Enquanto Harry
descia as escadas da antiga mansão Black, já podia
ouvir os conhecidos gritos vindos da cozinha de Rony e Hermione
discutindo. "Terceira vez essa semana que esses dois
discutem...será que nunca se cansam?", pensou cansado.
Mas dessa vez a briga pareceu ser a mais séria até
agora.
- PRA COMEÇAR VOCÊ NÃO ESTARIA ASSIM SE
NÃO TIVESSE LIDO A MINHA CARTA!
- EU NÃO SABIA QUE
ERA SUA, EU NÃO POSSO FAZER NADA SE VOCÊ DEIXA AS CARTAS
QUE MANDA PARA O SEU VITINHO LARGADAS POR AÍ!
Uma pausa e
então:
- RONY, PORQUE VOCÊ TEM QUE SER TÃO
BURRO! VOCÊ NUNCA ENTENDE NADA!
A gritaria parou, mas
subindo a escada correndo vinha Hermione, chorando, a tal carta
apertada na mão. Passou por Harry como um foguete e bateu a
porta do quarto que dividia com Gina.
Quando ele chegou na cozinha
viu Rony sentado à mesa, a cabeça apoiada nas mãos,
e os cotovelos, na mesa, os olhos vidrados.
- Bom dia, Rony.-
cumprimentou se sentando ao lado do amigo.
- Nada bom.- respondeu
o garoto desanimado.
- Krum de novo?
- De novo.
- Que é
que aconteceu? Hermione passou chorando por mim agora há pouco
no corredor.- disse a voz de Sirius atrás deles. Ele estava
com o humor muito parecido com o dos gêmeos Weasley ultimamente
e parecia mais jovem do que seu afilhado lembrava de tê-lo
visto. Olhou para Rony e seus olhos brilharam com o entendimento.-
Outra crise de ciúmes, eh?
As orelhas de Rony ficaram
vermelhas e ele evitou o olhar de Sirius.
- Não foi uma
crise de ciúmes.- respondeu corando.- Eu só me preocupo
com ela porque...porque ela é minha amiga.
- E você
se preocupa com o que exatamente?- perguntou se sentando do outro
lado dele.- Acha que as cartas de Krum pra Mione vão sair
correndo atrás dela cuspindo fogo? E também não
vejo Harry gritando com ela por causa disso, e eles também são
amigos.- o menino não respondeu.- Está vendo? Você
não me engana. Eu já sei que você gosta dela há
séculos. E tenho quase certeza, pelos gritos que tenho ouvido,
que ela gosta de você.
O ruivo ficou da cor dos cabelos.
Murmurou algo como "Ela não se importa". Harry se
espantou, já estava tão habituado às brigas dos
amigos que nem tinha percebido que na verdade era porque eles se
gostavam, conforme disse o padrinho. Este, por sua vez, começou
a rir gostosamente.
- Sabe, nós também achávamos
que a Evans não se importava, e olha no que deu...- vendo a
expressão de curiosidade de Rony acrescentou:- Lílian
Evans,- olhou para Harry.- que virou Lílian Potter depois de
casar.
Harry se lembrou do que vira na penseira de Snape, quando
sua mãe gritara para seu pai que ele era arrogante e
cafajeste, e preferia sair com a lula-gigante do que com ele. Sirius,
como se lesse seus pensamentos falou.
- Digamos que naquele dia da
lembrança que você viu, Harry, ela estava de bom humor.
Às vezes ela azarava ele. Ele não tinha coragem pra
azarar ela de volta. E também ele ficava meio lesado quando
sua mãe tava por perto...meio que parava de pensar.- sorriu
marotamente para Rony e acrescentou.- E ficava com esse mesmo olhar
que o nosso amigo fica quando Hermione se aproxima.- ele voltou a
corar.
Harry entrou na conversa:
- Sabe, Rony, pelo pouco que
eu sei da história dos meus pais minha mãe o odiava, e
mesmo sabendo disso ele chamava ela pra sair toda vez que a via. Daí
quando ele baixou a bola, como o Sirius diz, ela aceitou.
- E
daí?
- E daí?- foi Sirius quem respondeu, pasmo.-
Pensa só, a Lily achava o Tiago a pior pessoa do mundo até
mais ou menos o sexto ano. O Tiago agia como um babaca total quando
ela aparecia. Os dois tavam longe de serem só amigos. Você
e a Hermione pelo menos se falam.- Harry ouvindo isso se sentiu
estranho. Sabia que os pais não se deram bem durante um bom
tempo e só se entenderam depois de muito discutirem, mas se
sentiu mal mesmo assim.
- Não, a gente só consegue
gritar um com o outro.- respondeu Rony.
- Mas no fundo se gostam,
e você sabe disso.
- E como é que foi que ela começou
a gostar dele?- Harry perguntou não conseguindo se conter.
-
No sétimo ano, quando ele parou de azarar todo mundo e etc...
bem, continuou azarando o Ranhoso, mas foi só.
- Ranhoso?-
perguntou Rony.
- Eh, o Snape.- (Rony caiu na gargalhada).- Era
como a gente o chamava. Mas como eu tava falando: quando aconteceu
essa mudança com o Tiago, eu percebi que a Lílian
ficava olhando pra ele distraidamente, com o mesmo olhar que a
Hermione olha pro Rony às vezes...- (o rapaz corou).- E ela
também não conseguia gritar com ele como antes, e
quando ele jogava charme pra provocar ela, ela parecia ficar sem
palavras, o que era difícil acontecer. Então, com uma
idéia brilhante minha, e uma ajudinha do Aluado a gente juntou
os dois.
- Mas a Hermione é tão...tão...complicada!-
disse Rony.
- Todas elas são...mas tem uma coisa que eu não
entendo...você gosta dela há tanto tempo e nunca cria
coragem pra convidar ela pra sair...eu não precisava gostar de
uma garota pra convidá-la pra sair e não tardava a
conseguir o que eu queria.- seus olhos brilharam maliciosamente.
Harry se lembrou da lembrança de Snape, da garota sentada
atrás do padrinho durante a prova, mirando-o sonhadoramente.-
E Tiago mesmo quando não tinha admitido que gostava da Lílian
e mesmo sabendo que ia levar uns berros chamava ela sempre que
possível.
- É o que vai acontecer se eu chamar ela
não é? Levar uns bons berros?- falou olhando para
Sirius como se este fosse maluco.
- Rony, me escuta bem.- falou
Sirius rispidamente.- A prova viva de que tudo é possível
está sentada do seu lado e é seu melhor amigo.- disse
indicando Harry.- Você nunca vai saber se Mione sairia com você
se nunca perguntar.
- Maluco.- murmurou Rony, se levantando e
saindo da cozinha resmungando.
- Sirius?- chamou Harry, pois o
padrinho estava perdido em pensamentos.
- Sim?- respondeu
"acordando".
- Acho que você está certo
quanto a Rony e Hermione.- o padrinho sorriu.- Qual foi sua idéia
para juntar meus pais?
- Bem, eu armei uma situação
em que eles dois precisaram se esconder juntos no mesmo armário
de vassouras, em que só caberia... hum... uma pessoa e
meia...
- Só isso?
- Só isso nada! Eu e Aluado
tivemos que ficar andando de um lado pro outro no corredor pra eles
pensarem que tinha alguém rondando e não poderem sair.
Quando percebemos que eles estavam conversando amigavelmente
trancamos o armário, subimos para a Torre da Grifinória
e esperamos eles voltarem.
- Foi só isso? Um armário
de vassouras uniu meus pais?
- Harry, Harry... você é
mais inocente do que aparenta ser.- falou brincando.- Se você
quer saber qual é a de uma garota, se tranque em um armário
de vassouras com ela... eu sei que não é romântico
e etc., mas eu precisava de medidas drásticas. E seus pais não
foram unidos por um armário, foram unidos pela minha
inteligência e conhecimento sobre as mulheres.
- Bem, pelo
menos isso funcionou, não é...
- Se funcionou?
Funcionar é pouco... trancamos eles depois do jantar e eles
voltaram só às quatro da manhã.
- Bom...-
disse o garoto lentamente, boquiaberto com o poder de um armário
de vassouras particularmente pequeno.- será que é
seguro fazer o mesmo com Rony e Hermione?
- Suponho que sim. Se
tiver por aqui um lugar do tamanho certo eles não terão
espaço pra se agredir fisicamente. E depois dos primeiros
gritos eles verão que estam trancados e terão que se
entender.
