Naked Soul
Sinopse: Blaine Anderson sempre pensara que era um zero à esquerda: um jornalista sem um futuro brilhante, fadado a permanecer na sombra do seu irmão… até que enfim "o amor bate à porta"… ou será ao contrário?
Pairing: Blaine x Sebastian (Andersmythe)
Géneros: Yaoi ; Romance ; Comédia ; Universo Alternativo
Advertências: Homossexualidade ; OOC
Disclaimer:
Todas as personagens de Glee são propriedade de Ryan Murphy, Brad Falchuk e Ian Brennan que desenvolveram a série para a Fox.
Beta-read: Clara
Notas:
Hoje celebramos o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, pelo que achei por bem publicar uma história que estava em stand by há já algum tempo.
Se amam ler e/ou escrever, digam Não ao plágio!
Fanfic publicado no Nyah! Fanfiction e no Spirit Fanfics.
Take One
O staff começava a abandonar o set de filmagens e o ator principal rumou para o camarim. A exaustão acumulada, depois de vinte e oito horas de trabalho sem descanso, já começava a passar fatura. A série era muito aclamada e como tal, os episódios eram ansiosamente aguardados, pelo que não foi nenhuma surpresa quando a agência recebeu um memorando a anunciar que o hiatus, durante o qual o elenco poderia por fim descansar e tirar umas merecidas férias, fora cancelado e deveriam regressar imediatamente ao trabalho em força e ainda com mais horas extras muito bem pagas. Era escravidão! Escravidão muito bem paga, mas ainda era escravidão no final de contas. Mas ele amava o que fazia… Era a sua paixão!
Atuar sempre havia sido o seu sonho desde que tinha memória.
Trocou de roupa e tentou guardar o telemóvel no bolso… salientado particularmente a parte do "tentou"… deixando o desgraçado do dispositivo de última geração cair ao chão, contribuindo assim para a adição de um novo risco no visor do aparelho eletrónico. Agachou-se, pegou no telemóvel, cuidando de não o deixar escorregar por entre os dedos, outra vez, colocando-o no bolso traseiro das calças e saiu a passo lento e tranquilo. Apanhou o elevador, pois a última vez que quisera ir pelas escadas para fazer um pouco de exercício físico, tropeçou nas atacas das sapatilhas e rolou três lances de escadas, terminando com uma fratura no pulso, já para não falar da agenda toda bagunçada, resultando num pesadelo também conhecido como CEO, managers, diretores, produtores, jornalistas e afins.
A agência tinha deixado bem claro, que estava estritamente proibido de realizar qualquer tipo de atividade física, que pudesse resultar num atentado contra a sua saúde e integridade física, sem observação adequada e previamente agendada. Basicamente tinham-lhe colocado uma babysitter aka. guarda-costas, que a propósito parecia tê-lo perdido pela segunda vez nesse dia. Aquele tal Karofsky nunca estava à vista, quando menos se dava conta este havia desaparecido novamente. Por algum estranho motivo, as suas ausências pareciam bater certinhas com as do stylist da série. Estariam Hummel e Karofsky em algum apuro? Talvez devesse informar a sua manager ou o CEO dos sucessivos desaparecimentos… Estariam a sofrer algum tipo de chantagem? Afinal, aquele era um meio muito competitivo e demandante!
O som típico do elevador a chegar ao destino distraiu-o dos seus pensamentos. As portas abriram-se e o jovem homem dirigiu-se ao exterior, rumando ao estacionamento. Chegado lá, revolveu os bolsos do casaco à procura das chaves do carro, mas estas não estavam em lado nenhum para serem encontradas. Regressou ao estúdio, mas as portas trancadas impediram-no de voltar ao camarim para recuperar as chaves, pelo que optou por apanhar o metro nessa madrugada fria e escura.
oOo
A poucos metros da estação foi barrado por três homenzarrões, que pareciam necessitar urgentemente de um guia sobre cuidados higiénicos, para não falar dentários, que o empurraram bruscamente para dentro de um beco.
― Ei! Tu és aquele ator… Como é que era mesmo o nome? ― O hálito nauseabundo, pelo fedor a álcool, bateu contra o rosto do moreno.
― Sebastian… ― O tipo cheio de tatuagens forçava o cérebro de ervilha a funcionar corretamente, querendo recordar o nome. ― Sebastian Smith! Acho que é isso.
― Estás parvo!? ― exclamou o primeiro, sendo secundado por um rufia cheio de músculos e de cabeça rapada, que parecia ter saído diretamente de uma cena de skinheads de um filme de quinta categoria, só faltava mesmo era a melodia tétrica e de mau gosto.
― Esse é o Sebastian Smythe! A minha patroa é louca por ele… Cada vez que este gajo aparece na televisão, ela fica toda empolgada. Dá gritinhos histéricos, abana-se toda por culpa dos calores… Nem quer ter sexo comigo… Só quer saber dele! Ele é a versão do "tenho dor de cabeça" da minha Kirsten.
― Deveríamos dar cabo dessa cara de menino bonito? ― O homem tatuado aproximou-se a Sebastian, agarrando o seu rosto e virando-o de perfil, com olhar analítico. ― Assim da próxima vez que ele aparecer na televisão, a tua patroa não vai querer saber nada dele…
― Hmm… Estou a perceber ― disse o rufia careca. ― Boa ideia! Por onde começamos? Não vejo a hora de voltar a ter alguma ação com a minha Kirsten, sem que esta pare no último instante para ir ver um novo episódio de "Anti-Terrorism Squad" ou assistir ao filme "Cold Blood Killer" pela enésima vez. Senão é um agente especial ou um militar há-de ser um assassi…
― Pelo nariz! ― interrompeu o outro, não querendo dar corda às lamúrias do amigo ― Ninguém gosta de um fulano com uma batata no meio da cara…
― A menos que seja tomado por palhaço, com o enorme nariz vermelho… ― exclamou o tipo de hálito fedorento, ao que os outros dois riram agarrados à barriga.
― Não precisam fazer isso… Tenho a certeza que podemos resolver isto de maneira civilizada ― defendeu-se o ator, retirando a mão do brutamontes do seu rosto e recuando um passo.
― Claro! ― exclamou o tatuado, acotovelando o amigo nas costelas ― Podemos resolver o assunto de forma civilizada…
― Depende de quanto dinheiro trazes contigo! ― concluiu o homem com mau-hálito.
Sebastian pega na carteira para passá-la ao rufia mais próximo, mas com a sua habitual torpeza, desconhecida pelo mundo exterior, tropeça e bate com o objeto na cara dele.
― F-Foi um acidente! ― gaguejou com um sorriso afetado ao ver os bandidos levantarem os punhos e estalarem os dedos em gesto de antecipação.
O assaltante prepara-se para lhe dar um murro na cara, mas o ator, nervoso e trapalhão como só ele podia ser, deixa cair a carteira e agacha-se para a apanhar. O homem bate com o punho na parede, resultando num sonoro estalar de ossos. Ao ver quão furioso este estava, Sebastian atira-lhes a carteira e foge na direção contrária. Estes não querendo deixar a situação assim, correm atrás dele. Um dos homens agarra-o pela gola da gabardine Burberry, tentando mais uma vez escapar dos assaltantes, o ator despe o casaco apressadamente e corre até à estrada mais transitada que conseguiu encontrar naquele curto espaço de tempo. De tanto correr e correr, sem olhar por onde ia, a celebridade tropeça num mendigo e cai no duro piso de asfalto, partindo o telemóvel que descansava pacificamente no bolso traseiro das suas, agora, esfarrapadas calças.
O moreno suspira ao ver a sua última esperança despedaçar-se frente aos seus olhos desanimados. Sem telemóvel, não podia ligar para a central de táxis para poder requisitar que lhe enviassem um, ou pelo menos para poder informar a agência sobre o seu paradeiro. Se bem que… agora que refletia um pouco…
"Informar onde estou… Mas que tonto sou…Onde raios é que eu estou?", pensou Sebastian, observando os arredores. "Correr sem rumo fixo nunca acaba bem, não é mesmo? E agora? Esquadra… A polícia saberá dizer-me onde estou e como chegar a casa em segurança. E a Santana ainda tem a lata de me dizer que sou um inútil… Um inútil não saberia que tem de procurar uma esquadra. Toma lá, Santana!", exclamou o artista triunfantemente para si mesmo.
O jovem ator vagueou por várias horas sem saber por onde ir. Quando menos se deu conta… estava no meio do nada. Nem uma só casa à vista… Apenas uma estrada deserta…
"Como é que eu vim aqui parar?", Sebastian suspira deprimido, "Talvez seja verdade… e eu tenha zero sentido de direção! A minha mãe tinha razão… mas de forma alguma voltarei a utilizar um estúpido guizo à volta do pescoço!", tremeu dos pés à cabeça ao recordar as memórias terroríficas da sua infância. "Não sou um gato! Tenho uma reputação a manter!"
Continuou a caminhar até que viu luzes ao longe, mas tal poderia ser na realidade uma miragem fruto da fome, da sede e do stress de quase ter sido espancado, sem falar da privação de sono a que fora submetido no trabalho. A diretora não os deixara descansar até terminar de filmar a cena do resgate completa e sem uma única falha. Mesmo assim, haviam perdido horas nisso, pois a terrorífica e altamente galardoada diretora e produtora cinematográfica, não deixava de os interromper. Já fosse para apontar erros ou para reclamar quão mortalmente aborrecidos eles eram. Tinha perdido a conta a quantas vezes havia escutado as palavras: "Corte! Foi horrível!", "Chamam a isso representar? Uma égua de salto alto faria melhor!" e "Pensam que isto é difícil? Eu estou a ter um cálculo biliar enquanto falamos, isso é que é difícil!"
Sue Sylvester poderia ser a melhor diretora e produtora cinematográfica que a nação americana já produzira na história, mas era um pesadelo de pessoa. Não existia um único indivíduo em todo o planeta que estivesse disposto a casar-se com ela. Talvez fora por essa razão que recebera aquele estranho convite de casamento, na semana anterior, a convidá-lo para o matrimónio de Sue Sylvester com… Sue Sylvester!?
"Ah! Já sei!", comemorou Sebastian. "Como ninguém a atura, ela não teve outro remédio a não ser casar-se consigo mesma, pois duvido seriamente que haja outra pessoa com o mesmo nome, ainda mais uma que esteja decidida a contrair matrimónio com uma tirana sem ética como a Sue."
Coincidências não existem! Pelo menos… não naquela extensão.
"Tenho de dormir… e comer… Estou a começar a pensar em coisas sem nexo! Quanto faltará para chegar lá?", Sebastian observou as luzes de um prédio que pareciam começar a dançar ao som de uma música imaginária. Esfregou os olhos incrédulo e continuou a andar. Parecia que o caminho até ao prédio iluminado nunca mais tinha fim.
Os candeeiros uniram-se ao show de bailado, dançando com os semáforos, que intercalavam cores ao som de uma melodia inexistente.
"Alucinações? Fantástico, simplesmente fan-tás-ti-co!"
O cansaço acumulado fez com que os seus pés parecessem passar a pesar toneladas, pelo que passou a arrastá-los com dificuldade.
"Só mais… um… pouco…"
Um passo, agora outro e mais um e estava finalmente frente à porta de uma Estação de Serviço 24 horas. Ergueu o braço, a sua mão quase alcançava a tocar o puxador da porta.
"Pedir… Telefonema… Comida…"
A porta abre-se repentinamente e bate contra a cara do ator. O último que Sebastian viu antes de perder a consciência foi a expressão de espanto no rosto do homem que segurava a porta.
