I don't need no one to tell me about heaven
*
Havia um céu. Algumas estrelas.
E, abaixo delas, um infinito
em branco e preto.
*
Não havia muito o que olhar, na verdade. A apenas alguns metros já se podia distinguir as casas escuras e a fuligem pairando entre elas. Severus sorriu, muito devagar, mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa, ao olhar para aquelas casas pela última vez. Ele sabia que teria voltar nas férias, claro, mas não era nisso que pensava. Não importava.
Severus deixou Spinner's End com o coração indiscutivelmente mais leve, achando que Hogwarts se tornaria um lar muito melhor. Chegando lá, no entanto, percebeu que havia se esquecido de que existiam centenas de alunos que provavelmente o achariam a pessoa mais estranha do mundo.
E não estava errado. Eles achavam mesmo.
Então não foi numa semana exatamente feliz que ele teve que entrar na masmorra para sua primeira aula de Poções. No auge de seus onze anos, Severus não sabia como ser uma daquelas crianças bem cuidadas e felizes, mas achava que pelo menos um pouco disso poderia ser encontrado em Hogwarts.
Estava remoendo seu desgosto quando viu o professor gordo e caricato entrar na sala. Achou-o exagerado demais para o seu gosto. Ao seu lado, Lily já começava a preparar seu caldeirão. Resolveu fazer isso também.
Ao longo das duas horas seguintes, Severus preparou a sua primeira poção. Não confiava inteiramente que aquele homenzinho fosse um grande preparador, mas seguiu suas instruções fielmente. Viu a poção mudar de um branco opaco para um preto absoluto, e à medida que cortava os pedacinhos de uma raiz brilhante e jogava lá dentro, percebia como aquilo parecia o próprio céu.
Um céu mais limpo do que o de Spinner's End. Um céu só seu. Merlin, ele estava fazendo o seu próprio céu.
A partir daquele dia, Severus nunca mais duvidou do que uma poção era capaz de fazer. Amou-as pelo resto da vida.
