AVISO IMPORTANTE:
Para quem está perdido, essa fic é o livro/temporada 3 do Templo das Bacantes. É a fic TRÊS.
A fic está em meu perfil, e não sei porque não aparece nos updates do site ¬¬
É extremamente recomendável que se leia as fic's anteriores, afinal é como uma série de livros, e vc caro leitor esta com o livro 3 na mão.
Mesmo assim a fic pode ser lida de forma independente, mas já deixando avisado que alguns detalhes importantes na formação da trama serão perdidos ;)
Esta fanfic é feita em parceria com mais duas autoras: Ivi Canedo e Rosenrot, como no ff. net não tem a opção de co-autoria, infelizmente todas as fics são postadas com o meu perfil.
Aviso legal
Saint Seiya (Os cavaleiros do Zodíaco) e todos os seus personagens pertencem a Masami Kurumada e a Toei e tem todos os seus direitos reservados.
Fanarts de nossa autoria ou retiradas da internet; todos os créditos aos seus criadores.
Personagens originais como algumas das Bacantes são de nossa autoria; é proibido o uso delas sem aviso prévio.
Essa fanfic também está sendo publicada no Social Spirits e no Nyah
Sinopse:
O terceiro volume dessa saga que mostra o Santuário de Atena e seus cavaleiros em um universo distópico vem recheada de revelações do passado que trarão alguma luz para dilemas do presente e também ditará o futuro de muitos. Um inimigo ainda desconhecido ronda a Grécia; Vory v Zakone e o Santuário, que está sendo regido a ferro e fogo pelo tirano Patriarca, agora são aliados; Shaka e Mu enfrentarão a pior provação de suas vidas junto ao pequeno Kiki; Camus e Afrodite terão que tomar decisões difíceis que irão abalar a peculiar, porém amorosa, família que construíram junto de Hyoga, e Geisty segue determinada em proteger as garotas do bordel e ajudar Saga a despertar sua consciência do bem. Mas... já não será tarde demais para eles?
O Templo das Bacantes é uma história através do tempo, contando o que ocorreu no santuário pela visão de três casais ainda em formação:
Mu e Shaka
Camus e Afrodite
Saga e Geisty
Esta fanfic também é postada no nyah e no social spirit e cada capítulo tem uma imagem personalizada.
********************Cap 1 O Trio Ternura .***********************
Fim do outono do ano de 2002.
Santuário de Atena, 7h30.
Em cima do criado mudo de estilo vitoriano em nogueira branca de capa branca de marfim, o aparelho de telefone celular no início de seu show de saltos de artifício em um tom frenético junto ao som do som de bombeiros em um ritmo que ressoava sem volume em um hum novo dia.
Na cama ampla de casal, debaixo de dois edredons macios em tons variados de azul turquesa, de bruços Geisty de Serpente remexeu-se preguiçosamente ainda com os olhos fechados. Sentia o corpo pesado e a mente enovelada ao sono, mesmo assim, esticasse o braço para fora das cobertas e carregasse a mão pelo lenço macio de seda branca com o mesmo espaço que o colchão do lado de fora segurando-se por encontra-o vazio e já frio. " Ma non pode ser!", Gaze to the footpebras and arrecating a cabeça entreabriu os olhos e olhou para o lado, certificando-se de que estava sozinha sozinha na cama.
Munido-se de coragem jogou os edredons para o lado e para se revirar entre os lençóis e os sentiram-se com o cortar-se uma bunda.
- Aiiinn! - exclamou com uma voz rouca e uma mão até o traseiro desdobrou uma pipoca doce grudada ali, uma mão até perto dos olhos semicerrados e em seguida jogou na boca sem muita vontade - Ah droga ... esta murcha. - reclamou com uma careta.
Com um toque de barulhento em seguida e em seguida levou uma mão à cabeça puxando uma fieira de fios dourados cortados em pigmeu que já estava toda troncha, revelando os fios naturais cortados em um Chanel impecavelmente simétrico.
Sem muito sentido capturou o telefone para desligar o alarme sem o mesmo momento em que se levantou a cama, mas assim que tocou o chão com um dos ouvidos do CREC.
- Ah não! - exclamou olhando para o chão deixando o celular cair. O, então, desligou instantaneamente - Pisei em você ... - disse curvando-se para apanhar um estojo de DVD. Uma pisado nele e um abacate uma rachadura - Me desculpa, Cher!
Nesse momento, a porta de um dos lados da sua casa abriu um barulhento e ela surgiu como um furacão ainda mais ruidoso.
- BOM DIA RAINHA DA COLMEIA!
Geisty piscou os olhos fixando uma imagem da figura que caminhava no seu próprio caminho e gingado digno de deixar a passarela da Victoria´s Secret. Trazia nas mãos dois copos de vidro cheios de um líquido verde e vestia-se uma camiseta branca com os dizeres "Eu amo Tibet", que era de Mu e ficava bem mais larga em si.
— É do mosqueiro, Afrodite. Mosca, mosqueiro. Colmeia é de abelha. Você nunca acerta essa merda. — disse ela esfregando o rosto preguiçosamente — Aliás, nunca entendi esse apelido escroto.
— Nossa, já te disse que você é suave como um cálculo descendo pela uretra? — disse Peixes parando em frente à amazona e lhe entregando um dos copos — Porque você é uma mosca varejeira que vive zumbindo no meu ouvindo e às vezes põe ovos na minha vida... Custa acordar de bom humor um único dia? Ah, tá boa!... Toma seu suco de luz. Beba tudo dessa vez.
Com o copo entre as mãos e um olhar desanimado para o líquido verde a amazona soltou um suspiro resignado. Odiava aquela beberagem, mas sempre acabava cedendo. Muitas vezes enganava o pisciano, o que não era uma tarefa muito difícil, mas na maioria das vezes acabava bebendo a gororoba para agrada-lo e assim ouvir pela enésima vez todos os benefícios milagrosos que ela proporcionava à saúde.
— Ah... Suco de mato logo pela manhã era tudo o que eu precisava mesmo... Que delícia! — disse irônica erguendo uma sobrancelha e com um sorriso amarelo nos lábios.
— Ingrata!
— Ingrata? Você me colocou o apelido de um bicho escroto para caralho e a ingrata sou eu? — Geisty gesticulava as mãos no ar enquanto falava — E sim, me custa muito acordar de bom humor. Ainda mais depois de mais de cinco anos dormindo sob o mesmo teto que aquele estupor que se autodenomina meu marido.
— Ainda bem que marido só no papel, né santa? Graças a Dadá que não falha. — disse o sueco erguendo os olhos e a mão para o céu, depois voltou a olhar para a amiga — Aliás, eu já te disse que um casamento sem sexo te dá o direito ao adultério. Esse mau humor aí também é falta de rola. Tanto ocó nesse mundo e você nesse jejum de mais de cinco anos. Eu se passo mais de dois dias sem rola meu humor encrua.
— Você tem uma rola pregada em você e é todo encruado, bicha. Não vem com esse papo não. Porque eu duvido que se tivesse que aturar aquele estrupício de homem você teria bom humor logo pela manhã. Ah, não teria mesmo! Ele não é como o Batman que te enche de carinho e presentes caríssimos. Ele só me presenteia com cefaleia... Não dá mesmo para manter um casamento de fachada com um catiço daquele e ainda se manter bonita, ter intestino funcionando com regularidade e bom humor matinal ao mesmo tempo nessa vida.
— Eu, heim! E você ainda tem dúvida sobre o que é primordial dentre essas opções? — disse o pisciano entediado.
— Dúvida alguma! Por isso mesmo eu escolhi continuar bonita e cagar todo dia. Tive que sacrificar uma coisa, e como infelizmente não posso matar o Grande Mestre eu escolhi abrir mão do bom humor matinal. Paciência, perdas aceitáveis.
— E graças ao meu suco de luz! Ou você acha que conseguiu essa barriga murcha só treinando?
— Eu treino todos os dias, bicha... Você que mais falta aos treinos do que vai. De uns anos para cá, aliás, está mais para essas modelos anorexas que têm a cara da fome do que para cavaleiro. — deu uma olhada de cima abaixo ao sueco — Vem cá, você não vive de dieta só para entrar nas minhas roupas, né?
— Mosca mesquinha! — Afrodite reclamou batendo o pé no chão e estalando os dedos no ar — Vai ridicar* agora as roupas que você me empresta?
— Não estou ridicando nada. Só que não são emprestadas, né. São doadas. Porque elas vêm no seu corpo e passam a morar no seu closet.
— Para de tagarelar feito uma cacatua loca e beba logo o seu suco ou a clorofila vai perder as propriedades. — disse apontando para o copo dela — Ah, tá boa? Eu faço o ajeum para você com tanto carinho e você enche ele e minha boa intenção de ovos. Odiosa.
Geisty olhou mais uma vez para a taça criando coragem.
— E você, não me acompanha? Vai me fazer beber sozinha? Se for para beber sozinha você sabe que eu não bebo.
Peixes respirou fundo, o mais que conseguiu, então segurou o ar dentro dos pulmões e disse:
— No três. — indicou com os dedos iniciando a contagem progressiva — Um, dois, três.
Juntos eles viraram a condenável vitamina de clorofila até não sobrar nada no corpo, e depois de caretas, grunhidos e muita insatisfação deixaram os copos sobre o criado mudo ao lado da cama. Valia tudo pela barriga de tanquinho e os intestinos sempre em dia.
Ao se levantar da cama, Geisty recolheu a peruca de fios armados e a jogou para Afrodite que a apanhou no ar.
— Da próxima vez eu vou ser a Cher. — disse recolhendo em seguida os DVDs — A peruca da Tina me dá coceira na franja.
— A Tina não tem culpa que sua franja é uma entidade viva. — o sueco respondeu recolhendo a peruca junto das outras dentro de uma grande caixa branca — E pode esquecer. Eu sou a Cher sempre. É cargo vitalício. Depois, o picumã de Equê* da Cher é como minha armadura de ouro. Só entra na minha cabeça e de mais ninguém. Ela me escolheu.
— Então eu vou ser a Dana Summer. — replicou a amazona recolhendo as pipocas amassadas e murchas do chão. As menos pisoteadas ela jogava na boca e mastigava distraída.
— Credo, você joga baixo, heim! — respondeu o pisciano a fuzilando com o olhar enquanto levava a caixa com as perucas para o closet — Na próxima fazemos uma cerimônia de seleção e se a peruca da Dana Summer achar que você é digna ela é sua.
— Aposto que ela vai achar. — disse Geisty enquanto recolhia agora os papéis de bombons suíços na expectativa de achar algum perdido.
— Aposta o quê? — perguntou Peixes colocando a cabeça para fora do closet.
— Hum... aquele anelzinho de mindinho da coleção nova da Tiffany. — a ariana olhou para ele confiante, adorava desafios e não fugia de nenhuma aposta.
— Apostado! — disse Afrodite esticando o braço e oferecendo o dedo para firmarem o pacto.
— Feito! — respondeu a amazona se virando para ele, mas quando foi tocar em seu dedo viu caído debaixo da cama seu aparelho de celular, que estava todo desmontado — Pela deusa, meu celular!
— Derrubou de novo? Por isso que você não troca essa casqueira horrorosa por um modelo mais jeitosinho. Só mesmo um Nokia para sobreviver a tanto tombo.
Enquanto o sueco falava a italiana montava apressada o celular.
— Cazzo! — exclamou ao conferir as horas no display recém-ligado.
— O que foi, Mosca?
— Olha a hora, bicha! Puta merda a gente vai se atrasar... Anda Afrodite, acelera aí que hoje temos que chegar na hora. Vão chegar os funcionários novos e é nossa responsabilidade recepciona-los... Madonna mia, será que o Mu já está se arrumando?
— Quer tomar banho e se arrumar aqui? Está cheio de roupa nossa aqui. — disse passando as mãos por alguns cabides abarrotados de roupas — Tem uns apatás seus aqui também, e tem um monte de calcinha. — abriu uma gaveta tão cheia das peças que algumas pularam para fora e foram enfeitar o chão. Quase todas de Camus. — Te empresto uma.
A oferta de calcinhas não foi bem aceita por Geisty, além do que ela precisaria de muito mais do que calcinhas. Queria se arrumar com calma e estar belíssima e muito bem apresentável como exigia seu atual cargo no bordel e para isso precisava voltar para casa, para o Templo de Gêmeos.
— Não vou usar suas calcinhas, bicha, não hoje. Aliás, nunca entendi porque você tem tanta calcinha sendo que nunca te vejo usar calcinha... Enfim, também não quero arriscar ter alergia por causa do teu sabonete igual da última vez que tomei banho aqui. Eu vou descer e em trinta minutos encontro você e o Mu lá na porta de Gêmeos. — disse entregando os baldes de pipoca abarrotados de papeis de bombons, DVDs, e outras bugigangas para o pisciano, em seguida vestiu o roupão com o qual viera na noite passada, calçou os tênis e dirigiu-se à porta — Não se atrase. Trinta minutos!
Enquanto olhava para a amazona descendo apressada as escadarias de seu Templo rumo à próxima Casa, Afrodite levou o dedo mindinho à boca e mordeu ansioso a pontinha da unha. Estava sentindo o Cosmo de Camus no Templo de Aquário.
— A bonita nem me falou que vinha para Grécia hoje... E ainda trouxe Hyoga! — deu um sorriso mordendo os lábios e imediatamente a seguir entrou exultante correndo em direção ao quarto onde vestiu-se às pressas com um moletom bem largo e calças de pijama.
Peixes agora tinha mais cuidado com o disfarce que usava para assumir sua segunda identidade, a de mãe dedicada e mulher exemplar. Hyoga contava com dez anos, portanto não era mais um garotinho e estava longe de ser ingênuo, embora a frieza e malícia de Camus, somada ao talento de Afrodite, estivessem aquém da esperteza do pequeno russo. Sendo assim, para se tornar Maman Di além dos artifícios que já usava Peixes passou a incluir uma prótese discretíssima de seios no disfarce e outra que lhe ajudava a esconder os "dotes". Munido delas por debaixo da roupa larga, prendeu os cabelos num rabo de cavalo, amarrou um lencinho no pescoço para esconder o pomo de adão, passou um brilho nos lábios já naturalmente rosados e desceu para Aquário ocultando seu Cosmo.
Chegando lá sentiu um cheiro delicioso de café quentinho, ovos e bacon. Foi direto para cozinha pensando encontrar Camus e Hyoga, mas ali estava apenas o russo que preparava o dejejum enquanto cantarolava uma canção.
— Amor de mãe! Bom dia! — disse o sueco adentrando a cozinha já com os braços abertos — Agora é assim, é? Vocês vêm para a Grécia e nem me avisam mais? Nem vão lá me ver.
Ao virar para trás Hyoga sorriu e ainda com a espátula na mão abriu os braços para receber o abraço apertado e caloroso da "amazona".
— Bom dia, Maman! — disse sorridente e animado — Eu subi mais cedo, mas você e a tia Geisty ainda estavam dormindo. Não quis acordar vocês.
— Ah... é? Nós... fizemos uma noite só de meninas... digo... de menino... — simulou aspas com os dedos — E de menina. — sorriu sem graça. — Ela só precisava conversar com um amigo.
— Não sei como a tia Geisty ainda não descobriu que você também é uma garota, Maman. Logo você, que é tão delicada e feminina. Muito mais que ela, aliás! — disse Hyoga meneando a cabeça.
Afrodite arregalou os olhos um tanto apreensivo, mas logo deu um sorriso radiante para mandar aquela conversa para longe de vez.
— Nem ela e nem ninguém desconfia, loirudinho de mamãe, porque a sua Maman aqui é ótima em fingir ser um menino que finge ser um cavaleiro que finge ser uma amazona fingindo ser amada... digo... — se atrapalhou todo — Olha, o que importa é que eu não quero arriscar que Serpente seja punida por saber do meu segredo. Nem ela, nem ninguém. Por isso é tão importante isso ficar somente entre nós, como está até hoje. — disse suavizando o tom de voz enquanto enchia o rosto do russo de beijos — Hum... hum... mas chega disso. Só quero agora é beijar esse filho mais lindo, perfeito, nórdico e prendado que eu tenho, minha deusa! Eu não mereço uma benção dessa!
— Maman... vou queimar o bacon! — Hyoga sorriu.
— E seu pai? — disse Peixes deixando que o garoto voltasse a atenção para os ovos mexidos.
— Está na cama ainda. Ele chegou tarde... Toma café comigo? Quer que coloque geleia de morango nos seus ovos com bacon? Vou colocar nos meus.
— Claro que tomo! Bota amendoins aí também e... tem sorvete? Bacon com sorvete é dos deuses! — disse já caminhando para a saída do cômodo — Papa vai lá dar um beijinho no seu papa... digo... Maman vai lá dar um beijinho no seu papa.
Hyoga gargalhou ao ver Afrodite ir procurar o pai. Era exatamente aquele jeito atrapalhado de sua Maman que ele amava tanto.
Peixes atravessou ansioso o corredor até o quarto do aquariano e ao entrar o encontrou dormindo de bruços entre os lençóis. Ficou um tempo ali, de pé ao lado da cama observando o corpo escultural daquele homem que era seu de corpo e alma, então suspirou apaixonado e engatinhando sobre o colchão feito um felino elegante colou seu corpo ao dele deitando a cabeça na curva entre o ombro e o pescoço. Completamente encaixados parecia sincronizar sua respiração com a dele, o sentindo ressoar baixinho, aspirando o perfume agradável dos cabelos ruivos que misturado a um toque de nicotina tanto mexia com seus instintos.
Devagar deslizou as mãos delicadas pelo corpo do francês, remexendo-se todo, aprazendo-se daquele contato tão íntimo, e beijando seu rosto o chamou baixinho:
— Camy... mon amour... hummm que saudade eu estava de você. — disse sorrindo e com a alma em festa.
O ruivo, mesmo de olhos fechados e sonolento, deixou escapar dos lábios um sorriso antes de soltar um pequeno resmungo.
Estava exausto. Mal havia deitado na cama para dormir, mas mesmo seu corpo implorando por descanso precisava muito mais de Afrodite.
— Boa noite Ma Rose. — respondeu com um sussurro preguiçoso e sem abrir os olhos.
— Bom dia! Já é de manhã.
Aquário sorriu e lentamente girou o corpo por debaixo do sueco até ficar de frente para ele, então o abraçou com carinho e finalmente abriu os olhos para admirar o rosto do amor de sua vida bem de pertinho.
— Eu ainda non dormi, então é boa noite. — sorriu e roubou um pequeno beijo — Também estava louco de saudade... Quase duas semanas sem ver você.
— Hum... a gata estava com tanta saudades que nem me avisou que viria hoje. — murmurou manhoso.
— Você estava com aquela lenhadora machona por isso non subi, mas eu te mandei um sms.
— Me mandou um torpedo? Nem olhei o celular, desci junto com a Mosca... e não fala assim dela... Mas o que veio fazer na Grécia no meio da noite?
Camus piscou os olhos, coçou os cabelos bagunçados e se ajeitou melhor na cama lutando contra o sono.
— Gêmeos...
— O que tem o Coiso?
— Ele me ligou esta noite... Quer dizer, ontem à noite... — se corrigiu — Porque descobriu quem estava desviando as armas russas que estávamos mandando para a América do Sul. Há meses que parte da carga desaparecia ao passar pela Grécia e obviamente os homens dele estavam envolvidos... A novidade foi que dois dos meus também estavam.
— Aquenda o babado! — o sueco arregalou os olhos — E quem são os malassombrados?
— Quem eram. — Camus franziu as sobrancelhas — Yerik e Misha Sergeevich Barsukov. Dois irmãos canalhas que faziam parte de uma gangue falida de São Petersburgo, a Tambovskaya. Eles filiaram-se à Vory v Zakone quando uma das células deles caiu e perderam contingente e influência, e mesmo jurando lealdade a mim e andando na linha nunca me convenceram totalmente... Bem, eu nonestava errado. Há cerca de dois meses coloquei Chesla e Miroslav na cola deles, mas foi Gêmeos e seus homens que descobriram que estavam atuando aqui, na Grécia. Eles forjavam um saque ao depósito de armas e depois trocavam por cocaína, que era arranjada pelos homens de Gêmeos. Os gregos vendem as armas por fora, os russos a droga e ambos ganham um extra, enquanto nós ficamos no prejuízo, já que a culpa do saque eles colocavam na conta dos iranianos... Enfim, a troca iria acontecer nesta madrugada e o Grande Mestre fez questão de atocaia-los pessoalmente e me dar a honra de fazer o mesmo. Por isso ele me ligou em cima da hora e nem pude te avisar direito.
— O Coiso também matou os cafuçu dele?
— Oui. — Camus sorriu satisfeito apertando o namorado contra o corpo — Gêmeos parecia ter o diabo no couro e eu non estava muito melhor.
— Hum... eu faço uma ideia. Ultimamente eu estou preferindo ter uma cólica renal do que ter de olhar para a cara daquele encosto.
— Sabe que uma traição dessas proporções non tem perdão. Apagamos todo mundo, recuperamos a carga e a essa altura, enquanto os homens de confiança do Patriarca guardam as armas, Andreas e Victor estão vindo para cá para reestabelecermos uma nova rota segura para a América do Sul, então antes que eles cheguem preciso dormir nem que seja um pouco.
— Uhhm... queria tanto ficar aqui com você. — aninhou-se todo no aquariano — Mas preciso descer para o Templo de Baco. Hoje é o primeiro dia dos novos bacantes e a diretoria tem que estar presente lá para receber a putaiada... Te vejo a noite?
— Oui. Aproveitei a vinda para trazer Hyoga. Pretendo passar algum tempo na Grécia. Hyoga precisa treinar com os outros aprendizes e parece que Mu quer uma ajuda com Kiki. Sabe que ele non confia em deixar o menino treinar com os outros garotos, então fará bem para nosso filho ficar um pouco no Santuário com outra criança.
Foi só falar do filho que o garoto deu dois toques na porta já se anunciando.
— Estou entrando! — Hyoga avisou em voz alta.
Camus e Afrodite riram, mas não se incomodaram com a posição íntima em que estavam, aconchegados um ao outro na cama. Hyoga já era maduro o suficiente para lidar com cenas como aquela.
— Ei Maman, o pére precisa descansar. — o loirinho ria divertido ao rodear a cama e puxar Peixes por uma das mãos — Depois vocês namoram. Vem tomar café comigo, deixa o ele dormir.
— Ah, oui! Eu realmente preciso, Ma Belle. Passei a noite quebrando a cara daqueles porcos traidores e ainda tendo de aturar o pulha do Gêmeos... Estou acabado. — fez um carinho no rosto de Afrodite e deu um tapinha em suas nádegas — Vá tomar café com Hyoga. Mais tarde nós nos entretemos.
— Certo. Até mais tarde então, mon amour. — disse Peixes, e com um beijo despediu-se do namorado para correr até o filho e de mãos dadas partirem à cozinha.
Aos risos tomaram o café desfrutando da companhia um do outro até Peixes subir para próxima Casa para se aprontar.
Casa de Virgem
Tirar Mu de Áries da cama era sempre uma tarefa difícil. Infinitamente mais fácil era leva-lo para ela, mas Shaka de Virgem executava ambas as manobras com extrema facilidade e satisfação.
Naquela manhã não foi diferente. Cinco minutos antes do despertador tocar o indiano recostava seu rosto ao do lemuriano e o despertava docemente com beijos suaves e toques amenos enquanto o chamava aos sussurros, então quando Mu abria os olhos sorriam preguiçosamente um para o outro, aninhavam-se entre os lençóis e após alguns preguiçosos minutos ali, quando o despertador finalmente tocava, Áries arrastava-se até o banheiro dentro do quarto e ainda sonolento se enfiava debaixo da ducha para começar mais um dia de labuta.
Era isso que fazia naquela manhã quando, com a cabeça debaixo da cascata d´água morna e os cotovelos apoiados no mármore esverdeado da parede do boxe, ouviu a porta de vidro ser aberta e logo sentiu mãos delicadas e firmes correrem por seu torso acariciando-lhe o peito. Suspirou lânguido de olhos fechados, e esboçou um sorriso quando o corpo quente do outro colou-se ao seu.
Como lhe aprazia aquela ousadia matinal do indiano!
Vagarosamente Mu se virou de frente para ele e apertando-lhe o corpo perfeitamente esculturado tomou-lhe a boca cálida num beijo voluptuoso. Momentos depois Shaka já tinha o peito e ambas as mãos espalmadas junto no mármore irrigado enquanto seu hálito condensado misturava-se ao vapor d´água que embaçava o vidro.
O cheiro de sexo era temperado pelo aroma aprazível de lavanda que exalava dos cabelos molhados de Mu. As mãos suaves, quase etéreas, porém fortes, do ferreiro seguravam firme a cintura do outro enquanto a penetração era lenta e constante, e quando estavam firmemente conectados, de carne e alma, eis que três toques fracos na porta e uma voz angelical e potente os puxaram de volta à realidade.
— Baba, papai, o Kiki fez o café da manhã!... — disse animado, e não havendo resposta imediata inquiriu: — Papai?... Você tá ai? O Kiki tá ouvindo o chuveiro.
Do lado de dentro do banheiro Mu resmungou baixinho:
— Mas que droga! — havia perdido completamente a concentração no que fazia, e assim que seu cérebro conseguiu processar qualquer coisa gritou em resposta — OI... FILHO!... ESTOU SIM. PAPAI... TÁ...TÁ ... TOMANDO BANHO!
Mal tinha respondido e ainda meio atordoado, com a cascata d´água a cair-lhe pelo rosto corado o obrigando a manter os olhos fechados, sentiu os dedos esguios de Shaka deslizarem por seu pescoço arranhando a pele alva até fecharem-se nos cabelos da nuca com força.
— Por Buda... Continue... não pare... — a ordem fora dita em voz baixa e entrecortada.
Imediatamente, e muito instigado, Mu se inclinou para frente e abriu os olhos, então retomou os movimentos de vai e vem, agora de forma mais frenética, ao passo que mordia a própria boca para não fazer qualquer barulho.
Se os deuses colaborassem consigo teria alguns minutinhos ainda para cumprir aquela deliciosa tarefa de satisfazer o marido, ao contrário de Kiki, que não parecia nem um pouco a fim de colaborar.
— Vai demorá? — a voz infantil interrogou novamente do outro lado da porta.
Aflito, Mu achava dificuldade em conseguir conciliar as perguntas do filho com as reboladas deliciosas de Shaka, que o provocava e o colocava em uma situação deveras delicada.
— Sim!... Hmmm Não... Um pouco... — disse sem saber ao certo o que saia de sua boca — Eu... Eu já vou, filho.
— E cadê o Baba? Ele não tá aqui no quarto. Ele tá aí também? — perguntou Kiki sem misericórdia.
Sem abrir os olhos Shaka virou o rosto para trás e balançou a cabeça ao modo indiano num movimento frenético que indicava negativa.
— Não!... Quer dizer... Sim! — Mu respondeu vacilante.
Novamente Shaka balançou a cabeça, agora com um gesto ainda mais efusivo.
— Ele tá aqui sim, filhote. — falou em voz alta, depois lançou o corpo para frente prensando o virginiano contra o mármore molhado, então sussurrou mordiscando o lóbulo da orelha dele: — Eu não vou mentir para o nosso filho. Até porque ele sabe que você está aqui, Luz da minha vida. — riu ao retomar o vai e vem, e nessa hora Shaka arregalou os olhos o encarando em repreensão, pois já sabia o que viria a seguir.
— BABA? BABA! O KIKI FEZ SAMOSAS PRO CAFÉ! — disse a voz alegre do outro lado da madeira, e o silêncio do pai indiano fomentou ainda mais a curiosidade do garotinho — O que você tá fazendo aí, Baba?
Shaka encostou a testa no mármore e deixou escapar um suspiro.
— Mu de Áries, se você parar agora eu arranco sua alma do corpo! — sussurrou levanto a mão ao próprio pênis estimulando-se a fim de agilizar as coisas — Estou quase... lá... só preciso de... — disse sôfrego levando a mão que tinha livre às nádegas do marido o puxando contra si e insinuando para que se movesse mais intensamente — Dá um jeito nele.
Mu suou frio, e com um calafrio prazeroso que sentiu correr por toda a espinha dorsal começou a estocar o indiano com furor.
Se interrompesse o ato Shaka certamente não lhe arrancaria a alma do corpo, mas sua índole e senso de dever jamais permitiriam que deixasse seu marido fogoso insatisfeito.
— Baba? — Kiki chamou mais uma vez atrás da porta, já meio preocupado — Por que o Baba não responde?
— Ele não... não pode falar agora, filho. — disse Mu enquanto mordiscava os ombros de Shaka.
— Por quê? — uma nova pergunta sem nenhuma misericórdia.
— Pelos deuses... — o ariano quase chorou — Porque... aaaaah... porque... porque ele está com dor de barriga... E... dói tanto que... o pobrezinho não pode... nem falar. — não conseguiu conter a própria risada. A benção de ser pai tinha de fato seu preço. — Filho, espera a gente na cozinha... Faz... hmmm... faz um sanduíche para o papai que ele já vai lá.
Do lado de fora do banheiro, um lemuriano de 6 anos, da altura de um pônei dos menorzinhos, arrepiados cabelos de um laranja vulcânico e curiosíssimos olhos lilases fez um biquinho e franziu a testa quase unindo os graciosos pontinhos violetas no centro dela.
— O Kiki faz, mas o Kiki fez samosas também e o papai vai comê elas! — balançou a cabeça ao modo indiano repreendendo o pai lemuriano, idêntico ao gesto que Shaka fazia, mas logo em seguida teve uma brilhante ideia e seu rosto iluminou-se com nova euforia — O Kiki vai fazê leite de magnésia po Baba, pa dor de barriga. — avisou elevando o tom de voz e já saiu correndo em direção à cozinha.
— Oh Buda, não quero nem ver o estado da... aaah... minha cozinha. — do lado de dentro do banheiro Shaka soltou um suspiro abafado junto de um gemido contido ao atingir o orgasmo.
Beijando os ombros de pele cor de mel do marido Mu riu divertido.
— Me deve um beijo. — disse sorridente quando Shaka virou de frente para si, e ao ganhar seu prêmio imediatamente em seguida segurou no rosto dele e lhe roubou outro beijo — Dois beijos! Um por me manter concentrado, outro por me manter firme. — riu olhando para baixo, para o pênis ainda ereto, enquanto colocava o chuveiro no modo frio e se aprumava para terminar o banho com uma ducha gelada.
– Resolvemos isso hoje à noite. — Shaka sorriu sensual dando um tapa nas nádegas firmes do marido.
Pouco mais de dez minutos se passaram até que ambos finalmente deixaram o quarto já vestidos e recompostos, Shaka com sua habitual túnica budista, Mu com roupas civis de estilo despojado e confortável, e caminharam lado a lado até a cozinha. Quando entraram eis que além do pandemônio já esperado causado por Kiki estavam ali os dois discípulos do Santo de Virgem, a quem ele vinha treinado há cerca de dois anos por exigência do Grande Mestre.
— Shiva, Ágora? — disse Shaka surpreso em vê-los sentados à mesa atrás de enormes tigelas cheias com cereal colorido, leite, alguns gomos de tangerina e fatias de pão de forma enroladas e recheadas com folhas de amoreira. Havia uma no jardim do Sexto Templo.
— Mestre! — disseram quase em uníssono os dois rapazes ao erguerem os olhos para a figura altiva parada no batente da porta. Imediatamente ambos se levantaram de seus assentos e a passos ligeiros foram até ele, dobraram os joelhos e beijaram seus pés.
— Mas, o que fazem aqui tão cedo? Que inconvenientes! — Shaka perguntou, enquanto a seu lado Mu revirava os olhos, incomodado com aquele gesto dos dois adolescentes que pareciam adorar a Virgem de fato como uma verdadeira divindade.
Os ignorando Áries foi até a mesa vasculhar se havia algo minimamente comestível em meio àquela anarquia de toda sorte de migalhas, leite derramado, cereal em vários formatos e cores, folhas e dinossauros de borracha.
— Olha papai, eles colocaram as samosas dento do cereal. Não sabem nem comê direito. — disse Kiki apontando para as fatias de pão com as folhas de amoreira nas tigelas dos dois discípulos enquanto ria, depois deu a volta na mesa e esticando os bracinhos alcançou um prato onde havia um embaralhado de pão amassado molhado no leite, cereais, apenas os em formato de X, mel e pétalas de amor perfeito fresquinhas colhidas na hora. Shaka o tinha ensinado apreciar e reconhecer vários tipos de folhas e flores comestíveis que havia em seu jardim — O Kiki fez o seu sanduíche. Toma. Come tudo pá não comê bestera na rua. — apontou o dedinho para o pai lemuriano.
Mu olhou pra o "apetitoso" café da manhã, depois para os discípulos do marido que o encaravam em expectativa para ver se ele iria comer aquela gororoba, e deu um longo suspiro. Ser pai de um lemurianinho hiperativo e marido do homem mais próximo de Buda e os deuses também tinha seu preço.
— Hmmm que delícia. — disse fingindo animação ao pegar o filho no colo — Papai vai pegar só um pedacinho porque está atrasado, está bem? Mas aproveita que já fez tanto papá gostoso e sirva bem as visitas, filhotinho. Tenho certeza de que Shiva e Ágora vão adorar. Não vão? — lançou um olhar sacana e um sorriso maldoso para os dois, cujas fisionomias na mesma hora transfiguraram-se em caretas de desespero.
— Ah... s-sim. — disse gaguejante o Cavaleiro de Pavão.
Já o Cavaleiro de Lótus tudo que conseguiu fazer foi correr os olhos miúdos pelo caos sobre a mesa e pôr a mão no coração.
— Ótimo! — disse Mu apanhando uma beliscadinha do "sanduíche" feito por Kiki, depois o colocou no chão lhe dando um beijinho na testa — Hum! Está delicioso filhotinho, mas realmente o papai tem que ir.
Sem perder mais tempo, e antes que fosse obrigado a comer aquela combinação catastrófica, Mu foi até Shaka, que aos resmungos já começava a lidar com aquela bagunça toda ajudado pelos dois cavaleiros de Prata, então o abraçou por trás carinhosamente, juntou os longuíssimos cabelos loiros que tanto amava com uma das mãos e depois de aspirar o perfume deles deixando escapar um suspiro de satisfação os puxou para o lado e lhe beijou a nuca quente. Gesto que fez o virginiano encolher ligeiramente os ombros ao sentir um arrepio.
— Vou comer algo no trabalho, amor. — disse normalmente, depois reduziu o tom de voz a um sussurro — De noite vou cobrar a minha recompensa pelos meus talentos matinais. — afastou-se e apressado, enquanto enrolava o longo lenço vermelho no pescoço, caminhou em direção à saída da cozinha — Até mais B1 e B2. Tchau filhotinho!
— Tchau papai! — Kiki respondeu ao mesmo tempo em que corria em torno da mesa e com pequenos saltinhos apanhava da superfície uma amora ou cereal que ia direto para sua boca.
— Kirian pare de correr! Vai acabar caindo. — disse Shaka em voz alta e autoritária, e virando-se para Mu esticou o braço e o segurou pelo lenço vermelho — Espere aí, marido. Leve pelo menos umas frutas. Pavão, pegue uma vasilha na dispensa.
— Sim mestre! — respondeu o rapazote prontamente executando a ordem.
Quando voltou a entregou a Virgem que colocou ali duas maçãs verdes, uvas, algumas fatias de melão que apanhou da geladeira, também queijo branco e uma banana enrolada em um guardanapo de papel. Foi tudo que conseguiu resgatar daquela bagunça sem fim.
— NÃO! Banana não! — Mu reclamou de olhos arregalados.
— Para de frescura, Mu. A Geisty gosta de banana, é para ela. — disse Shaka fechando a vasilha e a entregando ao ariano, que não parecia nada feliz.
— Ah, essa merda vai impregnar tudo com esse cheiro nojento. Vai ficar tudo com gosto de inferno. — resmungou fazendo uma careta de nojo e logo saiu torcendo o nariz. Se havia um alimento que Mu de Áries realmente repudiava, era banana.
Assim que o lemuriano saiu Shaka correu até a mesa para acudir Kiki que havia se enroscado em uma das cadeiras e ido parar no chão com tigela de cereal e tudo.
— Are! Eu não disse para você parar com essa correria porque iria acabar caindo? — repreendeu o pequeno que choramingava no chão todo sujo de leite — Mas ninguém escuta Shaka nessa casa. Shaka é uma vitrola sem agulha. Mudo, mudo! O que ele fala aqui nem o marido e nem o filho escutam.
— Babaaaa! Pega o Kiki. — esticou os bracinhos para o pai indiano pedindo colo, e assim que Virgem tomou o menininho nos braços sentiu que ele estava quente. Rapidamente colocou a mão em sua fronte e comprovou a suspeita.
— Por Buda, você está com febre de novo, filho! Está sentindo alguma coisa? — perguntou apreensivo abrindo os olhos e encarando o olhar lastimoso do pequeno lemuriano.
— O Kiki ficou tonto... e ele não viu a cadeira, Baba. — disse esfregando com os dedinhos o nariz que escorria.
— Está tudo bem com o pequeno mestre, mestre Shaka? — perguntou Shiva que junto de Ágora aproximara-se deles, preocupados.
— Eu creio que sim... A tontura deve ser devido à febre. Mas ele vem tendo essas febres matinais com certa frequência... Deve ser porque fica no sereno até tarde atrás daquelas formigas nojentas no jardim, né Kirian?
— É que elas só fazem a casinha de noite, Baba. — justificou o pequeno ariano balançando a cabeça.
— Hum... Vamos, eu vou te dar um banho e um antitérmico. E vocês dois, recolham tudo isso, limpem minha cozinha e depois meditem no altar até o Sol se pôr. Estou monitorando o Cosmo fraco e insignificante de vocês e estão arrastando a minha cara nas escadarias deste Santuário de vergonha! Fortaleçam seus Cosmos através da meditação e sejam dignos dos ensinamentos de Shaka de Virgem, ou procurem um mestre à altura de vossas insignificâncias! — lançou um olhar frívolo para os discípulos que baixaram as cabeças em respeito.
— Sim mestre! Seremos dignos, mestre! — responderam em uníssono.
— Isso nós veremos. — disse Shaka, que em seguida deixou a cozinha para cuidar de Kiki e iniciar mais um dia de sua rotina conciliando as tarefas de cavaleiro de ouro com as de pai dedicado.
Casa de Gêmeos
O tempo não estava mesmo a favor da Amazona de Prata de Serpente.
Geisty apressava-se o quanto podia para chegar ao Templo das Bacantes a tempo de receber os novos funcionários, que já deveriam ter desembarcado no aeroporto de Atenas nas primeiras horas da manhã. Eram garotos e garotas vindos do Leste Europeu e América Central, e ainda que não estivesse em seu melhor dia faria as honras como sempre fizera durante esses mais de cinco anos à frente da administração do bordel junto de Afrodite e Mu, até porque já tinha perdido as esperanças de ter um dia regado à paz e harmonia; pelo menos não enquanto precisasse dividir com o Cavaleiro de Gêmeos suas horas e a casa onde decidira morar.
No início da noite anterior, contrariando o acordo pré-estabelecido assim que se deu seu regresso ao Terceiro Templo, o Patriarca invadiu o quarto dos servos — que passou a ser ocupado por Geisty depois das devidas adaptações — visivelmente agitado e sem dizer a que veio. Tal atitude contrariava gravemente a regra imposta pela amazona, a qual obrigava o grego a manter-se longe da intimidade de seus aposentos, afinal lutava por Saga, estava decidida a trazê-lo de volta, mas em hipótese alguma aceitaria ser assediada, mas inevitavelmente acabaram tendo outra discussão acalorada. Então, percebendo que Gêmeos estava fora si, e também para evitar consequências piores, Geisty deixou seu quarto e subiu para a Casa de Peixes, como vinha fazendo sempre que ele transformava a convivência já difícil em uma situação insustentável.
No entanto, naquela manhã, quando regressou, Geisty não encontrou o Patriarca ali, tampouco sentiu seu Cosmo no Santuário. Tudo indicava que ele passara a noite fora. A cama da suíte principal estava feita e a cozinha totalmente limpa. Nos últimos anos, aliás, a frequência com que Gêmeos vinha passando as noites fora do Santuário aumentara, e mesmo que tentasse e ansiasse por ignorar tal fato Geisty se sentia afrontada, com ódio daquele comportamento promíscuo e irresponsável que o geminiano parecia fazer questão de esfregar em sua cara, uma vez que aquele corpo também pertencia ao homem que amava, mas e que agora estava perdido no mais profundo vazio, em algum lugar daquela figura conturbada.
Nestes mais de cinco anos Geisty já estava muito cansada de tudo aquilo, também magoada, ferida, e com as esperanças por um fio. Muitas foram às vezes em que na solidão do silêncio da noite se perguntava chorosa por que ainda se sujeitava àquela vida. Porque se prestava aquele casamento insólito.
A resposta vinha quando se lembrava da promessa e dos votos que fizera no altar.
Na saúde e na doença...
Se Saga era doente ela não sabia. Se fora amaldiçoado, tampouco.
A verdade era que ninguém sabia nada a respeito da raiz daquele mal que se deitara sobre o Santo de Gêmeos, mas o que ainda lhe mantinha firme era a certeza de que poderia ser revertido de alguma forma. Já havia passado por situação semelhante anos antes, quando ainda eram namorados, e Geisty conseguiu reverte-la o trazendo de volta. Agora a condição dele era bem mais grave, porém não desistiria de ajuda-lo, não enquanto lhe restassem forças e amor por Saga.
Mandando para longe a melancolia, já que de nada adiantava deixar que ela se instalasse, apressada Geisty foi até a penteadeira dar um último retoque no batom carmim antes de deixar o quarto, mas quando se inclinou para olhar no espelho eis que viu refletido nele a figura soturna do Patriarca parado no batente da porta feito um espectro a lhe encarar com os olhos escarlates faiscantes.
A amazona soltou uma lufada de ar, sem tirar os olhos raivosos do reflexo que a fitava desde a porta, e quando fechou o batom já pensando em joga-lo na gaveta abandonou a ação para com ele ainda na mão virar-se para trás e olhar diretamente para Gêmeos. Sua figura repreensível de imediato lhe causou repulsa e revolta. A camisa preta estava toda amarrotada, alguns botões abotoados fora das casas. Notou a falta da gravata e do blazer costumeiros, mas sem dúvida o que mais se sobressaía era o cheiro ocre de whisky que exalava dele e se misturava ao de sangue seco juntamente com uns toques de nicotina e perfume feminino barato.
— De novo você aqui? — disse com a voz irritada enquanto seguia a passos duros e decididos em sua direção disposta a pôr o Patriarca para fora de seu aposento — Eu falei noite passada que não quero você entrando no meu quarto. — espalmou a mão esquerda no peito avantajado do cavaleiro e com um forte empurrão o fez galgar até o lado de fora do batente enquanto com a mão direita segurou na porta pronta para fecha-la.
Mas a tentativa foi em vão.
Dando um passo trôpego à frente Gêmeos venceu a força contraria que a amazona fazia e adentrou o recinto a fazendo recuar, e agora ele se segurava a porta com uma das mãos.
— Esse caralho aqui é o meu Templo e eu entro onde eu quiser! — respondeu com a voz em tom elevado, porém rouca e pastosa pelo alto grau de embriaguez, batendo em seguida a porta atrás de si com força suficiente para que o som se propagasse em eco por toda a Casa de Gêmeos.
Geisty deu uma bufada.
E lá estava o motivo de seu mau humor matinal: a rotina de incontáveis brigas e discussões com aquele que controlava o corpo do marido.
— Ah, ma che cazzo! Hoje não! Inferno! Estou atrasada e não estou com tempo para lidar com estupor bêbado. — disse mais uma vez a amazona, que o encarava sem demonstrar medo, embora Gêmeos, além de ser um cavaleiro de Ouro, tivesse um porte muito mais avantajado e fosse o dobro de seu tamanho — Saia daqui! Agora! — disse com o dedo em riste em direção à saída.
Mas o geminiano não apenas não saiu como cruzou os braços impondo sua presença.
Saga sempre fora um homem corpulento naturalmente, forte, de físico vultoso, mas nos últimos anos aquela versão nefasta do Cavaleiro de Gêmeos passou a ser aficionada por sua imagem, por parecer sempre mais forte, maior, melhor, e além de exigir de seus cavaleiros treinamentos físicos intensos ele mesmo passou a fazê-los sem ponderação, o que o tornou um brutamontes de musculatura exagerada. Geisty tinha certeza de que o geminiano se dispunha a isso para de todas as formas exibir sua superioridade, tornando inquestionável sua megalomania. Por conta disso a amazona olhava com desdém para a enorme figura à sua frente que tentava intimida-la em vão, ao contrário, ela o achava ridículo e tinha certeza que só estava tão alto porque usava sapatos com saltos internos.
— Onde você passou a noite, sua cretina? Por que aqui eu sei que não foi... — fungou, esfregando o nariz e em seguida apontou para a ampla cama próxima a janela que estava aberta — Nesse seu quarto precioso. Foi dormir com um dos pederastas dos teus amigos? — Gêmeos perguntou dando mais um passo à frente até ficar centímetros da italiana, que podia sentir o hálito alcoólico dele tocar seu rosto fresco e recém-maquiado.
—Ah, mas é sério isso? Você agora virou o quê? Fiscal de cama? É mais uma função dentre as tantas que você já tem? Por isso que já começou cedo, né? Para dar tempo de executar todas durante o dia. Mas, quer saber, senhor Fiscal: Não te interessa! Eu só te garanto que não foi em um bordel sujo igual ao que você deve ter passado... se embebedando e se esfregando em puta barata... seu babaca asqueroso. — disse com ódio em cada palavra pronunciada e o rosto contorcido em ranço puro e genuíno.
Geisty imaginava que ele tinha passado a noite em um bordel, já que notara manchas de sangue e batom em sua roupa. Não sabia ainda das execuções sumárias que ele havia engendrado naquela noite junto de Camus de Aquário, mas essas também passaram a ser tão corriqueiras ao longo desses anos que nem lhes eram mais novidade.
— Foda-se! — o grego berrou soltando perdigotos no rosto da amazona, que de ponto levou a mão para limpar com perceptível asco — Já que a puta cara e de luxo com quem sou casado não se dispõe a me satisfazer... existe as outras. Você não presta para nada nessa merda de casamento. NADA! — berrou descontrolado, com o rosto contorcido em raiva enquanto cambaleava pelejando para manter-se de pé — Você é uma inútil, então... eu faço da minha vida o que eu bem quiser, certo?
— Errado! — Geisty respondeu no mesmo tom enfurecido, o encarando nos olhos viperinos com os seus violáceos e selvagens, enquanto enumerava com os dedos erguidos em riste — A esposa, esse Templo, o trono, este corpo que você está fodendo com a saúde dia após dia, a vida que você finge viver... NADA disso é seu, seu filho da puta hedonista do caralho! Tudo isso é do Saga, e não tem nada que você possa fazer que irá mudar essa realidade dos fatos. — Gêmeos crispou os olhos e contraiu os lábios por um momento — Mas isso você já sabe faz tempo, só está fingindo demência, então faça o favor de economizar meu tempo, que é precioso.
Já farta daquela discussão inútil que nunca levava a lugar algum, Geisty se apressou em guardar o batom e quando estava pronta para mais uma vez sair de seu quarto foi surpreendida por uma gargalhada debochada.
— O Saga, Serpente?... De novo essa ladainha da esposinha à espera do marido? O príncipe no cavalo branco com quem você acredita ter se casado sumiu! Já faz anos que ele te deixou. Aceite! E sabe por quê? Porque ele era um fraco. E você? Você é uma mulherzinha de mente pequena... Limitada... Você poderia ter tudo! Tudo! Mas fica aì... se guardando para o Saga, para pequenez dele... — disse se abaixando e quase tocando no rosto de Geisty com seus lábios curvados em um sorriso hediondo — Nunca se perguntou por que eu estou aqui, amazona?... Porque Saga não se importa com você, não se importa com esse Santuário... Por isso eu estou aqui. Eu agarrei a vida que ele resolveu deixar para trás. Agora ela é minha... MINHA! Sou o futuro! Sem mim esse Santuário não seria nada!... Assim como você, que nunca foi merda nenhuma, ao ponto de quase ir parar nas mãos dos russos e ser deixada em uma vala podre qualquer, mas agora é um pouco mais que uma puta barata como as que eu estava agora a pouco... Só você que não enxerga isso, Serpente.
Mesmo que já tivesse ouvido tudo aquilo antes, era impossível para a amazona não revidar, por isso estreitou os olhos, trincou os dentes e bufou raivosa apontando o dedo de longas unhas esmaltadas em púrpura para o rosto desdenhoso à sua frente.
— Dobre essa tua língua venenosa para falar do meu marido. — disse com a voz rouca e engasgada de ódio, depois o empurrou para longe de si o fazendo cambalear ligeiramente para trás — Você não vai me fazer desistir de tentar trazê-lo de volta, porque eu sei que é isso que você quer, mas eu não vou desistir, porque do contrário que diz, eu sou grande! Sou uma amazona de Atena! Tente me diminuir o quanto você quiser, até mesmo a me reduzir à sua laia, mas já adianto, não vai conseguir... Saga vai voltar nem que seja apenas para que eu possa arrebentar a cara dele por ter me feito passar por tudo isso e esperar esse tempo todo. — se encararam firme por um breve momento até que Geisty passou a mão ligeira na franja tirando os fios de seus olhos e sussurrou — Hum... você não é digno nem da minha ira. Cada vez que tenta impor essa sua superioridade de botequim para cima de mim eu tenho é vontade de rir do quanto você é ridículo.
— Eu não tento, eu sou superior a você! Do contrário você não estaria ainda se rastejando por aqui, pelo meu Templo. Se está aqui ainda e viva é somente porque eu quero.
Quando a amazona franziu as sobrancelhas negras e cuidadosamente delineadas já pronta para responder a ele a voz de Mu a chamando do lado de fora da Terceira Casa a fez se calar.
— GEISTY!
A voz do lemuriano fora o gongo que definia o fim de mais um round entre o casal.
Respirando fundo a italiana respondeu de volta com um berro, bem típico seu.
— JÁ VOU! — disse, depois olhou mais uma vez para o geminiano e selando aquela trégua imposta pelo acaso falou, agora em voz baixa, porém extremamente firme:
— Não quero te ver de novo no meu quarto, estrupício! Cumpra com o nosso trato. Honre essas calças que você veste... Pelo menos isso! — ajeitou a bolsa no ombro e sem cortar o contato visual seguiu em direção à porta, mas antes de deixar o quarto apenas segurou na maçaneta e parou — E nem pense em deitar imundo como está na minha cama... Melhor! Nem pense em deitar na minha cama. Deita na sua. Você tem os aposentos do Patriarca, que é muito aquém do que merece, além da suíte principal desse Templo... Faça bom uso dela e deixa meu quarto só para meu uso.
Se apoiando na parede atrás de si e com ar desdenhoso o Grande Mestre abanou a mão para ela sem se abalar com as instruções dadas.
— Acho melhor se apressar, Serpente. — disse debochado — Não quer deixar os seus amigos te esperando, não?... Vá lá, vá com os seus. Ao contrário de mim o seu lugar é naquele bordel mesmo, junto das piranhas e daqueles viados ridículos... De onde, aliás, você nunca devia ter saído.
Com o rosto contorcido em uma carranca zangada Geisty abriu a porta com um solavanco, mas antes de passar pelo batente exibiu o dedo médio para o geminiano, que soltou uma risada cínica. Ao sair ela bateu a porta atrás de si e caminhou a passos pesados em direção aos dois cavaleiros que a esperavam apreensivos do lado de fora.
Quando avistou a amiga Afrodite soltou um suspiro tedioso e Mu um resmungo.
— Nossa os berros estavam particularmente altos hoje. — constatou o lemuriano.
— Pela cara da bonita aquela alma sebosa deve estar fazendo a lôca já de manhã. — cochichou com Mu que estava ao seu lado — Ah, Dadá, que provação!
— Você está vendo, bicha? Está vendo por que eu não tenho bom humor matinal? — disse a amazona ao chegar perto deles — Essa hora da manhã e aquele estupor já me enlouquecendo. — suspirou irritada, mas logo estranhou o amigo ariano estar tapando o nariz e a boca com o lenço vermelho e isso a deixou mais curiosa — Bom dia, Mu... Por que está tapando o nariz? Afrodite nem está tão fedorento de perfume hoje.
— Bom dia, Geisty! — Mu respondeu estendo a marmita com frutas que Virgem lhe dera antes de sair de casa — É que Shaka mandou a porcaria de uma banana para você. Está aí dentro. Pode pegar, mas coma essa merda longe de mim, por favor.
— Ah! — ela pegou a vasilha já a abrindo — Que gentil! Muito obrigada!... Ainda bem que foi só a banana, sem chai. Pelo menos alguma coisa boa nesse começo de dia.
— Como assim, Mosca ingrata? O meu suco de luz feito com todo o carinho não conta? Já vai botar ovos nele e na minha boa intenção? — reclamou o pisciano.
— Conta sim, bicha linda. Claro que conta! — disse puxando o sueco e lhe dando um beijo estalado na bochecha a marcando de carmim.
— Hum. Bom que conte! E para mim? O que o Buda loirudo mandou? — disse Peixes esticando os olhos para dentro da marmitinha.
— Pode pegar o que você quiser, Dido. — disse Mu já caminhando na frente deles para fugir do cheiro da banana — A manhã lá em casa foi meio conturbada. Kiki resolveu fazer o café da manhã, aqueles dois palhaços dos discípulos do Shaka estavam lá e ele não teve tempo de mandar nada melhor para vocês além de frutas. Têm sorte de não ter trazido umas samosas de pão pisoteado no leite recheadas com pétalas de amor perfeito... especialidade do meu filhote. — riu pensando que há essa hora Shaka deveria estar enlouquecido na Sexta Casa.
Geisty guardou a banana para comer no Templo de Baco, pois sabia que o ariano passava mal só com o cheiro, e puxando Afrodite pelo braço alcançou Mu se colocando entre eles, então enlaçou os braços de ambos e com passos sincronizados seguiram descendo as escadarias.
- Então você deve estar com fome. - a amazona puxando o ariano para mais perto de si - Hoje a hora do almoço então e eu vou macarrão com salsicha para a gente lá no Templo. - deu uma piscadinha para ele.
- Aí eu vi vantagem! - Mu riu junto dos dois amigos.
- Vamos lá, Trio Ternura. Hoje é só mais um dia de trabalho no Templo das Bacantes. br br br br br br br br br br br br br br br br br br br br br br br A saga de volta a uma saída desamparada.
Dicionário Afroditesco.
Picumã de Equê - peruca.
Ridicar - negar, ato de ser mesquinho, sovina.
