Pele bronzeada, cabelos descoloridos, quase brancos de tão claros. Gloria Hunt chamava atenção por onde passasse. Era bonita e sabia disso. Tinha atitude, e isso era refletido no modo como se vestia. Sempre usava botas com salto agulha e calça justa mostrando o contorno de suas pernas longilíneas. Usava cores escuras, de preferência preto. Quem não a conhecesse provavelmente pensaria ser ela uma artista de cinema. Mas não, isso ela não era. Gloria Hunt, ou Gloria Hunter, como gostava de ser chamada, era caçadora.

Ela era jovem, tinha 24 anos apenas. De família muito rica, Gloria teve seu primeiro contato com o mundo sobrenatural quando se envolveu, ainda na adolescência, com um grupo de vampiros. Eram vampiros de mentirinha... Garotos, que como ela, gostavam de se achar perigosos e sensuais. Pouco tempo depois, conheceu um vampiro de verdade.

O que geralmente acontece quando um adolescente que se acha vampiro conhece um vampiro de verdade, é que ele ou ela se apavora, se desespera, chora e se descabela. Com Gloria foi diferente. Ela quis a todo custo ser transformada e viver no ninho deles. A moça quase realizou seu sonho, porém, para seu desespero, foi salva a última hora. Um caçador... Apareceu do nada e salvou sua pele.

Gloria se ressentiu, mas depois imaginou que ser caçadora devia ser ainda mais divertido que ser vampira. Resolveu que seguiria a profissão, matando todos os tipos de monstros que cruzassem seu caminho. Exigiu que seu pai lhe pagasse um curso para caçadores de monstros. O velho Hunt, que já estava doido para se ver livre da filha, bem que tentou achar um curso desses. Tudo o que conseguiu foi entrar em contato com alguns caçadores que aceitaram, por um bom dinheiro, dar aulas à garota.

Aos 22 anos, Gloria já se considerava uma expert e saiu sozinha pelo mundo para caçar. Ao contrário dos irmãos Winchester e de outros caçadores por aí, não precisava fraudar cartões de crédito para viver. Ela era rica, tinha dinheiro para sustentar seus gostos luxuosos por toda vida.

Agora ela já caçava há dois anos. Se considerava quase uma veterana. Não havia monstro que não conhecesse. Nada que não soubesse caçar. Ou pelo menos era isso que pensava.


- Veja isso, Dean...

Dean olhou para o irmão sonolento. Eram sete horas da manhã e tudo o que ele queria era poder tomar seu café em paz. Há meses que não tinham um dia sequer de descanso. Era caçada atrás de caçada...

- O que foi? – perguntou para Sam mal humorado.

- Casas tem desabado sem motivo aparente na cidade de Almena, Kansas. – os olhinhos de Sam brilharam. Dean não entendia porque ultimamente seu irmão andava tão entusiasmado com o trabalho.

- E daí? Vai ver os arquitetos dessa cidade são ruins... – praguejou o mais velho.

- Não, mas veja... Todos os acidentes levaram a fatalidades. E o mais estranho de tudo é que pelo menos um dos corpos encontrados soterrados em cada casa estava completamente desprovido de sangue. O último corpo encontrado, totalmente seco, foi de um rapaz chamado Christian Brown.

- Como se alguma coisa tivesse sugado ou drenado todo o sangue do indivíduo?

- Exatamente. Isso com certeza não é normal! – Exclamou o moreno.

Dean teve que concordar. Infelizmente aquilo não era normal. Sorte que estavam perto. Em algumas horas de viagem poderiam chegar a Almena.


Gloria também ficou sabendo sobre as mortes estranhas que aconteciam em Almena. Quando os irmãos Winchester chegaram ao principal bar da cidade, Dean notou a loura logo de imediato.

- Hmmm, Sammy... Por que você não vai conversar com aquele bigodudo ali, hein? Ele tem cara de que sabe de alguma coisa... – Dean disse, empurrando o irmão em direção ao homem. Em seguida foi puxar papo com a bela moça.

- Olá! – Disse ele. – Posso te pagar uma bebida?

Gloria sorriu. O cara era um gato, mas ela não era uma mulherzinha qualquer.

- Não... Eu pago uma pra você – ela disse.

Dean assentiu. Gostava de mulheres cheias de atitude.

- Você vem sempre aqui? – o rapaz perguntou.

- Não, estou a trabalho. E você?

- Eu também...

- Trabalha com que? – perguntou ela.

- Diretor de cinema... – Dean respondeu, dando uma piscadinha e jogando charme. E você?

- Sou caçadora.

O rapaz quase engasgou ao ouvir as palavras da moça. Depois sorriu.

- Engraçado, você não faz o tipo... – disse ele.

- Bem, eu não sou uma caçadora qualquer... – a moça disse, lançando ao rapaz um olhar de superioridade. – Eu caço monstros, coisas assustadoras... Para que rapazes desprotegidos como você possam dormir a noite...

Dean arregalou os olhos. Não pôde acreditar no que ouvia...

- Quem é você? – perguntou alarmado.

- Prazer, sou Gloria Hunter – a loura disse estendendo a mão ao caçador.

Dean já ouvira falar da moça. Sua fama a precedia... O que Dean não esperava é que ela saísse por aí espalhando para qualquer um que quisesse ouvir qual era a sua profissão verdadeira. Contraiu os lábios em expressão de desgosto. Toda atração que sentira pela moça inicialmente se esvaiu em poucos segundos.

- Gloria Hunt, você quer dizer... A menina rica e mimada que poderia ter uma vida normal mas escolheu viver perigosamente... – Ele disse em um misto de irritação e deboche.

- Gloria Hunter –a moça corrigiu enfatizando o er. - Mas fico feliz em saber que um diretor de cinema já ouviu falar no meu nome! Estou ficando famosa, hein? Qualquer dia farão um filme sobre mim!

- Deixa de ser presunçosa, garota! Eu ouvi falar de você porque sou caçador também.

Gloria olhou para Dean com desdém.

- Ora, você não era diretor de cinema?

- Não, eu menti. Qualquer caçador que se presa não sai por aí revelando sua verdadeira identidade...

"Que cara arrogante", pensou Gloria. Quem era ele para criticá-la assim gratuitamente?

- Eu não sou mentirosa, não escondo de ninguém quem eu sou. E você, posso saber quem é?

- Dean Winchester.

- Hmmm, Winchester... Já ouvi falar de você também... É um dos irmãos, né? Qual dos dois? O mais novo, que bebe sangue de demônio, ou o mais velho, o que vive se lamuriando por causa disso?

Dean sentiu seu sangue subir. Que garota petulante!

- Cala a boca, garota! Você não sabe de nada! Meu irmão não bebe sangue de demônio! – Ele disse irritado.

- Ahh, então você é o mais velho... – ela sorriu debochada.

Dean fechou a cara e não respondeu.

- Desculpa, vai... Eu esqueci... Todo mundo diz o quanto você é sensível...

Todo mundo quem? Aquela idiota estava era zoando com a cara dele... Se Dean batesse em mulheres, teria lhe dado um belo tapa.

- Bem, Gloria, vou indo então. Não foi exatamente um prazer te conhecer e eu tenho mais o que fazer...

- Está aqui por causa dos desabamentos e dos corpos sem sangue? – ela perguntou curiosa.

Dean rolou os olhos. Era azar demais que aquela mulher estivesse ali querendo fazer o mesmo trabalho que eles.

- Estou, e se eu fosse você você não me metia nisso. Eu e o Sam vamos cuidar desse caso.

Gloria ia dizer alguma coisa, mas Dean se retirou. Estava irritado demais e queria sair de perto daquela garota. Voltou para perto do irmão que estava agora sentado sozinho no bar.

- E então Sammy, descobriu alguma coisa?

O louro ficou feliz ao ouvir que seu irmão, na verdade, tinha obtido informações relevantes. Conversando com um rapaz que vivia na cidade, descobriu que duas das vítimas cujos corpos estavam sem sangue haviam doado sangue recentemente para um certo rapaz: Cristian Brown, dono do último corpo seco encontrado. Os três tinham o mesmo tipo raro de sangue: O negativo.

- Muito interessante... – comentou o Winchester mais velho – Precisamos confirmar se todas as outras vítimas também tinham sangue O negativo. Pelo jeito esse é o sabor predileto do monstro...

- E você, Dean? Conseguiu alguma coisa? Quem sabe o telefone da loura...? – Sam perguntou em tom de reprovação.

- O que eu descobri foi que aquela idiota é a Gloria Hunt e que está querendo se meter na nossa caçada. – ele disse com amargor.