Capítulo I
Hyuuga Hinata abraçou contra o peito a embalagem que continha sua refeição quando saiu do elevador. Um cappuccino, um sanduíche de frango, uma fruta fresca e apenas uma pequenina trufa de chocolate, embrulhados em um saco de papel branco.
Em silêncio repetiu a resolução do dia para si mesma: não ia mais perder o almoço por causa do estilo frenético de trabalho de sua chefe, Senju Tsunade. Dali em diante iria tirar pelo menos alguns minutos para comer, como um ser humano civilizado. Não era pedir demais, considerando o quanto se dedicava aquele lugar.
Shizune, a recepcionista, estendeu-lhe uma grossa pilha de recados em papéis cor-de-rosa e fez uma careta quando Hinata passou pela mesa da frente.
- Tsunade não pôde encontrá-la. Está furiosa se eu fosse você tomarei cuidado, mas afinal de contas onde você foi?
- Eu preciso me alimentar – Sua afirmação pareceu culpada e defensiva para seus próprios ouvidos, por isso Hinata respirou fundo e sorriu para Shizune, ao pegar os recados.
E então ia sentar-se para almoçar a sua mesa, o que era seu direito e privilégio.
TenTen, uma de suas colegas, segurou seu braço quando Hinata passou por sua escrivaninha. O cappuccino escorregou perigosamente para o lado. Hinata mal conseguiu agarrá-lo a tempo.
- Aí está ela, a mulher de mil vozes! Sakura e eu estamos procurando gerentes de marketing, mas não conseguimos nada. Poderia dar um de seus telefonemas mágicos? – Perguntou com a voz melosa para convencer a sua querida amiga ajudá-la – Por Favor! Seja a bela e mimada do Sul. Adoro esse seu personagem, o que me diz Hinata?
- Oh, não! Seja a duquesa herdeira da Inglaterra – sugeriu Sakura – Ela é minha favorita. Aquela esnobe arrogante sempre obtém resultados.
- Sem show até que eu almoce, garotas. Depois poderei ser qualquer pessoa que queiram que eu seja. Prometo – E Hinata saiu andando em direção a sua sala, evitando os olhares de súplica de TenTen e Sakura.
Hinata trabalhava em uma agência de empregos de alto nível, e sua função era recrutar, ou melhor, caçar talentos. E todos na firma tiravam vantagens de suas incríveis habilidades teatrais.
Ela podia imitar qualquer um, enganado as recepcionistas mais desconfiadas ou secretárias, afim de conseguir o que queria. E uma vez que selecionassem os executivos mais prováveis, Hinata e suas colegas de trabalho davam o melhor de si para tirá-los de seu cargo e colocá-los em outro lugar. Por uma boa comissão.
Hinata era boa nisso. Chegava mesmo a assustar. Mas primeiro o almoço! Todo mundo merecia se alimentar, e uma recrutadora que trabalhava duro não haveria de ser exceção.
Acabara de se acomodar em sua poltrona e levar o sanduíche aos lábios quando Tsunade surgiu como que por encanto.
- Hinata! Até que enfim! Onde você estava? Qual é a situação da conta Brighton?
Hinata pôs o lanche sobre a embalagem e suspirou.
- Você me deu o arquivo quarenta minutos atrás, Tsunade. Mal tive tempo de lê-lo, muito menos... – Interrompida.
- Isso é urgente! – Tsunade gesticulou, frenética – O Grupo Brighton acabou de perder o gerente geral para os Hotéis e Reservas Corinthian. Quero que você encontre um candidato quente, e logo! Al Brighton me ligou há pouco e está muito nervoso. Quero lhe dar uma boa noticia. Agora!
- Sim, eu sei. Li o arquivo. Entendo a situação, e estava fazendo um lista dos principais concorrentes deles. Começarei as ligações assim que acabar de comer meu... – Interrompida novamente.
- Comece com o Grupo de Hotéis Coroa Real. O time de gerência deles é excelente. Tudo o que tocam se transforma em ouro. E estou com números bem aqui. Eu os procurei para você. Não sou uma chefe maravilhosa? Vamos. Ligue para eles.
Hinata lançou um olhar para o seu cappuccino esfriando.
- É claro que vou ligar. Assim que eu... – Não teve a chance de terminar a frase outra vez e se deu por vencida, acabaria não almoçando mais uma vez.
- Preciso de seus instintos infalíveis, Hinata. Brighton desembolsará duzentos mil dólares por ano para um bom gerente geral, e se você tiver sorte, Kakashi e eu iremos renegociar seu contrato. Vinte e cinco por centro de cada comissão, começando com essa. Faça as contas. E nós podemos até mesmo adoçar o pote, dando uma boa contribuição para aquele seu jovem grupo de teatro. Que tal? Que nunca digam a Senju & Hatake não apóia as artes.
Sinais de dólares surgiam na mente da pequena Hyuuga. A agência de empregos tirou quinze por centro do salário do primeiro ano de cada candidato que ela colocou. Vinte e cinco por cento dessa soma seria sua. Sete mil e quinhentos dólares. Se seus chefes fizessem uma doação em cima disso... nossa! Hinata quase teria um orçamento para o projeto de outono de seu grupo de teatro de crianças de rua, o Playhouse MeanStreets. Espaço de ensaio, cenários, peças, iluminação, fantasias, nada disso era barato. Ela e os outros fundadores da Playhouse estavam sempre buscando fundos.
A Playhouse era a única coisa com que Hinata de fato se importava. Ser capaz de garantir pessoalmente o projeto de outono dos garotos... Era tentador. Até mais do que um cappuccino frio.
- Preciso de uma estratégia, Tsunade – Parou para pensar um pouco – Serei uma escritora. Quero escrever um artigo sobre o hotel deles, por isso deverei fazer um tour com o gerente geral.
Tsunade sorriu, triunfante.
- Vá em frente. Ligue para eles. Adoro assistir a nossa pequena Hinata em ação.
Hinata discou.
- Grupo de Hotéis Coroa Real – respondeu uma jovem do outro lado.
- Meu nome é Moritaka Hinata. Sou da Revista Euroupa Air inlight. Estou escrevendo uma série de artigos sobre acomodações de luxo, e espero descrever o Grupo de Hotéis Coroa Real. Gostaria de organizar tour preliminar, assim conseguirei ter uma idéia de como quero proceder. Seu gerente geral está disponível?
- Bem, ele participa de uma reunião no momento. Aguarde enquanto verifico a agenda dele... Ah, espere! Que tal hoje, ás três horas?
Hinata piscou. Olhou para o relógio prateado no pulso e viu que já eram duas e meia. Teria que correr para chegar a tempo, mas nunca era fácil de mais e era disso que gostava, do desafio.
- Tudo bem. E vou me encontrar com...
- O nome do gerente geral é Nara Shikamaru.
Tsunade sorriu quando Hinata anotou o endereço do hotel.
- Ei, não fique sentada aí! Vá em frente e nos consiga esse gerente.
- Certo, chefe.
O sorriso dócil de Hinata desapareceu assim que a porta se fechou. Gostava muito de sua chefe extravagante, mas não tinha energia para dramatizar naquele momento, pois nem teve a chance de saborear o seu almoço e agora teria que esperar mais um pouco.
Procurou por sua bolsinha de maquiagem, ajeitou o espelho e mirou-se nele com olhar crítico. Vinha dormindo mal de noite, e agora isso começava a evidenciar-se em sua aparência.
Devia estar se sentindo satisfeita consigo mesma. Era a melhor funcionária da empresa. Obtivera muitos lucros para a Senju & Hatake. O problema era que estava cansada de intrigas, dos jogos de poder.
Tudo começara quando sua carreira teatral chegou ao fim, quatro anos atrás, devido a seu desastroso caso com Kiba. Hinata necessitou de dinheiro e de uma distração. Aquele cargo proporcionou os dois. Além disso, caçar talentos da maneira como fazia era saída para suas frustradas habilidades em representar, e uma maneira de sair do buraco ao qual Kiba a colocara. Nunca pretendera que o emprego fosse permanente.
Agora sentia-se exausta e solitária, sua vida pessoal era uma desolação cruel. Porém, um problema de cada vez. Era uma longa corrida de táxi até os escritórios executivos do Grupo de Hotéis Coroa Real. Sem tempo para lamentar-se, sem tempo para almoçar.
Tirando os óculos, pôs as lentes de contato. Em seguida, apanhou alguns prendedores de cabelo e fez um coque francês. O conjunto de blaser preto estava bom. Passou um batom discreto, uma base para amenizar as sardas, um pouquinho de rímel e seu rosto ficou em ordem. Calçou sapatos que acrescentavam três centímetros a seu um metro e sessenta cinco. Estava pronta para ir.
A tarefa que a guardava era simples: introduzir-se com inteligência no escritório de Nara Shikamaru sem comprometer o emprego atual dele. Se Shikamaru parecesse promissor, ela iria persuadi-lo de que seria melhor para seu futuro profissional trabalhar no Grupo Brighton, e não no Coroa Real. Que pena que não estava usando uma blusinha mais curta... mas sem problemas. Seu seios impunham respeito mesmo com blusa abotoada até o pescoço.
Valia a pena ficar ao redor de alguns grandes executivos do hotel se isso lhe provesse fundos para o projeto de outono de suas crianças pobres. E daí se contasse uma boa mentira para passar pela recepção? Era um grande negócio. Ela era uma boa atriz, não uma má pessoa. Talvez devesse se tornar espiã e usar suas capacidades para servir o país.
Tornou a fitar-se no espelho, aprumando-se com afetação, como uma superespiã de Hollywood.
- Meu nome é Hyuuga. Hyuuga Hinata.
Repreendeu-se pela própria tolice, mas então pensou que, se precisava mentir para sobreviver, deveria ao menos se divertir um pouco no processo. Mas o que não sabia é que essa mentira iria virar a sua vida de cabeça para baixo.
