Doía lembrar o que aconteceu, eu ainda me perguntava se havia feito o certo, principalmente ao lembrar o rosto de Katniss banhado em lagrimas, mas no fim foi o certo a se fazer, pelo menos até os flashbacks ficarem mais raros e mais controláveis. Uma lagrima correu por meu rosto ao repassar mais uma vez o que ocorreu, embora tenha acontecido no maximo duas horas, já parecia que já haviam se passado anos

"Cheguei a sua porta e bati, Katniss me recebeu com um sorriso tão bonito, e tão raro desde que a rebelião chegara ao fim que quase desisti de fazer o que vim fazer. Quase.

Ela me convidou pra entrar, entrei, e embora ela tenha me apontado o sofá, não me sentei, tinha que ser breve, antes que eu desistisse.

-Katniss, eu vim aqui me desculpar sobre o que aconteceu ontem.

-não precisa Peeta, eu sei que não foi por mal, que não era você, se fosse jamais me faria mal.

-eu sei, mas... Eu vim aqui me despedir.

Foi esquisito ver a expressão de Katniss, era uma mistura de tristeza, abandono, medo, decepção, dor...

-mas por que...

-vou para o distrito 4 me tratar com o Dr. Aurelius. Vou amanhã pela manhã

-ótimo – falou ela se dirigindo as escadas. – vou com você.

-você não pode. Eu estou indo porque eu quero ficar longe de você.

-você QUER?

Ótimo, usei as palavras erradas, coisa que raramente acontece comigo.

-não, não quero, mas devo, não posso correr o risco de te machucar de novo, Katniss.

-eu sei te parar, eu sempre soube te trazer de volta dos flashbacks.

Suspirei, sabia que iria ser difícil pra mim, mas pensei que seria fácil pra Katniss me deixar ir, que ela não iria sentir tanta a minha falta. Será que ela finalmente nutria por mim algum sentimento além da amizade? Mandei esses pensamentos pra longe, não podia me encher de falsas esperanças.

-não adianta Katniss, já esta decidido. Parto amanhã.

Me virei e fui embora, decidido a não olhar pra trás, mas olhei, olhei e vi que não devia ter o feito, ver Katniss com o rosto banhado em lagrimas, com uma expressão que misturava tristeza e fúria, aquilo me fez querer voltar e abraçá-la, mas eu não podia, se eu o fizesse sabia que desistiria."

Terminei de arrumar as malas, era cerca de quatro horas da tarde. Aquela imagem me perturbava, então fiz o que sempre faço com imagens assim: a pintei.

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra

Enquanto eu começava a procurar o necessário para iniciar, as imagens do que aconteceu nesse ultimo mês vieram me encher a cabeça: as refeições que fizemos em silencio, o modo como Katniss cuidava das prímulas que plantei em seu jardim, das horas que passamos juntos em silencio, mas aquele silencio confortável. Como começamos a conversar aos poucos, e dos flashbacks mais intensos dos quais ela sempre me resgatara, inclusive o ultimo, o que me fez tomar aquela decisão.

E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são.

O ultimo flashback me veio à mente.

Estávamos ambos sentados no mesmo sofá, folheando um livro vazio, nos quais devíamos colocar nossas memórias. Não me lembro bem o que eu falei que a fez rir, um sonoro riso, coisa que eu raramente presenciava dela. Então ela deu um soco no meu braço, não foi tão forte, mas o gesto fez o que ambos temíamos: trouxe um flashback. Ela abriu os olhos e fez menção de correr, mas não deu tempo, eu a empurrei no sofá e me joguei por cima, colocando minha mão em seu pescoço.

-você não é a Katniss, você é uma mutação! Você matou minha família, você que é culpada de tudo o que aconteceu de ruim!

Ela chorava, e isso me deixou desnorteado. Algo dentro de mim me mandava parar, e obedecendo a essa voz afrouxei mais o aperto em seu pescoço, o que a permitiu respirar (ela já estava ficando inconsciente)

-Peeta... Por favor... Volta pra mim... – ela me pediu num fio de voz, entre longas respiradas. E novamente aquele pedido me deixou desnorteado. Ela então me puxou e me beijou, e eu voltei ao normal. Vi então o estrago em seu pescoço, e a expressão de tristeza em seu rosto.

-me desculpa... Eu não queria te machucar... Eu... – comecei a chorar também, nos abraçamos. Ali pude entender enfim como ela se sentia quando tinha que fingir que tínhamos algo, ela realmente não queria me machucar, mas acontecia, do mesmo modo que aconteceu agora, só que ao contrario.

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete

Comecei a esboçar seu rosto, do mesmo modo que eu vira antes de ir embora. Já no esboço eu sabia: aquela iria ser a minha pintura mais realista, porque eu tinha na mente o cheiro dela, da ultima noite que ela dormiu nesse mesmo quarto comigo. Katniss cheirava a floresta, a liberdade, e esse cheiro parecia grudar na tela.

E com lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
Da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do baton que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte.

E quando comecei a pintar o esboço, então? A pintura praticamente criou vida, embora ainda não completa eu podia ver o vento mexendo nas mexas de cabelos que estavam desprendidas de sua trança,podia ver as lagrimas correndo por seu rosto, e o brilho em seu olhar (aquele de tristeza e fúria) chegava a ser real. Tive medo que a própria Katniss saísse do quadro ou que algo tão vivo me trouxesse outro flashback, mas não foi o que aconteceu. Mesmo querendo parar, algo me mandava completar a pintura. Então continuei.

E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que não foi por mal
Eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez

E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Então terminei a pintura e a olhei, era tão real... Aquilo me deixou exausto, parecia que a própria pintura tinha sugado um pouco da minha vitalidade. Já era cerca de oito horas da noite. Não desci pra jantar, não estava com fome, então só tirei meus sapatos e minha camisa e me deitei, ia ter uma longa viagem amanhã.

Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui"
Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
É só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim"

Já devia ser cerca de meia noite quando vi um vulto apreciando o quadro, o que não era uma tarefa tão difícil, á que quando eu dormia só eu sempre dormia com um abajur ligado. Reconheci o vulto e por um momento pensei que realmente, a mulher havia saído do quadro. Ela me olhou, e deu pra notar que ela segurava algumas lagrimas.

-você sabe que eu não sou de implorar, mas fica, Peeta, por favor, eu perdi quase todo mundo que eu amo, só me restou você...

Fiquei sem ação diante dessas palavras.

Continua...

(N/A): eu estava ouvindo essa musica de Legião Urbana pela milésima vez (e a amando pela milésima vez) quando Peeta me veio a mente, não sei porque mas não pude deixa de liga-lo a musica,e então veio a ideia da songfic. Era pra ser de um único capitulo também, mas mais ideias me vieram a mente e espero que ela tenha mais dois capítulos ou três. Enfim, espero que vocês gostem.