Andava de um lado para o outro, apertando os braços até os nós dos dedos ficarem brancos. Nervosa, impaciente.

Ela era, nada mais nada menos, que uma Julieta abandonada. Não no altar, mas na porta do teatro.

Às seis horas, ela dissera, às seis horas em ponto.

"Tudo bem, não se preocupe", aquele loiro miserável respondera, "eu vou estar lá".
Mas agora, seis e dez, e nada de Romeu.

- Se eu pego aquele infeliz, eu mato! Ah, se mato! – Sakura fazia ameaças ao vento, com as mãos trêmulas de ansiedade.

Já havia feito o caminho do teatro ao ponto de ônibus inúmeras vezes, e de salto alto. De salto alto!

Os risinhos e cochichos das pessoas que passavam eram, de longe, o que menos incomodava.

Levantou os olhos castanhos para o fim da rua, onde um Naruto com roupas de outra época vinha correndo, afobado.

- Sak – parou na frente dela, curvado, com as mãos nos joelhos, e começou a falar, ofegante – Me desculpe, me desculpe mesmo, acontece que eu-... – foi cortado pela mão dela, que o agarrou pelo colarinho e saiu o arrastando.
- Isso não importa, depois você se explica. Agora vamos logo que já estamos atrasados.

E saiu o arrastando teatro à dentro. A segunda cena cômica da noite, antes mesmo das cortinas se abrirem.

A cena final. A morte de Julieta. De olhos semicerrados, ele a observava silenciosamente. Era um homem morto e deveria agir como tal. Gotas de suor escorriam pelo rosto dela, causadas pela sua enorme integração à personagem.

Finalmente, o corpo dela caiu graciosamente sobre o seu. A platéia imensamente comovida ferveu em palmas. Ele aproveitou o ruído alto para sussurrar-lhe, com a respiração pausada de um morto.

- Sak?
- O que foi? – respondeu em tom igualmente baixo.
- Eu te amo.

Toda aquela baboseira de teatro e toda aquela espera, haviam, afinal, valido a pena.