Título: Waking up to life
Categoria: 1ª Gincana de les mis A heart full of love; Slash M/M; Fluff; Modern!Au
Advertências: Leve referencia a sexo.
Resumo: Javert piscou devagar, sonolento. Não sabia precisar se algum dia já acordara tão bem assim
Waking up to life
Javert piscou devagar, sonolento. Não sabia precisar se algum dia já acordara tão bem assim. Conforme ia se sentindo mais desperto, deu-se conta que algo o envolvia, mas não era somente o cobertor que o deixava aquecido naquela manhã fria.
Por um momento seus instintos o fizeram seus músculos retesarem, até se lembrar e confirmar que era Jean Valjean quem o abraçava por trás, o peito colado em suas costas, um braço jogado por cima de sua cintura e o nariz enfiado em sua nuca, causando arrepios com sua respiração compassada.
Suspirou, relaxando, um sorriso se formando em seus lábios sem que pudesse impedir, afundou o rosto de leve no travesseiro, não querendo se remexer demais e acordar o outro. Nesse gesto, acabou sendo inundado pelo cheiro de Jean, misturado com o que reconheceu como seu desodorante, corou, constrangido. Era a cama de Valjean, ou melhor, a casa dele e era a primeira vez que dormia ali, aliás, a primeira vez que dormia numa casa em que não morasse.
Sob seus olhos fechados viu claramente flashes da noite passada, como haviam se beijado o tempo todo, mal parando para respirar, o jeito que Jean o tocara, as reações que causara, como ele, Javert, envolvera a cintura do outro com as pernas enquanto ele...
Abriu os olhos, o rubor indo do seu rosto e espalhando-se por seu peito e um calor passando por seu corpo e descendo pelo meio de suas pernas. Ficou imóvel, acalmando a respiração e torcendo para o outro não ter sentido o leve tremor que tomou seu corpo. Não era hora para isso. Logo precisava ir trabalhar...
Nesse momento percebeu que não olhara para o relógio ao acordar, como era seu costume. Engoliu em seco, com um mau pressentimento.
-Estou atrasado! – ele quase engasgou ao praticamente gritar.
Livrou-se do outro e pulou da cama num movimento só, indo procurar suas roupas, as mesmas da noite passada, para seu horror. Não esperava passar a noite quando bateu na porta de Jean ontem.
-Javert?- ele disse em meio a um bocejo, a voz cheia de sono -O que foi?- esfregou os olhos, tentando acordar mais.
-Eu estou atrasado!
-Ahn?- Jean olhou para o relógio –Oh, nem tanto assim, a não ser que o trânsito esteja ruim...
-Você não entende! Eu nunca me atrasei! Para nada! Em toda a minha vida!
-Mesmo?- Jean sorriu cético, mas não ousou contestar, podia bem ser verdade –Bem, se é a primeira vez, talvez eles deixem passar... e você não é o chefe lá?
-Essa não é bem a questão... o ponto é que se tem um horário a cumprir e eu sempre o faço... além disso... as pessoas vão perceber e comentar e eu detesto esse tipo de coisa...-nesse ponto Javert já estava quase completamente vestido e aproveitou que abaixava o rosto ao calçar os sapatos para esconder como ficara corado e quanto isso o preocupava e perturbava.
-Eu tenho certeza que ninguém lá arriscaria a própria vida te perguntando sobre o assunto ou falando onde você pudesse ouvir, tirando isso, está fora do seu controle o que falam ou deixam de falar... o ser humano é curioso, alguns se controlam por respeito ou moral,mas nem todos tem esse bom-senso...-Jean erguera-se, levantando-se da cama e se espreguiçando (o que Javert fingiu ignorar, mas tirou a irritação do seu rosto causada pelas palavras do outro). –Além do mais, se você quiser que todos morram de susto, caso só o seu atraso não baste...-ele brincou, fingindo um tom sério, porém sorrindo -... você sempre pode comentar que está namorando um presidiário...- ele testou o assunto, querendo discretamente confirmar o que Javert dissera na noite passada. Isso já tinha sido um problema por tantos anos.
-Reformado. Um presidiário reformado. E eu não discuto minha vida pessoal no trabalho, mesmo que discutisse, não vejo porque isso seria um choque tão grande... é verdade que você foi preso,mas cumpriu sua pena e depois virou um homem honesto, está livre de qualquer reprimenda ou julgamento... –Javert disse, repetindo alguns dos argumentos que Jean lhe falara ao longo dos anos, quando o destino os fazia se reencontrar, anos depois do fim da pena do mais velho.
-Obrigado, Javert. Eu sei que isso foi algo difícil para você aceitar...
-Sim, foi, mas, como eu disse noite passada, eu já passei tempo demais remoendo isso, se a lei diz que você pagou o que devia e suas ações mostram que não é apenas um ladrão, mas sim um homem de verdade, capaz de mudar e melhorar a cada dia...-isso fora algumas das coisas que Javert concluíra por si mesmo e sentia-se envergonhado por ter demorado tanto a perceber, entender e aceitar isso -...enfim, eu desisti de colocar impedimentos em algo que me traz felicidade...droga de gravata!- ele interrompeu o momento, quando, tendo se voltado para o nó que tentara fazer na gravata, apenas piorou a situação. Agora ele olhava irritado para a peça de vestuário.
Jean aproximou-se, afastando as mãos do outro da gravata que ele já tentara três vezes arrumar.
-Deixa eu fazer isso... quando se tá apressado fica dando tudo errado e se perde é mais tempo do que se se fizesse com calma. Eu não sou tão bom nisso quanto você, mas creio que pelo menos uma gravata bem-arrumada já vai ser de grande ajuda...eu te emprestaria uma roupa minha, mas eu sei que você não gosta de fazer isso e também tem a diferença de tamanho além de que te atrasaria ainda mais... Prontinho.- ele terminou, erguendo o rosto de Javert pelo queixo e plantando um beijo rápido nos lábios, fazendo-o corar.
Jean sorriu, virando Javert pelos ombros para que pudesse se olhar no espelho. Seu sorriso aumentou quando viu o leve aceno de aprovação e o rubor agora discreto quando o detetive olhou para ele no reflexo do espelho.
-Você não tem que trabalhar? –Javert bufou, tarde demais percebendo que seu tom soara menos censurador do que pretendia.
-Eu ainda tenho um tempinho...
Ficaram em silêncio com o olhar preso um no do outro quando Javert se virou para ficar de frente para ele de novo. Jean sentiu que o detetive queria lhe dizer algo importante, a prova era ele ainda estar ali, correndo o risco de se atrasar ainda mais, então ele esperou, paciente.
Não demorou muito, Javert também parecendo se lembrar do tempo.
-Tem um restaurante... perto da delegacia...eu almoço lá todo dia...
-Eu vou adorar almoçar com você hoje...
Javert acenou em concordância, agradecendo em silêncio por não ter de fazer a pergunta, depois beijou o outro, tendo puxado-o pela nuca e em pouco tempo o soltando, precisando afastá-lo com uma mão em seu peito para que se separassem.
-Eu... eu preciso ir...
-Desculpe... Até mais tarde, Javert.
-Até mais tarde...Jean...- ele disse da porta, saindo.
Ele sentou-se na cama, querendo se beliscar para ter certeza que aquilo acabara de acontecer, inclusive a noite anterior.
Javert não ter usado esse atraso como desculpa para desistir de tudo que oferecera ontem era o melhor dos sinais. Talvez dessa vez fosse funcionar. Haviam tentado algumas vezes, ou melhor, sugerido, desde que perceberam que a fixação de Javert ia bem além do dever profissional assim como Jean também não conseguia evitar se sentir atraído e encontrar o outro. Sempre dava errado por algum motivo, em geral pela teimosia de Javert e seus princípios. Foram anos disso.
Não sabia direito se aquilo era... bem, talvez fosse isso mesmo: era um bom final para uma longa vida de discussões, mágoas e solidão e o começo de algo especial e completamente novo, não ignorando o passado mas sim superando-o juntos, conforme fosse necessário.
The end.
