O gramado da frente continuava crescendo cada vez mais rápido, os armários da cozinha continuavam acumulando mais e mais poeira, as luminárias tiffany cada vez mais sujas e opacas, ela estava perdendo seu brilho.

Enquanto os vizinhos queriam distância os turistas queriam chegar cada vez mais perto da casa, da famosa 'murder house'.

A casa estava completamente vazia por dentro, exceto por algumas cadeiras aqui ou ali nos cantos da casa e numa das cadeiras em frente ao balcão da cozinha estava a figura trêmula de uma garota adolescente fumando lentamente seu cigarro, ela tinha aparência bem sadia, mas infeliz, perdida em seus pensamentos.

Ela era o tipo de pessoa que se sentia incompreendida, amargurada e principalmente solitária. Mas sua solidão era mal interpretada, ela não tinha amigos, mas não porque ela não queria, mas porque ninguém poderia entender o que se passava com ela, o que acontecia dentro das paredes de sua casa e o que ela fazia para aliviar a sua dor.

Uma garota rodeada de pessoas mas mesmo assim se sentindo só, assim era Violet Harmon.

Até o dia que o drama chegou ao limite em sua casa por erros de seu pai e eles decidiram mudar para o outro lado do país.

Uma nova cidade, nova escola, nova casa, novas pessoas.

O único pensamento que passava em sua cabeça era "Merda, estou nesse carro a umas 8 horas e nem acredito que eles estão fingindo que esta tudo bem, eles devem achar que eu sou muito idiota . Isso tudo já esta um lixo, não da pra piorar"

Seu pai estacionou o carro em frente uma casa grande, com um jardim de rosas na frente.

"Chegamos" anunciou seu pai, Ben descendo do carro.

"Ah, não." Foi a única coisa que ela conseguiu dizer enquanto também saia do carro.

"Anime-se Vi, a casa é linda, olha só esse jardim" Sua mãe disse enquanto passava por ela e apontava um jardim de rosas logo na frente com um sorriso. Sua mãe, doce e bonita, mesmo depois do que Ben havia feito a ela, ela ainda estava lá, ainda estava feliz com a mudança.

E tudo que Violet conseguia fazer era encarar a casa de longe de braços cruzados.

A casa parecia agradável, mas tinha algo a mais, ela sabia, ela podia sentir só de olhar para ela. Ali de longe.

Logo que ela entrou na casa, sentiu a diferença entre o clima agradável do lado de fora e o peso que a casa tinha, não era pela madeira escura ou a maioria das janelas fechadas, tinha algo ali, ela podia sentir, e ela gostava.

Voltando lentamente a realidade ela olhou em volta, para os armários, a pia, o jardim da parte de trás da casa que podia ser visto pela janela. Ela se levantou da cadeira e começou a andar pela cozinha, olhando atentamente cada milímetro dela.

Algo tirou sua concentração, tudo que ela fez foi arregalar os olhos e parar de andar subitamente quando sentiu olhos em suas costas, uma tensão no ar, raiva, amargura, um perfume conhecido que fez seu coração apertar e tão rápido quanto apareceu a energia foi embora. O cigarro escapou de seus dedos até o chão e ela colocou sua cabeça contra a parede do armário, ela sabia o que era, não pela tensão, raiva ou amargura no ar, e sim pelo perfume.

Tate.

Ela se lembrava como se fosse ontem dele, do cheiro, do cabelo loiro e bagunçado, dos seus olhos bem escuros e profundos. Ela virou e encostou suas costas no armário e enquanto suas costas escorregavam até o chão ela se lembrou como foi conhecer ele.

Era como encontrar o que se passou a vida toda procurando.

Ela encontrou quem ela sempre precisou, quem ela achou que jamais encontraria. Quanto mais eles conversavam mais ela tinha certeza disso, as semelhanças eram enormes. Ele odiava a escola, ela também, ele odiava a sociedade que eles estavam vivendo,ela também, ele passava muito tempo brigando com sua mãe, ela também, ele se cortava para aliviar sua dor, ela também.

Ela sentiu como se ele fosse capaz de compreender toda sua dor.

Violet abriu os olhos e deu um sorriso mínimo e silencioso, como ela foi tola.

Um barulho alto na escada a fez levantar do chão e sair correndo para ver o que era. Mas obviamente não era nada. Ela já deveria ter se acostumado, mas não tinha feito. Viver numa casa mal assombrada não era fácil.

A casa tinha uma história, uma não, várias, e com ela memórias, almas que nunca poderiam sair daquelas paredes, nunca poderiam seguir em frente, almas boas e inocentes que não mereciam estar ali, almas de pessoas que cometeram erros e almas de pessoas malignas.

Ela era uma dessas almas, era uma adolescente que tinha cometido o erro de se matar sem pensar dentro das paredes daquela casa, mas ela não gostava de pensar nesse dia.

Ela estava morta, era verdade, mas ela se sentia perfeitamente viva. Como se o dia que ela tivesse tomado todas aqueles comprimidos nunca tivesse acontecido. O que a levou a pensar mais uma vez em Tate, ela tinha tomado todos os comprimidos porque não conseguia lidar com a verdade dele estar morto e ter matado, mas fora ele que tentara salva-lá. Ele sempre esteve lá por ela.

Ela sentia falta dele, como poderia não sentir se ele fora o único que a compreendeu completamente em toda a vida?

"Oh, Deus" ela murmurou enquanto debruçava no corrimão da escada.

Pelo corrimão da escada ela pode ver a porta do porão se abrindo e fechando lentamente, quem quer que fosse, não queria ser visto nem ouvido.

Ela desceu as escadas.

Parou em frente a porta do porão e pensou duas vezes antes de se materializar lá dentro. Ela o viu. Sentado em uma cadeira de balanço branca, camiseta preta, suéter cinza cobrindo suas mãos, calça jeans rasgada e um all star preto. O Tate que ela se lembrava.

Ele estava quieto, olhando para o nada, provavelmente absorto em pensamentos, ela pensou em ir embora mas seu corpo não se mexia, tudo que ela conseguia fazer era ficar ali olhando pra ele. As roupas eram as mesmas que ela se lembrava, mas ele não, ele estava diferente, parecia mais sombrio que o normal, balançando pra frente e para trás na cadeira, com os olhos fixos como se fosse em algo que ninguém pudesse ver, só ele.

Ela se sentou na escada do porão e ficou olhando ele balançar para frente e para trás durante horas, minutos? Ela não sabia dizer, quando se esta morto o tempo não importa.

Ela tampouco sabia a quanto tempo não falava com ele, não olhava nos olhos dele, não o abraçava, o beijava...

- Imaginei que estivesse aqui.

- Puta merda mãe! Se eu tivesse viva, provavelmente teria infartado.

- Violet, o que você esta fazendo aqui?

- Nada. - Ela respondeu corando e arrumando uns fios de seu cabelo.

Sua mãe sentou do lado dela, a abraçou e olhou na direção de Tate.

- Você sente falta dele, não sente?

- Não.

- Não?

- Já disse que não.

- Então porque esta aqui?

Ela não sabia responder, ela não queria.

- Você quer perdoá-lo, não quer?

- Eu jamais vou poder perdoá-lo mãe, não depois de tudo que ele fez.

Tudo que sua mãe fez foi olhar pra ela, dar um meigo sorriso e acariciar os cabelos dela.

- ARGHHHH! – Elas olharam rápido o suficiente para ver Tate espatifando a cadeira em enormes pedaços quando jogou contra a parede. Ele socou a parede e encostou sua cabeça nela chorando desesperadamente.

"Violet" ele murmurou baixinho, mas alto o suficiente para a mãe e filha que o estavam espionando ouvirem.

Foi o suficiente, Violet levantou e saiu correndo do porão chorando o mais rápido que pôde esquecendo completamente de se manter invisível.