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I love everything you hate about yourself
Às vezes é difícil encarar o próprio reflexo no espelho e ignorar os gritos em sua cabeça, que apontam o quão pequena e dispensável você é. Sufocar os medos e as incoerências de ter passado a maior parte de sua vida sem conseguir a aprovação social, ainda que você saiba que tem um extenso vocabulário em diversas línguas na cabeça, como algo natural, carnal, automático; Ainda que você saiba dissecar uma expressão, dizer exatamente a origem de uma palavra e poder verbaliza-la com a correta entonação. Nunca incomodou, porém, ser tão desprovida de habilidades mundanas. Até Jane. Até se deparar com a figura alta, magra, de cabelos negros, cacheados, livres, que sorrateiramente se instalou sob os seus lençóis. Literalmente. Com Jane – essa mulher distinta, única, singular – não fora fácil. As variações de perfis, de sorrisos, de olhares e expressões atordoaram você. Seus estudos corporais, científicos e sociais não foram capazes de dar suporte necessário para que você pudesse ler aqueles sinais. Era como estar numa batalha interminável, numa busca incansável, como se todo seu esforço não compensasse o pouco que era conquistado. Boba. Enquanto você tentava decifrar aquela mulher, ela se instalava e se infiltrava em suas veias, como droga. Viciando-te; Te puxando, te prendendo. E você só pôde culpar aqueles olhos intensos e o grave som da voz que guturalmente se fazia ouvir. E você, grande gênio, não percebia. Você, que observava, sugava e estudava aquela que inexplicavelmente permaneceu após te abrir, te conhecer e te ouvir. Você, tão fiel a certeza de não ser merecedora de milagres, encontrou a salvação no toque dos dedos cumpridos que seguravam sua mão antes de dormir. Você, que enquanto não via motivos para sorrir ao encarar o reflexo matinal no espelho, se viu gargalhar quando dois braços te abraçaram por trás contornando sua cintura, quando duas palmas se arrastaram por sua barriga avantajada e um comentário rouco pairou em seu ouvido gelado, sendo aquecido pelos lábios finos que mordiam seu lóbulo carinhosamente. E você reconheceu, lembrou e se deleitou ao compreender o sentir, o desejar, o querer. Você tocou o infinito. E, se antes você odiava cada parte errada que compôs seu ser, todas as noites poderia ler, ouvir e ver as palavras que nem sempre eram ditas, mas estavam palpáveis a cada olhar. Era ela, Jane – sua amiga, amante, parceira e esposa – dizendo que entendia, reconhecia e amava cada parte que você odiava sobre si.
