UNIVERSO ALTERNATIVO - Lady Erica, uma vampira centenária se vê obrigada a abandonar a capital do reino. Seguindo ordens do Conselho de Vampiros procura por uma cidade pacifica onde possa "glamourizar" os habitantes e viver em paz pelos próximos dez anos antes de poder voltar a vida de luxo da nova corte. Em busca de um abrigo para a noite acaba encontrando um mago ferido e as ruínas de sua cidade natal. Whitechapel.


1.


Erica suspirou irritada.
Quando ainda era humana costumava temer cavalos, mas desde que deixara a humanidade para trás o medo tinha se convertido em ódio, infelizmente para ela o sentimento era mútuo e os animais insistiam em tentar derruba-la de cinco em cinco minutos. Os malditos simplesmente pareciam sentir que ela já não fazia parte do mundo dos vivos.
Tinha roubado aquele em Kingsland, direto do estábulo real, podia detestar aquelas bestas, mas quando precisava de um fazia questão de ter o melhor.

O Conselho de Vampiros tinha decidido deixar a capital antes que os portões da cidade fossem trancados e o reino tomado pelos invasores. Abandonando os soberanos humanos e seus súditos aos inimigos que cercavam a capital pelo mar. Erica achava a fuga um desperdício, não via razão de fugirem quando podiam muito bem ficar e se alimentarem da população desesperada. E depois da invasão podiam dizer ao novo Rei que estavam ajudando, matando os inimigos de dentro da cidade. Mas Anastasia nem quis ouvir a ideia, apenas revirou os olhos, entrou numa carruagem real e fugiu com o resto dos Antigos, logo depois de ordenar que cada um fugisse para um canto do reino e só voltassem para Kingsland dali há 10 anos.

Estava sozinha pela primeira vez em quase cem anos. Estranho como a ideia tinha parecido sedutora nos primeiros dias, mas agora, duas semanas depois... Só queria chegar ao próximo condado, glamourizar os donos da maior casa ou castelo, tomar o lugar para si e viver feliz para sempre pelos próximos dez anos. Como uma lady!

O sol tinha começado a se pôr quando Erica avistou as torres do castelo. Com um puxão firme nas rédeas fez o cavalo parar. Não podia acreditar onde tinha ido parar. Mas as torres semidestruídas e cheias de eras não deixavam dúvidas, estava em sua cidade natal.

Tinha nascido em Whitechapel há 120 anos e morrido ali quando a cidade foi invadida por vampiros. Ou pelo menos foi o que pensou até acordar um dia depois com um par de presas proeminentes e um desejo forte por sangue. Sua ultima lembrança antes de ir embora com o Conselho dos Vampiros era de ver o que sobrara da cidade desaparecendo no meio do fogo. E pelo visto um século não tinha sido o bastante para a população se reerguer. Ou quem sabe ninguém tivesse sobrevivido afinal e talvez a velha Whitechapel hoje não passasse de uma cidade fantasma.

Bateu os pés e voltou a cavalgar, já não estava com tanta pressa. Tinha decidido passar aquela noite nas ruínas da cidade e seguir viagem na manhã seguinte. Ainda nem tinha alcançado os portões da cidadela quando foi atingida pelo cheiro convidativo de sangue fresco. Seus olhos brilharam dourados de interesse, não se alimentava há dias...

.+*+.

-Demônios!

Benny nem teve tempo de gritar antes de despencar. Bateu no chão com força e escutou um estalo alto, imediatamente uma dor lacerante subiu por sua perna esquerda e a ânsia de vomito se apresentou. Deitou lentamente de costas e respirou fundo tentando afastar a vontade de colocar tudo o que comera naquela semana para fora. Apesar de ter certeza de que tinha quebrado a perna precisava olhar a extensão do problema e não conseguiria se estivesse ocupado vomitando.

Podia ver o céu estrelado lá em cima. Um minuto estava andando pelo que um dia fora o coração daquela cidade amaldiçoada e no outro o chão estava ruindo e o engolindo. Sua avó tinha dito que era perigoso pisar naquele solo, mas ele tinha imaginado perigos normais... como vampiros, dragões, ratazanas gigantes, cobras devoradoras de gente... nada do tipo 'chão vacilante'. Respirou fundo e arriscou uma olhada na direção da perna. Imediatamente notou duas coisas. Primeiro que fraturas expostas eram piores e mais sangrentas do que o nome fazia pensar e segundo que estava caído numa alcova subterrânea, há muitos metros abaixo da superfície, na escuridão. Preferiu não pensar no fato de que não havia ninguém por perto e que ninguém em casa sabia que tinha fugido para se esgueirar nas ruínas de Whitechapel. Levaria dias para que achassem seu corpo. Isso se nenhuma ratazana gigante ou cobra devoradora de homens não o encontrasse primeiro.

Escutou o barulho de algo se arrastando no escuro a sua direita e sentiu o coração ir a boca. Era isso, estava morto, ia ser devorado por alguma criatura das trevas e ninguém nunca saberia o que tinha acontecido com ele. Em pouco tempo seria usado como exemplo de má conduta e logo... se tornaria uma lenda! Ficaria feliz se a perspectiva de ser devorado vivo não parecesse tão dolorosa quanto o osso quebrado em sua perna. Escutou novamente o barulho, dessa vez mais perto. Fechou os olhos com força e tentou lembrar as palavras que os sacerdotes diziam nas cerimonias de adeus. Mas a única coisa que conseguiu pensar foi em como sua avó iria chamar de volta sua alma só para dar um sermão interminável sobre lições aprendidas e más decisões.

Uma coisa bateu no chão próximo a sua cabeça, o cheiro forte de fluído de lamparina e o calor inconfundível do fogo fizeram com que soubesse que se tratava de uma tocha antes mesmo que reabrisse os olhos. Pode ver com um pouco mais de clareza o lugar onde tinha caído, um tipo de depósito pelo visto, entulhado de caixas de madeira vazias. Vários olhinhos refletiam o fogo, todos vidrados nele. Ratos normais, mas nem por isso menos perigosos, deviam estar famintos depois de tanto tempo só com caixas de madeira para roer. Podiam estar com medo do fogo, mas ele sabia que aquilo não os pararia por muito tempo.

Olhou para cima e viu a silhueta de uma mulher, na escuridão a única coisa que se destacava nela eram os olhos, o brilho dourado sobrenatural não deixava duvidas de que se tratava de uma morta-viva. Uma sanguessuga. Uma...

-Filha do inferno!-escutou a própria voz gritar antes que pudesse se controlar.

E num piscar de olhos ela já não estava mais na superfície, mas sim parada ao seu lado mostrando os dentes e fazendo os ratos e as outras criaturas a espreita correrem de medo. Benny sentiu o corpo convulsionar com a mesma vontade. A dor na perna pareceu aumentar e de repente sentiu como se o ar estivesse pesado com o cheiro de sangue. Do sangue que escorria de sua perna e empoçava o chão. Ficou imóvel quando ela se aproximou, os olhos dourados olhando com cobiça para o sangue.

-Então devo supor que você não vai querer ajuda para sair desse buraco?

O queixo de Benny caiu de choque, mas dessa vez ele se recuperou rapidamente antes que falasse algo potencialmente ofensivo e a vampira mudasse de ideia. Nunca tinha ouvido falar de sanguinários ajudando pessoas, principalmente de graça. Mas era parecia jovem-apesar de que vampiros eram famosos por não envelhecerem- talvez ainda tivesse um pouco de humanidade dentro daquele corpo frio. Um sorriso perigoso se espalhou pelo rosto bonito da loira.

-Sabe aquela lenda de que vampiros leem mentes?

Ela perguntou se ajoelhando sem dar importância ao que o chão imundo e o sangue fariam a seu fino vestido. Estava vestida feito uma lady da capital. E ele não se surpreenderia caso ela tivesse mesmo vindo de lá, todos sabiam que Kingsland estava sob ataque pesado e que logo a atual família real seria deposta-para não dizer executada- e um novo rei ocuparia o trono dos antigos deuses. Os vampiros, assim como os ratos, sempre eram os primeiros a abandonar um barco afundando.

-O que tem isso?-a voz dele soou rouca e cansada.

-É verdade.

Ela respondeu sorrindo e molhou as pontas dos dedos no sangue para depois levar a boca. Benny assistiu a tudo congelado, não tinha certeza se a cena o revoltava ou excitava. Notou que os olhos dela brilharam ainda mais depois.

-Então não importa se seu sangue é delicioso, se eu fosse você tomaria mais cuidado antes de sair comparando minha raça aos ratos de navios! Nós temos egos muito sensíveis... Por falar nisso, esse é o momento de parar de se referir a mim como Sanguessuga Filha do Inferno, o nome é Erica. Mas pode chamar de Lady Erica, eu faço questão.

E ofereceu a mão limpa para ser beijada. Benny levantou a sua própria na intensão de apertar levemente os dedos dela, mas a fraqueza com a perda de sangue pareceu escolher atingi-lo com força naquele momento. Deixou que seu corpo pesado batesse no chão e antes de se deixar envolver pela escuridão pensou ter ouvido Lady Erica dizer:

-Eu vou te tirar daqui.


Disclaimer: Minha Babá é Uma Vampira não me pertence. Kingsland também não me pertence.