, rendidos ás carícias do amor.

O corpo dela. ele conseguia imaginá-lo sem problema, cada linha, cada forma do seu corpo juvenil, mas sempre corpo de mulher, evoluído para curvas em que ele se despistava mas que teimosamente continuava a percorrer, como que encontrando prazer e não dor nas suas quedas. a sua alvura, tão parecida à dele. a maciez, o perfume da sua pele. o calor do seu corpo. a suavidade húmida, o sabor dos seus lábios grossos e vermelhos, puras amoras doces do eterno Estio da ilha. o brilho dos seus olhos em que se reflectiam desde sempre as estrelas do céu do hemisfério norte. A sua voz doce, dizendo por entre sussurros e gemidos todo o amor que sentia por ele. e ele..

A luz do sol bateu em cheio no seu rosto, acordando-o do mais doce dos sonhos. Estremunhado, esfregou os olhos e sentou-se na cama, apoiando o queixo nos joelhos flectidos, preparando-se para reviver o sonho uma, duas, oh! Milhentas vezes, até adormecer e sonhar com outro ainda melhor.

.Mas a sua porta abriu-se intempestivamente, e por ela entrou um garoto em rebolão seguido de outro que abanava a cabeça e sorria desajeitadamente, como que pedindo desculpas pelo amigo.

- ACORDA, PREGUIÇA JÚNIOR! - gritou Seiya, pronto a atirar-se sobre Shun e abaná-lo até que todas as suas células nervosas estivessem em hiper activação. Mas estacou ao ver o amigo sentado a olhá-lo, não espantado, mas sim conformado com a doidice do mais infantil dos cavaleiros.

- Bom dia, Seiya.

- BOM DIA! SÃO 7'ORAS E O TEMPO'TÁ MARAVILHOSO PORIZO LEVANTA-TE, VESTE OS CALÇÕES E VAMOZPÁPRAIA! - pegou-lhe num braço e começou a puxá-lo, até caírem os dois no chão, a coberta por cima de Shun. Shun abanou a cabeça para tirá-la, e olhou, agora sim, espantado para o amigo, que já abrira os cortinados e agora fazia uma inspecção-geral ao seu armário, atirando roupa em todas as direcções enquanto procurava uns calções de banho e a toalha de praia. Incapaz de reacção, Shun olhou o outro rapaz, loiro e de olhos azuis, que lhe devolveu o olhar:

- Ao fim de tantos anos, ainda te espantas com a infantilidade dele?

- Eu não estou espantado com isso. Estou abismado por ele se ter levantado cedo.

- Achas isto cedo? - o outro riu-se - Ele acordou-me às seis e meia, em completo uso do cosmos à energia máxima, obrigou-me a levantar e a vestir-me e ainda a ir acordar Shiriyo e a fazer o mesmo.

- O que é. - neste momento Shun levou com uma toalha de praia na cabeça e olhou para Seiya que, totalmente abstraído da conversa, continuou numa sôfrega busca pelos calções de banho - O que é que ele tem? Seiya. A ÚLTIMA GAVETA, SE FAZES FAVOR!

- Ah, 'brigado!

- Eu diria que a constelação de Pégasus deve ter emitido um raio de energia extra esta noite.

- 'Foi nada! É qu'eu tive um sonho ma-ra-vi-lho-so e foi tão lindo tão lindo qu'eu não quero dormir mais, para não ter outro que estrague a maravilha deste! Toma os calções!

- Porque é que me chamaste Preguiça júnior?

- Porque o mandrião do teu irmão.

- Agora os frangos também têm sonhos eróticos com deusas. - resmungou uma voz forte da porta

- Ah, IKKI! BELO DIA! IND'BEM QU'ACORDASTE PORQU'ASSIM PODEMOZIR JÁ PÁPRAIA!

- O QUÊ?

- Nã'querezir pápraia?

- Seiya. EU NÃO PERCEBO NADA DO QUE TU ESTÁS A DIZER; SÃO SETE E MEIA DA MANHÃ, ACORDEI COM UM BARULHO DOS DIABOS E TU PODES-ME FAZER O FAVOR DE TE LEMBRARES QUE JÁ TENS 19 ANOS E NÃO ÉS UMA CRIANÇA MIMADA E SIM UM C-A-V- A-L-E-I-R-O-D'-ATENA???? - berrou Ikki de aparente mau humor, de que, aliás, Pégasus apercebeu-se:

-'Tá bem, tá bem.

- Vamos ou não? - perguntou Shun, que tinha aproveitado o estado de despiste geral para se vestir.

- Va. - começou o irmão a dizer, obviamente ansioso por um pouco de ar fresco.

- VAMOS!!!

- SEIYA; CALA-TE!!! Shun? Espera! - saíram os dois do quarto atrás de Shun que corria em direcção à mesa do pequeno-almoço, esperando encontrar paz na companhia de Shiriyo, que já se aproximava do estado de overdose com tanto chá que bebera.

- HYOGA! - Seiya voltara ao quarto à procura de Hyoga e encontrara-o a ler o livro que Shun tinha à cabeceira da cama. - Vamozimbora! - agarrou- o por um pulso e arrastou-o escada abaixo. Obrigou os companheiros a engolirem o pequeno-almoço, chateou a ajudante de cozinha para lhe arranjar um lanche, e, quando arrastava os amigos na direcção da saída, bateu com a mão na cabeça:

-Ai!

Os companheiros olharam-no, esperando tudo.

- A Saori! Esqueci-me de acordar a Saori. - correu escadas acima e ouviram-no começar a chamar por ela.

- Ela também vai?! - perguntou Ikki, torcendo o nariz. O exercício não seria muito grande. Hiyoga encolheu os ombros e Shiriyo ia responder quando Seiya veio para ao rés-do-chão numa fantástica queda pelas escadas. Atrás dele apareceu Tatsumi, extremamente zangado:

- FEDELHO ATREVIDO! COMO TE ATRÉVES A ENTRAR NO QUARTO DA SENHORITA QUANDO ELA ESTÁ A DORMIR E EM TRAJES MENORES?

-Mazeu.

- E FALA CORRECTAMENTE! OU DE LÍDER DOS CAVALEIROS PASSASTE A BOBO???

A energia de Seiya pareceu diminuir uns bons 1000%. Baixou a cabeça, levantou-se e perguntou calmamente aos companheiros:

- Vamos?

No caminho para a praia, ainda que Shun fosse perdido nas doces memórias do seu sonho, Seiya parecia de novo calmo, e não a criança-demónio que acordara de manhã.

- Gaja gira.

- A do fato-de-banho preto é melhor.

- Ah, a essa prefiro a do biquini rosa!

- É muito "Eriana". Nunca mudas de estilo? Que conservador, Hiyoga!

-Vocês não sabem apreciar uma mulher, apenas franganitas. Olhem lá para aquela do biquini amarelo?

- Ah, Ikki, é velha!

- Não é velha, é madura.

- Na volta ainda cai da árvore.

- Cai, cai. cai da árvore no meu colo. vocês só querem cidras verdes, rijas que não sabem adoçar e matar a fome de um homem. eu prefiro uma bela pêra madura e doce, bem desenhada e carnuda que me consiga matar a fome.

- Que romântico!

- Romântico? Associar uma mulher a comida? Comer e deitar o caroço fora?

- Pelo menos não as comparo a chás!

- Aí reside a verdadeira comparação. o perfume, a doçura, as hormonas que uma mulher emana são como os perfumes dos chás. uns são calmantes, outros dão uma vaga sensação de prazer, outros reconfortam e outros. aquecem bastante.

- Então é isso! - exclamou Seiya, levantando-se de um pulo - tu bebes chás afro.

- SEIYA!

- Ok, ok. - baixou a voz e voltou a sentar-se - tu bebes chás afrodisíacos quando estás longe da Shunrey?

- Oh!

- Só se fosse para ficar mais desesperado. além do fome que um gajo já tem, ficar com mais fome ainda?

- Talvez bebas o chá que dá. como é que tu disseste? . "uma vaga sensação de prazer".

- Vamos mudar de assunto?

- UUUUUH!

- Então o chá não é um método de comparação, é uma terapia para várias situações relacionadas com mulheres.

- Isso dos chás afrodisíacos resulta mesmo?

- Ikki! Que interessado..

- Mero interesse científico!

- Eu chamo-lhe outra coisa.

- Eu só queria saber se os chás resultavam, porque isso será uma explicação plausível para como tanto gajo de força menor consegue ter um monte de gajas atrás dele, ok?

- É mesmo?

- CLARO! No que é que tu estavas a pensar?... Esquece, prefiro não saber, porque tenho a impressão que te tinha que dar um murro.

- Davas, davas.

- Por favor, estamos a desviar-nos da questão!

- Que era? Os chás?

- Não, não! As miúdas!

Os quatro amigos discutiam, sentados em circulo nas toalhas, lançando olhares mais longos a certas raparigas e outros bem mais discretos. No entanto, perdido nas memórias de um sonho bem mais agradável que as conversas machistas dos amigos, Shun estava perdido na contemplação de June, vendo os seus olhos no mar de verão, o calor do seu corpo na areia aquecida pelo sol, a sua respiração quente e suave na brisa macia carregada do doce perfume estival. Os seus olhos começaram a fechar-se, lentamente, a luz dourada do sol teimosamente entrando pelas suas pálpebras cerradas. luz dourada. dourada. cabelos dourados. June. amor. meu amor.

-Shun?

- Hã? - o rapaz sentou-se e olhou para o irmão.

- Não durmas ao sol, é perigoso.

- Eu sei. - voltou a fechar os olhos e a estender-se na toalha e deixou o doce calor do sol levá-lo de novo para o mundo dos sonhos.

- . é .

- . apaixonado mesmo .

- . só o rosto dele.

Shun ouvia inconscientemente pedaços da conversa dos amigos mas não a associava a si. tão bom. sentiu uma mão aproximar-se do seu rosto. June. os dedos estavam quase a tocar-lhe. segurá-la. tinha que segurá-la. nunca mais a deixar partir. quase a tocar-lhe. que perfume ténue era aquele? . ah, conhecia-o tão bem. os dedos. segurá-la. a mão de Shun voou em direcção aos dedos que lhe tocavam nesse instante na face e, torcendo-lhe suavemente o pulso, puxou o corpo para si. segurá-la.

- SHUN! ESTÁS DOIDO?

- O QUÊ? - Shun largou o corpo de Shiriyo, abrindo os olhos e afastando-se para trás. Dragão ofegava, zangado, olhando-o:

- Não teve graça, Shun, que brincadeira mais parva!

- Eu. eu não te queria segurar, Shiriyo! Achas? E quem te mandou aproximar de mim?

- Eu ia-te só acordar! Estás a dormir à 15 minutos ao sol!

- Não te metas no que eu faço. - rosnou Shun, levantando-se. Os amigos olharam-no surpreendidos. Menos Seiya que se ria.

- Shun? Que foi? - perguntou o irmão. Shun olhou-o, agora era ele que não percebia. E aquele perfume que não lhe saía da cabeça e cada vez ficava mais forte. e Shiriyo. a cabeça dele começou a doer.

- Não é óbvio? Ele está apaixonado. devia estar a sonhar com ela. ou ele? - perguntou Seiya com ar de gozo. Os amigos sentiram um acesso de raiva e quando se moveram foi tarde de mais. Shun tinha as mãos em torno do pescoço de Seiya:

- Posso não andar a brincar com o coração das raparigas, mas ao contrário de ti, quando eu gosto, eu gosto de uma rapariga verdadeira, e gosto de verdade, entendes, Pégasus?

- Eu.

- E quem é ela, Shun? - perguntou a voz de Saori, atrás dele.

- Ninguém que vos interesse! - aquele perfume. a sua pobre cabeça parecia ser atravessada por estímulos eléctricos. o que era aquilo? Sentiu uma mão aproximar-se do seu ombro e virou-se bruscamente dando uma bofetada na mão . - Deixa-me em paz, . - . e estacou em frente a dois olhos azuis que se iam enchendo de lágrimas. Os estímulos eléctricos pararam. O mundo parou. Não era verdade. aquele perfume. era real. ela estava ali. - June.

Porque é que ela não dizia nada? O mundo foi-se tornando mais distinto. Saori, Eri, Shunrey. June. Tinham vindo ter com eles. Mas June. tinha regressado. Queria abraçá-la, beijá-la,.. possui-la. queria tanto. começou a estender as mãos na direcção dela, para apertá-la contra si. mas ela afastou-se. E chorava.

- June. - a rapariga lançou-se a correr pelo areal na direcção da cidade - JUNE!

- Boa Shun! Agora sim, fizeste-a bonita! - disse Saori zangada, correndo atrás da amiga. Shun ficou de pé no areal. deixou-se cair de joelhos e pôs as mãos na areia. voltou a ouvir o barulho característico da praia, como se levantassem o volume do mundo. Sentia os olhos dos amigos presos em si, mas isso não o importava. O que é que tinha feito? O que é que ele tinha feito? Idiota.

- Sou um estúpido. - bateu com os punhos cerrados na areia.

- Shun. - ouviu a voz meiga de Shunrey. Voltou-se com fúria para trás e olhou para Eri. Esta encolheu-se contra Hiyoga que se tinha levantado.

- O que é que se passou? - perguntou em voz baixa, o ritmo do coração acelerado e descompassado.

- Eu não sei. Ela chegou ontem à noite, já muito tarde, ao orfanato. Dormiu lá e esta manhã fomos à vossa procura, mas Saori e Shunrey disseram- nos que tinham vindo para a praia e viemos atrás de vocês e.

- E ontem à noite, não podias ter avisado? Para que serve um telefone? - gritou, como que a culpa fosse de Eri, avançando na direcção dela. Hiyoga envolveu a rapariga assustada nos braços, encostando-a ao seu corpo quente, forte e protector. O páreo dela caiu e ela ficou só de biquini. A visão daquele casal magoou os olhos de Shun, e aqueceu ainda mais a raiva que tinha dentro de si.

- Deixa-a em paz, Shun. A culpa não é dela! - disse o rapaz loiro, olhando Shun como que avisando-o que deitaria a amizade deles abaixo, ainda que só por um momento, para proteger a rapariga que amava. Isto ainda magoou mais os olhos de Andrómeda. Deu um pontapé na areia, levantando-a na direcção dos amigos e também ele correu pelo areal em direcção à cidade.

-SHUN! - gritou desta vez o irmão, fazendo menção de segui-lo. Mas Seiya impediu-o. Tinha um olhar invulgarmente adulto. Abanou a cabeça:

- Não, Ikki. Ele tem que ficar sozinho.

- Ele é capaz de fazer uma loucura!

- Ele precisa de ficar sozinho.

- Tu não o conheces, Seiya!

- Tu é que não o conheces. Se fores, vocês vão lutar, Ikki. Acredita no que te digo.

Ikki acreditou. Hiyoga deixou-se cair na toalha, puxando Eri para o seu colo. Olhos azuis ficaram-se a olhar desanimados. Shunrey olhou para a areia e deixou cair algumas lágrimas:

- Ela estava tão feliz. - murmurou. Shiriyo reparou que ela estava a chorar e abraçou-a.

- Vai tudo ficar bem - mas a sua voz traía-o, não, ele não achava que ia tudo ficar bem.

- Eu sempre pensei que Shun gostava dela. Só queríamos fazer uma surpresa. - disse Eri abanando a cabeça inconformada. Shunrey concordou:

- Sempre pensámos que ele a ia agarrar enlouquecido ou qualquer coisa assim, ele parecia tão apaixonado por ela.

Hiyoga abanou a cabeça e fez uma festa na face de Eri:

- Esquece, querida. A culpa não é vossa. Só tentámos fazer o melhor. Apenas julgámos erradamente.

- É evidente que não é June que Shun ama. - murmurou Shiriyo, cedendo algum espaço na toalha a Shunrey.

-Vocês não percebem, pois não? - disse Ikki, levantando-se irritado - Vocês nunca percebem nada! Cansei disto! Mais vale só que mal acompanhado. - e também ele correu na direcção da cidade.

Os quatro amigos olharam-se. Mas não havia nada a fazer. As coisas tinham levado um rumo que lhes era impossível agir.

- Melhor ficar quieto. - disse Hiyoga, encolhendo os ombros e, voltando a pôr os óculos, deu beijo na bochecha de Eri e deitou-se para trás. Os outros imitaram-no.

De longe pareciam dois casais a curtirem aquele mês de Agosto quente. Mas na realidade cada um estava bem, bem preocupado com o futuro.