N/a: Esta long foi escrita para o Make The Ferret Smile da secção Draco/Hermione do fórum 6Vassouras, que é um projecto de fics leves, pelo que esta não conterá Angst ou Drama; apenas Romance e, eventualmente, Comédia. É uma resposta ao desafio proposto pela Dark e a Mismi. Neste caso, obedece à seguinte situação: Draco trocará de lugar com Lavender Brown e, por algum motivo, não consegue destrocar no termino da aula. (Em Tons de Laranja, da Mismi). Obviamente, a Mismi autorizou.
Se acharem que vale a pena, deixem a vossa opinião.
And Then You
por Ireth Hollow
1. Poções
As aulas com Slughorn eram quase uma bênção, quando comparadas com as de Snape. Quase, porque a ausência da parcialidade do antigo professor não era suficiente para a fazer esquecer o protagonismo injusto de Harry. Nunca pensara vir a sentir inveja do amigo, mas não havia como negar: o facto de ter sido relegada para o lugar de segunda melhor estava a enlouquecê-la. Ainda para mais, não era justo! Afinal, o outro não era assim tão bom a preparar Poções; toda a sua recém-adquirida perícia era fruto de uma mera batotice!
Outro factor que contribuía para a sua irritação era o aparente à-vontade com que os outros lidavam com o assunto. Ron e Ginny, ambos na posse do segredo, não viam mal nenhum nisso; os restantes Gryffindors, Hufflepuffs e Ravenclaws davam-se por contentes pela sorte dos Slytherins ter acabado.
Por falar em Slytherins, Draco Malfoy estava quase tão zangado como ela. Sempre fora o preferido de Snape e, embora não fosse tão brilhante como ela própria, era um aluno acima da média. Era, pois, perfeitamente compreensível que ele se sentisse injustiçado…
Oh, Merlin, não acredito que cheguei ao cúmulo de me identificar com aquele furão preconceituoso!
Realmente, sentir tais coisas pelo seu arqui-inimigo não era saudável. No entanto, era cada vez mais difícil impedir que os seus pensamentos tomassem esse rumo, ao ver que os falsos triunfos de Harry continuavam. Simultaneamente, as ridículas suspeitas que o Rapaz-que-sobreviveu insistia em lançar sobre os ombros do loiro começavam a exasperá-la, ao ponto de sentir pena por quem não devia.
– Hermione – sussurrou Ron, interrompendo as suas reflexões com a habitual impaciência. – O que fizeste para engrossar a tua poção?
– Porque não perguntas ao Príncipe das Poções? – rugiu ela, em surdina. – A dele está muito mais grossa do que a minha… perfeita como sempre!
A sua imitação de Slughorn não passou despercebida ao grupo de Slytherins que trabalhava atrás deles. De imediato, um coro de gargalhadas abafadas coroou as suas palavras, quase como se considerassem que tinha sido um deles a proferi-las. A morena limitou-se a fitá-los por cima do ombro, discretamente, ao passo que o ruivo não se coibiu de os mandar calar, ameaçadoramente. Depois, baixando ainda mais o tom de voz, voltou a dirigir-se à amiga, repreensivo:
– Não sejas assim. Até parece que tens ciúmes do Harry!
Ela não lhe respondeu, dado que continuava atenta ao que se passava na mesa de trás. Algo séria, fitava uns olhos cinzentos, dos quais emanava não malícia, mas sim concordância. Pelos vistos, Malfoy não achara a sua observação digna de risos… Quase podia jurar que ele a mirava de outro modo, como se só agora tivesse descoberto que ela existia, como se não estivesse a manter contacto visual com a filha de Muggles que tantas vezes desafiara e provocara. Incomodada, voltou a concentrar-se no seu trabalho.
Durante o resto da aula, manteve o olhar na sua poção e nas instruções oficiais, trabalhando o melhor e mais depressa que podia. O seu preparado apresentava, agora, quatro das cinco características referenciadas no manual; faltava-lhe, apenas, conseguir transmitir-lhe o aspecto cremoso da maionese. Sabia, graças aos comentários nada discretos do professor, que Harry já o tinha conseguido, facto que apenas contribuía para a irritar mais do que ela já estava.
Se quisesse, podia melhorar rapidamente a aparência da sua poção, bastando-lhe dar uma vista de olhos ao muito rabiscado livro do amigo. Contudo, o seu código de ética pessoal não lhe permitia fazer tamanha trafulhice; era preferível apresentar uma poção quase perfeita, mas honesta.
A campainha interrompeu os habituais elogios ao magnífico trabalho do jovem Potter, levando-a a suspirar de alívio. Estava farta daquelas injustiças, da expressão de regozijo contido do seu amigo batoteiro, da sua própria derrota. Mas o que poderia fazer? Desonesto ou não, Harry era o seu melhor amigo e ela não podia obrigá-lo a desistir daquele esquema, por mais apetecível que a ideia de destruir o maldito livro se revelasse. Sabia, por experiência própria, que falar com ele de nada adiantaria…
Tentando manter uma expressão neutra, declinou a sugestão dos amigos para que os acompanhasse até à Sala Comum, e dirigiu-se à biblioteca, pensando lá encontrar o alívio de que carecia. E, efectivamente, ao ver-se rodeada de livros e verdadeira sabedoria, pôde relaxar e esquecer o seu infortúnio, embora não por muito tempo, a julgar pela aproximação de um certo loiro.
Draco Malfoy avançava na sua direcção, de queixo erguido e arrogante, um sorriso irónico e algo cansado na face. Sem pedir licença, apoiou-se na mesa que ela ocupava, impedindo-a de continuar a folhear o livro de Transfiguração.
– O que queres, Malfoy?
Ele fungou, divertido, perante a exasperação com que ela se lhe dirigiu.
– O mesmo que tu, parece-me – respondeu, maliciosamente. – Ouvi o teu pequeno… comentário, na aula, e quis-me parecer que estás aborrecida com o Potter e o seu súbito talento.
A morena engoliu em seco, incapaz de negar tal afirmação. O sorriso dele alargou-se instantaneamente, perante tal reacção. Até agora, tudo estava a correr como tinha planeado.
– Bem me pareceu.
Finalmente, Granger reagiu às suas palavras propositadamente presunçosas, ao rolar os olhos nas órbitas, impacientemente.
– E então?
– Calma, Granger, vim em paz! Não é preciso toda essa agressividade! Deixa-me dizer-te que a tua ira está muito mal direccionada…
– Cala-te, Malfoy – interrompeu ela, num tom furioso. – Dispenso a tua opinião.
– Como queiras, mas espero que saibas o quanto os meus conselhos te poderiam ajudar. Isto é, se eu me desse a esse trabalho, claro.
Recebeu mais um olhar assassino, que ignorou sem qualquer dificuldade. Irritar a Gryffindor estava a tornar-se mais fácil do que deveria ser, demasiado simples para o seu gosto. Ela estava tão perto de explodir que não se podia arriscar a provocá-la ainda mais – ainda que essa ideia fosse tentadora –, se queria que o seu plano funcionasse.
– Mas não foi para te ajudar que vim aqui, graças a Salazar! E acredita que falar contigo não é a melhor maneira de ocupar o meu tempo, portanto, ouve com atenção – fez uma pausa dramática, teatral. – Estás tão farta do protagonismo do Potter como eu… Porque não acabar com isso?
Por um segundo, pôde vislumbrar um brilho de curiosidade a trespassar aqueles olhos castanhos. Interiormente, sentiu o júbilo que a sua vitória lhe traria – sim, porque ela tinha gostado indubitavelmente da sua ideia. Porém, uma estranha prudência, derivada dos cuidados que a sua missão para o Lord das Trevas lhe exigia, aconselhou-o a não festejar já.
E, de facto, um segundo depois, a curiosidade tinha dado lugar à indignação.
– Estás a insinuar que eu me uniria a ti contra o meu melhor amigo? – indagou ela, num misto de ira e ultraje. – Vai sonhando, Malfoy.
Não seu deu por vencido; afinal, a semente da curiosidade já fora lançada. Restava-lhe esperar, dizer as palavras certas e, com tempo, ela cresceria. Então, Granger cairia aos seus pés, implorando-lhe que lhe explicasse aquelas palavras. Todavia, por enquanto, seria cauteloso.
– Tu é que sabes – disse, fingindo despreocupação. – Mas, se mudares de ideias, sabes onde me encontrar.
E deu meia volta, sorrindo para consigo mesmo.
As cartas estão lançadas, Granger, e tu acabarás por me implorar para que te deixe jogar.
xxx
Por mais que tentasse, não conseguia tirar o discurso de Malfoy da cabeça. Revia uma e outra vez as suas expressões faciais, analisava as suas palavras, tentava adivinhar as suas intenções. Felizmente, ele nunca fora muito discreto, pelo que pôde concluir com segurança que ele pretendia, muito simplesmente, pôr fim à sorte de Harry, recuperando, deste modo, algum do seu anterior prestígio e, pelo caminho, humilhando o rival.
Para seu grande horror, Hermione deu por si a pensar que também ela gostaria de acabar com aquela farsa, se bem que sem provocar qualquer dano ao amigo. Não conseguiu impedir-se de imaginar os meios que os dois, ela e o Slytherin, utilizariam; chegou mesmo a tentar conceber como seria trabalhar com ele, como uma equipa.
Mentalmente, amaldiçoou o loiro e as suas ideias por lançarem sobre ela aquela expectativa, aquele desejo de fazer justiça. Se já antes sentia uma muito justificada aversão por ele, agora ainda gostava menos dele. Como é que ele se atrevera a brincar com as suas ambições, tentando manipular a sua vontade para a levar a trair um amigo? Aquilo era quase demasiado rebuscado para alguém tão mesquinho e impaciente como o Malfoy que conhecia!
No entanto, ele não iria levar o seu plano avante. Por muito pouco que gostasse do que Harry andava a fazer, nunca o atraiçoaria. No dia seguinte, procuraria o loiro e dir-lhe-ia que não estava interessada na sua odiosa proposta. Depois disso, continuaria atenta, para o caso de ele tentar agir por conta própria.
xxx
Quando entrou na sala para assistir a mais uma aula de Poções, estava excepcionalmente bem-disposta. Nem a perspectiva de mais uma excelente poção de Mr. Potter conseguia apagar aquele curvar de lábios ligeiramente malicioso, nem descolorir as suas bochechas rosadas. E tudo isso graças a Malfoy e à expressão que ele fizera, após ter-lhe comunicado a sua decisão: um misto de surpresa e desagrado. Nem os seus olhos, habitualmente tão despidos de emoção, tinham escapado, apresentando algo semelhante a desilusão. Era quase como se lhe tivesse dado uma (merecida) bofetada!
Cerca de cinco minutos depois, recebeu mais uma boa notícia: nesse dia, iriam testar as poções Polisuco que tinham vindo a desenvolver, ao longo do mês anterior. Era quase como se Slughorn estivesse sintonizado com as suas emoções e quisesse mantê-la satisfeita!
Sabia que o seu trabalho tinha sido irrepreensível. Afinal, já tinha preparado aquela poção, com apenas doze anos, e fora muito bem sucedida. Desta vez, nem Harry com o seu livro cabulado conseguiriam fazer melhor! De facto, quando o professor contornou os caldeirões da turma, observando o aspecto e a consistência dos preparados, pôde observar o modo como os seus olhos se arregalavam de espanto, perante a sua poção.
– Observem, meninos, um exemplo irrepreensível do aspecto que uma poção Polisuco deve apresentar. Muitos parabéns, Miss Granger, acaba de ganhar cinquenta pontos para a sua equipa!
A morena não escondeu o seu sorriso, nem se coibiu de deitar um olhar de soslaio a Harry, que a fitava, também sorridente, e a Malfoy, que tinha a cabeça baixa e os punhos cerrados.
– A poção de Mr. Potter também está muito bem, como podem ver. Faltava, apenas, conseguir aquela coloração que Miss Granger obteve. De resto, tudo muito bem – continuou o professor, como se pensasse que o rapaz precisasse de ser apaziguado.
Depois, fez mais alguns comentários não tão simpáticos acerca dos restantes preparados, antes de lhes explicar como se processaria a testagem das poções. Por motivos de segurança, iriam utilizar, apenas, as duas melhores poções, pelo que a turma se deveria dividir em dois grupos, um em torno do caldeirão de Harry, outro em redor do de Hermione. Uma vez aí, o professor distribuiria copos e um fio de cabelo de um aluno aleatório para que eles pudessem sentir a invulgar actuação desta magnífica poção.
Com exclamações de resignação e impaciência, os jovens apressaram-se a convergir para um dos caldeirões mencionados e receberam o restante material, distribuído por um entusiasmado Slughorn. Seguiram-se algumas imprecações e interjeições de nojo, à medida que cada porção de líquido ia adquirindo uma consistência e coloração diferente.
No copo da morena, bailava um fluido rosado, semelhante a batido de morango. Preparava-se para dar um gole, desejando que o sabor estivesse de acordo com o aspecto, quando algo frio pousou, ao de leve, no seu cotovelo, retendo-a com suavidade. Virou o tronco para o lado, deparando-se com Malfoy, que lhe sorria maliciosamente, com uma bebida lilás na mão.
– Agora percebo porque é que recusaste a minha proposta: já sabias que eras capaz de o derrotar. Tiro-te o chapéu, Granger – ou tirava, se o tivesse.
A rapariga inclinou ligeiramente a cabeça, como se estivesse a tentar detectar um segundo sentido naquelas palavras. No entanto, não encontrou qualquer insulto, nem nenhuma ameaça velada, nem nada mais do que a leve malícia que o caracterizava.
– O que queres, Malfoy?
– Dèja vu, Granger. Até parece que não sabes perguntar outra coisa… Não posso simplesmente felicitar-te?
Ignorou o olhar desconfiado dela e, num gesto lento e deliberado, encostou o seu copo ao dela, em jeito de brinde. Depois, ergueu-o à sua frente e, com os olhos postos nela, bebeu rapidamente a mistura, quase sem pestanejar. Um segundo depois, ela imitava-o, ainda intrigada.
Tiveram apenas tempo para pousar os copos na mesa mais próxima, antes de se começarem a contorcer, à semelhança dos restantes alunos. A transformação era sempre incomodativa, até dolorosa, por mais vezes que se recorresse à poção, e os seus utilizadores acabavam inevitavelmente no chão, com a respiração ofegante e o corpo húmido do suor.
Quando recuperou o domínio de si, Hermione levantou-se, experimentando o novo corpo. Era mais rígido do que o seu, indubitavelmente mais forte, mas não mais alto que ela própria. As suas vestes não estavam de todo desajustadas, pelo que não se sentiu muito desconfortável. Olhou, então, em redor, procurando associar os seus anteriores colegas às novas caras, umas lívidas e outras desorientadas, com que se ia deparando. Pensou ter reconhecido o olhar confiante de Harry no rosto de Hannah Abbot, e a falta de graciosidade de Ron no corpo de Zacharias Smith, para seu óbvio desagrado.
Alguém abafou uma gargalhada, à sua esquerda. Instintivamente, voltou-se na direcção do som e deparou-se com uma Lavender Brown de sorriso enviesado. Reconheceu-o imediatamente e, não obstante a desconfiança com que antes o tratara, não pôde evitar rir-se também.
– Estás ridículo, Malfoy! Ou deverei dizer, Miss Brown?
– Não podes falar muito, Granger. De nós os dois, eu ainda sou o mais bem parecido – volveu ele, quase sem malícia. – Até tu és menos agressiva à vista do que a Weasley!
Instintivamente, levou uma mão ao cabelo e constatou que era, de facto, ruivo. Só depois de o alívio de estar num corpo feminino passar é que registou o que o outro dissera, de facto. Sentiu o seu queixo descair ligeiramente. Será que tinha ouvido bem? Draco Malfoy teria mesmo dito que o seu aspecto era melhor do que de Ginny? Não, não era possível, devia ter ouvido mal… Não pôde, contudo, averiguar o assunto, dado que Slughorn tinha exigido a atenção de todos:
– Juntem-se dois a dois e venham até à minha secretária, para eu vos examinar e prestar qualquer esclarecimento adicional.
A morena-agora-ruiva deitou um olhar de soslaio aos seus dois amigos, apenas para constatar que já se tinham juntado e se dirigiam para a fila, falando animadamente. Aquela era a desvantagem de se pertencer a um trio: era habitual alguém ficar de fora. Teria, pois, de se juntar a algum Ravenclaw ou até a Ernie Macmillan…
– Anda, Granger, quanto mais depressa despacharmos isto, melhor – sussurrou Malfoy, num tom claramente de comando.
A visada limitou-se a fitá-lo de olhos arregalados, espantada com o que acabara de ouvir. O rosto de Lavender contorceu-se, então, num esgar tipicamente Malfoy.
– Não me digas que não sabes funcionar com o corpo da Weasley.
– Não sejas idiota, só fiquei surpreendida por não te importares de ser visto em público com alguém como eu.
– Ninguém sabe quem somos, lembras-te? – volveu ele, sem sinais da anterior malícia. – Além do mais, o que interessa? Não é como se tivesses mais alguém com quem formar par.
Ela anuiu, quase sem se aperceber de que acabara de lhe dar razão. Porém, ele não captou o subtil movimento de cabeça dela, por estar ocupado com uma inoportuna sensação de desalento, cuja causa lhe era desconhecida. E assim permaneceu, em silêncio e pensativo, totalmente alheado dos olhares inquisitivos que Hermione lhe lançava.
