Parte I - Skyfall

Skyfall is where we start

A thousand miles and poles apart

Where worlds collide and days are dark

I. Teresa

Voltou a olhar seu reflexo no espelho de Rosmerta. O corpo moldado em um vestido verde esmeralda que a expunha em um decote desconcertante, estava mais magra que o normal, mas o vestido tornara anos de tortura e desgaste psicológico em uma elegância melancólica. Os lábios finos e pálidos davam lugar a um carmesim semelhante aos cabelos de uma garotinha que ela conhecera anos atrás. Dez, treze anos? Quanto tempo havia passado desde o último verão? Há quanto tempo ela havia parado de contar?

Os fios avermelhados tão característicos estavam camuflados em um tom de loiro quase branco que a fez se lembrar a contragosto de Draco Malfoy. A poção Colorus no entanto, não foi o suficiente para omitir as sardas que persistiam sobre sua pele.

Gina podia admitir para si mesma que aquele era um plano impulsivo e egoísta, que de nada poderia contribuir para a Resistência, mas há muito tempo ela havia desistido da luta contra Ele. Assemelhava-se muito mais a um cão procurando caos sem atingir um fim realmente. O que sua família pensaria dela se estivessem ali? Quis rir, levaria um tapa de Molly, possivelmente.

Estremeceu ao ouvir a batida na porta e a voz doce de Rosmerta avisando que ele a aguardava no saguão.

- Gina…- a voz de Rosmerta morreu ao receber o olhar reprovador da mulher. - Certo!Certo! Teresa! Melhor assim?

Gina não respondeu, forçou-se a sair do quarto, mas logo foi interceptada.

- Ainda há tempo para desistir. Por Merlin! Isto é loucura,menina.

- Eu sei o que estou fazendo. -Tentou colocar fim à conversa, mas Rosmerta apertou seus braços com força.

- Você sabe o que pode acontecer se ele descobrir...Não, Gina! Ouça-me! Você pensa que sua coragem será o suficiente para ter aquele homem desprezível tocando-a durante o resto da noite, pensa que seus motivos serão o suficiente, mas não serão…

- Basta. -a voz de Gina não passava de um sussurro, mas foi o suficiente para que a mulher a sua frente a soltasse, Rosmerta acendeu um cigarro e a fitou novamente, o cenho franzido em uma preocupação quase maternal.

-Há cinco anos atrás eu a encontrei jogada em um beco qualquer banhada de sangue, seu sangue. Uma memória curta não condiz com uma vida longa, menina. - disse afundando o indicador na têmpora da jovem de forma agressiva, Gina afastou sua mão com a mesma delicadeza, odiava quando a mulher a chamava assim. Voltou a caminhar, um pouco mais irritada do que antes, e insegura. "Foda-se você, Rosmerta. Chore seus conselhos para algum bêbado que queira ouví-la".

Gina desceu as escadas em direção ao homem que a aguardava encostado no bar de uma forma descontraída. A cada degrau, as palavras de Rosmerta ecoavam mais alto, como um mantra que a ninguém serve, soando como malditas mandrágoras. Aproximava-se cada vez mais, logo, aquele homem acharia estranho o fato dela não fitá-lo diretamente. Não conseguia encará-lo.

Pronto. Terminado.

O silêncio.

Ele perceberia.

Ele já sabia, certamente.

- Madame Rosmerta tinha razão. Você tem algo de especial, loira. - Gina ergueu os olhos e Blaise Zabini sorriu confiante.

Ela não conseguia lembrar dele em Hogwarts, e talvez, por ventura, o mesmo ocorreu ocorreu a ele. No entanto, seu medo não cessou, aquele homem que lhe estendia a mão era um seguidor do Lorde, mas não era Voldemort.

Soube naquele curto instante que as chances de sucesso eram nulas porque com os resquícios de Tom Riddle, uma parte dela conseguia fugir para dentro da sua mente e por mais que Voldemort a tivesse torturado, não havia nada de humano nele para feri-la além da carne.

Porém, não eram os olhos opacos e reptilianos que a despia agora. Eram dois abismos, ela não podia ver nada e contra toda a sua vontade, a puxava para perto, era a mesma sensação de equilibrar-se na ponta dos pés na borda de um precipício.

Indigno e dissimulado.

Neville, Dean, Luna, Molly, Harry, Tom, Voldemort. Não queria admitir, mas ninguém nunca tinha a olhado daquela forma.