Nota:

Os personagens de Saint Seiya não me pertencem, apenas Serena e Griffin Mackenzie são criações únicas e exclusivas minhas para essa história.

A musica "Gravity of Love" pertence ao grupo Enigma.


Importante!

Dama 9 e amigos incentivam a criatividade e liberdade de expressão, mas não gostamos de COPY CATS. Então, participe dessa causa. Ao ver alguma história ou qualquer outra coisa feita por fã, ser plagiada ou utilizada de forma indevida sem os devidos créditos, Denuncie!

Boa Leitura!


O LABIRINTO DE BYRON.

BY DAMA 9

.:: Prólogo – A Lenda::.

Diz uma antiga lenda que corria pelos salões de Vaxaul causando verdadeiro frisson, que a mulher que conseguisse apenas uma vez, tocar em Byron – o famoso lorde poeta – teria seu destino mudado e as mais inimagináveis aventuras iriam acontecer em sua vida.

Hoje, a mansão vitoriana de Vaxaul nas proximidades de Londres, já não é mais o palco de doces romances ou tórridos casos de amor e sim, um internato para jovens artistas.

Mas as lendas ainda vivem povoando os corações de jovens sonhadoras que esperam ansiosas por uma reviravolta em suas vidas, ou nos rapazes que almejam, nem que seja por fugazes minutos serem a personificação de um Byron.

Ardente, sedutor e intenso...

E é num palco de sonhos, histórias e lendas que essa história tomará formas e vida. Onde dois corações hesitantes vão descobrir que não é a flecha que muda o destino e sim, a força de vontade daquele que atira. Basta apenas não perder a fé...

.I.

Vire-se

E cheire o que você não vê

Feche os olhos

Está tão claro...

Escócia/ Aberdeen – Terras Altas...

Recostou-se no tronco de uma árvore e respirou fundo, tentando recobrar o fôlego. Ouviu o som de um galho quebrar e virou rapidamente para trás, mas por sorte não era ninguém; ela concluiu aliviada, levando a mão ao colo, sentindo o coração disparar ante a perspectiva de ser encontrada.

Pouco se importava se lhe chamassem de mimada ou arrogante por estar agindo daquela maneira tão impulsiva, mas ou era isso, ou iria surtar; ela pensou com desalento, enquanto erguia os orbes para cima, vendo o caminho que percorrera ao longo daquele labirinto de eras praticamente desaparecer com a escuridão da noite.

Mesmo daquela distancia ainda conseguia ver algumas luzes vindas da casa principal, onde o baile a fantasias organizado pela amiga Serena Mackenzie, acontecia. Serena era uma garota carismática e simpática. Haviam se conhecido quando estudaram juntas num colégio onde seu "avô" havia lhe matriculado na Suíça, haviam dividido durante quase seis anos o alojamento, até que teve de deixar a escola e retornar ao Japão devido ao falecimento do avô.

Continuou a andar, sentindo os sapatos de salto alto afundarem na grama fofa e verde, sorriu levemente, a primeira coisa que havia notado quando chegaram a Escócia fora o verde dos campos. Um verde agradável e convidativo, que lhe fazia ter vontade de se deitar na grama e não fazer absolutamente nada, para apenas ficar olhando para o céu, seja noite ou dia.

Passou as mãos pelo vestido, tentando reduzir um pouco o volume da saia cheia de frufrus e babados. Embora houvesse abandonado o habito de usar vestidos longos e sóbrios, aquela noite decidira radicalizar. Estava usando um vestido sim, mas de sóbrio e recatado ele não tinha nada; ela pensou lembrando-se da forma como deixara-se influenciar por Serena na escolha da fantasia.

Balançou a cabeça levemente para os lados, enquanto erguia a barra da saia e continuava a avançar pelo labirinto.

Deveria ter optado por dar a volta por fora, em vez de embrenhar-se naquele caminho verde, mas no momento não havia pensado que acabaria se perdendo entre as galerias.

Provavelmente alguém já teria dado por sua falta, mas não iria pedir ajuda. Já era vergonhoso demais o fato de ter fugido, agora pior seria entregar-se ao desespero e gritar esperando que seu "cavaleiro de armadura dourada" viesse lhe resgatar com aquele sorriso cínico e olhar tão frio quanto o Estreito de Bering na Sibéria.

-Ninguém merece; Saori resmungou, deixando a saia cair novamente, enquanto as camadas de cetim e tule cobriam a grama. A próxima vez que fosse convidada para um baile à fantasia, viria vestida de mosqueteiro. Não conseguia imaginar como uma mulher em sã consciência usava um vestido pesado daqueles, isso porque não estava usando aquela armação de arame para dar volume à saia, todo aquele peso era só de tecido; ela pensou sentando-se no chão.

A parca luz da lua invadia o labirinto jogando sobre a grama filetes prateados. Agora estava bem longe da entrada do labirinto e da mansão, mas não sabia quanto ainda faltava para chegar à saída. Quem sabe se houvesse pegado um mapa, não teria essa preocupação agora.

-Nem pra fugir direito você serve, Saori; a jovem resmungou para si em desalento.

Mas também a culpa não era sua, se aquele projeto de Casa Nova não houvesse lhe irritado com aquela conversa de "amante errada" não teria deixado o salão cuspindo fogo e tido um motivo a mais para desaparecer.

Tudo bem que estava sendo um pouco radical, mas a verdade é que a vida vinha sendo bastante injusta consigo nos últimos tempos, pelo menos, as Deusas do Destino estavam lhe fazendo ter essa impressão. Ou do contrario, não teria sido justamente ele o cavaleiro designado por Shion para lhe acompanhar ao aniversário de Serena, dentre pelo menos quarenta residentes no santuário.

E pensar que as coisas já haviam sido tão diferentes; Saori lembrou recostando-se na parede de eras atrás de si. Um dia, não muito tempo atrás havia gostado de ser o centro das atenções, de participar de festas e tudo o mais.

Entretanto, isso tudo parecia tão fútil e sem perspectiva e longe da realidade agora. Tanto que se fosse à festa de outra pessoa, não teria ido. Desde que as guerras haviam acabado esse era o primeiro evento que participava, alem é claro, dos casamentos dos amigos que ocorreram nos últimos três meses.

Suspirou pesadamente, se não fosse por isso, teria ficado no santuário, onde vivia agora e para aumentar seu suplicio o guarda-costas da vez era o mais novo Casa Nova do santuário, não que isso fosse alguma novidade, é claro.

Serrou os punhos nervosamente. Houve uma época que as coisas não eram assim, no entanto, talvez devesse atribuir isso a perspectiva de não estarem vivos no dia seguinte, mas o fato era que não conseguia associar a imagem gentil do cavaleiro que sempre conversara consigo de igual para igual com o Casa Nova cínico e arrogante de agora.

Balançou a cabeça levemente para os lados, já deveria ter aceitado que nada seria como antes. As pessoas mudavam e não tinha direito algum de questionar isso, apenas achava difícil aceitar; ela concluiu.

Naquela época, embora tentasse aparentar calma, estava apavorada e triste pelo inevitável. Sentia-se impotente diante da guerra contra Hades e seus espectros que estavam batendo nos portões do santuário. Muitas vidas já haviam se perdido, quantas mais eram necessárias para acabar com aquilo? –ela se indagara na época.

Mesmo que muitos desconfiassem dele e não aprovassem sua decisão de abrigá-lo no último templo, não admitira contestações e naqueles poucos dias que precederam à guerra, encontrou nele um bom amigo e um porto seguro para suas emoções tumultuadas.

Kanon não lhe tratara como criança, tão pouco apenas por Athena. Ele compreendia seus medos e incertezas, principalmente quando ordenou que a entrada dos cavaleiros de bronze no santuário fosse vetada.

Entretanto, agora lhe tratava apenas por Athena com uma deferência polida e distante indiferença. Talvez o melhor que pudesse fazer era voltar a viver no Japão, pelo menos lá, não teria que se preocupar com cavaleiros, deuses ou guerras santas que agora pareciam apenas parte de uma lenda antiga.

Alem do mais, os cavaleiros de bronze que ainda residiam na mansão Kido não lhe santificavam ou a colocavam num pedestal de cristal.

Inclinou-se para frente, desviando dos barrados, frufrus e camadas de tule para alcançar os pés, com cuidado retirou os sapatos sentindo imediatamente alivio e libertação.

-"É, devia ter feito isso desde o começo"; ela pensou, mesmo porque não fora uma idéia muito inteligente andar com sapatos de salto ponta de agulha sobre a grama.

Estremeceu quando os pés quentes tocaram o solo frio, era melhor continuar a andar. Agora que já havia tomado sua decisão, alias, já vinha pensando em uma mudança desde três meses atrás, antes do casamento de Hyoga, mas com toda aquela agitação decidira ter um pouco mais de paciência.

Suspirou pesadamente, até mesmo a mansão Kido parecia grande demais para se viver agora que uma boa parte dos amigos se mudara. Hyoga e Freya haviam se casado e ido viver em Moscou, sendo precedidos por Shun e Hilda que se deixaram levar pelo espírito casamenteiro e contrariando todas as possibilidades, haviam se casado também e viviam entre Asgard e Tóquio.

Ikki e June haviam se casado duas semanas atrás e pretendiam ter o próprio cantinho. Restando apenas Shyriu, Seiya e Thouma irmão de Marin. Mas Shyriu em breve voltaria com Shunrei para Rozan, onde pretendiam se casar até o final do ano.

No fim, para si só iria restar agüentar as trapalhadas de Tatsumi; a jovem pensou fechando os olhos, sentindo a brisa suave da noite acariciar-lhe a face rosada, enquanto soltava do coque os longos cabelos lilases.

Remexeu-se inquieta sob a grama e não pode deixar de baixar os olhos para o decote revelador do vestido. Talvez devesse ter escolhido outra fantasia, quem sabe uma de freira; ela pensou torcendo o nariz, incomodada ao notar que, o que era para ser uma brincadeira, estava se tornando fonte de desgosto, começando por aquela historia de "amante errada".

Quando Serena sugerira que se vestisse de Ana Bolena, achou que seria divertido encarnar um personagem cuja personalidade era totalmente diferente da sua, mas a brincadeira deixara de ter graça quando as palavras de Kanon surgiram tão cortantes quanto uma saraivada de flechas sobre si.

Engoliu em seco, sentindo os orbes marejarem. Não devia se importar com isso, mas pensar e fazer eram coisas totalmente diferentes; ela concluiu amargamente. Durante uma hora inteira, que mais pareceu um ano, decidira ignorar o cavaleiro e sua opinião, e simplesmente andou pelo salão encarnando com estilo o papel de cortesã inglesa, flertando e sorrindo para todos, como se não possuísse preocupação alguma.

Mas era difícil, quase impossível ignorar a presença forte e inquietante dele, por isso optara por uma saída pela tangente e deixara o salão.

-Idiota sem senso de humor; ela resmungou, lembrando-se que ele lhe dissera para trocar de fantasia, já que estava vestida como a amante do rei errado, sendo que ele, aquela noite, encarnava o papel de Rei Ricardo – Coração de Leão, com roupas rústicas de tecidos pesados em tons de vermelho e terra.

Ergueu-se com um pouco de dificuldade do chão e pôs-se a caminhar novamente. No céu as estrelas brilhavam ainda mais intensamente com a chegada da noite, eram em momentos solitários e silenciosos como esses que se perguntava por que não esquecera tudo? Como acontecera com Julian depois que o santuário do mar fora destruído.

Porque não podia simplesmente esquecer e ter uma nova vida como ele mesmo fizera pouco depois que as guerras chegaram ao fim, quando se casou com Tétis? Talvez não merecesse isso; uma vozinha petulante soou em sua mente.

-É, talvez não mesmo; ela murmurou em concordância.

A cada passo que dava, ouvia o som de água se movendo, provavelmente estava perto da saída, Serena mencionara mais cedo que a saída do labirinto ficava de frente para a encosta do mar. Respirou fundo, sentindo o cheiro de maresia inebriar-lhe os sentidos.

Aberdeen era uma das cidades mais lindas que já vira, não apenas pelo verde dos campos, mas a atmosfera escocesa era misteriosa e intrigante. Jamais se cansaria de ficar ali, principalmente depois de ouvir as histórias que Serena contava sobre o último Lorde Byron, que vivera parte da infância e adolescência em Aberdeen com a mãe, antes de retornar a Londres assumindo seu posto de Lorde na Câmara dos Comuns e também, há uma vida de libertinagem e exageros.

Um sorriso triste pouco a pouco formou-se em seus lábios, como queria voltar no tempo, naquela época em que não sabia nada sobre deuses e cavaleiros, mas com apenas uma diferença, jamais queria voltar a ser aquela fedelha mimada e egoísta de antes; ela pensou.

.II.

Aqui esta o espelho

Por trás há uma tela

Em ambos os caminhos você pode seguir...

Embora não fosse basicamente obrigado a aturar as tagarelices da Hera Grega que estava a sua frente, impingiu-se esse suplicio para simplesmente não sair atrás dela como um cachorrinho pelo salão.

Serrou o punho, apertando o copo de uísque nas mãos, estava atento a tudo ao seu redor, mas aquele pandemônio de cores a sua frente, já estava lhe dando dor nas vistas.

-Então você é grego também; a Hera falou sorrindo insinuante, enquanto aproximava-se do cavaleiro, deixando as penas de pavão pintadas de varias cores que adornavam seu penteado moverem-se como as bolas de uma árvore de natal.

-Sou; ele limitou-se a responder.

Os intensos orbes verdes varreram o salão e instintivamente franziu o cenho. Onde ela estava? –Kanon se perguntou.

-Então? –a mulher indagou apoiando-se em seu braço.

-O que? –ele perguntou recuando de maneira nada sutil.

-Na Grécia, você trabalha com o que? –ela perguntou com um sorriso insinuante.

-Segurança; o cavaleiro respondeu aborrecido.

Não fazia nem cinco minutos que vira Saori conversando com Serena do outro lado do salão, agora ela simplesmente desaparecera. Isso não era nada bom; ele pensou preocupado.

Haviam muitas pessoas desconhecidas naquele salão, embora a maioria fossem amigos da anfitriã, não confiava em ninguém ali quando o quesito era a segurança de Saori.

-Com licença; Kanon falou, afastando-se da mulher antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa.

Tudo havia sido perfeitamente planejado, desde o mapeamento da área, até os sensores hiper sensíveis que haviam sido instalados nas portas para garantir que ninguém entraria armado ali, foram conferidos. Não deveria haver uma falha sequer no sistema de segurança, no entanto ela desaparecera.

Passou a mão nervosamente pelos cabelos, tentando pensar racionalmente. Respirou fundo, se fosse analisar toda aquela situação desde o começo, a missão de protegê-la já estava fadada ao fracasso. Deveria ter deixado Saga vir em seu lugar, quem sabe tivesse menos problemas.

Balançou a cabeça nervosamente para os lados, não era hora de arrependimentos, tinha de achá-la imediatamente; Kanon pensou percorrendo o salão até a mesa onde Serena e seu irmão, Griffin Mackenzie estavam.

-Com licença; ele falou aproximando-se.

-Ah! Kanon, o que esta achando da festa? –Serena indagou sorrindo docemente, fazendo com que os orbes de um azul intenso e cristalino cintilassem meigamente.

-Adorável; ele respondeu com um sorriso calculado.

-Amanhã iremos cavalgar cedo, você não gostaria de se juntar a nós? –Griffin perguntou, enquanto servia mais uma dose de uísque para si em um copo.

-Será um prazer acompanhá-los, mas no momento gostaria de saber onde está Saori? –Kanon perguntou mudando de assunto.

-Ela estava falando comigo e disse que iria dar uma volta; Serena falou indicando as portas que davam para o jardim. –Acho que ela estava um pouco cansada e foi se sentar no jardim.

-Certo! Obrigado; ele respondeu apressadamente e teria saído correndo se a voz de Serena não houvesse lhe detido.

-Um momento; a jovem falou fitando-o seriamente.

-Uhn? –o cavaleiro murmurou confuso.

-Eu já percebi a forma como você olha para ela; Serena falou e em seu tom de voz, não se identificava à docilidade anterior, pelo contrario era firme e imperiosa. -Saori é minha amiga e não vou admitir que você a magoe; ela avisou.

-Não vou fazer isso, senhorita; Kanon respondeu surpreso com a forma com que os orbes adoravelmente azuis tornaram-se gelados e tão afiados quanto laminas de adagas.

-Ótimo, agora não vou detê-lo mais; Serena completou com um sorriso angelical, bem diferente da expressão de antes.

O cavaleiro apenas assentiu, antes de seguir rapidamente para a saída do jardim.

-Você não acha que foi um pouco precipitada? –Griffin perguntou casualmente, enquanto recostava-se na cadeira de espaldar acetinado.

-Você acha? –a irmã perguntou voltando-se para ele. Griffin era o chefe da família e sua aparência desmentia os quase quarenta anos que tinha. Os longos cabelos ruivos pouco a pouco ganhavam mexas prateadas, mas o acinzentado dos olhos ainda continha aquele brilho arguto e perspicaz, o que o tornava um poderoso aliado e o pior dos inimigos.

-Talvez você devesse deixar ao encargo do destino resolver a situação desses dois; ele respondeu calmamente, antes de levar o copo de uísque aos lábios.

-Saori é minha amiga Griffin, não quero que ela se magoe; Serena falou preocupada. -Quando estudamos juntas, ela não era sempre uma fedelha mimada e egoísta, e sim, uma criança carente de afeto e calor humano. Bens materiais não substituem a importância que a presença das pessoas tem na nossa vida; a jovem completou seriamente.

-...; assentiu silenciosamente.

Ele bem sabia o que era ser o primeiro filho de uma antiga linhagem de lordes, cujas responsabilidades foram repetidas em seus ouvidos desde que saíra do ventre materno. Tanto ele quanto Serena haviam crescido sob o acompanhamento de tutores, nunca diretamente dos pais que viviam ocupados com suas próprias vidas. Entretanto, o poder de tomar decisões e seguir o próprio caminho, não fora erguido por conta de pessoas que intercederam por si, mesmo aquela jovem sendo amiga de Serena, a irmã ainda tinha muito que aprender sobre superação e autoconfiança, coisa que Saori não iria adquirir se a irmã tomasse-lhe as dores e a protegesse de tudo e todos que lhe ameaçassem.

-Apenas deixe que eles resolvam os problemas sozinhos, se tentar ajudar, você pode acabar atrapalhando; Griffin avisou por fim.

.III.

Não pense duas vezes

antes de ouvir seu coração

Siga o rastro de um novo começo...

Apoiou-se em uma árvore, vendo um pequeno campo estender-se logo a sua frente, antes de chegar ao penhasco que beirava o mar. Mesmo sob o manto escuro da noite, a propriedade dos Mackenzie ainda era linda.

A luz da lua refletia um alo prateado sob as águas negras do mar, o som que chegava a seus ouvidos era intenso, como se uma tempestade estivesse por vir. Virou-se para trás, vendo a saída do labirinto, o caminho que percorrera fora longo, embora pela manhã quando Serena lhe mostrara o local, não houvesse notado isso.

Respirou fundo, alongando os braços para cima, sentindo a grama sob os pés, pouco a pouco se deixou relaxar. O cheiro salgado do vento chegava até si de maneira curiosa, sentia o vento rodopiar a sua volta e sorriu, enquanto sentava-se no chão, para apreciar aquele espetáculo da natureza.

As estrelas brilhavam intensamente no céu, jamais vira tantas assim, alguma outra vez.

-Uma bela noite, não? –uma voz grossa indagou atrás de si.

Sobressaltada, levantou-se e prendeu a respiração ao ver uma forma materializar-se a um passo atrás de si. Longos cabelos negros, tão negros quanto à noite pareciam refletir os filetes prateados da lua, os orbes eram de um dourado frio e inquietante. Um arrepio intenso correu o meio de suas costas.

-Sim, muito; Saori respondeu hesitante.

Os orbes dourados recaíram sobre ela, com o peso de uma tonelada. Era como se ele conseguisse ler sua alma, apenas de olhar para si.

-Vim para realizar o seu desejo; o jovem falou pausadamente.

Não se lembrava quando fora à última vez que estiveram frente a frente, mas isso não minimizava aquela sensação opressora.

-Não entendo; Saori falou colocando-se em pé.

-Há meses você me chama; Anteros falou arqueando a sobrancelha. –Então, cá estou para lhe dar, aquilo que você mais deseja; ele completou puxando das costas, uma delicada seta prateada, que jazia guardada numa aljava.

-Eu! Bem...; ela balbuciou recuando assustada.

-Você pediu que eu lhe desse o esquecimento que tanto deseja. A oportunidade de ter uma vida normal, sem as lembranças que ferem seu coração e pesam sob sua alma... Então, porque hesita agora? –ele indagou.

-É verdade que pode mesmo me fazer esquecer? –Saori perguntou respirando pesadamente. –Como aconteceu com Posseidon?

-...; Anteros assentiu, preparando a flecha no arco prateado. Os orbes dourados ergueram-se na direção dela, fazendo com que Saori estancasse no lugar, sem conseguir se mover. –Você desejou esquecer-se de tudo desde o momento que despertou, até agora... E é isto que lhe darei;

-Mas...; ela falou entrando em pânico, quando não conseguiu recuar.

-Não irá doer, apenas feche os olhos; ele completou retesando a corda.

Entretanto a flecha prateada jamais chegou ao alvo...

-AFASTE-SE DELA!!!

.IV.

O que você precisa

e tudo o que você sente

É apenas uma questão de lidar...

Olhou em volta buscando pela jovem, mas não a encontrou em parte alguma. Desolado, sentou-se em um banco de pedra próximo a escadaria que ligava a casa ao jardim.

A antiga mansão da família Mackenzie precedia ao período georgiano, a propriedade estava praticamente em ruínas, quando o avô de Griffin assumiu a responsabilidade pelo local e por seus arrendatários. Conseguindo assim, com uma boa administração e anos de reparo e investimento, devolver a propriedade ao glamour inicial.

A mansão em si era imensa, com quarenta quartos, sem contar o pavimento dos empregados. Possuía um galpão nos fundos para armazenamento de equipamentos agrícolas e um estábulo para os animais, cavalos árabes e cockers Spaniel que possuíam criações.

-Onde você esta, Saori? –ele se perguntou.

Se ao menos não tivesse sido tão frio e arrogante, Saori poderia ter se aproximado para dizer aonde ia, ou até mesmo, ter pedido que lhe acompanhasse, mas não, desde o começo havia dificultado as coisas, erguendo um muro de concreto entre eles.

Suspirou pesadamente, houve uma época em que, apesar de tudo, as coisas eram mais fáceis e menos complexas entre eles. Ainda se lembrava das conversas que tiveram no último templo antes da guerra e de como se entendiam bem.

Ela jamais lhe tratara como um traidor,ou lhe lançara um daqueles olhares de censura que às vezes recebia dos outros. Quando as guerras chegaram ao fim, pensou que poderiam voltar a ter esses momentos, mas o destino tinha um jeito sádico de fazer as coisas correrem sob outros eixos.

Quis acreditar que fosse só uma fase de adaptação, que ela se sentia um pouco deslocada por ter deixado o Japão e se mudado definitivamente para o santuário, mas muitas vezes a encontrara silenciosa e inquieta na biblioteca, olhando para o nada e se sobressaltava sempre que sentia sua presença se aproximando, não foi nada fácil suportar a verdade quando ela surgiu como um letreiro de néon na sua frente seis meses depois.

O santuário ficou em polvorosa quando o convite para uma festa semelhante a esta havia chegado, mas no fim, era nada mais, nada menos do que o convite para o casamento de Julian Sollo.

Naquele dia Saori estava mais silenciosa e distante do que nunca. O que lhe levou a pensar que, talvez a jovem houvesse se arrependido de não ter aceitado o pedido do rapaz um ano antes.

Ela nada disse sobre isso e ele tão pouco perguntou, mas a verdade era que tinha medo de saber que Saori realmente se arrependia por não ter se casado com o magnata grego. Assim, tomou a decisão de se manter afastado e continuar a viver sem a presença dela para perturbar-lhe os sentidos.

Sentia falta das conversas, claro que sentia, e do companheirismo também. Com o passar dos dias, sentia simplesmente a falta dela. Mesmo tendo uma garota ou outra atrás de si. Tentara adotar a pose de arrogante e cínico com ela, essa fora a única forma que encontrara de afastar-se sem acabar se machucando... Muito.

O mais difícil de tudo era vê-la como deusa, quando tinha olhos apenas para a mulher que ganhava formas e beleza como uma borboleta deixando o casulo. Até mesmo o irmão havia percebido que alguma coisa mudara nos últimos meses após a guerra, mas Saga era discreto demais para lhe questionar sobre algo tão pessoal abertamente.

Embora não quisesse admitir o quanto sentia a falta dela, decidira escoltá-la até Aberdeen para o aniversário de Serena, obviamente que, Milo ou até mesmo Mú e Aldebaran poderiam ter vindo em seu lugar, mas quando Saga ameaçou propor isso, chegou também bem perto de ir parar em outra dimensão. A idéia de que outro cavaleiro passaria tanto tempo perto dela, lhe envenenava o sangue.

Passou a mão nervosamente pelos cabelos, não estava sendo racional, aquele não era o momento para se deixar levar pelas lembranças. Tinha que encontrá-la, antes que algo de ruim pudesse acontecer; ele pensou.

Entretanto, as lembranças vinham assim mesmo, era difícil ser racional ou ter boas intenções quando o assunto era aquela jovem de intensos orbes verde-azulados.

Principalmente no momento que a vira descer as escadas principais da mansão Mackenzie, com aquele longo vestido bordô delineando-lhe as curvas esguias do corpo delgado, o tecido caia em camadas sob a cintura da jovem, deixando a saia rodada e pesada, o que fez com que ela tivesse de inclinar-se um pouco para frente e erguê-las parcialmente para descer os degraus, causando um verdadeiro frisson no ambiente quando o decote revelador surgiu.

O corpete era um modelo antigo, como os usados nos antigos bailes medievais, mas a diferença era a forma como os ombros estavam desprovidos de qualquer cobertura ou mangas e a fenda do decote em "V" tinha pelo menos quinze centímetros de profundidade, deixando a curva entre os seios levemente a mostra, enquanto uma corrente delicada, com uma gota de cristal pendia solitária ali.

Sentiu o sangue ferver, subindo pelas tempôras, os orbes levemente enegrecidos fixaram-se sobre os lábios carmim, que pareciam maiores do que se lembrava. E a única coisa que pode pensar naquele momento era como seria beijá-la.

Respirou fundo, tentando manter a mente clara, antes do final da noite ela iria lhe enlouquecer; o cavaleiro concluiu, vendo-a afastar da frente dos olhos uma fina mecha de fios lilases que escapara do coque.

Fechou os olhos por alguns segundos, sentindo a brisa suave da noite acariciar-lhe a face. Tinha que admitir. Ela ficara incrível como Ana Bolena; ele pensou, abrindo os olhos e fitando o solitário labirinto à sua frente.

Naquela noite, a jovem que tinha por tímida e hesitante mostrara-se completamente diferente, não hesitava em se aproximar de alguém, transpirava tanta segurança e sensualidade, que o deixou atordoado.

Serrou os punhos lembrando-se dos murmúrios de apreciação que ouvira vindo dos demais homens do salão, não podia culpá-los por reagir assim, qualquer homem com sangue nas veias ficaria agitado diante daquela deidade de sedutores orbes verdes.

Antes que alguém se movesse, cruzou o salão, seguindo até os pés da escada, onde ela acabava de descer o último degrau. Mal notou o momento que seu coração foi mais rápido do que a razão que tentava manter e viu-se estendendo-lhe a mão.

-Me permite? –ele indagou com a voz levemente enrouquecida.

Os orbes verdes brilharam confusos, mas não recuaram. Saori assentiu, deixando-se guiar para o salão principal. Do outro lado, Serena tinha um sorriso nada inocente nos lábios, que não fazia questão de ocultar.

-Você está linda! – Kanon sussurrou apenas para que ela ouvisse.

-Obrigada; ela respondeu surpresa.

A jovem parecia desconcertada com o elogio, ele constatou um pouco surpreso e igualmente satisfeito com a reação. Aquele olhar inocente fazia um contraste gritante com as vestes sedutoras do personagem que ela encarnava aquela noite.

-Pena que você esteja como a amante do rei, errada; ele alfinetou, para no momento seguinte arrepender-se amargamente por não ter calado a boca.

-Serena nunca disse que teríamos de combinar as fantasias; Saori respondeu em tom frio. –Agora, se me der licença; ela completou e antes que ele pudesse contestar, ela já havia se desvencilhado de seu braço e se afastado com a cabeça erguida desafiadoramente.

-Idiota; Kanon resmungou para si mesmo.

Porque não podia calar a boca só um pouquinho; ele pensou com desgosto. Mas, não... Estragara tudo. Entretanto, ela queria que reagisse como? Não era nada agradável vê-la ser alvo de todos aqueles olhares luxuriosos. Mesmo porque, poderia não ter as mesmas habilidades que o amigo ariano de ler mentes, mas sabia muito bem o que estava se passando pela cabeça de cada um daqueles idiotas.

Balançou a cabeça nervosamente para os lados, era realmente um grande idiota, ainda mais por só perceber agora o quão louco de ciúme havia ficado. Não estava acostumado com rompantes de insensatez, não que pudesse classificar aquilo dessa forma.

Mas aconteceu, o maior de todos os tabus na história do santuário, um cavaleiro, no caso ele, havia se apaixonado pela deusa que deveria proteger. Não tinha como lutar contra isso, alias, tentara nos últimos dois anos e apenas se ferira no processo.

-Maldição; ele praguejou, enquanto levantava-se e descia rapidamente as escadas, não sabia ao certo o porquê, mas sua intuição lhe guiava para o labirinto. Serena havia explicado que se seguisse sempre reto, encontraria discretas falhas nas folhagens que poderia abrir caminho, sem ter de dar a volta pelas galerias, com isso chegaria ao outro lado mais rápido.

O tempo todo, no inicio do baile, buscara-a com o olhar, viu a retaliação por seu comentário vir com força total. Ela movia-se com graça e leveza pelo salão, um sorriso calculado curvou os lábios carmim. Embora não ouvisse sua voz, sabia que ela falava baixo e pausadamente, encenando perfeitamente o papel de cortesã inglesa e de quebra as fantasias mais selvagens de todos os homens ali.

Em menos de uma hora, homens e mulheres do salão disputavam sua presença, acabando por indiretamente, mantê-lo longe dela.

Aquela garota era um perigo para a humanidade e para sua sanidade; ele pensou, lembrando-se da quantidade de vezes que tivera de se conter para não afastar todo mundo para longe dela e arrastá-la de volta para o quarto para trocar de fantasia.

Nem mesmo Shaka, tido como "O Santo Homem" ficaria imune aos encantos daquela feiticeira.

Respirou fundo e continuou avançando cada vez mais rápido, dando vazão a toda inquietação que sentia. Quando por fim chegou ao fim do labirinto, estancou ao ouvir as palavras do estranho que apontava para Saori uma flecha prateada.

-Você desejou esquecer-se de tudo desde o momento que despertou, até agora... E é isto que lhe darei;

-Mas...; ela falou entrando em pânico, quando não conseguiu se mover.

-Não irá doer, apenas feche os olhos; ele completou retesando a corda.

-AFASTE-SE DELA! –ele gritou avançando contra o outro.

-Kanon; Saori falou aflita quando o cavaleiro colocou-se a sua frente.

-Decida de uma vez Athena; Anteros vociferou, irritado pela interrupção.

-Abaixe o arco, não vou permitir que você a machuque; o geminiano avisou com um olhar ameaçador.

-Então? –ele insistiu.

Agoniada, voltou-se para Anteros, sem saber o que fazer. Se o deixasse prosseguir, provavelmente Kanon acabaria se sentindo culpado por não ter lhe protegido, mas se não fizesse isso, talvez não tivesse outra chance novamente, mas a necessidade de poupar o cavaleiro foi maior do que o desejo de começar uma vida sem lembranças.

-Obrigado por ter vindo Anteros, mas mudei de idéia; Saori falou tentando manter-se firme.

-Você fez a sua escolha; ele respondeu taxativo, antes de desaparecer.

Deixou-se cair na grama, enquanto lágrimas amargas e tristes rolavam por sua face. Mesmo que Anteros não houvesse dito com todas as palavras, sabia que ele não ouviria mais suas preces, a única chance que tivera escapara-lhe por entre os dedos.

-Saori; Kanon falou preocupado, ajoelhando-se no chão, para se aproximar dela. –Theos mou, como você está? –ele perguntou abraçando-a fortemente, ouvindo o pranto se intensificar.

Embora não soubesse quem era aquele homem de cabelos negros, ouvira muito bem o que ele dissera. Só não conseguia compreender porque Saori iria querer que sua memória fosse apagada desde o momento que despertou como Athena.

Sentiu a jovem tremer entre seus braços e rapidamente retirou o paletó bordô e envolveu-lhe os ombros, tentando aquecê-la.

Apavorado! Sim, essa era a única forma de definir-lhe naquele momento. Estreitou ainda mais os braços em torno dela, como se isso fosse capaz de aplacar-lhe a dor.

Há muito tempo não se sentia assim, tão impotente, aliás, a última vez que passara por isso fora ao lado dela também.

Ainda se lembrava de cada segundo que fora obrigado a presenciar, a partir do momento que ela lhe ordenara que entregasse aquela adaga dourada nas mãos de Saga, definindo por fim seu destino.

-O que aconteceu Saori, me diga, por favor? –ele pediu.

Respirou fundo, tentando recobrar o controle de suas próprias emoções, mas só de pensar que as chances haviam acabado, sentia o coração despedaçar-se em milhares de fragmentos.

-Desculpe; a jovem sussurrou, piscando para afastar as lágrimas. –Não tinha a intenção de perder o controle dessa maneira; ela falou tentando ser polida e controlada.

-O que aconteceu? –Kanon perguntou novamente num sussurro, enquanto gentilmente afastava alguns fios lilases de sua testa.

-Não foi nada; Saori falou tentando afastar-se. –Estava apenas conversando com Anteros quando você chegou;

-Saori; Kanon falou impedindo-a de recuar. Os orbes verdes tornaram-se enigmáticos e intensos. –Eu conheço muito bem as lendas gregas, inclusive as relacionadas aos filhos de Ares e Afrodite. Sei do que Anteros é capaz, então, não tente me esconder nada; ele avisou.

-Não tenho nada para esconder Kanon, eu só...; a jovem fez uma pausa agoniada. –Pedi a Anteros que lacrasse minha consciência, como fez com Julian dois anos atrás; ela respondeu por fim.

Não havia nada a esconder, alem do mais, preferia falar a deixar que ele deduzisse algo errado.

-O que? Theos mou, ficou maluca? –ele exasperou.

-Era uma decisão minha, Kanon; ela rebateu.

-Mas por quê? –o geminiano indagou num sussurro, enquanto observava a tez pálida ser banhada pela luz da lua. –É tão difícil assim se esquecer de Julian, que você só encontrou essa alternativa? –ele perguntou desolado.

-Como? –Saori falou confusa.

-O casamento de Julian, você ainda não superou isso; ele respondeu.

-Ahn? Porque eu teria que superar algo com relação a Julian? –ela perguntou ainda mais confusa.

-Oras! Como se não fosse obiv-...; ele parou diante do olhar inocente dela.

Suspirou pesadamente, o destino às vezes era cruel e sádico; ele pensou sentindo uma outra possibilidade surgir em meio às insanas conclusões que tirara sobre o assunto nos últimos dois anos.

-Você não se arrepende de não ter se casado com Julian, anos atrás? –ele indagou cauteloso.

-Agora é você que enlouqueceu; Saori falou incrédula. -Eu jamais cogitei a possibilidade de me casar com Julian; ela completou veemente.

-Mas você parecia bastante deprimida com o casamento dele; Kanon a lembrou.

Então ele percebeu. Para quem vinha lhe evitando o tempo todo; ela lembrou com ironia.

-Naquela época eu só achava o destino injusto "e ainda acho"...; Saori falou desviando o olhar. -Havia se passado pouco tempo do final das guerras. Todos os cavaleiros tiveram suas vidas restauradas e eu não sabia o que esperar, ou melhor, quando a próxima guerra iria começar. Todos os dias eu caminhava, pisando sobre cascas de ovos;

-Porque nunca me disse nada? –ele perguntou num sussurro.

-E você ainda pergunta? –Saori exasperou, lançando-lhe um olhar hostil.

-Saori; Kanon falou surpreso.

-Vocês já haviam feito muito, não queria preocupá-los com isso; a jovem falou tentando manter um tom neutro e despreocupado, embora por dentro estivesse com vontade de socar a cara daquele petulante.

Como ele se atrevia a lhe perguntar isso, ainda mais depois de tudo que havia lhe feito; ela pensou serrando os punhos nervosamente, antes que acabasse cedendo e o servisse como ração pra peixe, empurrando-o penhasco a baixo.

-Naquela época, eu só fui ao casamento para ter certeza de que Julian não lembrava de nada mesmo, ou se estava apenas fingindo ter perdido as memórias como Posseidon. Quando a verdade se confirmou, confesso, fiquei deprimida, porque essa foi à certeza de que eu precisava para saber que as guerras ainda não chegaram ao fim e que vocês poderiam morrer de novo;

-Como assim? Estamos em épocas de paz; ele falou confuso.

-Não, apenas agora Anteros confirmou isso para mim; ela falou com pesar. –Sempre que ele aparece para selar a alma de alguma divindade reencarnada como mortal, significa que a missão chegou ao fim;

-Mas...;

-E com isso, ele lhe devolve a vida que parou no momento que a divindade desperta; ela explicou.

-Agora entendo; Kanon murmurou pensativo. –Se ele lhe acertasse aquela flecha de prata, você se esqueceria de tudo?

-Absolutamente tudo... ; Saori ressaltou. –Começaria uma vida nova, com a certeza de que as guerras acabaram; ela falou com olhar triste.

-Mas e agora? –Kanon perguntou de repente. Concluindo que se Anteros fora embora sem flechá-la, as lembranças dela estavam intactas, junto à certeza de paz, não entendia porque ela não parecia feliz.

-A vida continua...; Saori falou dando de ombros, enquanto se levantava, procurando sempre evitar encará-lo. –Acho melhor voltarmos;

-Saori; Kanon falou tentando alcançá-la, mas a jovem recuou e começou a andar.

Passou a mão nervosamente pelos cabelos, enquanto a via afastar-se apressadamente.

Não conseguia entendê-la, pensou que Saori ficaria feliz ao saber que não haveria mais guerras. Entretanto ela parecia ainda mais triste e deprimida, do que naquele dia que a acompanhara ao casamento de Julian.

Confuso, pôs-se a segui-la ao longo da lateral do labirinto, de volta a mansão.

continua...